quinta-feira, março 27, 2008

IMPORTAM-SE DE DEIXAR JOGAR FUTEBOL? (18 MARÇO 2008)

Reconheço que ultimamente tenho andado um bocado repetitivo com este tema, mas a verdade é que são os factos e a sua repetição constante que a isso me obrigam. Refiro-me aos foras-de-jogo mal assinalados pelos nossos bandeirinhas que, de tendência, já passaram a praga. Tenho-os visto às dúzias em vários jogos, mas, em especial, nos jogos do FC Porto. Não por acaso e sim por razões concretas: porque o FC Porto é a equipa que mais ataca e mais golos marca no campeonato; porque tem um tipo de futebol que vive do passe em profundidade para as alas ou do passe de ruptura pelo centro da defesa; e porque, hoje, decidir contra o FC Porto parece ser condição de subida na carreira para árbitros e assistentes.

Nos últimos três jogos internos do FC Porto — contra Paços de Ferreira, Académica e Leixões — a tendência acentuou-se até chegar a um ponto que causa indignação. É verdade que, felizmente para a verdade desportiva, nenhum dos foras-de-jogo mal assinalados ao ataque portista nesses jogos colocou em causa o triunfo final. E é verdade também que, contra o Paços, o segundo golo do Porto nasceu de um off-side não assinalado e, contra o Leixões, talvez o segundo golo também tenha sido em fora-de-jogo. Mas, em contrapartida, em ambos os jogos o ataque portista foi travado inúmeras vezes por erros dos fiscais-de-linha, às vezes grosseiros.

Contra o Leixões, nos primeiros doze minutos de jogo, o fiscal-de-linha que acompanhava o ataque do Porto conseguiu assinalar três foras-de-jogo todos mal marcados e dois deles inacreditáveis. Não por acaso, todos três travaram jogadas de golo iminente, com um avançado a ficar sozinho só com o guarda-redes pela frente, porque todos nasceram de passes a rasgar a defesa leixonense pelo centro. Ao ver a tranquilidade com que aquele fiscal-de-linha conseguiu em apenas doze minutos anular indevidamente três jogadas de golo portista, pus-me a pensar que só havia três razões possíveis para tal:

a) o homem tinha uma clara embirração pelo azul e branco;

b) o homem sofre de necessidade de afirmação, gostando de dar nas vistas, ser focado pelas câmaras de televisão ou tornar-se objecto de embirração para milhares ou milhões de portistas no estádio ou em frente à televisão; ou

c) o homem é totalmente incapaz para a função (hipótese mais provável). Seja, pois, por parcialidade, por exibicionismo ou por incompetência, a mim parece-me que este fiscal-de-linha não pode e não deve voltar a pisar um relvado da primeira Liga. Com a sua leviandade de julgamento, ele poderia ter determinado o resultado do jogo e, com isso, interferido, por exemplo, na questão da permanência do Leixões na 1.ª divisão. E amanhã pode (o que agora não era, felizmente, o caso), interferir na atribuição do título ou da Taça de Portugal.

Nos últimos jogos do FC Porto, há sempre golos anulados por off-side, jogadas mal anuladas por pretenso off-side, e uma preciosa ajuda dos árbitros ao sistema castrador da defesa em linha. A questão só não se tornou ainda objecto de problemas sérios porque é o FC Porto e porque este traz de há muito o campeonato assegurado. Mas podia ter muitos mais golos marcados, que não tem (em especial, Lisandro López, a grande vítima dos off-sides inventados), e podia dar muito mais espectáculo, se o deixassem.

Mas há, mesmo assim, outras implicações a que a Comissão de Arbitragem não pode continuar indiferente. Jesualdo Ferreira explicava, no final do jogo com o Leixões, que a equipa passa a semana a treinar os passes em profundidade para as alas e os passes de ruptura pelo centro: é por isso que o FC Porto joga com dois extremos de raiz (uma raridade nos tempos que correm), e é para isso que mantém ao seu serviço, e a fazer uma época espectacular, o melhor «passador» e mestre das assistências para golo: Lucho González. Ora, como disse Jesualdo e com razão, o facto de o futebol ensaiado e desenvolvido pela equipa ser sistematicamente travado nos jogos pelos erros dos auxiliares, desmoraliza os jogadores e, em última análise, torna-os até descrentes do sistema de jogo adoptado. A questão é clara: o FC Porto joga o melhor e o mais bonito futebol do campeonato; a equipa trabalha todas as semanas para isso e não é aceitável que o trabalho feito e a qualidade do futebol exibido sejam altamente prejudicados pela incompetência de quem não pode tornar-se figura decisiva dos jogos e pelas más razões. É óbvio que há margens de erros inevitáveis e admissíveis e não é disso que falo. Mas ver o fiscal-de-linha levantar automaticamente a bandeirola logo que se apercebe do Lucho a rasgar um passe de morte pelo centro da defesa adversária e o Lisandro a antecipá-lo e a correr entre os defesas para o ir recolher à frente e ficar isolado, isso não é admissível. E, de tão frequente, de tão automático que parece o gesto, começa a nascer a suspeita de que há uma pré-determinação dos fiscais-de-linha (ao arrepio do que manda a FIFA), de, na dúvida — ou antes mesmo de qualquer dúvida — assinalar off-side ao ataque portista.

