sábado, outubro 24, 2009

O SUAVE MILAGRE (13 OUTUBRO 2009)

1- Na verdade, não foi apenas um, mas sim três suaves milagres que coincidiram no passado sábado para subitamente dissiparem o nevoeiro que envolvia o caminho da Selecção e abrir uma estrada de luz que, agora sim, conduz a direito até à África do Sul, no ano que vem.

Primeiro, foi a vitória da Dinamarca sobre a Suécia, alcançada a 11 minutos do final, colocando logo Portugal ao alcance do terceiro lugar no grupo; depois, foi a própria vitória da Selecção sobre a Hungria, apenas confirmada no último quarto-de-hora e fazendo-nos subir mais um degrau, para o segundo lugar, e, pela primeira vez, ficarmos em posição de qualificação; enfim e igualmente importante, a quebra da invencibilidade da Inglaterra em Kiev, permitindo à Ucrânia ultrapassar a Croácia e, simultâneamente, catapultando-nos para o primeiro grupo do play-off: aquele onde estão os cabeças-de-série, que irão disputar um lugar no Mundial com os mais fracos dos segundos classificados. Uma conjugação de circunstâncias notável, na qual o menor mérito acabou por ser o nosso.

A Selecção entrou no relvado da Luz sabendo já da derrota da Suécia, com 50.000 pessoas nas bancadas, os jogadores aplaudidos e o seleccionador assobiado. Aparentemente, a opinião pública não tinha dúvidas: a equipa, os jogadores, justificam amplamente o Mundial, o problema é o seleccionador, que não sabe aproveitar a belíssima mão-de-obra que tem à disposição. No final do jogo, com a vitória na mão e a qualificação à vista, a opinião mantinha-se. Por exemplo: a grande exibição de Pedro Mendes exemplificava a excelência dos jogadores que temos; a sua convocação só agora demonstra como o seleccionador anda distraído. Bom, distraído devo andar eu, porque não vi ninguém, em lado algum, em momento algum, que se tivesse lembrado de sugerir a convocação de Pedro Mendes...

O que eu vi, isso sim, foi mais uma exibição falhada desta Selecção dita de luxo, em que todos os jogadores, um por um e com raras excepções, jogam sempre pior na Selecção do que nos respectivos clubes. Contra a modestíssima equipa da Hungria - ataque inexistente, meio campo banal e defesa com muitos jogadores mas fraca qualidade - chegámos ao golo através de uma fífia do guarda-redes e dos centrais, no primeiro remate que fizemos à baliza e um dos raros de toda a primeira parte. Tivemos uns bons dez minutos no início da segunda parte e, quando já nos preparávamos para sofrer até final segurando aquele tangencial golo, surgiu o passe de morte de Bruno Alves e o golo feliz de Liedson, que permitiram enfim um imenso suspiro de alívio do Minho a Joannesbourgo.

Mas quem jogou bem, ali, quem mostrou estar ao nível das ambições de um Mundial? Pedro Mendes, primeiro que todos - a grande surpresa e o pilar da equipa; Simão, e apenas ou sobretudo porque esteve de pé-quente na finalização; e os dois centrais, Ricardo e Bruno, impecáveis a defender, excelentes a atacar. Nada mais. Eduardo ia entregando o ouro ao bandido, num jogo em que quase nada teve que fazer, quando saíu em falso e permitiu um cabeceamento à trave da baliza abandonada; os laterais foram um desastre; Liedson e Meireles apagados; Deco simplesmente desastrado e Ronaldo, mesmo levando em conta a lesão e o pouco tempo que esteve em campo, seguia para mais uma exibição falhada ao serviço da Selecção. E este panorama tem-se repetido de jogo para jogo, com a curiosa excepção do jogo inaugural contra a Dinamarca, em que tão bem jogámos e tão mal perdemos. Mas, daí para cá, a Selecção de Carlos Queiroz nunca deu mostras em campo de ter o valor e a capacidade suficientes para lutar pelo seu destino, em lugar de esperar que as coisas acontecessem por si mesmas. Assim, fica difícil mandar as culpas para cima de um seleccionador que, ao contrário de Scolari, junta uma equipa que reune o consenso geral e espera sempre que eles joguem ao menos qualquer coisa de semelhante àquilo que estamos habituados a vê-los jogar pelos seus clubes. A única crítica que eu consigo fazer a Queiroz é a de ele não ter, quando tal seria recomendável, a coragem de prescindir de alguns imprescindíveis que chegam ali e só desiludem: se Ronaldo ou Deco não estão em forma ou manifestamente estão a atrapalhar a fluidez do jogo, pois que os tire ou os deixe de fora! Será que o mundo acabava?

