sexta-feira, agosto 31, 2012

O FUTEBOL ESTÁ DE VOLTA (09 AGOSTO 2011)

1- O futebol a sério está de volta eu também, depois de três semanas a limpar a cabeça, sem ter sequer curiosidade de ligar a televisão para espreitar os amigáveis da época. Quando, como sucede com os portistas, se ganhou praticamente tudo o que havia para ganhar na época anterior, não há pressa em voltar a passar pelas mesmas emoções. Apetece sim ficar em delicioso pousio, relembrando tudo o que se ganhou - e foi tanto! Com os outros deve acontecer exactamente o contrário: urgência em voltar a ver a equipa a jogar, em voltar a renovar as esperanças frustradas, em começar tudo de novo, de uma página em branco, desejando que nada seja igual ao que foi na época anterior.

Quando interrompi esta coluna para férias, tinha-me declarado satisfeito por constatar que o FC Porto, em lugar de se lançar numa série de compras sem fim, depois financiadas com a venda de um ou dois dos melhores jogadores, como sempre acontece nestas ocasiões, parecia ter desta vez adoptado a posição oposta: segurar todos os seus principais valores e comprar pouco e cirurgicamente. Mas parece que falei antes de tempo: no espaço de oito dias, o FC Porto não resistiu a intrometer-se nos projectos de aquisições do Benfica e foi ao Santos buscar dois juveníssimos laterais, um direito e um esquerdo, pela astronómica quantia de 21,5 milhões de euros - que, obviamente, terão de ser pagos de alguma maneira.

Confesso a minha perplexidade, novamente desafiada: comprar 90% dopasse de um lateral direito (o qual, para mais, só ficará disponível em Janeiro) por 13 milhões é um assombro. E,se bem que no Brasil me tenham jurado que o Danilo é mesmo grande jogador, pergunto-me se esse facto chega para comprar um jogador para uma posição onde já existem três outros - um dos quais, o Fucile, é apenas titular da selecção que acaba de se sagrar campeã sul americana? E dar 8,5 milhões por um defesa - esquerdo que é suplente do Léo no Santos, quando, ainda por cima, se tem a sorte de dispor de um lateral-esquerdo da categoria do Palito Pereira, também ele campeão sul americano? Num momento em que se vê que mesmo os tubarões da Europa, clubes como o Real, o Barcelona, o Manchester United, ou as SAD nas mãos de sheiks árabes ou chefes da máfia empresarial russa, hesitam e recuam na hora das compras, não deixa de ser notável que a SAD do FC Porto demonstre tamanha pujança financeira. Infelizmente e como não acredito em milagres, temo que isto nos venha a custar caro. Basta pensar que 8,5 milhões de euros, o preço pago apenas por Alex Sandro, é quanto o FC Porto poderá encaixar com uma muito bem sucedida campanha na Champions...

2- Tirando os seus habituais jornalistas de serviço, é óbvio que ninguém mais conseguiu perceber ainda o milagre da venda de Roberto ao Saragoça. Não sei se foram ou não « milhões da treta». como disse Pinto da Costa, mas é inquestionável que o negócio é tudo menos transparente: mete o Jorge Mendes, mete um fundo que não se sabe bem a quem pertence, mete off-shores e toda a restante parafernália habitual nos negócios que não são feitos para serem entendidos ou decifrados. Mas há uma coisa que, essa, me parece linear: se já era difícil acreditar que o Benfica tenha dado 8,5 milhões pelo terceiro guarda-redes do Atlético de Madrid, um ano atrás, acreditar agora que o conseguiu revender por 8,6 milhões, isso só mesmo para crentes doentios ou profissionais.

3- O principal destes negócios de Verão, porém, é este facto escandaloso: dos 32 jogadores comprados pelos três grandes, nem um só é português (o Eduardo foi emprestado e não comprado)! Isto, meus amigos, é um escândalo e um escândalo que não deveria ser permitido. Convém recordar que estamos a falar de entidades que gozam do estatuto jurídico de interesse público — com as vantagens fiscais e outras daí resultantes. Nem tudo lhes é permitido, nem tudo lhes deveria ser consentido: o que diríamos nós se outras empresas portuguesas, que todavia não gozassem de estatuto de interesse público — como A Bola. por exemplo só contratassem trabalhadores estrangeiros? Foi uma vergonha ver que não havia bandeiras de Portugal nos festejos dos jogadores do FC Porto após a final de Dublin (embora ainda houvesse alguns, poucos, portugueses em campo, de um lado e do outro); foi uma vergonha ver que o Benfica que passou a pré-eliminatória da Champions contra um desconhecido clube turco com nome de remédio não tinha um único jogador português em campo.

Como é que a FPF, a Liga de Clubes e a imprensa desportiva se calam acerca desta bandalheira: a elite dos clubes de futebol portugueses condenando ao ostracismo ou à emigração todos os jovens valores nacionais, enquanto gastam fortunas a comprar lá fora, para grande satisfação de empresários e comissionistas?

4- A pré-época também não trouxe grandes novidades em termos de resultados desportivos: o Sporting criou esperanças que logo transformou em dúvidas e incertezas, tendo alguns apressadamente concluído que bastava juntar uma nova sociedade das nações de 14 jogadores, que nem sequer dispõem de uma língua franca para se entenderem em campo, e eis que já se preparavam para deixar o FCPorto a arrastar-se noutro campeonato, lá em baixo; o Benfica lá ganhou o troféu Eusébio e o Troféu Guadiana, como de costume; e, como de costume também, o FC Porto lá ganhou mais uma Supertaça e mais um título oficial - vai em 70, contra 68 do Benfica.

Mas a vitória portista sobre um Guimarães que parece muito fraco mostrou que Vítor Pereira ainda tem muito trabalho pela frente, para colocar a equipa ao nível do ano passado. Gostei do Hulk, do Fucile e gostei muito de finalmente ver o Souza como titular em vez de Fernando, como não me cansei de defender toda a época anterior. Foi preciso que o Fernando entrasse esta época tal como terminara a anterior — a oferecer golos de mão beijada - para enfim se tornar evidente para todos que ele era um perigo à solta e muito mais fraco jogador, em todos os aspectos, do que Souza. Mas não consigo ver o Ruben Micael como titular e é pena, porque é português, mas bem aquém da qualidade do Guarín ou do Belluschi. E vi o Varela (outro português!) falhar tudo o que tentou e deixar umas saúdades imensas do James Rodriguez, que tarda em voltar.

Do jogo de Aveiro resta ainda um pormenor, por enquanto apenas estranho: que um árbitro não veja um penalty contra uma equipa, embora tenha sido absolutamente evidente, acontece; que a seguir não veja um segundo penaly já é coincidência infeliz; mas que depois também não consiga ver um terceiro, isso já é caso para estranhar. Aconteceu com Pedro Proença, tido pacificamente como o melhor árbitro da actualidade e, escusado seria dizer, o beneficiado foi o Vitória de Guimarães e o prejudicado o FC Porto. Só espero que Proença não tenha querido estabelecer desde já o padrão das arbitragens dos jogos do campeão nacional para toda a época agora iniciada. Decerto que não e decerto que ele irá ser chamado a razão por quem de direito.

NÃO HOUVE CRÓNICA (02 AGOSTO 2011)

Não houve crónica.

NÃO HOUVE CRÓNICA (26 JULHO 2011)

Não houve crónica.

NÃO HOUVE CRÓNICA (19 JULHO 2011)

Não houve crónica.