Duvido que estes fiscais de linha se lembrem de um alemão chamado Günter Netzer, que jogou no Nuremberg e depois no Real Madrid, aí pelo final da década de setenta, princípio da de oitenta. Ou, menos ainda, de um senhor chamado Hernâni, que jogou como número dez do FC Porto na década de sessenta. Qualquer dos dois ficou a dever o melhor da sua fama à extraordinária capacidade de passe à distância que revelavam. Eram capazes de colocar uma bola a trinta ou quarenta metros de distância à frente do avançado, deixando-o cara a cara com o guarda-redes, depois de o passe ter aberto a defesa de alto a baixo. E uma das coisas mais bonitas do futebol é o passe que opera a ruptura, que, por si só, é capaz de mudar num instante o sentido do jogo, desbaratando as defesas e as melhores tácticas defensivas. Porque sempre fui um apaixonado por esse tipo de futebol — em oposição ao futebol de progressão lenta em passe curto e lateralizado — sou também um defensor acérrimo de que todos os campos da primeira Liga deveriam ter as dimensões máximas. Creio mesmo que essa é uma das razões pelas quais o futebol que vemos das ligas espanhola, italiana ou inglesa, nos parece sempre mais espectacular que o nosso: porque usa o máximo de espaço permitido e não o mínimo, e o grande futebol é feito de espaço e movimento. Ao invés, sustento que é impossível ver-se bom futebol em campos como o do Nacional, do Paços ou do Estrela da Amadora. E se, às dimensões reduzidas de alguns campos, se junta ainda a defesa em linha da equipa mais fraca e se a estes factores vem também somar-se os off-sides mal assinalados à equipa que mais ataca, então é virtualmente impossível termos um bom jogo de futebol. Também por isso sustento há muito esta heresia: num Nacional-F.C.Porto ou num Estrela da Amadora-FC Porto, o favorito, à partida, não é o FC Porto, mas sim os anfitriões. Porque ali o bom futebol não é solução; a solução é a melhor equipa adaptar-se a jogar pior. Como portista, estes são os jogos do campeonato que eu mais temo.

Agora, já basta o que basta: os campos pequenos, os relvados mal tratados, as tácticas ultradefensivas, o público fanatizado, que tanto lhe faz que se jogue bem como mal, desde que a sua equipa não perca. Dispensava-se também a colaboração de fiscais-de-linha incompetentes para ajudar à degradação do futebol que temos.

A GRANDE DEPRESSÃO (11 MARÇO 2008)

1- A eliminatória perdida contra o Schalke e a forma como foi perdida, deixou-nos, a nós portistas, psicologicamente de rastos. Por várias razões, a saber:

— Porque desde cedo se percebeu que a Champions League ia ser o único verdadeiro desafio da época. O campeonato seria fácil demais para chegar a constituir desafio, a Taça da Liga era apenas um estorvo e a Taça de Portugal um prémio de consolação para vencidos de tudo o resto – o que não seria e não é o nosso caso. Passar a fase de grupos era o primeiro e essencial desafio e foi ultrapassado de forma categórica. Aí chegados, também, é preciso sermos realistas: o FC Porto tem uma boa equipa, seguramente uma das melhores da Europa. Mas não tem equipa para ser campeão europeu. Os quartos-de-final seriam o culminar de uma época de êxitos, as meias-finais um marco quase inimaginável. Logo, muito dependeria do sorteio dos oitavos-de-final.

— E, em parte por sorte, em parte por mérito próprio (ter terminado em primeiro lugar no grupo faz bastante diferença), o FC Porto teve sorte no sorteio: o Schalke 04 era uma equipa perfeitamente ao alcance do FC Porto – com muito menos experiência, infinitamente menos futebol, muito menos categoria.

— Com o avanço conquistado no campeonato e a sorte de uma época praticamente sem lesões, o FC Porto pôde planear esta eliminatória com tempo e com capacidade de gestão do plantel, ao passo que o Schalke chegou à eliminatória sem poupanças, sem crença e em crise.

— E, enfim, porque, para o ano que vem, não sabemos se lá teremos o Bosingwa, o Bruno, o Lucho, o Quaresma ou o Lisandro. Conhecendo o que a casa gasta e olhando para as pouco subtis pressões da imprensa lisboeta ligada aos rivais, não é de prever que tal milagre aconteça.

Custa muito ser afastado da Europa por uma equipa que mostrou exuberantemente ser inferior e ter jogado sempre no factor sorte. Custa muito ver o melhor futebol derrotado apenas pela sorte e por um factor individual: um guarda-redes concedeu um golo perfeitamente evitável aos 3 minutos do primeiro jogo e que viria a revelar-se decisivo; o outro defendeu tudo o que era imaginável mais o que não era, até aos penalties do segundo jogo. Essa é a primeira razão deste tão triste desfecho: o FC Porto não teve sorte alguma nos dois jogos com o Schalke. No primeiro, merecia, pelo menos, ter empatado; no segundo, justificou a vitória por 3 ou 4-0, e acabou derrotado no penalties. Como já tínhamos visto no jogo com o Sporting, também é preciso que a sorte não esteja sempre do mesmo lado.