Enfim, os milagres sempre existem e todos confiamos que amanhã em Guimarães, contra Malta, não haja nenhuma brincadeira do tipo-Albânia. Pelo contrário, seria bem bom que a Selecção fizesse um jogo cheio, capaz de reacordar um país que já estava semi-descrente e ganhar aí o ânimo suficiente para ultrapassar o play-off que se seguirá e assinar a folha de presenças na África do Sul. Não basta apregoar ao mundo que somos óptimos: é preciso demonstrá-lo, de quando em vez.


2- A lesão de Cristiano Ronaldo ao serviço da Selecção portuguesa tem todos os ingredientes para deixar os responsáveis do Real Madrid à beira de um ataque de raiva. É que ele já veio lesionado, não tendo disputado o último jogo pela sua equipa, devido à lesão. E os 27 minutos que esteve em campo contra a Hungria pioraram a sua situação: agora vai estar parado um mês, pelo menos, falhando seis jogos do Real, entre os quais os dois importantes confrontos com o Milan para a Liga dos Campeões. E Ronaldo custou ao Real 96 milhões de euros e ganha milhão e meio por mês... Mesmo com o seguro de que os madrilenos dispõem e accionaram e com a modesta ajuda do seguro da FPF, esta é a situação clássica que os clubes tanto temem, quando «emprestam» os seus «activos», como agora se diz, às Selecções. Situação parecida viveu Cristian Rodriguéz, ao serviço do Uruguai, esta semana. Sem jogar pelo F.C.Porto há um mês, ausente dos últimos quatro jogos do clube, mesmo assim foi convocado por Oscár Tabarez. A diferença é que não chegou a entrar em campo contra a Bolívia e tudo o indica que também ficará de fora no decisivo confronto em Montevideo contra a Argentina de Diego Maradona. Mas acaba por fazer uma viagem intercontinental inútil e por interromper o tratamento no departamento médico do F.C.Porto, com manifesto prejuízo para o clube que, neste caso, nem sequer pode accionar seguro algum.

Com o que os clubes investem hoje em jogadores e com a fortuna que lhes pagam, um dia este problema irá ter de ser encarado a sério e a bem ou a mal. Sobretudo, porque cada vez são mais as competições inventadas pelas Federações e os jogos particulares onde exibem as «suas» vedetas mundiais. As Federações usam e exibem e os clubes pagam. Em nome de um «dever patriótico» que, aliás, cada vez é mais difícil de justificar, quando se olha para a composição «nacional» de algumas Selecções - Portugal incluído.


3- E, falando ainda de Selecções: sintomático do panorama do nosso futebol foi a constituição da equipa portuguesa que defrontou a Hungria: dois jogadores do F.C.Porto, um do Sporting (e naturalizado português) e nenhum do Benfica (acabaria por entrar, já com o jogo decidido, Nuno Gomes, cuja reforma da Selecção só foi adiada devido à reforma de Pauleta e ao total deserto de pontas-de-lança, que levou até à invenção de Liedson como português). Mas o Benfica, que há uns anos atrás Vale e Azevedo jurava que teria rapidamente «a espinha dorsal da Selecção», o Benfica que, em pleno Estádio da Luz, não tinha um único jogador no onze inicial da camisola das quinas, tinha, no mesmo dia e à distância de um continente, dois titulares a jogar pela Selecção do Brasil e outros dois pela Selecção da Argentina... O clube mais portugês da Selecção acaba por ser assim o... Chelsea, de Londres, que forneceu três jogadores titulares contra a Hungria: Ricardo Carvalho, Bosingwa e Deco.

