segunda-feira, março 15, 2010

O FUTEBOL NÃO É ASSIM TÃO COMPLICADO (09 MARÇO 2010)

1- Já várias vezes disse que tenho muito respeito profissional por Jesualdo Ferreira. Acho que ele teve até agora vários méritos no F.C.Porto - para além do mérito evidente de três campeonatos e três presenças nas eliminatórias da Liga dos Campeões, em três anos de trabalho. Primeiro, repôs a normalidade táctica no futebol da equipa, depois das experiências delirantes do delirante Adriaanse; depois, soube fazer crescer jogadores hoje decisivos, como Bruno Alves, Varela ou o saudoso Lisandro; e, enfim, resistiu, ano após ano, ao desfalque sistemático dos melhores jogadores da equipa, por força da apetência negocial da administração da SAD e em obediência à sua regra de oiro: «vendemos três bons e compramos dez maus».

Mas também várias vezes disse que há coisas em Jesualdo que se tornam difíceis de entender e aceitar, a começar pela sua teimosia e previsibilidade: ele não dança conforme a música, mas conforme o seu plano de dança - e não muda, mesmo que a orquestra esteja a tocar uma valsa e ele insista em dançar um tango. A coisa começa pela escolha dos parceiros de dança: Jesualdo não gosta de mudar de par, ainda que o parceiro escolhido não saiba pôr um pé à frente do outro. No sábado, por exemplo, contra o Olhanense, Jesualdo assistiu pela centésima vez à absoluta inutilidade do Mariano González, mas manteve-o de princípio a fim, atrapalhando tudo e todos. E, do outro lado, brilhava o Ukra, sob contrato com o F.C.Porto e que ele não quis recuperar em Janeiro. Como a seguir, no Vitória de Setúbal-Braga, brilharam o Hélder Barbosa e o Alan, ou como quinta-feira brilhou o Vierinha pela selecção Sub-23. E a estes poderíamos ainda acrescentar o Candeias, o Rabiola, o Pitbull - tudo extremos dispensados por Jesualdo e que são todos, sem excepção, infinitamente melhores do que o triste González. Outro exemplo: precisou de ver o Maicon oferecer dois golos no primeiro quarto de hora de jogo para, quem sabe, começar talvez a pensar que a alternativa aos centrais titulares se chama Nuno André Coelho e ficou sentado no banco. E o mesmo se diga do miúdo Sérgio Oliveira, culpado de ter deixado todos com água na boca nas raríssimas oportunidades que Jesualdo lhe deu, e obrigado a ficar no banco asssistindo à miserável prestação de um trio de meio campo formado pelos confrangedores Valeri, Belluschi e Guarín. Em quatro anos de F.C.Porto, Jesualdo Ferreira não aproveitou um só jovem vindo da «cantera» - apenas algumas vezes lhes criou ilusões e lhes deu falsas oportunidades, antes de rapidamente os despachar para a concorrência. Sobretudo, se acumularam o azar de serem portugueses e não argentinos.

A mim, parece-me que o futebol não é assim tão complicado. Pouco ou nada percebo de tácticas e estratégias, mas, caramba, acho que não é nenhum bico-de-obra perceber quando é que um jogador é bom ou quando não presta. Basta ver como domina a bola, como a transporta, como decifra o jogo e resolve cada situação, como remata, como cabeceia, como se desmarca, como passa. Não é preciso ser nenhuma luminária para perceber que um Guarín não faz a mais pálida ideia do que anda a fazer em campo; que o Mariano tem uma permanente expressão de tristeza que é o espelho do futebol que ele próprio sabe que está ao seu alcance; que o Belluschi tem pose de pavão mas a eficácia em voo de um avestruz. Olha-se para o plantel do F.C.Porto e a mim parece-me evidente o que ali está. Estão oito bons jogadores: o quarteto defensivo (Fucile, Álvaro Pereira, Bruno e Rolando), o trio atacante (Hulk, Varela e Falcao), e apenas um centro-campista, recentemente acrescentado (Ruben Micael). Depois, há três jogadores que umas vezes jogam bem, outras mal: Fernando, Meireles e Rodriguéz. Um trio de guarda-redes banal, as tais duas esperanças por confirmar (Nuno André e Sérgio Oliveira) e, enfim, aquela funesta leva de latino-americanos que Jesualdo adora e que são uma fonte de despesas e frustrações sem fim: Mariano, Guarín, Tomás Costa, Valeri, Belluschi, Farías e Prediger. Parece que, desta leva, o único que afinal valia alguma coisa é o único que Jesualdo dispensou: Bolatti, agora titular na Fiorentina e na selecção argentina. Convenhamos que o professor tem um critério singular.

Eu percebo que Jesualdo tivesse de fazer poupanças contra o Olhanense, a pensar no Arsenal. Não percebo é a lógica de poupar antes de fazer o resultado, arriscando-se depois a ficar sem resultado e sem poupança: não era melhor ter metido o Varela desde início e tê-lo tirado depois de estar a ganhar 2-0, do que tê-lo poupado de início para ter de o meter a seguir a estar a perder 0-2? Era: o problema é que, apesar de tantas e tantas demonstrações da sua absoluta ineficácia, Jesualdo continua a manter a fé naquele patético quinteto latino-americano que habita no meio campo e arredores. E, mesmo depois da oportunidade de os experimentar bem naquela série de quatro ou cinco jogos contra equipas de terceira linha, em Janeiro, depois de ter ficado exposto à saciedade que dali não viria nenhuma boa nova, o professor teima em acreditar em milagres e em imaginar que pode disputar a sério o campeonato e a Europa com os Guaríns e Marianos.