As grandes equipas conseguem contornar os erros de arbitragem e a sorte do jogo. Nem sempre, mas conseguem. O FC Porto não o conseguiu, o que quer dizer que também houve erros próprios. E, praticamente de todos. Jesualdo Ferreira esteve a um passo de uma época de êxito pleno, teve muito pouca sorte em não ter lá chegado, mas também cometeu alguns erros, a meu ver: o primeiro foi o do Helton – não vou voltar ao assunto, mas já dei a minha opinião de que não é jogador para grandes jogos. Não é, ao contrário de Neuer, do Schalke, um guarda-redes que garanta vitórias e milhões. Depois, Jesualdo teve o erro crónico do Mariano González. Quando o Fucile foi (injustamente) expulso no Dragão e ele fizera entrar o Mariano, o FC Porto não ficou a jogar com dez, ficou sim a jogar praticamente com nove e meio. No ano passado era o Renteria, este ano é o Mariano: pergunto-me que estranha fixação terá Jesualdo Ferreira neste Mariano González, o qual, basta olhar para a maneira como conduz a bola sem levantar a cabeça, as dificuldades que tem em dominá-la, a absoluta falta de ideias e capacidade de que dá mostras, para compreender que não cabe na equipa. Também Farias foi um erro de casting: será útil para jogos caseiros de pouco grau de exigência, mas jamais será jogador de grandes jogos. E, enfim, para quem havia anunciado que ensaiara os penalties durante a semana, prevendo um desempate nesses termos, Jesualdo mostrou que ensaiou pouco ou mal, ao contrário dos alemães. Pessoalmente, nunca aceitei a frase feita da «lotaria dos penalties». Quem alguma vez marcou penalties ou tentou defendê-los, sabe que há técnicas para tal que se apuram e há regras de ciência que aos treinadores cabe explicar. E, tirando Lucho, nenhum dos outros intervenientes do FC Porto nos penalties – Helton, Bruno Alves ou Lisandro – mostrou fazer a mínima ideia de como se marca e se tenta defender um penalty. Os alemães sabiam-no e, por isso mesmo, nem mesmo em superioridadde numérica durante quase uma hora, se preocuparam em tantar evitar a suposta «lotaria dos penalties».
Para além do erros que acho que Jesualdo cometeu, outros contribuiram também para a derrota: Lisandro falhou três golos no conjunto dos dois jogos; Tarik falhou dois no Dragão, um deles indesculpável; Quaresma esteve «ausente» do primeiro jogo e falhou um golo imperdível no segundo; Farias falhou outros dois no Dragão, de forma que tornou claras as suas limitações de vária ordem; e Lucho, que fez duas grandes exibições, continuou cativo de uma estranho temor de arriscar o remate para golo, quando tinha condições para o fazer.

E, todos juntos, mais um gigante chamado Neuer e um monstro chamado azar, escreveram a história de uma eliminatória ingloriamente perdida. Para o ano há mais? Pois, o problema é mesmo esse. Não sabemos se para o ano há outra hipótese como esta.

2- Camacho antecipou a sua morte anunciada e poupou ao «amigo» Luis Filipe Vieira a chatice de ter que despedir um amigo e o contratempo de ter que indemnizar o treinador que foi a sua aposta pessoal. E aí vão já dois, na mesma época: escolhidos por ele, descartados por ele. Até quando é que o discurso do Apito continuará a conseguir desviar as atenções?

3- Para consolo interno, costuma-se dizer que o «Sporting está em todas as frentes». Na verdade, não está em nenhuma por mérito próprio: está na taça UEFA porque falhou a continuidade na Liga dos Campeões e o sorteio tem sido misericordioso; está na Taça de Portugal, porque também lhe calhou jogar sempre em casa e contra equipas fracas; está na final da Taça da Liga, porque foi a única equipa das grandes que ligou alguma coisa ao assunto e, mesmo assim, porque, contra o Fátima, era uma eliminatória a duas mãos e contra o Setúbal lhe bastou ficar em segundo lugar num grupo onde atrás de si só havia equipas da segunda divisão; e, na Liga está a 20 pontos (!) do primeiro lugar, a seis da entrada directa na Liga do Campeões e a lutar presentemente por um lugar na UEFA. Contra o Benfica, pese à desajuda de Paraty, nunca mostrou argumentos suficientes par levar de vencida uma equipa que nem ao Leiria mete medo. E, noutro jogo da verdade, em Guimarães (com o seu querido Lucílio Baptista, por uma vez imparcial), mostrou-se inferior em tudo a quem lhe disputa o terceiro lugar. A falta de Liedson e a falta de orçamento não explicam tudo: há ali também muita falta de classe, muito menino que se acha vedeta internacional, mas que não imagina o trabalho que isso dá.

E, agora, que faz um adepto portista reduzido à tristeza deste campeonato? Torce pelo Guimarães e pelo Setúbal, para que sejam eles a disputar a Champions. E torce pela Académica e pelo Leixões, para que não desçam.