SER SPORTINGUISTA É FREUDIANO (08 OUTUBRO 2009)

1- Os sportingistas passaram quinze dias a discutir o árbitro do jogo com o Porto, indiferentes ao facto de já ninguém os escutar. Começaram por discutir a nomeação, depois qualquer coisa de não muito explícito sobre a arbitragem do próprio jogo e, finalmente, as consequências disciplinares das ofensas que lhe dirigiram. Veio entretanto um jogo europeu, contra o Hertha de Berlim, cuja exibição foi tão entusiasmante que eu adormeci a ver o jogo ao fim de quinze minutos e no dia seguinte li nos jornais que Paulo Bento tinha dito mal da própria equipa, os jogadores também, e o público assobiara-os convictamente. Também e segundo rezam as crónicas, a escassa vitória de 1-0 ficou a dever-se, em boa medida, ao facto de o árbitro ter feito vista grossa a um penalty favorável aos alemães - mas sobre isso e como de costume, já os sportinguistas não se pronunciaram. E veio a seguir o empate caseiro com o Belenenses e uma exibição a que resisti dez minutos sem adormecer. Mas é garantido que, à mais pequena oportunidade ou pretexto, lá estarão eles outra vez a discutir uma arbitragem. Ser sportinguista, hoje em dia, é qualquer coisa que tem laivos de distúrbio freudiano.

O habitual segundo classificado do futebol português vive num limbo onde não alcança nem o esplendor das vitórias portistas nem o descalabro das derrotas benfiquistas; não tem o espírito de conquista do F.C.Porto nem a arrogância de prima-dona do Benfica, que sempre se anuncia como o próximo campeão. Sem dinheiro nem massa associativa para outros atrevimentos e sem o aventureirismo suicidário de outros, o Sporting tem preferido, prudentemente, viver do que vai tendo (sobretudo da sua tão louvada escola de jogadores) do que lançar-se em operações desesperadas de tudo-ou-nada. O resultado tem sido o de que não conquista nada, mas também não perde tudo. Tudo visto e ponderado, o saldo não tem sido negativo e uma coisa há que convém não esquecer: um título ganho pelo Sporting, com meios financeiros substancialmente inferiores aos dos seus dois rivais, teria muito mais valor do que um título arrecadado por estes. Mas para quem já foi «grande» do futebol português (no século passado), para quem a tradição dos bons velhos tempos tinha reservado uma quota de 25% dos campeonatos e só enfrentava a concorrência do rival da Luz, compreende-﷓se que não seja fácil habituar-se a este estatuto de eterno-vencido-jamais-esmagado.

Em minha opinião, o Sporting enfrenta um futuro negro: a prazo não muito distante poderá mesmo vir a extinguir-se como clube de referência no futebol português - tal qual como o PSD poderá vir a extinguir-se como partido de governo. Ambos estão perante problema idêntico: a falta de sustentabilidade. O PSD desprovido de base ideológica, o Sporting de base clubística.