Uma equipa de top em Portugal, que aspire também a fazer figura na Europa, precisa de ter, pelo menos, onze bons jogadores e sete razoáveis. Este F.C.Porto tem oito bons e três razoáveis: é curto. É certo que ninguém pode saber se a responsabilidade principal pelo plantel que está à vista é de Jesualdo Ferreira ou de Adelino Caldeira. Mas os dispensados são responsabilidade do treinador; a opção em não apostar nos que vêm da formação é responsabilidade sua; a teimosia nas mesmos alternativas com os suplentes de sempre, e que nunca resultam, é responsabilidade sua; a incapacidade de mudar as coisas a partir do banco, de não fazer substituições apenas por fazer e de não ser capaz de as fazer antes e não depois de estar em estado de necessidade, é responsabilidade sua.

Logo à noite, contra o Arsenal, a equipa só pode ser esta: Helton (já que tem de ser...), Fucile, Rolando, Bruno Alves e Álvaro Pereira; Raul Meireles, Fernando e Ruben Micael; Hulk, Falcao e Varela. No banco, professor, por favor sente: Beto, Miguel Lopes, Nuno André Coelho, Sérgio Oliveira e Cristian Rodriguéz. E, se quiser fazer número, acrescente o Belluschi - que, à falta de alternativa, entrará para o lugar de Fernando, se este não estiver em condições, recuando o Raul para trinco. E ganhe a eliminatória hoje, salve a época e para o ano reveja com atenção esse problema do meio campo e da falta de mais um extremo de raiz. E peça ao Dr. Caldeira que vá de férias para bem longe, quando chegar a altura das contratações.

PS 1 - Até que enfim que a Selecção Nacional tem um equipamento que dá gosto ver! As cores da bandeira (uma das mais feias do mundo, tal como o hino) não ajudam, mas décadas de ditadura do encarnado tornaram o equipamento horrível. Agora, que o Glorioso Benfica não tem um único jogador na Selecção (embora o Quim lá merecesse estar e a titular), já era altura de parar com a vassalagem nos equipamentos. Oxalá este nos dê sorte!

PS 2 - Ó Araújo Pereira, venho constatando a atenção que você dedica aos meus escritos passados - embora não todos, mas incluindo alguns de que eu próprio já não me lembrava. E ocorreu-me se você, entre dois daqueles tão imaginativos anúncios ao MEO, não quereria fazer uma perninha como meu arquivista, que bem precisava? (E só não o trato por Ricardo também, porque você me trata por Sousa Tavares, e só há duas coisas que eu odeio, quando se referem a mim: que me tirem o Miguel do nome e que me ponham a dizer uma palavra que eu nunca uso: «algo»).

O DILEMA (02 MARÇO 2010)

1- A partir das 22.10 de domingo, todos os portistas se viram confrontados com um dilema de difícil solução. Perdido de vez o sonho de novo penta-campeonato, por qual dos objectivos deve torcer o nosso coração: desejar que o Braga comece a perder pontos, para que assim lhe roubemos o segundo lugar e o acesso à pré-eliminatória da Liga dos Campeões do ano que vem, ou torcer para que o Braga se aguente e consiga roubar ao Benfica o seu de há muito anunciado título de campeão? Racionalmente, deveríamos torcer pela primeira opção, mas acho que não me engano se disser que a grande maioria dos portistas torce para que, acima de tudo, o Benfica não seja campeão. É que, nos últimos anos, a «Instituição» tem feito o possível e o impossível para se tornar absolutamente odiosa e odiada aos olhos dos portistas.

Pela parte que me toca, tento, apesar de tudo, manter a calma e a lucidez. Penso que seria muito mau que o F.C.Porto — que, a par do Manchester United, é o clube com mais presenças na Liga dos Campeões — viesse a falhar a edição de 2010/11. E também, contra túneis e apitos encomendados, continuo a pensar que o campeão deve ser o melhor em cada época. E esta época — já o escrevi aqui duas vezes — o melhor tem sido o Benfica. E, até por isso, como também já o escrevi, é pena a história do túnel. É pena que o excesso de zelo do Dr. Costa nos faça para sempre lembrar que este, a ser o ano do Benfica, será também o ano do túnel — o ano em que nos foi retirada, de forma infame, uma das armas principais para discutir o título até final. E isto não é conversa de vencido: estava a olhar para o jogo de Alvalade, a meio da primeira parte, e a pensar que o jogo estava mesmo à medida das arrancadas do Hulk. Mas, quando olhava para o espaço que deveria ser o dele, quem é que eu via lá? O Mariano González!


2- Se me tivessem pedido um palpite para o jogo de Alvalade, eu teria apostado numa vitória do Sporting. Porque um «clássico» é sempre um «clássico», com uma lógica que desafia a simples lógica habitual, e também porque, de há uns tempos para cá — dois, três anos — venho detectando no F.C.Porto um preocupante regresso aos tempos do síndroma do terror da travessia do Douro. Jesualdo Ferreira devia estar atento a isso, porque essa foi a razão primeira para aquelas, já longínquas, décadas de subalternidade portista: o medo de vir jogar a Lisboa, que tolhia os jogadores, transformando-os em crianças aterrorizadas num mundo de adultos. O mesmo F.C.Porto que, no espaço de uma semana, aguentou e venceu o Arsenal e destroçou o Sporting de Braga, veio a Lisboa, perante um Sporting que lhe é em tudo inferior, e assinou a pior exibição da época — apenas comparável à que já havia assinado na Luz.