ESTE PORTO MERECE OS QUARTOS (04 MARÇO 2008)

O «derby» foi mal jogado, enfadonho e acabou empatado, com incidentes nas bancadas e fora do estádio — tudo como se vem tornando hábito, de há uns anos para cá.

1- Este FC Porto de Jesualdo Ferreira, reconstruído paulatinamente durante dois anos e após a devastação deixada pela passagem do furacão Adriaanse, merece acordar na quinta-feira e saber que está nos quartos-de-final da Champions — o que quer dizer que figura no lote das oito melhores equipas da Europa. Merecem-no, por exemplo, Bosingwa que se vem impondo como um dos grandes laterais direitos do futebol europeu, ele que até começou a «trinco»; merece-o Bruno Alves, que em tão pouco tempo soube emergir de jogador trapalhão para um central cinco estrelas, tendo sabido tirar partido dos dois anos de convivência e aprendizagem ao lado de Pepe; merece-o o Fucile, que, se não fosse tão sacrificado com as deslocações ao Uruguai, poderia jogar a época inteira ao seu melhor nível; merece-o Paulo Assunção, o homem que juntamente com Pepe segurou aquela retaguarda nos tempos de loucura experimentalista do holandês e que vem fazendo outra época em cheio; merece-o Lucho González, este ano sim, a mostrar toda a sua classe e influência no jogo, depois de ter tido uma época decepcionante no ano passado (embora, curiosamente, este ano não marque golos, tendo deixado inexplicavelmente de arriscar o remate de meia-distância, que tantos golos importantes deu nos dois anos anteriores); merece-o Tarik, que, não sendo, de facto, nenhum Maradona nem próximo, tem sabido encontrar o seu espaço e a sua utilidade, apesar de não aguentar um jogo inteiro; merece-o, claro, Lisandro López, cuja colocação a ponta-de-lança foi a mais conseguida descoberta de Jesualdo Ferreira, e que, além dos golos que marca, tem um verdadeiro «espírito de dragão», incansável na generosidade que põe no jogo e na sede de vitórias que nunca sacia; e merece-o esse géniozinho do Ricardo Quaresma, um jogador que vale uma fortuna, não só pelo que joga, mas também pelo espectáculo que dá. É para ver jogadores como o Quaresma que vale a pena pagar bilhete. Ainda este sábado, no Bessa, quando ele entrou ao intervalo para as funções inéditas de nº 10, em substituição de Lucho, os comentadores televisivos apressaram-se a profetizar que não servia para a função — não tinha espaço no meio-campo e iria perder bolas, ocasionando contra-ataques perigosos do Boavista. De facto, começou por falhar um passe longo e perder uma bola no centro do campo, mas, logo a seguir, arrancou para meia-hora de show de bola, mostrando que os génios cabem em qualquer lugar. Em meia-hora, fez dois passes de ruptura para o ponta-de-lança, arrancou dois remates a rasar o poste e um estoiro na barra e cruzou com conta, peso e medida, para o golo de Stepanov, de que o juiz-de-linha não gostou.

Uma equipa que tem três ou quatro foras-de-série e sete ou oito grandes jogadores no total, tem de ter lugar entre as oito melhores da Europa. O Schalke não tem nada disso. Tem pior equipa e muito menos futebol que o FC Porto. É preciso não dar hipóteses ao azar, à descrença ou às circunstâncias imprevistas.

2- Como já disse, o juiz-de-linha que acompanhava o ataque do FC Porto na segunda parte do jogo do Bessa não gostou do golo de Stepanov, quase ao cair do pano, e resolveu anulá-lo por off-side inexistente e que nem era assim tão complicado de julgar bem. Com isso, tirou a vitória e dois pontos ao FC Porto — coisa de menos importância, para quem já leva doze de avanço. E se por acaso os pontos fizessem falta?

Já aqui tenho escrito sobre a fatal tentação dos nossos árbitros assistentes marcarem off-side a tudo o que mexe. Mas nos últimos três jogos do FC Porto, eles exageraram. No Bessa, custou dois pontos. Contra o Gil Vicente, para a Taça, segundo rezam as crónicas, só o árbitro assistente impediu até final que o FC Porto pudesse descansar sobre a magra vantagem de um golo. E, na jornada anterior, contra o Paços de Ferreira, se é verdade que um dos assistentes terá validado o segundo golo do Porto, em off-side de um ou dois palmos, tanto ele como o colega do lado oposto cortaram nada menos do que quatro jogadas de avançado isolado frente ao guarda-redes, com fundamento em foras-de-jogo perfeitamente imaginados, além de um outro golo anulado também por off-side (e o treinador-adjunto do Paços ainda teve o topete de se queixar do segundo golo!).

