sexta-feira, julho 31, 2009

QUE FAZER COM 70 MILHÕES? (21 JULHO 2009)

1- Que deve a SAD do F.C.Porto fazer com os incríveis 70 milhões de euros facturados em quinze dias de vendas e que fazem do clube o segundo maior vendedor da época a nível planetário, depois de ter sido o primeiro na época anterior?

Há três respostas possíveis para esta pergunta. Resposta n.º 1: abater o passivo. Resposta n.º 2. abater o passivo. E resposta n.º 3: abater o passivo. Só assim se garante que para o ano não vai ser preciso vender outra vez os melhores, perpetuando um círculo vicioso, de fazer e desfazer a equipa, sem fim à vista.

A capacidade vendedora do F.C.Porto tornou-se, de facto, um case study e devido a vários factores conjugados: primeiro que tudo, o trabalho de observação de jogadores emergentes em mercados como o argentino, onde os profissionais têm mostrado uma notável facilidade em se adaptarem ao futebol e às equipas europeias. É verdade também que há muitas compras aí feitas que se revelaram inúteis e que, às vezes até, se tornam difíceis de entender - digamos que por cada um bom jogador comprado, têm aparecido dois que se demonstra serem um fiasco, mas também é verdade que, se se podia falhar menos (ou comprar menos), também não se pode acertar sempre. Segundo factor de valorização extraordinária dos activos do F.C.Porto tem sido, a meu ver, o excelente trabalho desenvolvido por alguns técnicos - de que os melhores exemplos foram, sem dúvida, Mourinho e Jesualdo Ferreira. Isso, mais a cultura de vitória e o espírito de equipa, que são uma tradição do F.C.Porto, faz com que o comum dos adeptos já tenha interiorizado o facto de ali todos os jogadores se valorizarem mais do que nos rivais: até parece por vezes que, no Dragão, até um cepo se consegue transformar num bom jogador. E quem lá chega sabe isso, porque o historial dos últimos anos mostra que o F.C.Porto é uma plataforma única para que os bons jogadores cheguem ao Olimpo do futebol europeu e mundial - essa dúzia de clubes capazes de gastarem tranquilamente 20 ou 30 milhões num «passe». Quer dizer que eles entendem bem que, uma vez chegados ao Porto, vale a pena trabalhar no duro e investir no clube, se quiserem subir ao topo da mais alta montanha. Até porque - e esse é o terceiro factor de projecção - o F.C.Porto está cronicamente na montra da Champions. Nem Benfica nem Sporting podem oferecer tantas perspectivas de valorização a um jogador como o F.C.Porto oferece. Vir parar ao F.C.Porto é acertar na sorte grande; vir parar a Benfica e Sporting é apenas uma aposta na terminação. É por isso que, mais uma vez, por exemplo, o Benfica não consegue vender ninguém (nem sequer o sempre anunciado como cobiçadíssimo Luisão). Luís Filipe Viera irá dizer, como costuma, que preservou todos os «activos», mas a verdade é que os preservou de cobiça nenhuma - e bem que lhe deveria dar jeito desfazer-se de alguns «activos»!

Eu imagino quanto os responsáveis pelas contas das SAD de Benfica e Sporting se devem roer de inveja e espanto quando vêem notícias como a da venda de Cissokho por 15 milhões, depois de ter sido comprado por três, seis meses antes. Mas, para que isso fosse possível, foi necessário, primeiro, tê-lo descoberto - e estava ali mesmo à mão; depois, ter um treinador capaz de potenciar rapidamente o seu crescimento como jogador, e, finalmente estar na Champions e tê-lo a jogar contra colossos como o Manchester United. O resto faz o mercado, e o grande mercado, aquele que interessa, nunca se engana com os grandes jogadores, raramente compra gato por lebre (é por isso que ninguém quer os titulares do Benfica da época passada, como ninguém quer também os suplentes do F.C.Porto, cujo nível não se comparava com o dos titulares).

Facto é que o F.C.Porto comprou barato este ano e vendeu muito e muito bem. Se Bruno Alves sair também, a SAD portista atingirá a quantia astronómica de 100 milhões de euros facturados numa só época a vender jogadores - mais do que o Manchester United, que, neste momento, lidera o ranking de facturação graças aos impensáveis 94 milhões que o Real pagou por Cristiano Ronaldo. Esta semana, as coisas mudaram um pouco em relação a Bruno Alves: o F.C.Porto deixou de ter qualquer necessidade de o vender e Pinto da Costa tem oportunidade de cumprir a promessa pública de só o deixar sair pelo valor da cláusula de rescisão. Todavia, e mesmo sem esses 30 milhões a juntar aos 70 já facturados, o essencial mantém-se: são demasiados lucros extraordinários de exercício para poderem simplesmente desaparecer em dois ou três anos de gestão ruinosa. Ou eles servem para abater ao défice instalado ou jamais o défice será domado, porque nem todos os anos são dourados. E o défice das SAD é igual ao défice das contas públicas do Estado: algum terá de ser pago e com juros.