É claro que há coisas ou casos que são previsíveis: o Mariano ainda consegue disfarçar às vezes, quando tudo está a correr bem à equipa; mas, quando a equipa precisa mesmo de jogar onze contra onze, ele não existe — só Jesualdo é que insiste (e, diga-se em abono da verdade, acompanhado por alguns amigos da onça). Eu acho que o rapaz é sério no esforço que faz, que sente e sofre pela equipa. O problema é que ele não é capaz de dominar uma bola, de fazer um remate sem ser para onde está virado, de cruzar uma bola em condições, enfim, de exibir um básico de técnica futobolística sem a qual é forçoso pensar que se enganou na profissão. Eu sei que às vezes saem dali coisas totalmente imprevistas e que, em momentos de delírio, ele é capaz de sair da cabina telefónica com a bola à frente — mas não sai pela porta, sai pela parede de vidro, criando uma tamanha trapalhada que os adversários acabam por se desnortear. Mas, no fundamental, não há milagres no futebol: em Alvalade, Mariano perdeu todos e cada um dos lances em que interveio e não deu seguimento a uma única jogada. Mesmo assim, e igualmente previsível, Jesualdo Ferreira esperou pelo minuto 46 e pelo 3-0 para se conformar com a inviabilidade do milagre.

O que não era de prever eram outras coisas: a noite absolutamente desastrada da dupla de centrais, assistindo os remates para os dois primeiros golos do Sporting e abrindo uma avenida iluminada para o terceiro; o desaparecimento de Silvestre Varela e de Rúben Micael — este, limitado pela arrastada lesão na clavícula causada por uma entrada «a matar» de um defesa leixonense há quinze dias atrás, e branqueada em campo por Bruno Paixão. E também não era de prever que à recaída física de Rúben Micael se viesse juntar também a de Raul Meireles. E, de repente, com meio jogo pela frente, o meio-campo do F.C.Porto ficou entregue a três suplentes: o Tomás Costa, mais um artista de variedades, com penteado a condizer, chamado Belluschi, e um rapaz da Colômbia, Freddy Guarín de sua graça, que está seguramente na lista dos dez piores jogadores que eu alguma vez vi vestirem aquela luminosa camisola azul-e-branca. É preciso conceder: foram contratempos a mais. E ainda faltava saber para que lado cairia a sorte do jogo.


3- Resultado feito, é claro que choveu um coro de elogios à exibição do Sporting — como já antes, perante idêntico resultado, havia sido contemplada a vitória sobre o Everton. Pois eu, que vi os dois jogos, confesso-me pouco impressionado. Vi um Everton desfalcado, absolutamente inofensivo, como já havia sido contra o Benfica e, face ao qual, o Sporting não fez mais do que a sua obrigação de ganhar tranquilamente e salvar um pouco a honra de uma época sem glória. E contra o F.C.Porto?

Na primeira jogada de ataque, aos seis minutos, o Moutinho ganha um ressalto ao Fucile, centra no chão e pelo chão direito ao Rolando, que serve o Djaló para um remate «cagadinho» que bate mal o Helton: 1-0 no primeiro remate à baliza. Foi um tónico precioso para uma equipa que, passados dez minutos, já dava a sensação de estar a arrastar-se em campo e a suspirar pelo intervalo. E, quando já tudo caminhava para as cabinas, o Mariano perde, uma vez mais e displicentemente, uma bola a meio-campo, há um cruzamento para a área e Bruno Alves assiste de cabeça para um remate feliz do Izmailov: 2-0 ao intervalo, quando apenas o 1-0 já era excelente. E assim regressa o Sporting para a segunda parte, depois de um anormal período de descanso na cabina. Regressa e, ao minuto 1, primeiro ataque e eis que Bruno e Rolando abrem alas para ver o Liedson rematar ao poste e permitir uma recarga tranquila do Veloso: 3-0 ao minuto 46, aproveitando tudo aquilo a que generosamente talvez se possa chamar três oportunidades de golo. A partir daí, a história do jogo ficou contada: o F.C.Porto sucumbiu psicologicamente e o Sporting renasceu, física e animicamente, como até o Sacavenense teria renascido. Muitos «olés» e auto- -elogios, mas eu, sinceramente, ainda me pergunto onde esteve a fantástica exibição leonina. O que eu vi foi uma sorte quase obscena, a que se juntou um «hara-kiri» portista, potenciado por alguns jogadores que pareciam ter tomado Dormicum ao pequeno-almoço — seguindo, aliás, o exemplo do próprio treinador. Ainda não foi desta que consegui ver — por uma vez que seja! — Jesualdo Ferreira conseguir mudar o curso dos acontecimentos a partir do banco...