Esta tendência é preocupante. Sobretudo quando se joga contra uma defesa em linha, em que, para quem ataca, a melhor forma de evitar o fora-de-jogo sistemático, são os passes de ruptura pelo centro da defesa, com o avançado a desmarcar-se entre a linha, nas costas dos centrais. Contra o Paços, Lucho González deu um verdadeiro recital de passes desses, mas o seu esforço foi inglóriamente destroçado, quase na totalidade, por juízes-de-linha precipitados e sem capacidade de leitura do jogo. Sucede que a defesa em linha — (que pode parecer um sistema pouco defensivo, se a linha jogar adiantada) — é, de facto, um sistema altamente defensivo, porque visa evitar o confronto directo com a linha atacante adversária, limitando-se a roubar-lhe os espaços de que os atacantes e o futebol de ataque precisam. E sucede também que o futebol precisa de quem ataque, precisa de golos e do espectáculo que os golos são. Não precisa de juízes-de-linha que parecem sofrer de tiques de personalidade, estando sempre a dar nas vistas marcando off-sides que não existem e, com isso, roubando golos e espectáculo ao futebol. Já vai sendo de mais e o que é de mais basta.

3- «Felizmente, está quase a acabar para ti e para mim», disse Paulo Bento, referindo-se ao iminente final de carreira de Paulo Paraty. Disse-o bem. Eis mais um árbitro que não vai deixar saudades. Para final de festa, deram-lhe o Sporting-Benfica — o sempre tão propagandeado derby, que alguns ainda pretendem ver como «o» derby. E ele tratou de mostrar que não estava à altura de um jogo onde, entre outras coisas, estavam pelo menos seis milhões de euros em jogo. Infelizmente, falhou sempre para o mesmo lado, mas não prevejo que isso possa levantar suspeitas ao nível daqueles que se esforçam desesperadamente para encontrar provas de corrupção num FC Porto-Estrela da Amadora, já com o Porto campeão e o Estrela condenado à despromoção. Também o apito apita sempre para o mesmo lado…(mas isso é assunto a que espero voltar em breve e em força).

Em trinta minutos, Paraty não viu a cotovelada de Cardozo em Tonel (será que se vai aplicar a «doutrina Quaresma», de três jogos de suspensão?); perdoou o vermelho directo a Katsouranis por uma verdadeira agressão a pontapé e sem bola sobre João Moutinho; não viu o penalty de Katsouranis sobre Purovic — bem disfarçado, mas penalty; e, vá-se lá saber porquê, ali, a cinco metros de distância, conseguiu não enxergar um dos penalties mais evidentes do campeonato, do Léo sobre o Vukcevic.
No resto, «o derby» foi mal jogado, enfadonho e acabou empatado, com incidentes nas bancadas e fora do estádio — tudo como se vem tornando hábito, de há uns anos para cá. No saldo das ausências, Paulo Bento saiu a perder. Não só porque dez Makukulas não valem um Liedson, mas também porque o seu substituto, um jogador com nome de pássaro amazónico, ainda daqui a uns anos se deve estar a interrogar porque carga d'água é que lhe aconteceu estar no derby e logo no relvado e não na bancada. O Benfica conseguiu o empate apenas porque Cardozo tem 1,93 metros e o Sporting, não fossem os erros de Paraty, nem sequer podia reclamar injustiça no resultado. Enfim, não foi uma jornada brilhante para ninguém.

4- Notícia da última página de A BOLA de sábado passado: a PJ esteve no Estádio da Luz a apreender documentos relativos às contrapartidas que a CML deu ao Benfica para a construção do novo estádio. Isto, três dias depois de Luís Filipe Vieira, na sua eterna campanha de provocação a Pinto da Costa, se ter gabado de que problemas desportivos podia ter, mas judiciais não. Querem ver que…?

sexta-feira, março 07, 2008

PROVAVELMENTE, O PIOR BENFICA DE SEMPRE (26 FEVEREIRO 2008)

Se eu pudesse escolher, chamava o Baía de volta para o que restar da Liga dos Campeões.

1- O Benfica que empatou na Luz com o decepcionante Sporting de Braga é, apesar disso, a versão menos má deste Benfica de Camacho. É a versão que lhe permite dizer, com toda a naturalidade e conformismo, que «se a bola entra, ganhamos; se não entra, não ganhamos». Para depois rematar, com aquele encolher de ombros que caracteriza toda a sua atitude ao longo da época: «És lo que hay!».

O que tem permitido ao Benfica aguentar-se no 2º lugar da Liga e estar nos quartos-de-final da Taça e dezaseis-avos-de-final da Taça UEFA é apenas sorte. Uma sorte tão impressionante, que não é de esperar que se possa repetir em anos próximos. Sorte na forma quase escandalosa como consegue resolver um sem número de jogos nos minutos finais, sem que antes tenha feito alguma coisa por isso. Em Nuremberga, houve quem escrevesse que «dois minutos à Benfica resolveram a eliminatória». Pois, resta saber se os dois minutos à Benfica foram o minuto 89 e o 91, que lhe permitiram transformar uma derrota mais do que justificada num inacreditável empate, ou antes os 88 minutos restantes, e mais os 95 da primeira mão, em que a águia mais parecia uma alma penada e depenada, arrastando-se em campo sem futebol, sem ideias, sem atitude, contra a pior equipa da Bundesliga. Sorte e imensa tem tido ainda o Benfica em tudo o que meta sorteios: seja na Taça, onde joga sempre em casa e contra equipas menores, seja na Europa, onde começa por apanhar equipas acessíveis na pré-eliminatória da Liga dos Campeões, depois um grupo «brando», e, quando transita para a Taça UEFA, é o que se vê: um incipiente Nuremberga e a seguir o Getafe, uma espécie de Estrela da Amadora de Espanha, estreante nas competições europeias (e, mesmo assim, já classificado por Camacho como adversário «muito forte»).