Entretanto, prosseguem os jogos de preparação e, como gritou triunfalmente a imprensa, Jorge Jesus já ganhou o primeiro título ao serviço do Benfica: o Torneio do Guadiana - aquele para o qual o F.C.Porto, judiciosamente, nunca é convidado, não fosse estragar a festa ao Benfica. Não vi a «final» entre o Benfica e o Olhanense, mas rezam as crónicas que a vitória encarnada, arrancada a ferros no último minuto, foi até bastante injusta. Também não vi o Sporting perder com o Feyenoord na apresentação aos sócios, mas rezam as crónicas que a derrota foi apenas uma parte desagradável da desagradável prestação leonina. E também não vi o FC Porto despachar o Mónaco com os mesmos inesquecíveis 3-0 da final de Gelsenkirchen, mas contam que a primeira parte dos portistas chegou a ser brilhante, mesmo sem a equipa completa com os que se presume venham a ser os titulares habituais. Ou seja, parece que (e até Nuno Gomes o diz) vira o disco e toca o mesmo: o F.C.Porto continua a ser o grande favorito a dominar a nova época que aí vem, a nível interno.

Considerando, enquanto adepto do futebol, que mais um «penta» portista poderia ser altamente deprimente para o clima competitivo português, estou quase ao ponto de condescender e trocar, este ano, uma grande prestação europeia pelo título nacional, deixando mais confortados os adeptos verdes ou encarnados. A verdade é que tanto domínio também já vem cansando um pouco (embora eu, como qualquer adepto e qualquer portista, na hora da verdade, só queira mais e mais). Mas, por exemplo, tanto alarido, sempre habitual, com a nova época, quando ainda nem se esfumaram para nós as lembranças e alegrias da época que terminou, deixa-me um sabor a coisa forçada, prematura e até injusta. Só nos deixam saborear as vitórias tão recentes um simples mês? Já nos querem convencer que o «campeonato do defeso» - como sempre, ganho pelo Benfica, sem oposição - é mais actual do que tudo o que nós ganhámos há um simples mês atrás?

OS EXÉRCITOS EM FORMAÇÃO (14 JULHO 2009)

1- Toda a gente fala e escreve - e com razão - sobre as dificuldades que Jesualdo Ferreira vai ter para reconstruir uma outra equipa, depois da SAD do F.C.Porto o ter aliviado de Lucho e de Lisandro e, muito provavelmente, também de Cissokho e Bruno Alves - que apenas esperam uma proposta concreta para terem guia de marcha. É curioso constatar como, apesar de todas as acções de espionagem ao longo do ano, dos «olheiros» contratados, dos relatórios que se diz receberem regularmente, acabam por ser as actuações dos jogadores nos grandes jogos que despertam a atenção dos treinadores dos clubes de topo e determinam as movimentações do mercado de Verão. Cissokho é disso um bom exemplo: dois desempenhos de categoria frente ao Man. United, nos quartos-de-final da Champions foram o suficiente para fazer disparar a sua cotação do meio milhão de euros que o F.C.Porto pagou por ele em Janeiro, para os 15 milhões que o Milan quase pagou ou os 12 milhões que se diz que o Lyon oferece. Hulk (provavelmente o activo mais valioso do F.C.Porto) é o exemplo oposto: duas actuações apagadas nesses jogos e o mercado ignorou-o… por enquanto.

Agora, a curiosidade está, pois, em saber como vai Jesualdo Ferreira ultrapassar o desmantelamento do eixo central da sua equipa: o que vale a defesa azul sem Bruno Alves? O que vale o meio-campo sem Lucho? O que vale o ataque sem Lisandro? É verdade que o F.C.Porto, nos últimos anos, tem conseguido ultrapassar sucessivos golpes idênticos na estrutura da equipa e isso deve-se exactamente a Jesualdo Ferreira. Mas também é verdade que, desde a conquista da Champions, em 2004, nunca mais o F.C.Porto voltou a reunir um onze capaz de chegar perto dessa conquista.

Já aqui escrevi muito sobre isso, sobre a dificuldade de entender uma politica de contratações e vendas que todas as épocas mexe profundamente com a estrutura da equipa, fazendo com que o F.C.Porto seja habitualmente dos maiores vendedores do planeta - em valores encaixados - e dos maiores compradores - em número de jogadores contratados e sob contrato. Todos os anos se entregam alguns dedos da mão para receber em troca anéis - a maioria dos quais, de pechisbeque.

Por uma vez, estou de acordo com o que Ricardo Araújo Pereira aqui escreveu: como é que, tendo facturado mais de 260 milhões de euros em vendas desde que foi campeão europeu, a SAD do F.C.Porto conseguiu aumentar o défice? Como é que, tendo facturado 40 milhões em vendas na época passada, tendo chegado aos quartos-de-final da Champions, tendo registado o recorde de receitas de assistência no campeonato, conseguiu, do ano passado para este, fazer crescer o défice em mais onze milhões?