4- Também é preciso sorte noutras coisas. O Sporting começou o jogo sem nenhum titular indisponível e apenas com o seu treinador a ensaiar por antecipação a desculpa do cansaço. O Benfica tem atravessado a época inteira com todo o seu núcleo duro permanentemente disponível (à excepção de Pablo Aimar, que é, por natureza, fisicamente intermitente). Mas todos eles lá têm estado à disposição de Jesus. E, não desfazendo o mérito deste na gestão do plantel e em tudo o resto, assim tem sido com Javi García (agora castigado com dois jogos), Ramires, Aimar, Saviola, Cardozo, Di María: seis estrangeiros de luxo, sempre disponíveis. Mas já o F.C.Porto teve lesionados de longa duração: Varela, Fernando, Meireles, Rodriguez, Orlando Sá. Agora, juntou-lhe o Farías e há dois meses que tem o Hulk de fora, às ordens do Dr. Ricardo Costa. O Rúben anda a jogar lesionado, o Meireles talvez antes de tempo, e não tem avançados no banco de suplentes. Faz a sua diferença, mas agora já não há nada a fazer. Apenas ultrapassar o Arsenal.

FUTEBOL É ISTO, O RESTO SÃO CALABOTES (23 FEVEREIRO 2010)

1- Escrevi no meu último texto que esta semana que passou iria ser decisiva para o futuro próximo do F.C.Porto, com os dois jogos contra o Arsenal de Londres e o de Braga e a iminente leitura da sentença que o Justiceiro congeminava para Hulk e Sapunaru. Mas acrescentei que é justamente nestas alturas que o clube e a equipa se agigantam. E assim foi: no que dependia da equipa, os resultados foram os melhores; no que dependia dos seus inimigos, foram maus, claro, bem piores do que a vergonha permitiria supor. Sigamos, então, a ordem destes cinco dias vertiginosos para os portistas.

Foi um jogo magnífico na primeira parte e terrível na segunda. O Arsenal, mesmo desfalcado de jogadores como Almunia, Arshavin ou Van Persie, é uma equipa fabulosa - como rapidamente se pôde ver no tapete do Dragão. E só foi pena que o F.C.Porto, mais uma vez, tenha começado por perder dois golos logo de entrada, porque não aparecem oportunidades assim contra equipas destas em todos os jogos. Mas, no resto, o F.C.Porto fez um jogo tremendo - de esforço, de bom futebol, de capacidade de resistência e de jogar a um ritmo que diz muito do profissionalismo com que se trabalha naquela casa: nenhuma outra equipa portuguesa, como se tem visto ao longo dos últimos anos, é capaz de sustentar um jogo a este nível e disputá-lo do primeiro ao último minuto.

O F.C.Porto acabou por ter a sorte do jogo na forma como obteve os seus dois golos (o segundo, digo-o contra nós, não deveria ser permitido - embora o Bayern também já nos tenha eliminado assim uma vez). Mas em campo esteve, pela primeira vez, aquele que considero, jogador por jogador, o melhor onze possível. Todavia, acusando e muito a debilidade física e falta de ritmo de jogo de alguns regressados: Raul Meireles, Fernando, Hulk. Para além disso, repetiu-se essa estranha debilidade no jogo aéreo estático do centro da defesa portista, a permitir o golo do Arsenal (como depois permitiria igualmente o do Braga): é muito estranho como é que Rolando e Bruno, imperiais no jogo aéreo em movimento, se tornam vulneráveis nas bolas paradas pelo ar…

Mas há ali à solta um trio de luxo neste F.C.Porto, que tem conseguido ultrapassar castigos e lesões, sobrecarga de jogos e ausência de um banco à altura: é o trio Álvaro Pereira, Ruben Micael, Silvestre Varela. Seguramente, que Carlos Queiroz está atento aos dois últimos; seguramente que o CD da Liga está atento a todos eles e mais o Falcao. Vai ser preciso ultrapassar sarrafadas, emboscadas em túneis e árbitros comanditados. Não vai ser fácil, não - assim como não vai ser fácil segurar esta débil vantagem em Londres, dentro de quinze dias. Mas, pelo menos, os outros que têm chegado à Liga dos Campeões quase sempre exclusivamente por mérito nosso, podem-nos agradecer mais dois pontos arrecadados para o ranking da UEFA. Vá lá, agradecem, que só vos fica bem.

2- Apesar de todo o seu gosto pelas encenações grandiosas, apesar da sua retórica pseudo-jurídica para parolos e ignorantes, o Dr. Ricardo Costa é demasiadamente previsível. O homem tem uma obsessão, que não há como esconder: perseguir o F.C.Porto, como ninguém mais. Debalde, se tentará embrulhá-la em sinuosas teses jurídicas, que a ignorância jornalística ou a má-fé militante consentem apadrinhar. Facto é que todas as suas teses de direito acabam derrotadas por quem de direito: quis pôr o F.C.Porto fora da Europa e da primeira Liga e acabou posto no lugar pelo Comité de Disciplina da UEFA; mandou silenciar Pinto da Costa por dois anos e acabou enxovalhado pelos tribunais, que reduziram a nada o suposto crime e os supostos factos pelos quais ele condenou o presidente do F.C.Porto; e agora, retirou a dois profissionais de futebol o direito ao trabalho por uma larga temporada, e mais tarde será, obviamente, desautorizado. O problema é que, enquanto pode e o deixam, enquanto inventa teses jurídicas e não é posto na ordem por quem o pode fazer, ele causa danos - e esse é o resultado prático da sua «justiça».

As teses jurídicas do Dr. Ricardo Costa fazem-me lembrar o que se contava na minha Faculdade de Direito de Lisboa, a propósito da tese de doutoramento do professor Soares Martinez. Contava-se (não sei se como lenda ou verdade) que, depois de o ouvir dissertar, o Professor Marcelo Caetano, arguente da tese, lhe disse: «A sua tese tem partes boas e partes originais. Infelizmente, as partes boas não são originais e as originais não são boas».