Aceitar esta realidade, esta morte lenta, não é fácil. É mais do que compreensível que os sportinguistas - se bem que compreendendo as dificuldades financeiras e o próprio esvaziamento da mistica clubística (basta olhar para as bancadas de Alvalade ou lembrar o que dizia Soares Franco) - não se habituem facilmente à ideia de terem ficado irremediavelmente para trás na corrida ao futuro. E daí esta obsessão com as arbitragens, este delírio de calimeros, que mais não é do que um reflexo freudiano de fugir à realidade e encontrar um factor alheio, um inímigo externo, que os impede de serem quem eram. O delírio foi levado tão longe que se transformou numa cultura do clube, numa condição natural de um sportinguista. O sportinguista começa a contestar o árbitro antes mesmo de o jogo começar, começa a assobiá-lo aos dois minutos de jogo e, se não triunfa, já se sabe que o culpado único é o homem do apito. Quando fala de futebol, o sportinguista diz sempre «o Sporting, o clube mais perseguido pelas arbitragens…» e já nem se preocupa em justificar porquê ou sequer em convencer quem quer que seja dessa verdade adquirida. Para ele, é doutrina assente que, se o Sporting não é campeão, digamos a cada três anos, é porque os árbitros não deixam. E esta «verdade» não é discutível. Não importa que lhes lembrem as tantas outras vezes em que o Sporting é beneficiado, que lhes lembrem que muitos dos árbitros que tanto contestam até são conhecidos por serem sportinguistas (pelo contrário, ainda desconfiam mais), ou que lhes lembrem o pífio desempenho internacional dos leões, que têm apenas para apresentar uma obscura Taça das Taças, conquistada há 40 anos atrás, graças a um canto directo de um senhor chamado Morais. Nem sequer interessa, claro, olhar para exibições como as que fizeram contra o Hertha e o Belenenses - e que são bem frequentes - e perguntar-lhes se acham que a culpa de não reinarem como leões será mesmo e só dos árbitros. Eles já não vão mudar. E, quando manifestamente já nem a arbitragem serve como desculpa então surge a revolta interna - contra jogadores, treinador, dirigentes e até um presidente acabado de tomar posse a quem exigem, seja lá como for, o milagre instantâneo de inventar uma equipa de campeões sem dinheiro nem sócios nas bancadas.


2- Perdendo em Atenas, o Benfica não comprometeu por aí além as suas hipóteses de passar à fase seguinte da Liga Europa, num grupo mais do que acessível. O que perdeu, e uma vez mais, foi a possibilidade de arrecadar pontos fáceis para o ranking dos clubes portugueses na UEFA. Se olharmos a relação entre os pontos ganhos na UEFA e as participações havidas, o Benfica é de longe o maior beneficiário… do esforço alheio. Se alguém quiser contar com os pontos ganhos pelo Benfica para chegar a uma qualificação europeia, bem pode esperar sentado. Em contrapartida, não fossem os pontos conquistados nos últimos anos por Sporting, Braga e, sobretudo, F.C.Porto (olha quem!) e o Benfica teria ficado algumas vezes, em matéria de participação europeia, pelos Troféus Amizade ou Guadiana.


3- Já o F.C.Porto, o único clube com estatuto europeu do nosso futebol, não perdeu a oportunidade de somar três pontos no confronto com o Atlético de Madrid. Não venceu com brilhantismo, mas com todo o mérito e com a segurança e a naturalidade de quem, de facto, já está habituado aos altos palcos do futebol europeu. Uma vitória que começou numa notável tranquilidade defensiva, face a um ataque que mete respeito (Aguero, Forlán, o «Bota de ouro» europeu, Simão, Maxi Rodriguéz) e que se consumou graças aos dois únicos jogadores que, do meio-campo para a frente, podiam fazer a diferença: Hulk e Falcao. Os mesmos, aliás, que viriam a resolver, no domingo, o jogo em Olhão. Eles, mais os dois centrais de luxo ao dispor de Jesualdo - que defendem com classe, aguentam as fífias do Helton sem estremecerem de susto e ainda vão lá à frente marcar golos - conseguiram fazer disfarçar as baixas de Cristián Rodriguez e Silvestre Varela. E a verdade é que, sem eles, o F.C.Porto foi capaz de levar de vencida o Olhanense, o Atlético de Madrid e o Sporting, que deixou já a cinco pontos de distância. Também é verdade que continua a três pontos do Benfica e a quatro do Braga, mas não só a sorte do Braga não vai durar para sempre, como a infindável série de jogos fáceis do Benfica em breve terá fim também.