A resposta é só uma: as contratações a granel e a folha de pagamentos de um plantel com 70 (!) profissionais. As contratações de jogadores que certamente nunca ninguém viu jogar antes, como o Bénitez, ou de jogadores que valem muito pouco mas que já foram do Benfica ou consta que são pretendidos pelo Benfica - uma longa lista de «barretes» enfiados, desde o Iuran, o Kulkov e o Jankauskas, até ao Hélder Postiga, recomprado ao Tottenham por que constou que o Benfica o queria ir buscar. Espero bem que a próxima bravata falhada não seja o tão anunciado Falcao. Espero que, sendo esse o motivo principal da compra deste, desculpem, desconhecido colombiano, desta vez, ao menos, o valor dele o justifique. Como sucedeu nos inesquecíveis casos do Jardel (que devemos a Gaspar Ramos) ou do Deco (que devemos a Luís Filipe Vieira) - bem-hajam eternamente.

Entretanto, a situação é esta, por enquanto: Jesualdo tem um excesso de laterais (seis); tem cinco centrais, mas, se Bruno Alves sair, fica apenas com um de garantias dadas - Rolando; tem, com a saída de Lucho, um acrescido défice de médios de ataque, reduzido que está a Raul Meireles, porque não é com Tomás Costa e Guarín que lá vai e Belluschi é uma incógnita por desvendar; e, no ataque, tem apenas Orlando Sá para fazer esquecer Lisandro ou a hipótese de puxar Hulk para o meio, que não parece a mais indicada para tirar o melhor proveito das suas características.


2- Aquele que, segundo o presidente do Benfica, é reconhecido por todos como o melhor treinador português da actualidade, estreou-se no comando dos encarnados com um empate frente à modesta equipa do Sion. É verdade que o primeiro jogo da época não quer dizer nada ou quase nada e que, como ele disse, usando um argumento habitual, os outros tinham a preparação mais adiantada. O resultado, de facto, conta pouco, até porque faltaram os internacionais, em especial Ramirez, aparentemente a melhor contratação do Benfica. Relevante não foi, pois, o empate frente aos suíços, mas as declarações de Jorge Jesus, após o jogo. Disse ele que vai ser muito difícil «travar este Benfica». Porquê, é que não entendi: por que razão uma equipa que, mesmo com todas as desculpas e atenuantes, tinha acabado de ser travada pelo Sion, há-de ser muito difícil de travar… por um F.C.Porto, por exemplo?

Eis uma declaração muito forte e «ambiciosa», como os adeptos tanto gostam. Junte-se a ela a descrição do jornalista de que «Jesus é um espectáculo dentro do espectáculo», tendo chegado a correr metade da linha lateral para ir protestar uma decisão do juiz-de-linha; junte-se a afirmação do presidente benfiquista de que estamos em presença do melhor treinador português, e temos aí a gerar um caldinho de cultura mesmo à maneira para incendiar bancadas e semear de guerras verbais o campeonato que aí vem. Talvez convenha (ou não convenha…) refrear os ânimos: Jorge Jesus é um treinador promissor, mas provas concludentes dadas e vitórias alcançadas, é coisa que ainda não consta do seu curriculum. Apesar da boa campanha europeia do Braga na Taça UEFA, o 5.º lugar final no campeonato é pior do que Jesualdo lá havia feito e, olhando para a equipa que o Braga tinha no ano passado, a mim parece-me mais uma derrota do que uma vitória. Mas devo estar enganado.


3- Tal como um leitor aqui escreveu, eu também estou a torcer por Lance Armstrong neste Tour de France. Tenho aquela deformação profissional, e incorrigível já, de ex-advogado, de entender que, quando se faz uma acusação ou se levanta uma suspeita e não se consegue prová-la, ou se desiste e pede desculpa ao acusado ou, quando se continua a insistir, entra-se no domínio da calúnia. Foi isso que os franceses fizeram com Lance Armstrong, o homem que mais vezes (sete) ganhou o mítico Tour e mais fez pela sua divulgação recente à escala planetária. Nestes tempos em que o ciclismo foi praticamente liquidado pelo uso generalizado do doping, os franceses tudo tentaram e em vão para o envolverem a ele também nesses esquemas. Não o conseguiram, mas não desistiram da calúnia, em surdina. E é nesse ambiente hostil, ainda a recuperar de uma fractura da clavícula e aos 36 anos de idade, que Lance Amstrong regressou, por amor ao ciclismo e para lavar a honra própria, no terreno de batalha mais indicado para tal.

A nós, portistas, a história da persistência deste homem soa familiar. Também ao F.C.Porto quiseram tirar o brilho das suas vitórias, através de um bem montado esquema para inventar «jogadas de bastidores» que pudessem explicar e manchar tão insuportável superioridade desportiva. O tribunal tudo julgou sem razão e sem fundamento, mas isso, claro, não convenceu nem calou os caluniadores. Agarram-se às decisões do Conselho de Disciplina da Liga de Clubes, tomadas à revelia de qualquer contraditório ou regra de justiça comummente aceite, pretendendo fazer valê-las contra decisões todas unânimes de tribunais comuns, onde a clubite não entra e os juízes não são nomeados por uma maioria circunstancial de clubes.