O mais original (e previsível) da última tese jurídica do Dr. Ricardo Costa é a doutrina que ele acaba de criar de que os seguranças contratados por um clube - sem acreditação da Liga nem sujeitos à sua alçada disciplinar - são «agentes desportivos». Porque, repito-o mais uma vez: A LEI NÃO DIZ QUEM SÃO OS AGENTES DESPORTIVOS. E, de forma alguma sugere ou permite concluir que os seguranças o sejam: quem o diz é o Dr. Ricardo Costa. E di-lo, porque essa sua original interpretação da lei é a única que permite retirar dos relvados por uma temporada absurda dois jogadores do F.C.Porto. Por isso, quando ele se escuda na «dura lex, sed lex» para justificar o injustificável, estamos perante um vulgar exercício de malabarismo: a lei não diz nem permite inferir aquilo que o Dr. Ricardo Costa afirma que ela diz. A lei não é ele e isto não é o Texas.

Se, como ele sustenta, os seguranças (cuja única missão é vigiar o público, e não vigiar jogadores, fazer-lhes uma espera em atitude de desafio dentro do túnel e provocá-los quando eles vão para a cabina) são «intervenientes no jogo», então toda a gente que está no estádio é interveniente no jogo. Desde logo, os próprios espectadores - que, ao contrário dos seguranças (que passam o tempo todo de costas viradas ao jogo), puxam pela equipa da casa, vaiam os adversários, pressionam o árbitro, etc. E os apanha-bolas, que muitas vezes demoram ou apressam a reposição das bolas em jogo, conforme o interesse da equipa da casa. E os polícias, os arrumadores, os vendedores dos bares, os tratadores da relva, os que cuidam da iluminação, os jornalistas, os fotógrafos de campo.

Toda esta gente, segundo a brilhante tese do Dr. Ricardo Costa, são «intervenientes no jogo» e «agentes desportivos». Têm direito a um tratamento VIP, que até contempla um estatuto excepcional de direitos sem deveres: eles são intocáveis, para efeitos disciplinares de quem se atreva a tocar-lhes; mas são, simultâneamente, impunes e irresponsáveis, se forem para o túnel provocar desacatos ou até agredir jogadores e dirigentes. É isso que justifica que o Javi García, à vista de 50.000 pessoas no estádio e um milhão em casa, possa enfiar dois pontapés num adversário e continuar a jogar, enquanto espera pela decisão de um «sumaríssimo» que, na pior hipótese, o vai suspender por dois ou três jogos; mas o Hulk e o Sapunaru, que responderam a uma provocação num túnel e, no meio da confusão geral, terão dado respectivamente, um e dois murros num segurança, à vista de meia-dúzia de pessoas (e muito gostaria eu de saber como foi feita a prova…), esses, ficam preventivamente suspensos durante dois meses e depois levam 25 e 35 jogos de suspensão. Repito: quem permite isto não é a lei: é a interpretação que dela quis fazer o Justiçeiro. E que já se adivinhava desde o primeiro dia - bastando para tal ler o tom eufórico da imprensa desportiva lisboeta.

Porque isto é tão escandaloso, tão chocantemente evidente, julguei que, mesmo com as rivalidades e ódios exacerbados, quem quer que goste de futebol se indignaria. Mas, não: um tal Dr. Pragal Colaço, jurista, e um tal Araújo Pereira, humorista, ainda estranharam a benevolência e as «atenuantes» que o Dr. Ricardo Costa, compungidamente, enunciou. É assim, sem disfarce, que aspiram a ser campeões.

Eles jogam nos túneis, nós jogamos no campo. E, por isso, senhoras e cavalheiros, servimo-vos esta noite o melhor jogo de futebol a que este campeonato já assistiu. Porque, por mais que eles inventem apitos e carolinas e paixões e ricardos, nós respondemos sempre no campo, à vista de quem quer ver, à vista de quem gosta mesmo de futebol. Nestas ocasiões, é hábito deles sugerirem que vamos facilitar, só para dificultar a vida aos rivais. Assim foi há dois anos, quando o Guimarães era «amigo» e disputava uma vaga na Liga dos Campeões com o Sporting: fomos lá e demos-lhes cinco. Agora, também as Virgens da Verdade Desportiva insinuavam que iríamos facilitar contra o «amigo» Sporting de Braga: demos-lhes cinco e podiam ter sido sete ou oito.

Tenho tanto orgulho em ser portista!

segunda-feira, março 01, 2010

TUDO ISTO EXISTE, TUDO ISTO É TRISTE (16 FEVEREIRO 2010)

1- Olhei para o Estádio do Mar, pouco depois do jogo começar: campo pequeno, relvado impróprio para jogar bom futebol e a favorecer quem defende. Público da casa que apenas queria ver a sua equipa bater o pé ao «grande», jogasse como jogasse, equipa disposta a fazer-lhe a vontade, recorrendo a todos os truques do anti-jogo que vêm nos compêndios, árbitro conhecido pela sua paixão benfiquista e pelos danos causados ao F.C.Porto ao longo dos tempos. Estavam reunidas todas as condições para o F.C.Porto encostar. E encostou.