Em tantos anos a ver futebol, não me lembro de ver um Benfica tão mau. A saída, tantas vezes adiada, de Simão Sabrosa destapou definitivamente a falta de qualidade da equipa, e hoje só os dias luminosos de Rui Costa conseguem dar àquele futebol, de vez em quando, a ilusão de uma equipa que sabe o que faz e o que quer. Os meus amigos benfiquistas, com esse optimismo que é, de facto, um traço de carácter da nação vermelha, ainda alegam que a equipa não é má, Camacho é que não sabe o que fazer com ela. Permito-me discordar: em todo aquele plantel que Luís Filipe Vieira classificou como o melhor dos últimos dez anos, só vejo, Rui Costa à parte, três jogadores que se podem considerar regularmente bons: Quim, Léo e Cardozo. O sintoma mais gritante desta falta de qualidade e de ideias de jogo é, para mim, o frémito de entusiasmo que passa pelas hoje semi-despovoadas bancadas da Luz quando o Binya se prepara para executar um lançamento lateral para dentro da área. Que o público, tradicionalmente conhecedor e exigente da Luz, já tenha também chegado ao ponto de descrença e conformismo de pôr as suas esperanças e emoções num lançamento lateral, diz quase tudo sobre os tempos que se vivem por ali.

Claro que com o mal dos outros, e para mais adversários, vivemos nós muitíssimo bem. Mas nem nós, portistas, vivemos bem com um campeonato tão desinteressante como este. E o que mais me impressiona é verificar que à 20.ª jornada do campeonato, este frustrante Benfica consegue, mesmo assim, ter mais um ponto do que tinha há quatro épocas, quando jogava um futebol igualmente feio… e conseguiu conquistar o seu último título de campeão! Ou seja, de há quatro anos para cá, a única coisa que mudou é que o FC Porto voltou à normalidade interrompida durante uma época.

2- Por mais que não seja politicamente correcto dizê-lo, há um «caso Helton» no FC Porto. Eu estou à vontade no assunto, porque nunca escondi que o Helton não me convencia, e ainda na semana passada, antecipando o jogo de Gelsenkirchen, escrevi que a única coisa que temia era a intranquilidade do Helton na baliza.

Infelizmente, o jogo com o Schalke veio dar razão ao que aqui tinha dito várias vezes: que o Helton tem uma tendência fatal para falhar nos jogos mais importantes — Chelsea, Sporting, Liverpool, Schalke. Quando se teria o direito de esperar que fosse o guarda-redes, como é da praxe, o primeiro a parar o ímpeto incial dos donos da casa e dar tranquilidade à equipa para o resto do jogo, ele demorou apenas três minutos a facilitar o golo alemão: primeiro, sacudindo para a entrada da área — local proibido! — uma bola chutada à figura, e depois demorando uma eternidade a recolocar-se para a recarga. É certo que ele não foi o único responsável pela derrota: o Fucile fez o pior jogo que já lhe vi, o Quaresma perdeu-se numa querela particular com Rafinha, o Farías também voltou a mostrar-se inútil nos grandes jogos e o Lisandro falhou um daqueles golos que nunca falha. Mas, por tudo isso, o que ficou a ditar o resultado foi, mais uma vez, o golo mal consentido por Helton.

Talvez, para ser justo, deva dizer que não tenho a certeza de que o facto de o Helton não ter evoluído nada desde que chegou ao FC Porto seja culpa dele e não de quem tem por missão prepará-lo. Há uma diferença abissal entre ser guarda-redes de um clube pequeno ou médio e ser guarda-redes do FC Porto. O Helton que chegou ao F.C.Porto era um excelentíssimo guarda-redes no União de Leiria. Dois anos e meio depois, o que constato é que essa qualidades em nada têm aproveitado ao FC Porto e, pelo contrário, os defeitos não corrigidos, como o do jogo aéreo, têm sido determinantes. No campeonato, na baliza de uma equipa como o Leiria, em todos ou quase todos os jogos, sobram ocasiões para brilhar e para salvar golos com defesas fantásticas, ao ponto de um ou outro erro se diluirem na maré de grandes defesas feitas. Mas, no FC Porto, se existirem dois jogos desses por época, já é muito. Na baliza do FC Porto o que se lhe exige não é defesas do outro mundo, que raras vezes será chamado a executar: o que se lhe exige é que não deixe entrar nenhum golo defensável, o que passa por ser rei e senhor no jogo aéreo pelo menos na pequena área, saber jogar com os pés tranquilamente, saber sair da área como um defesa para obstar ao jogo de contra-ataque e, em qualquer circunstância, transmitir segurança e confiança para dentro e fora do campo. Se, além disso, também fizer defesas excepcionais, melhor ainda; mas, se for necessário escolher entre o espectáculo e a eficácia, entre duas defesas impossíveis ou todas as defesas possíveis, a última escolha é a que interessa. Depois, como se isto não fosse já suficientemente difícil, a um guarda-redes do FC Porto é também exigível que, nos jogos europeus, consiga estar ao nível de um desempenho constante e muito mais exigente e a que não está habituado pelos jogos do campeonato.