ADEUS LUCHO, ADEUS BRUNO, ADEUS LISANDRO (07 JULHO 2009)

1- Antes do trivial, um registo para o excepcional: Roger Federer. Aquele que é talvez o maior tenista de todos os tempos (para mim, ou ele ou McEnroe), chegou ao sexto título conquistado em Wimbledon e que foi o mais dificil e o mais dramático de todos, num daqueles jogos para a eternidade que só um desporto tão fabuloso como o ténis pode proporcionar. Federer fez história, domingo passado, ao tornar-se o tenista com mais vitórias de Grand Slam de sempre chegando às quinze e assim batendo o record de Pete Sampras. Curioso é que ele, tal como Sampras, não ficará para a história por ter um serviço demolidor, como Pat Cash, ou uma direita impiedosa, como Lendl, ou a inesquecível esquerda de Mc Enroe ou o inabalável jogo do fundo do court do «Iceborg». Não, o que Federer tem é um ténis sem pontos fracos, que fez dele o número um do mundo, sem ser o número um em nenhuma das pancadas ou das variantes do jogo. Por isso, o seu jogo, além de brilhante, é perfeito de elegância e quem quiser aprender a jogar ténis a sério, pode começar por observar Federer, porque ele é um verdadeiro livro de instruções da perfeição neste desporto: não foge às esquerdas, não tem medo da rede, não tem um serviço vulnerável.

Depois de ter vencido Rolland Garros - o título de Grand Slam que sempre lhe escapara, Federer aproveitou bem agora a ausência de Nadal em Wimbledon para recuperar o título inglês que o espanhol lhe havia roubado no ano passado. É verdade que anteontem tanto podia ter ganho ele como Rodnick e a taça ficaria bem entregue a cada um deles. Mas foi melhor assim, porque o suíço bem merecia este record batido - ele, que, além do mais, é um cavalheiro dentro e fora do court. Nisso, o ténis ainda continua a marcar a diferença para os outros desportos, graças, sobretudo, ao «espírito de Wimbledon», que continua a resistir a modas e a estilos duvidosos: ali todos têm de equipar de branco, ninguém pode ser anti-desportivo ou grosseiro com os árbitros e adversários e não há lá tatuagens nem penteados exotéricos, porque é no campo e pelos seus dotes de atletas que os artistas se revelam - e apenas aí.

O ténis a este nível faz o futebol - mesmo o futebol ao mais alto nível - parecer um circo de vedetas de ocasião.


2- Mas vamos lá ao futebol, essa fatalidade. Por cá, está-se ainda na fase de compras e vendas - aquela que mais interessa aos dirigentes e mais agrada a alguns adeptos. E, como sempre, o campeão desta fase é o Benfica. De há dois anos para cá, ninguém compra, em quantidade e em despesa, como o Benfica. E como, simultâneamente, não vende (porque não quer, dizem eles; porque ninguém os quer, digo eu), a SAD benfiquista vai ficando cada vez mais vermelha e, ou as novas estrelas anunciadas conseguem este ano provar o que os seus antecessores recentes não provaram e começam a amortizar o investimento feito, ou as coisas não tardarão a passar de vermelhas a negras. A aposta em Saviola faz lembrar a do ano anterior em Aimar: jogadores que já tiveramn nome e que por isso são pagos caro e com elevadíssimos ordenados, mas que há vários anos não passam do estatuto de suplentes de luxo em Espanha. Ninguém sabe se conseguem regressar aos bons velhos tempos ou se apenas querem gerir tranquilamente o final das suas carreiras em Lisboa. Já Ramires está mais ao nível das expectativas criadas com Di María: dois jovens com estatuto de Selecção, em quem se depositam enormes esperanças de crescimento com a transferência para a Europa. Di María está longe ainda de ter cumprido as esperanças criadas, mas Ramires, com lugar quase cativo na Selecção brasileira, parece mais sólido. Ambição já se viu que não lhe falta: falta-lhe só contenção para não aparecer logo a dizer que espera vir para o Benfica em trânsito para um «grande» da Europa. Noutros tempos, de grandeza real e não apregoada, o jovem Ramires, se calhar, já tinha perdido o livre trânsito para o Estádio da Luz, à conta desse desabafo íntimo.


3- No F.C.Porto, é mais do mesmo: saem dois ou três dos melhores, entram nove ou dez cujo valor se ignora e que tanto podem ser um sucesso como um fiasco, destinado a alimentar a interminável legião de supra-numerários que a SAD azul-e-branca sustenta por esse mundo fora. Saíu Lucho, por 17 milhões - depois de se ter jurado que não sairia por menos de trinta. Tal como Quaresma, no ano passado: só saía por 40 milhões menos um euro, e acabou por sair pelos mesmos 17 e com a «oferta» envenenada do Pélé, que se transformou, como era de prever, em mais um supra-numerário para sustentar.

