1- Somos actualmente o 5º pais no ranking de equipas da UEFA, o que nos permite (provisoriamente) este luxo de ter três equipas na Champions e outras três na Liga Europa. Um luxo que tem de ser mantido com pontos por todos os envolvidos. Chegados agora a um momento crucial, onde se vai decidir quem fica pela fase de grupos e quem avança mais além, a quarta jornada europeia saldou-se por duas vitórias, dois empates e duas derrotas, mas já com uma qualificação garantida: a do FC Porto para os oitavos de final da Champions. Digamos que foi um saldo médio para as equipas portuguesas — se é que podemos chamar portuguesas a equipas em que, entre os 14 jogadores alinhados, só havia três portugueses pelo FC Porto, dois pelo Benfica e dois pelo Sporting (com Academia de Alcochete e tudo). Neste aspecto, a honra da confraria foi salva pelo Braga, com sete portugueses entre os utilizados (e quase todos com origem no FC Porto).
E, começando o balanço da jornada europeia justamente pelo Braga, devo confessar que foi penoso ter visto, e ter adivinhado antes, que mais uma vez se iria repetir o desfecho ingrato de Old Trafford, e que mais uma vez Sir Alex iria fazer figura de génio tranquilo, que, no momento certo e com a decisão certa, consegue virar do avesso um jogo e sair-se a rir de um confronto contra uma equipa portuguesa. E evidente que quem se dá ao luxo de ter um Van Persie no banco e só o mandar lá para dentro quando acha que chegou a hora de acabar com a brincadeira, tem uma grande vantagem sobre quem tem um Ruben Micael e é obrigado a acreditar que ele é um grande jogador e um desequilibrador duas coisas que nunca foi nem será. Mesmo assim, não consigo deixar de pensar que em ambos os jogos contra o Manchester United o que tramou o Braga foi o síndroma de Mamede — o medo antigo e atávico de vencer. Em ambas as ocasiões, depois de se ter apanhado a ganhar (o que, teoricamente, era o mais difícil), o Braga ficou como o tipo de 1,60 metros que enfia um murro no gigante de 2 melros e, quando o vê cair ao chão, entra cm pânico com o terror de que ele se levante. Ficou provado que o medo não é estratégia.
O Benfica cumpriu a obrigação de vencer o Spartak de Moscovo, a partir do momento em que Jorge Jesus se deixou de maneirismos estratégicos e mandou para o jogo o homem mais capaz de o resolver: Oscar Cardozo. Sinceramente, digo que nunca compreendi as reticências de tantos benfiquistas, incluindo o seu treinador, relativamente a Cardozo. Eu, enquanto portista, confesso que, de todos os jogadores do Benfica que nos garantem que são génios, só há um de quem verdadeiramente tenho medo quando joga contra nós: o Cardozo. Apesar da vitória, o Benfica precisa agora, além de vencer o Celtic em Lisboa, de uma conjugação de resultados favoráveis. Isto porque, com a habitual tendência para desvalorizar os rivais, os benfiquistas achavam que, mesmo depois da milagrosa vitória do Barcelona sobre o Cellic ao minulo 93 do jogo de Camp Nou, não havia outro desfecho possível no jogo de retribuição que não nova vitória do Barça. E agora choram, não por que o Celtic tenha conseguido o que o Benfica não conseguiu, mas porque o Barcelona não foi sério, não foi profíssional, não foi amigo. Os grandes senhores são assim — acham que tudo lhes é devido. Mas pode ser que o Barça ainda possa fazer prova de amizade, se, chegado à última jornada e já com o primeiro lugar garantido, apresentar a segunda equipa contra o Benfica. Isso, sim, seria uma atitude séria e uma oportunidade a não desperdiçar.