Segundo os critérios de Olegário Benquerença, exibidos no Sporting-Benfica para a Taça da Liga, José Manuel, do Leixões, deveria ter sido expulso aos 7 minutos, quando entrou por trás e a varrer Rúben Micael, deixando-o diminuído fisicamente para o resto do jogo. Mas claro que eu sabia que os critérios disciplinares do nosso único árbitro mundialista não valem para todos - todos os árbitros e todos os clubes. Basta lembrar-me do que tantas vezes acontecia no tempo em que era permitido ao Hulk jogar em Portugal, quando, mal o jogo começava, se percebia que havia adversários que vinham com instruções de o tentar arrumar ou intimidar logo de início - e os árbitros nada, nem um amarelo.

Nomear os mais conhecidos árbitros benfiquistas (casos de Lucílio Baptista ou Bruno Paixão) para jogos do Benfica, do Braga ou do F.C.Porto, quando o campeonato entra na sua fase decisiva, não é apenas falta de senso, é também falta de maneiras. Até porque eles, sobre serem benfiquistas, não se distinguem de forma alguma pela sua qualidade técnica. Restam, pois, as consequências previsíveis: nos últimos dois jogos em que perdeu pontos para o Benfica e Braga, o F.C.Porto empatou com o Paços de Ferreira depois de ter visto um golo magnífico e limpíssimo de Falcao ser anulado, e empatou com o Leixões depois de ter visto Bruno Paixão fazer vista grossa a um penalty sem história, cometido cinco metros à sua frente e à sua vista. Entretanto, também o Benfica empatou em Setúbal, com um golo limpíssimo anulado ao Vitória. Nem é preciso andar mais para trás nas contas: cinco pontos valem um campeonato, valem uma época, valem milhões da Liga dos Campeões.

2- Como já aqui escrevi a propósito desse jogo com o Paços, tenho muito respeito pelos clubes pequenos e não esqueço que eles competem com os grandes em condições objectivas de desigualdade. Mas isso não é um pretexto para que renunciem à partida a competir e se refugiem num anti-jogo que é uma ofensa a quem paga bilhete para ver futebol. Se é para dar espectáculos destes que querem estar na primeira Liga, mas valia não estarem. Mais valia que a primeira Liga tivesse só doze clubes, a jogar em duas fases, como há muito defendo.

Porque uma coisa é jogar à defesa e em contra-ataque, recuar as linhas, dar a iniciativa e a despesa de jogo ao adversário mais forte. Outra coisa é entrar em campo direitos às canelas dos adversários, criar um clima constante de contestação de todas as decisões dos árbitros por mais inócuas que sejam, defender com dez jogadores dentro da área ou, como fez o Leixões, ter seis jogadores assistidos no relvado, por pretensas lesões, apenas na segunda parte (!). Dizia um jogador leixonense, no final, que já tinham assimilado os «princípios de jogo» do novo treinador. Bem, não é difícil: com «princípios» daqueles, qualquer um é treinador e qualquer um se consegue imaginar jogador.

Façam o choradinho que quiserem, esta é a minha opinião: futebol assim, com campos e relvados daqueles, árbitros que protegem o anti-jogo e os sarrafeiros, não vale a pena esperar por público nas bancadas. Eu sei bem porque fico em casa.

3- Já está ultrapassada a barreira dos dois meses da «suspensão prévia» do Hulk e do Sapunaru, por pretensos acontecimentos, falseados enquanto possível, e que, já deu para perceber que não justificavam sequer um jogo de suspensão. Já foram vistas e revistas as imagens, ouvidos os intervenientes e testemunhas, produzidos os relatórios de quem de direito, já nada há que obste a uma decisão. Apenas a vontade de demorá-la o tempo conveniente para que depois a duração do castigo coincida com a suspensão preventiva. Entretanto, o F.C.Porto tem encostado o mais caro e o mais perigoso jogador do seu plantel e vai perdendo pelo caminho, e com a ajuda das arbitragens, os pontos necessários para cavar uma distância que garanta que, quando o Hulk regressar, já será tarde. Todos os dias se acrescenta mais um dia a esta vergonha pública, perante o silêncio da nossa imprensa desportiva, que aceita passivamente que o CD da Liga possa retirar do campeonato aquele que, na última temporada, foi considerado o seu melhor jogador.

Há dias, o «Diário de Notícias» trazia uma sondagem para responder à seguinte pergunta: «O campeonato tem sido alvo de várias polémicas. Como acha que vai ser decidido?». Respostas: 31,3% responderam «pelas arbitragens»; 26,3% responderam «nos túneis»; e apenas 25,7% responderam «no campo». Eis ao que chegámos.

4- O Fernando Guerra pode, pois, tomar nota desde já: dificilmente os portistas e os bracarenses irão reconhecer o mérito de um campeonato ganho pelo Benfica nestas circunstâncias.

E, já agora, respondendo à sua extraordinária declaração de que «em mais de 50 anos não conseguiram os partidários do dragão descortinar uma relação entre feitos desportivos do Benfica e eventuais favores de arbitragem», lamento desapontá-lo, mas, por acaso e para não ir mais longe, basta lembrar as circunstâncias em que o Benfica venceu os seus dois últimos títulos: a Taça da Liga, da época passada, ganha ao Sporting de maneira tal que passou a ser conhecida na gíria por «Troféu Lucílio Baptista»; e o último campeonato ganho, o do Trapattoni, em que nos últimos dez jogos todos os golos dos encarnados aconteceram de penalty e livres inventados ou duvidosos à entrada da área (lembro-me bem do penalty decisivo, no último jogo no Bessa, que foi dos mais anedóticos que já vi assinalado). O Fernando Guerra atreveu-﷓se a sugerir que já só faltava limpar a «lenda» do Calabote, para que meio século de arbitragem ficasse virgem de favores feitos ao Glorioso. Tarefa difícil, essa de fazer esquecer os Porfirios e os Valentes ou os contemporâneos Lucílios e Paixões.