Lucho não precisava de sair: tinha contrato por mais três anos, estava bem pago, gostava do clube e era o capitão. É verdade que foi ganhar bem mais e toda a gente gosta de ganhar mais. Mais ai dos clubes se continuam a deixar sair jogadores que lhes interessam só porque eles recebem uma proposta melhor e ficam «contrariados», coitadinhos. Para que servirão então os contratos - só para proteger os jogadores que ninguém cobiça e não se querem ir embora, por nada deste mundo, como o Adriano?

Não, não foi por isso que Lucho se foi embora. Foi-se embora porque a SAD o queria vender. Porque, como já exliquei bastas vezes, a SAD quer vender dois ou três dos melhores todos os anos porque a gestão do clube é sempre deficitária e só se equilibra vendendo. E é deficitária porque é preciso sustentar um exército de alguns 70 jogadores, quando o normal seria metade disso. E assim se fecha este círculo vicioso: para pagar aos jogadores que não jogam é preciso vender os que mais jogam.

A questão que se coloca é esta: porque razão, quando vende grandes jogadores, a SAD não se limita a encaixar o dinheiro e a amortizar a dívida e, pelo contrário, vai logo comprar dois ou três por cada um que vende, assim aumentando todos os anos o rol de pagamentos e o crónico défice? Pois, essa é a grande questão, que qualquer auditor de contas ou conselho fiscal tinha obrigação de controlar: basta ir ver a quem são pagas comissões nas compras e que interesse tem o clube em ter jogadores emprestados por todos os lados. Por exemplo: se, depois de vender o Pepe, o Quaresma e o Bosingwa no ano passado, a SAD não tivesse comprado nenhum jogador e, pelo contrário, tivesse ido aproveitar alguns com quem tem contrato e a quem paga e não aproveita (o Ibson é o caso mais notável e incompreensível), este ano não seria preciso vender jogador algum…

Falhada a venda fantástica de Cissokho, logo temi pela sorte de Lucho, Lisandro ou Hulk. Porque o Bruno Alves, esse, está só à espera que se materialize alguma das muitas cobiças já reveladas e, à primeira oferta firme, marcha logo. Mas só a venda do Bruno Alves não chega, depois de falhado o Cissokho. E como o Lucho acabou vendido quase ao mesmo preço que o Cissokho (!), também essa venda é curta para o muito que há a amortizar e o muito que é preciso para gastar com aquela vaga habitual de sul-americanos, de preferência argentinos: os Farías, Guárins, Tomáz Costa, Mariano, Bénitez, etc. Eis, pois, a minha aposta: foi o Lucho e seguem-se o Bruno Alves e o Lisandro. E, quanto mais tarde forem, pior será, porque o desespero vai fazer baixar o preço de venda, como sucedeu com o Quaresma, no ano passado.

Enfim, o triste cenário habitual. Eu até já tenho medo de comprar os jornais da manhã, nesta altura da época! Não digo que o F.C.Porto, como Benfica e Sporting, não precise de vender, de vez em quando, ou não deva vender, quando o negócio é demasiado irresistível. Mas não era preciso vender todos os anos dois ou três dos melhores. Bastava que a gestão fosse mais transparente e que conseguisse também, de quando em vez, vender um dos outros, daqueles que só servem para receber o ordenado ao fim do mês.

domingo, julho 12, 2009

O TUDO OU NADA (30 JUNHO 2009)

1- Luís Filipe Viera vai então ser reconduzido presidente do Benfica esta sexta-feira, tendo previamente garantida a vitória com uma manobra eleitoral ao estilo Hugo Chávez. Afastados os opositores que o poderiam assustar com o golpe palaciano da antecipação das eleições, devidamente denunciados como oportunistas ou testas-de-ferro dos Filipes de Espanha os que se atreveram a contestar publicamente a propaganda pessoal montada ao seu serviço, Vieira vai assim tranquilamente para um terceiro mandato, em que, todavia, o benefício da dúvida junto dos sócios há muito se esgotou.

Seis treinadores em sete anos, alguns 40 jogadores contratados, 50 milhões investidos no plantel no ano passado e, contas feitas, apenas um título de campeão (e sem convencer ninguém), um quarto lugar e um terceiro nas duas últimas épocas, dois anos consecutivos fora da Champions. O presidente do Benfica sabe bem que, se voltar a falhar este ano, o clima se lhe tornará tão insuportável, que talvez se tornem inevitáveis novas eleições antecipadas, mas então contra a sua vontade. Por isso, ele declarou já que não lhe venham falar do aumento do défice, que o deixem gastar dinheiro à vontade - ou então, não lhe exijam títulos. Já vai em 16 milhões de contratações esta época e ameaça não ficar por aí, ao mesmo tempo que promete não vender ninguém (esta, uma promessa fácil de cumprir, porque, na verdade, não vejo ninguém ali, nem o Luisão, que desperte o interesse de um clube disposto a pagar dinheiro que se veja pelas vedetas sobejantes dos 50 milhões investidos no ano passado: eu, pessoalmente, não quereria, para o plantel do F.C.Porto, um só dos que constituiem o do Benfica. Um só).