É por isso que eu acho que, mais do que qualquer outro jogador, a escolha de um guarda-redes vindo de um clube pequeno para um clube grande do campeonato português, como o FC Porto, é muito mais arriscada e aleatória. Não é por acaso que o FC Porto viveu anos a fio nas paz que lhe dava um guarda-redes chamado Vitor Baía: porque ele foi formado nas escolas do clube, subiu todos os escalões a aprender as funções de um guarda-redes de um clube que vive todos os jogos quase sempre ao ataque e, quando chegou ao topo, tinha a cultura de jogo e o instinto formatados para essa função específica.

E o problema concreto agora, é que, contra o Shalke não sabemos se vão ser precisos dois ou três golos para eliminar os alemães. Se eu pudesse escolher, chamava o Baía de volta para o que restar da Liga dos Campeões.

3- Martin Taylor, do Birmingham, partiu a tíbia e o peróneo a Euardo Silva, do Arsenal, com uma entrada de lado, descrita como «arrepiante» — a tal ponto que as imagens não foram repetidas. Katsouranis também partiu a tíbia e o peróneo a Anderson, mas entrou por trás e ainda lhe causou rotura de ligamentos. Descubra mais diferenças...

O ESPÍRITO DE GELSENLKIRCHEN (19 FEVEREIRO 2008)

Tenho muitas esperanças para logo à noite. Vejo que Jesualdo Ferreira soube planear as coisas como deve ser e trouxe a equipa até aqui, até este momento decisivo, no apogeu da sua força física e anímica.

1- Custa a crer que já passaram quase quatros anos desde que tomei o meu lugar na bancada do Arena auf Schalke, onde logo à noite o FC Porto regressa para tentar manter vivo o sonho da reedição dessa inesquecível jornada europeia que pela segunda vez tornou o clube da Invicta o campeão da Europa. Lembro-me como se fosse hoje. Dias antes tínhamos perdido no Jamor a final da Taça para o Benfica de Camacho (o único título que o espanhol conquistou em toda a sua carreira de treinador), evitando que o FC Porto pudesse fazer nessa época o pleno absoluto: Campeonato, Taça, Supertaça, Liga dos Campeões. Mas foi um jogo muito mal perdido, com uma arbitragem à maneira de Lucílio Baptista, que levaria Mourinho a exclamar, no final, que não sabia se aquele árbitro o perseguia a ele ou ao FC Porto. Era ao FC Porto, conforme o seu historial há muito documentara: a sua dualidade de critérios disciplinares nessa final conseguiu pôr o Porto a jogar durante mais de uma hora com um a menos. Mas nem isso travou os dragões: com um Deco inspiradissimo, o FC Porto encostou os onze do Benfica lá atrás e massacrou-os o jogo inteiro, acabando por perder num erro do suplente de Baía. Foi um desfecho injustíssimo e uma derrota que custou muito aceitar e digerir.
Como todos os adeptos, temi que essa derrota tão injusta pudesse afectar a equipa para a final com o Mónaco. Mas, felizmente, os temores não se confirmaram: esse génio indisciplinado que era o Carlos Alberto tratou de pôr o Porto em vantagem antes ainda do intervalo e, na segunda parte, o Alenitchev e o Deco deram cabo do Mónaco, só não chegando nós aos 4-0 porque o árbitro fez vista grossísima a uma grande penalidade flagrante sobre o Deco. Que grande equipa, de que já não resta ninguém!

Lembro-me também de pensar, durante o jogo, que o dono daquele magnífico estádio, o Schalke 04, bem que gostaria de estar ali em campo, a disputar a final da mais prestigiada competição de clubes em todo o planeta, em lugar de figurar apenas como anfitreão da final. E, com a vitória consumada, na euforia da saída do estádio, lembro-me de pensar que talvez nunca mais, em tempo da minha vida, eu pudesse ver um clube português campeão da Europa. Porque a Champions não é a antiga Taça dos Campeões Europeus, que FC Porto e Benfica também conquistaram. Aqui não há sorteios totalmente aliatórios nem apenas uma equipa campeã por país, permitindo chegar longe na competição afastando, por exemplo, os campeões de Chipre ou da Dinamarca, como sucedia na Taça dos Campeões. Pois, logo à noite, o Schalke tem hipótese de mostrar à Europa que não tem apenas um belo estádio, mas também a pretensão de integrar o restrito clube dos melhores do continente; e o FC Porto tem hipótese de mostrar que a reedição do sonho pode, afinal, não ser assim tão impossível, um dia ou um ano destes.