5- Ansiosa por deitar poeira para os olhos dos que não andam cegos, a imprensa benfiquista pretende que o Braga só venceu o Marítimo graças a um golo irregular. De facto, no início da jogada, a bola esteve fora da linha lateral, mas pretender que isso teve relação directa com o golo é mais do que má-fé: entre a saída da bola e o golo decorreram uns trinta ou quarenta segundos em que a bola passou por uns seis jogadores e poderia ter sido umas três vezes definitivamente afastada pelos jogadores do Marítimo antes do belíssimo pontapé fatal de Luís Aguiar. Por este critério de causa-efeito, dificilmente se encontrará um golo que, na sua génese, lá atrás, não tenha tido alguma coisa de irregular. O que se pretende aqui, como bem sabemos, é preparar o terreno para os devidos fins.

6- Amanhã o Arsenal e domingo o Braga. Duas equipas que equipam de igual, dois adversários terríveis. É a altura decisiva da época para um F.C.Porto atípico, mas que, mesmo assim, é neste momento a única equipa da Europa que, tendo já vencido uma das competições em que participou (Supertaça), continua a disputar, e com a vitória ao alcance, todas as outras: Liga dos Campeões, campeonato nacional, Taça de Portugal, Taça da Liga. E é nestas alturas que o F.C.Porto se costuma agigantar.

DEZ DIAS FORA E TANTA COISA! (09 FEVEREIRO 2010)

1- Dez dias longe daqui, lá onde faz sol e se respira alegria, e tanta coisa a acontecer por aqui, na minha ausência! Tanta coisa, mas verdadeiramente nada de novo: continuam a chuva e os dias cinzentos que tinha deixado para trás, continua o campeonato dos túneis, com um campeão já destinado e um árbitro que perdeu o pudor de esconder o jogo, e continua o País inteiro à escuta — mas agora já não é só dos telefones, mas também das conversas de restaurante. Nada de novo, portanto. Portugal parece um náufrago que esbraceja desesperadamente para se manter à tona de água. Mas, quanto mais esbraceja, mais se afunda. E sem glória.

2- Perdi nada menos do que três jogos do F.C.Porto e até parece que a minha ausência deu sorte: vitória convincente com o Nacional, na Madeira, exibição de luxo e arraso do Sporting para a Taça, e vitória tranquila e por números correspondentes contra a Naval. Três jogos, três vitórias, doze golos marcados, dois sofridos, dois pontos recuperados ao Benfica para o campeonato, o caminho desbravado largamente para repetir a vitória na Taça de Portugal: nada mau. Quando precisarem que eu me afaste outra vez, é só dizerem.

3- Tal como eu tinha previsto (e tanto suplicado!), rezam as crónicas que Rúben Micael chegou e logo fez a diferença. Aliás, bastou ver a azia e o incómodo que todos os comentadores benfiquistas manifestaram com a sua compra pelo F.C.Porto para confirmar que também eles sabiam que tínhamos acertado no alvo. Gozei à grande ao ver o despeito, a inveja e a ironia pífia com que eles acolheram a transferência do madeirense para o clube que o vai transformar num caso sério do futebol português.

Entretanto, eles também gozaram muito com a contratação abortada em cima da hora do Kléber. Eles gozaram, mas eu suspirei de alívio. Não apenas porque era uma contratação muito cara, mas, sobretudo, porque ele já vinha com a folha feita, com a imagem de marca de jogador indisciplinado e impulsivo: ainda ele não tinha assinado e já a Comissão Disciplinar da Liga estava a afiar o dente. Livrámo-nos de um problema: eles não o iam deixar jogar.

4- Como perderam a vergonha, agora inventaram também um túnel para o Braga. O pretexto e as imagens que supostamente registariam agressões que ninguém viu ou relatou, são simplesmente de anedota. Depois do F.C.Porto, o Sporting de Braga: nunca o descaramento chegou a este ponto.

Vi também, e finalmente, as tão propagandeadas imagens do túnel da Luz, sobre as quais e durante dois meses foi alimentada uma fábula tenebrosa, que prometia imagens eventualmente chocantes, de uma violência sanguinária, com pontapés na cabeça a mártires já tombados no chão e outras coisas de estarrecer. Mas, afinal, ó Senhora dos Aflitos, se alguém conseguiu ver ali, mesmo «frame a frame», um autor e uma vítima de agressões, naquela molhada indistrinçável de gente, das duas uma: ou é de uma má fé que requer tratamento psiquiátrico, ou deve ser contratado pela CIA para encontrar o Bin Laden nas grutas do Khyber Pass. É então por aquilo que o dr. Ricardo Costa mantém o Hulk fora de jogo há dois meses, (e para já não falar na sua risível tese jurídica de que um segurança, situado onde não pode estar e entretido a provocar jogadores e dirigentes adversários a caminho do balneário, é um agente desportivo)?

Preto no branco: é preciso aliviar também o futebol português deste senhor. Porque até ao Benfica ele pode causar danos. Se este ano o Benfica - porque tem uma grande equipa, um treinador que tem provado e joga um futebol como deve de ser - vier a ser campeão, nunca mais se livrará da fama de o ter sido em parte decisiva graças à ajuda impudica do CD da Liga. E este Benfica, de Jorge Jesus, merece melhor fama do que o de Trapalhona, com jogos deslocados do seu sítio, jogadores adversários contratados antes de os enfrentar, e todos os últimos jogos resolvidos a peraltices e livres frontais à entrada da área.