Quer isto dizer que apenas uma de duas hipóteses se colocam a médio prazo para o presidente do Benfica: ou se sagra campeão este ano, garantindo também o acesso à Champions, e, nesse caso, o aumento do défice será facilmente esquecido e perdoado por uma massa associativa sedenta de títulos a sério; ou falha uma vez mais o campeonato e estará sentado à frente de uma SAD vencida e arruinada.

Quer isto dizer, também, que prevejo uma época de conflitos sem fim, com um clima de cortar à faca - de que já foi eloquente exemplo o jogo com o Sporting para decidir o título dos juniores. Para agravar as coisas, Vieira, Rui Costa e o Benfica apostam tudo em Jorge Jesus, que é um treinador de conflito fácil e verbo incontinente. Neste capítulo, ele entrou à Mourinho, copiando o discurso do Grande Zé, quando ele chegou ao F.C.Porto e declarou «para o ano somos campeões». Lembro-me bem que, na altura, caíram os guardiões da «verdade desportiva» em cima de Mourinho, achando até suspeito que ele anunciasse a vitória por antecipação. Mas o mesmo dito pelo treinador do Benfica é aceitável e até mais do que recomendável. Acontece, porém, um pequeno detalhe: não é Mourinho quem quer, e Jorge Jesus não é. Pode ser que vença logo no ano de estreia, mas não vão ser favas contadas, como foi para Mourinho triunfar no F.C.Porto e em três anos colocá-lo no topo da Europa.

Adivinho, pois, um Benfica crescentemente impaciente, para dentro e para fora, a protestar contra tudo e todos quando as coisas não lhe correrem de feição e convencido, como de costume, que lhe basta alinhar vedetas como Aimar ou Saviola ou outras tidas como tais, para que o mundo lhe caia aos pés e todos se disponham a prestar-lhe vassalagem. Desde que Fernando Martins deixou de ser presidente do Benfica e o Benfica deixou de ganhar, que a cultura de vitória (que antes decorria naturalmente de uma supremacia visível) passou a assentar numa espécie de «direito natural» à vitória, como se os outros não existissem, não competissem e não tivessem também o direito de vencer. E, nesse aspecto, mais milhão menos milhão investido, mais mandato presidencial e mais propaganda pessoal feita, não vejo que nada se tenha susbstancialmente alterado agora.

A ver vamos. Mas aposto que o campeonato que aí vem - a menos que, surpreendentemente, o F.C.Porto desabe, o Sporting se mostre excepcionalmente limitado e o Benfica comece a vencer e a convencer logo de entrada - vai ter momentos irrespiráveis pela pressão benfiquista em vencer a qualquer preço.


2- Fernando Mendes - o único futebolista português que jogou nos cinco clubes campeões nacionais - esteve à beira de lançar uma granada em pleno coração do futebol português. «Jogo Sujo» - o livro que ele agora lançou, em parceria com o jornalista Luís Aguillar - era para ser uma denúncia documentada, com nomes e datas, do universo escondido do doping no futebol profissional. Mas, afinal e segundo ele confessou ao «Expresso» recuou, a conselho do seu advogado. Manteve as denúncias, mas escondeu os nomes dos clubes, dos médicos, dos treinadores, dos responsáveis daquilo que ele define como «histórias que merecem ser contadas».

Mesmo assim, quando fala das experiência de doping num clube que «tinha um líder carismático e uma grande equipa» - e depois de excluir das suspeitas Benfica, Sporting e FC Porto - toda a gente, como ele aliás diz, sabe de que clube está a falar. Então, vou eu dizer o nome que ele não se atreveu a dizer, o nome para que apontam todas as suspeitas levantadas no seu livro: está a falar do Boavista. Do Boavista que foi campeão nacional, na virada deste século.

Não é surpresa para ninguém, aliás. Quem estivesse atento ao futebol, via claramente coisas muito estranhas naquele Boavista, e à boca grande comentava-se isso no meio e alguma imprensa deu conta, timidamente, de inquéritos policiais que desaguavam em massagistas e farmácias cujos nomes faziam parte do mesmo enredo. Mas nunca se passou daqui - das suspeitas não confirmadas, das revelações em off-the record, das conversas nas tribunas presidenciais dos estádios. Ou seja, tudo acabou como de costume: em suspeitas.