E, se querem que vos diga, com toda a franqueza, tenho muitas esperanças para logo à noite. Vejo que Jesualdo Ferreira soube planear as coisas como deve de ser e trouxe a equipa até aqui, até este momento decisivo, no apogeu da sua força física e anímica. O FC Porto está mais do que preparado para a importância deste jogo e desta fase determinante da temporada, com o título nacional já brilhantemente enrolado no bolso e as meias-finais da Taça apenas a um pequeno passo (e aqui, sem grande esforço, diga-se de passagem). Sente-se que, mesmo que a noite possa correr muito mal, que a sorte vire as costas, a equipa não sucumbirá à fraqueza ou ao medo. Aqui entre nós, e lamento dizê-lo mas a crítica é isto mesmo, só temo uma coisa: a tremideira do Helton na baliza. Se isso não acontecer, e oxalá que não, não é o Schalke que vai reduzir o FC Porto a uma equipa banal, em termos europeus. Mas, atenção: também é preciso que Jesualdo não resolva inventar, movido pelo medo. Que deixe a equipa jogar no seu 4x3x3 habitual e que não os impeça de atacar como deve de ser a baliza do Schalke.

2- Não deve ser fácil, em termos pessoais e profissionais, ter sido treinador da Selecção do Brasil e, anos depois, ser treinador de uma equipa do meio da tabela do campeonato português, como o Marítimo. É preciso, pois, entender a frustração de Sebastião Lazaroni, após a demolidora derrota por 0-3, em casa, contra o FC Porto. Compreende-se a frustração, mas ela não justifica tamanha «falsificação» factual relativamente à arbitragem do jogo e, pior ainda, a tão gasta tentativa de justificar com a arbitragem uma derrota que traduziu apenas a imensa superioridade, colectiva e individual, de que o FC Porto deu mostras em todo o jogo, com excepção de 15 minutos na primeira parte. De facto, Pedro Henriques confirmou, uma vez mais, que é um sério candidato à sucessão de Lucílio Baptista (como este foi à de Carlos Valente) na ilustre linhagem de árbitros que acham que o caminho da isenção e do prestígio consiste em arbitrar sempre contra o FC Porto. Já no ano passado, Pedro Henriques foi decisivo na vitória do Sporting no Dragão; este ano voltou a ser decisivo na derrota do FC Porto contra o Nacional; e, desta vez, contra o Marítimo, só não foi decisivo porque o FC Porto não lhe deu hipóteses de o ser. Na primeira parte, perdoou um penalty ao Marítimo e perdoou por duas vezes um cartão amarelo a Djalma, que teria feito com que ele fosse para o balneário mais depressa do que acabou por ir. Perdoou também várias faltas evidentes ao Marítimo, ao invés do que fazia de cada vez que um jogador madeirense caía ao chão. A estatística de «A BOLA» diz tudo: o FC Porto teve 7 remates perigosos contra 1 do Marítimo, mas, curiosamente, tendo tido mais de uma hora de ataque constante, foram os jogadores do FC Porto quem, no entender do árbitro, cometeram o grosso das faltas: 23 contra 10, mais do dobro!

De facto, Sebastão Lazaroni e Pedro Henriques deveriam ser condenados pela Liga a verem várias gravações vídeo do jogo até perceberem que eles não são os únicos a assistir aos jogos e todos os outros não são parvos.

3- Com o regresso do Binya da CAN, o Benfica recuperou aquela que parece ser a mais perigosa, estudada e esperançosa «jogada de ataque» congeminada por Camacho: os lançamentos laterais de Binya para dentro da área adversária. Quem não tem carabina, caça com fisga, quem não consegue atacar com os pés ataca com as mãos…
E agora, que está à vista de todos a forma como Camacho conseguiu desbaratar — e com muito mais meios! — tudo o que de bom Fernando Santos trouxera ao futebol do Benfica, nem admira que um jogador cujo grande talento é lançar a bola à mão ao melhor estilo do futebol americano se torne imprescindível para disfarçar a ausência de tudo o resto. No futebol actual do Benfica salva-se apenas o Rui Costa e nada mais.
Por dever deste ofício, sou obrigado a seguir os jogos do Benfica pela televisão. Com raras excepções, o resultado é invariavelmente o mesmo: adormeço ao fim de dez, quinze minutos. E, quando acordo, no dia seguinte, estão eles à espera de ganhar o campeonato… no tribunal de Gondomar!

4- O Sporting fez um grande jogo contra o Basileia, que em momentos chegou mesmo a empolgar-me e a dar por mim a torcer pelo Sporting como se fosse o FC Porto (acreditem que não é fácil…). Depois, teve um jogo mesmo à medida dos seus desejos e necessidades contra o Estrela da Amadora, provando que a equipa não tem estaleca para dois jogos bons de seguida. Uma nota: porquê que Paulo Bento insiste em pôr o Polga a cobrar penalties, sem ao menos lhe explicar que um penalty deve ser batido pelo chão e não pelo ar e preferentemente em jeito, enganando o guarda-redes, e não em força?
5- Sou um tradicionalista: gosto de ver na primeira Liga os clubes que povoam as minhas memórias de infância. Depois de anos a desesperar por ver o Leixões subir cá acima, agora torço para que ele, e a Académica, não desçam. E, na segunda Liga, torci este fim-de-semana para que o Olhanense conseguisse vencer nos Açores. Conseguiu: agora é preciso vencer para a semana em Aveiro e o milagre do regresso do Olhanense à primeira Liga pode começar a desenhar-se no horizonte.