Em Kiev, no primeiro jogo da ronda, o FC Porto trouxe o empate e a qualificação, a dois jogos do fim da poule. É o segundo objectivo da época cumprido, depois da pálida conquista da Supertaça contra a Académica. Foi um jogo táctico, cauteloso e aborrecido, em que todos ficámos com a sensação de que mais era possível, forçando apenas um pouco. Todavia, eu devo ter visto um jogo diferente de, por exemplo, os enviados deste jornal. Vi, uma vez mais, um Lucho completamente fora do jogo, incapaz de fazer um passe certo, comprido ou curto, desastrado a rematar, lento a atacar: mas depois li aqui que tinha sido o melhor em campo. Vi um Varela igual ao habitual, estragando todo o jogo até ter a oportunidade de se redimir marcando um grande golo. Só que, desta vez, em lugar de um grande golo facturado, falhou um golo fácil para um bom jogador mas até isso serviu para lhe fazerem o elogio. Como se confirmou depois contra a Académica, o ataque do FC Porto vive da dinâmica crida por três jogadores determinantes Moutinho, James e Jackson Martínez — à volta dos quais vagueiam, sem sentido, dois outros — Lucho e Varela que apenas esperam uma oportunidade caída do céu para marcar um golo, que consiga esconder o pouco ou nada que actualmente acrescentam à equipa. Em Lucho, é um problema já conhecido, de um jogador que funciona por fases alternadas; em Varela, a questão parece-me mais estrutural, como dizem os economistas. Em contrapartida, vi, no jogo de Kiev, uma exibição seguríssima de Helton e de Otamendi, uma estreia sem sobressaltos de Abdoulaye, um jogo bem aceitável de Deffour e os habituais sobressaltos de génio de James Rodriguez. Acima de tudo, vi uma equipa que, mudando os jogadores e rodando os anos, já tem uma notável cultura europeia, que claramente a distingue das demais equipas portuguesas.
Na Liga Europa, tivemos a natural derrota do Marítimo em Bordéus, a surpreendente vitória da Académica sobre o Atlético de Madrid (mesmo considerando que só apareceu a segunda equipa deles em Coimbra), e o previsível empate caseiro do Sporting, frente a uma equipa da terceira divisão europeia. E, mesmo que tenha perdido os três pontos ao cair do pano, o resultado nada teve de injusto, após mais uma paupérrima exibição do Sporting. Insisto: dizem que tem grandes jogadores e uma grande equipa, mas eu não consigo ver quais e qual. De qualquer modo, é assim: na Liga Europa, todas as equipas portuguesas estão à beira da desqualificação e, todavia, todas podem ainda qualificar-se. Que uma, ao menos, o consiga!
2- Vitória tranquila do FC Porto contra a Académica, mais do que os números mostram. Vitória sofrida do Benfica em Vila do Conde, com mais um golo saído de um lançamento lateral, que gostaria de ter visto em repetição com mais detalhe, pois me pareceu executado já dentro do campo. E vitória feliz do Sporting frente ao Braga, celebrada como se fosse frente ao Real Madrid, na Champions. Presumo que por estes dias Godinho Lopes estará a pedir uma reunião com o presidente do Conselho de Arbitragem, a fim de se queixar do golo invalidado ao Braga, sem a mais pequena razão de ser. Aguardemos.
3- Não há adjectivos que cheguem para classificar a oportunidade e a legitimidade da excursão ao Gabão da Selecção Nacional. Eu sei que é uma data FIFA, mas isso não obriga a Federação a agenciar jogos que têm como único objectivo acrescentar a sua conta bancária à custa dos interesses desportivos de alguns clubes, Benfica excluído. Quem pôde, pôs-se de fora e fez muito bem. E quem vai, não representa, de facto, a Selecção de Portugal, mas apenas um grupo reunido ad hoc para facturar a favor da Federação. E a escola da CBF, a Federação brasileira, que fez do seu até há pouco eterno presidente João Havelange, um multimilionário e alvo de todas as suspeitas. Fernando Gomes tem categoria para fazer diferente.
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