Os vídeos com que tanto nos massacraram como «a» prova decisiva, são uma anedota pública. Dão vontade de rir, se isto fosse a feijões. Estão ao nível da restante programação do Canal Benfica.

5- Qem me lê habitualmente, sabe que pouco ou nada venho escrevendo sobre o Sporting. E que o pouco ou nada que fui escrevendo foi apenas para dizer que, em minha opinião, o Sporting não tem equipa e não sei se tem futuro. O estoiro do Sporting não me surpreendeu, pois, em coisa alguma. Esta época, não lhe vi um único jogo bom, de princípio a fim, e o único jogador ali em que vejo qualidades para um candidato ao título é o eterno Lidou. Tudo o resto são banalidades, com dois ou três que, de vez em quando, jogam bem - mas só de vez em quando.

Sem dinheiro para ir ao mercado, convencionou-se que o Sporting tinha um mercado próprio, barato e alternativo, que era a Academia de Alcochete. Tudo o que saía de lá era produto de qualidade garantida, pronto a jogar na equipa principal e logo depois apto a despertar a cobiça de um tubarão europeu. Pura ilusão de desejos tomados por realidades: não nascem Cristiano, Nanais e Quaresmas todos os dias. E, assim como o Porto faz mal em não aproveitar nunca um só dos jovens saídos da sua academia, também o Sporting comete o erro oposto de imaginar que tudo o que forma serve e basta. Mas, afinal, o barato saiu caro.

Agora, mais uma vez aboletado com dinheiros confusamente recebidos da Câmara Municipal de Lisboa, o Sporting lá se abalançou a umas compras de Inverno. Mas não só elas vêm tarde para salvar uma época perdida na programação, como também as compras feitas em estado de necessidade raramente se revelam boas opções.

6- Por falar em dinheiros da CML: recordar-se-ão os meus leitores que há um par de anos mantive aqui uma polémica com Pedro Santana Lopes, quando ele era presidente da CML e colunista deste jornal. Eu acusei a CML de ter celebrado contratos com o Sporting e o Benfica, para ajudar ao financiamento da construção dos novos estádios de Alvalade e da Luz, que eram um abuso do ponto de vista do interesse público. Ele respondeu que eu estava a mentir, quando referia várias disposições dos contratos que sustentavam a minha tese. Eu desafiei-o então a mostrar-me os contratos. Ele não respondeu. Eu consegui os contratos por outra via e publiquei aqui as partes mais relevantes, que confirmavam tudo o que havia escrito. Ele respondeu que estava de férias e não tinha os papéis com ele, mas que, mais tarde, me responderia. Até hoje…

Pois bem: o relatório da Policia Judiciária, agora remetido ao Ministério Público, confirma tintim por timo tlim tudo o que então escrevi. Nomeadamente, que os contratos foram ruinosos para a autarquia e a empresa pública municipal EPUL; que, entre outras coisas (como o direito a construção nos terrenos junto ao Alvalade XXI muito para além do que o PDM permitia), a EPUL antecipou a Benfica e Sporting 15 milhões de euros a cada, por conta dos lucros que a empresa municipal iria facturar na urbanização de uns terrenos públicos (que nunca chegou a levar a cabo) e em que, não se percebe porque carga de água, metade dos lucros caberia ao clubes — que não entravam nem com um metro de terreno nem com um euro de investimento; e que, cúmulo dos cúmulos, comprou ao Benfica por 32 milhões de euros um terreno que ela própria lhe havia doado anos antes com a condição de o clube ali fazer equipamentos desportivos, que nunca fez.

Eu sei que de nada serve ter razão fora de tempo. Mas o que me chocou na altura foi que a imprensa de Lisboa tenha ficado muito caladinha — ela, que havia agarrado com mãos ambas a guerra de Rui Rio contra o F.C. Porto, por causa da urbanização das Antas, onde tudo o que estava em causa era saber se os terrenos do F.C.Porto permutados com a CMP tinham ou não sido sobreavaliados. Por causa disso, fez-se um escândalo nacional, Rio foi eleito herói de Lisboa, o IGAT (a inspecção do Ministério da Administração Interna) abriu um inquérito, o MP instaurou uma acção e o anterior presidente da Câmara do Porto, Nuno Cardoso, que havia negociado com o F.C.Porto, acabou julgado e condenado em tribunal. Mas, pelo menos, o F.C.Porto tinha terrenos seus, comprados com o seu dinheiro, e não recebeu um euro ou um metro quadrado da CMP para construir o Estádio do Dragão. Enquanto que Benfica e Sporting, que não tinham nada, receberam terrenos, dinheiro, muito dinheiro, bombas de gasolina e autorizações de construção excepcionais nos terrenos que lhes foram dados pela CML. E nem o IGAT, nem o Ministério Público, nem a imprensa de Lisboa, viram nisso nada de anormal… até agora, quando já nada há a fazer, para evitar o esbulho de bens públicos a favor de interesses particulares. Mas manda a verdade que acrescente que, se o plano foi todo congeminado pelo então presidente da CML, Santana Lopes, ele teve ou a aprovação ou a abstenção construtiva de todas as forças politicas representadas na Assembleia Municipal. E assim se desvirtuam também as regras do jogo… de futebol.