O QUE SE SOFRE DE LONGE! (29 SETEMBRO 2009)

1- As últimas semanas foram um calvário para um portista de todos os dias, como eu. Ausente onde nem sequer a televisão portuguesa chega, falhei sucessivamente o F.C.Porto-Leixões, Chelsea-F.C.Porto, Braga-F.C.Porto e F.C.Porto-Sporting. Quatro jogos, de que a única coisa que soube foi o resultado final. No mais, limitei-me a tentar adivinhar, a antecipar o onze e a forma como a equipa se portaria e a desejar a notícia de uma vitória no final. O saldo acabou em duas vitórias e duas derrotas e, como sempre e absurdamente me acontece, invadiu-me o remorso de ter estado ausente, acreditando que, se aqui estivesse, não teríamos perdido dois jogos.

O black-out total só foi rompido uma vez, no jogo de Stamford Bridge, em que consegui aceder a um site inglês que ia relatando o jogo em tempo praticamente real, mas sem direito a quaisquer imagens. Mais valia que não o tivesse conseguido: é que bastou-me ver a equipa que Jesualdo Ferreira tinha escolhido para iniciar o jogo, para ficar logo mal-disposto.

Uma vez mais (e já aqui escrevi tantas vezes sobre isso!), Jesualdo Ferreira não fugiu ao comportamento típico do treinador português no momento de enfrentar um desafio europeu que surge como maior do que a aparente capacidade da equipa: mudar tudo o que é habitual e está treinado e rotinado, para reforçar a defesa e o meio-campo e enfraquecer o ataque, na esperança que do céu caia um empatezinho a zero. E, todavia, ele já adquiriu suficiente experiência internacional à frente dos dragões para que lhe seja exigível um comportamento menos provinciano e menos medroso. Aliás, na véspera, Jesualdo Ferreira, ao comentar o triste histórico dos jogos do F.C.Porto em Inglaterra para as competições europeias (13 jogos, 2 empates e 11 derrotas), tinha dito que algum dia o F.C.Porto acabaria por ganhar um jogo, quando tivesse attitude para isso, e prometendo que, pelo seu lado, nada iria mudar na forma habitual de jogar da equipa, apesar de ir ter pela frente a que ele considerava a melhor equipa inglesa do momento.

Afinal, tudo aconteceu ao contrário. Pelo que li nas crónicas subsequentes e nos próprios comentários do site inglês, o Chelsea que o F.C.Porto enfrentou está longe de estar em forma e, desfalcado de Drogba, mostrou-se um adversário perfeitamente ao alcance, pelo menos de um empate - assim houvesse coragem para o enfrentar olhos nos olhos. Logo aí, Jesualdo mostrou que tinha o adversário mal estudado e que os seus temores tinham mais que ver com o passado do que com o presente.

Depois (meu Deus!), o homem que tinha prometido nada mudar na equipa, fez só isto: num dos flancos de ataque tirou a boa surpresa desta época, Silvestre Varela, para entregar o lugar ao seu fiasco de estimação - Mariano González - assim preferindo um peso-morto a um desequilibrador nato. E, para rematar em beleza (numa equipa cuja grande dificuldade tem sido conseguir marcar golos), tira o ponta-de-lança Falcao, preferindo, à boa maneira dos treinadores portugueses, «reforçar o meio-campo», com o trapalhão do Guarín (que, desde que chegou ao F.C.Porto apenas fez um jogo conseguido, contra uma equipa dos distritais, para a Taça). Ou seja, Jesualdo tratou, logo à partida, de mostrar que estava borrado de medo do Chelsea e, como era inevitável, transmitiu esse medo à equipa, que jogou todo o primeiro tempo entricheirada atrás dos escudos, como uma corte romana enfrentando um exército de bárbaros muito superior. E, claro, aconteceu o que sempre acontece quando se joga para o zero-zero, com medo do adversário: num golpe fortuito, o Chelsea chegou ao golo e só então é que Jesualdo, perdido por cem, perdido por mil, desfez os erros cometidos de entrada e soltou os cavalos para que o F.C.Porto corresse atrás do prejuízo e da sorte. Mas está escrito, está escrito desde há muito, que a sorte só ajuda os audazes, não os medrosos. O F.C.Porto perdeu em Londres porque o seu treinador teve medo de tentar ganhar. Esta história já é antiga e já começa a fartar.