E houve duas razões para que acabasse assim. Por um lado, porque havia um consenso politicamente correcto (e que eu próprio subscrevia) de que o «histórico» Boavista - que, no tempo de Pedroto, estivera à beira de ganhar um campeonato ao Benfica - já merecia a honra de ser campeão nacional. Por outro lado, porque, nesse ano em que finalmente o foi, o Boavista só teve um rival na corrida e até ao fim: o F.C.Porto. Muito cedo, nessa época, Benfica e Sporting ficaram arredados da luta pelo título e esta ficou restringida aos dois maiores clubes da cidade do Porto. Tivessem as coisas sido diferentes, tivesse um dos grandes de Lisboa disputado o campeonato até ao fim contra o Boavista, e certamente que o penoso silêncio que cobriu as suspeitas de que todos falavam ter-se-ia tornado numa gritaria ensurdecedora. Mas, não, tal como as coisas aconteceram a nível de resultados, houve um consenso em considerar aquele campeonato uma luta de compadres do Porto e um desejo assumido de que o Boavista evitasse mais um título para os azuis-e-brancos. O Boavista acabaria por se sagrar campeão com um ponto de avanço sobre o FC Porto - graças, em medida decisiva, ao jogo do Bessa, onde Vítor Pereira teve a mais infeliz actuação da sua carreira e ofereceu a vitória de bandeja aos do Bessa. O único consolo do F.C.Porto foi acabar o campeonato a dar 4-0 ao novo campeão, no Estádio das Antas. Quanto à substância da história, um manto de silêncio politicamente correcto desceu sobre o assunto. Até hoje.

Talvez, em coerência com a sua actuação de há um ano atrás em relação ao F.C.Porto, o CD da Liga devesse chamar Fernando Mendes a depor e esclarecer o que nunca foi esclarecido. Por uma questão de justiça histórica. Para que, das duas uma: ou as suspeitas fiquem enterradas de vez, ou sejam confirmadas em factos e deles se extraiam as consequências devidas. Eu sei que seria esperar demais, mas sugerir não ofende.

quarta-feira, julho 01, 2009

"ASSALTO" AO GLORIOSO (23 JUNHO 2009)

1- Os ditadores modernos nunca se assumem como tal, até porque têm sempre a seu favor poder reclamar a legitimidade democrática de uma eleição. A sua sabedoria consiste exactamente em saber perpetuar-se no poder, preparando as eleições de forma que não possa nunca haver outro vencedor. O nosso poder autárquico está cheio de casos destes, a que chamam os «dinossauros» do poder local; o poder regional tem o exemplo supremo, à escala mundial, do grande líder Jardim, vencedor de 27 eleições e há 30 anos no poder; o mundo futebolístico abunda em exemplos semelhantes, de que o mais conhecido e antigo é o de Pinto da Costa no F.C.Porto, e o último em data o de Luís Filipe Vieira no Benfica. A diferença (e estamos a falar de e futebol e competição) é que, enquanto que Pinto da Costa é um vencedor, Vieira é um perdedor - que fala grosso mas voa baixinho.


2- Já se conhece de cor e salteado a ladainha de Luís Filipe Vieira: ele está no Benfica com grande sacrifício pessoal e familiar e só faz o obséquio de se recandidatar e recandidatar para não entregar o clube a «aventureiros» e «oportunistas» - que agora querem vir colher os frutos que ele semeou em anos em que «recuperou a credibilidade» para a «instituição» e tornou a «marca Benfica» a coisa mais apetecível do mercado português (não esquecendo as vitórias desportivas: o inesquecível campeonato Trapattoni e uma coisa chamada Taça da Liga, conquistada a meias com Lucílio Baptista).

Viera passa os anos de mandato a fazer a sua auto-propaganda pessoal, percorrendo o povo benfiquista de lés a lés, e produzindo densos discursos de exaltação da sua pessoa. E passa o último ano dos mandatos a alertar contra os traidores que lhe querem roubar o lugar - esse crime de lesa-majestade! - atrevendo-se a disputar eleições contra ele. Este ano, com eleições previstas para Outubro, Vieira detectou no ar um cheiro a «instabilidade» insuportável e a conspiração adiantada. E foi então que lhe ocorreu o brilhante contra-golpe de antecipar eleições, tão rápidas e tão surpreendentes que, pensava ele, iria apanhar toda a oposição de calças na mão, preparando tranquilamente as eleições de Outubro.


3- E tudo estava assim pacificamente orquestrado, quando, quarta-feira passada, por entre o folclore do candidato que aluga um avião para impressionar o pagode e outros que querem ser e não podem ou podem mas não querem, começa a circular o nome de um candidato absolutamente inesperado e verdadeiramente vindo de outro planeta: José Eduardo Moniz.

Durante toda a quarta e quinta-feira, os homens de Vieira tremeram na Luz: agora eram eles que não estavam preparados para aquele súbito desafio. Quinta-feira, quando cheguei à TVI, cerca das 18.30, o ambiente era de desalento entre a redacção. Havia um sentimento de orfandade antecipada no ar, mesmo entre os benfiquistas. Moniz foi o homem que ergueu a TVI do nada, o homem que é capaz como poucos de formar e liderar equipas, alguém que, como o próprio diria depois, quando se mete numa coisa é para ganhar. E, a esse hora da tarde, na TVI, como no Estádio da Luz, a convicção geral era de que ele ia mesmo avançar.