Não que seja justo exigir que o F.C.Porto vá jogar fora com os colossos ingleses, com um orçamento infinitamente mais elástico, e se bata sempre de igual para igual. Mas é justo exigir que o seu treinador não se coloque à partida numa atitude de submissão e temor, auto-diminuindo a capacidade da equipa para conseguir uma proeza. E, como já vi esta história escrita várias vezes, pergunto: digam-me quando é que esta fabulosa estratégia lusa de tirar avançados e reforçar o meio-campo, em jogos de dificuldade maior, deu resultados? Quando?

A seguir - ao que li e ao que me contaram - tanto em Braga, como depois contra o Sporting, o F.C.Porto acusou sobremaneira o cansaço do onze mais utilizado, perdendo o primeiro jogo e ganhando periclitantemente o segundo. E aí chegamos a um outro problema, que já vem da época passada e que aparentemente se repete este ano, apesar de mais onze reforços comprados no mercado de Verão, toda uma equipa: Jesualdo não dispõe de suplentes, não apenas ao nível dos titulares habituais, mas ao nível exigível para suplentes de uma equipa que disputa a Champions e o penta-campeonato. Com tantos e tantos jogadores de categoria por aí emprestados ou dispensados de borla, olha-se para o banco do F.C.Porto e suspira-se de impotência. E amanhã, num jogo que é absolutamente necessário vencer contra o Atlético de Madrid, e com as baixas de Fernando, Varela e Rodriguéz, adivinhem quem é que Jesualdo Ferreita tem para os substituir? Guarín, Mariano e Farías. Um trio que mete medo!

Vale ao F.C.Porto que o Atlético de Madrid atravessa um péssimo momento, de resultados e exibições, e que conseguiu até a proeza de empatar a zero, em casa, contra o Apoel de Chipre - os tais que, em tempos idos, encaixaram 16-0 do Sporting, em Alvalade. Mesmo assim, e desfalcado daqueles três, com Raul Meireles a arrastar-se, segundo rezam as crónicas (e que mal reforçado que foi o meio-campo, que tanto precisava de bons reforços, ainda mais depois da saída de Lucho!), o grande problema amanhã vai ser o habitual: construir jogadas para golo. Mas tenhamos fé, porque a vontade de vencer e o espírito de conquista, esses, felizmente, nunca morrem por ali.

E é bom estar de volta e poder seguir intimamente o meu F.C.Porto. Mas não só: também estou muito curioso de ver, porque ainda não vi, o novo Benfica, que dizem transfigurado, uma máquina de futebol e golos, apontada a uma vitória certa entre muros. E também a surpresa deste início de campeonato (todos os anos há uma, que rapidamente se esfuma…): o Sportingt de Braga. Quero ver com os meus olhos se as tais seis vitórias a abrir são fruto do mérito, da sorte, das circunstâncias ou de tudo um pouco. Este ano chego atrasado, mas espero bem que ainda muito a tempo de ver o melhor da época. E isso inclui a qualificação da Selecção para a África do Sul.

NÃO HOUVE CRÓNICA (22 SETEMBRO 2009)

Não houve crónica.

NÃO HOUVE CRÓNICA (15 SETEMBRO 2009)

Não houve crónica.