Às 20.10, ainda José Eduardo Moniz por ali andava, assistindo, como de costume, ao arranque do Jornal Nacional, e não dando a ninguém a mais pequena hipótese de adivinhar qual era a decisão que já tinha tomado e que comunicaria daí a pouco, em directo para o País. E às 21.05, ele começou a falar, de um hotel de Lisboa. Arrancou à José Eduardo: directo ao assunto, sem contemplações nem meias palavras, longérrimo dos jogos florais do «futebolês» a que estamos habituados, verdadeiramente vindo de outro planeta para desassossegar o planeta dos vencidos. Duvido que tenha havido um só benfiquista (todos traumatizados, e alguns já conformados, com anos sucessivos de mediocridade embrulhada em grandes triunfos e competência pessoal de Luís Filipe Vieira) que não tenha estremecido de entusiasmo apenas com o tom do discurso de Moniz. Durante cinco longos minutos, o Glorioso parecia poder estar de volta, já ao alcance da esquina e apenas pela capacidade mobilizadora daquele discurso. Se chegasse ao fim e dissesse, como parecia decorrer do discurso, «vou a eleições!», eu estou convencido de que já as tinha ganho. Houve ali qualquer coisa de «General Sem Medo» desafiando a ordem salazarenta das coisas. E o povo adora isso.

Mas, num golpe de verdadeiro anti-climax, Moniz concluiu o contrário: «Não vou». Não consegui escutar os suspiros de alívio que se devem ter ouvido em todas as imediações do Estádio da Luz, mas, dentro do estúdio, chegaram até nós os gritos de júbilo vindos da régie - e essa é a melhor homenagem que se pode prestar ao director-geral da TVI.

Chamado a comentar o assunto, disse isto - que continua a minha opinião, cinco dias volvidos: primeiro, que ficava contente, como colaborador da TVI, com a sua decisão de não se candidatar; segundo, que ficava igualmente contente, enquanto portista, pois que não tinha dúvidas de que, não só ele ganharia a eleição, como também de que seria um excelente presidente, como o Benfica há muitos, muitos anos, não tem. E acrescentei que, mesmo assim e a partir dessa não-candidatura, as coisas não voltariam a ser iguais para Vieira. Doravante, ele tem uma espada pendente sobre a cabeça, foi finalmente desafiado a sério e sem meias-palavras alguém disse alto e bom som a todos os benfiquistas que o seu presidente não estava ao nível da exigência e que só não era destronado imediatamente graças ao «golpe estatutário» a que lançara mãos, exactamente para o evitar. Não é preciso ser grande adivinho para perceber que tudo o que até agora foi tolerado a Vieira por falta de alternativa, vai deixar de o ser. Os benfiquistas já não vão conformar-se com mais palavreado oco e discursos de autopromoção: querem é ver resultados. E já. Eu, no lugar deles, quereria exactamente o mesmo.


4- Consciente de que assim tinha sido e de que o discurso de Moniz abalara a nação benfiquista, Vieira contra-atacou ontem, aqui, nas páginas de A Bola e por interposto José Manuel Delgado, citando «fontes benfiquistas». A tese bombástica, servida sem um estremecimento, é a de que Moniz seria um Miguel de Vasconcelos, servindo os Filipes de Espanha e pronto a abocanhar essa preciosidade disputada globalmente e que é «a marca Benfica» - através de uma fantástica conspiração, montada em tempo recorde, e que reuniria a Prisa, a Mediapro, a Cofina, o PSOE e a Caixa Geral de Depósitos. E Luís Filipe Vieira, claro, é o glorioso Duque de Bragança, futuro D. João IV, batendo-se como um leão solitário pela independência nacional e benfiquista. Como dizem os franceses, «il fallait y penser…!»

É preciso não conhecer José Eduardo Moniz para acreditar, um segundo que seja, que ele se dispusesse a ir para o Benfica para o vender aos espanhóis - e mais ainda à Prisa. E tudo isto, porque - explicaram «as mesmas fontes» a José Manuel Delgado - os espanhóis cobiçam os direitos televisivos dos jogos do Benfica, que pertencem a Joaquim Oliveira até 2013, «pela irrisória quantia de 8 milhões de euros/época» e querem «tomar conta da marca Benfica, a mais cobiçada em Portugal». Então, o negócio seria assim: os espanhóis entravam agora, pagando, no capital da SAD do Benfica, cuja maioria Moniz iria pôr em praça; depois, esperavam quatro anos pela caducidade dos direitos televisivos vendidos a Joaquim Oliveira; e a seguir, iriam vendê-los, por uma fortuna, à TVI - que entretanto, a Prisa teria vendido à Cofina. Mesmo dando de barato que a Prisa quisesse delamber-se do seu core-se-no-la que é a televisão, para se ir enfiar num clube de futebol, não consegui foi entender o papel da Cofina: para já, arruinavam-se a comprar a TVI por 100 milhões que a Caixa e não só lhe emprestariam, e depois voltavam a arruinar-se para ir comprar por uma fortuna os direitos televisivos que a Olivedesportos detém por uma ninharia. E com a «marca Benfica» conseguiriam o quê - o mesmo retumbante sucesso do «kit Benfica»?

Pensando bem, não sei, afinal, se Luís Filipe Vieira terá percebido o que lhe aconteceu, com aqueles dez arrasadores minutos de Moniz. Se terá percebido que o povo benfiquista já não vai lá com conversa fiada.