terça-feira, abril 19, 2011

QUAL SERÁ O PRÉMIO DOS SRS. ADMINISTRADORES, ESTE ANO? (23 MARÇO 2010)

1- Filmados lado a lado no final do jogo, no Estádio do Algarve, Pinto da Costa e Adelino Caldeira eram a imagem exuberante da derrota. Não apenas da derrota no jogo, na Taça da Liga ou na época toda, mas da derrota inapelável de um modelo de gestão que consiste em destroçar a equipa todos os anos, vendendo todos os grandes jogadores para comprar carregamentos de indigentes futebolistas sul-americanos.

Agora, que tanto se fala dos prémios dos gestores, públicos e privados, e que os actuais dirigentes da SAD do F.C.Porto estão a explicar em tribunal a legitimidade de prémios auto-atribuídos há anos atrás, vale a pena levantar a questão que já aqui levantei há tempos: se os administradores da SAD do F.C.P. recebem prémios quando o clube gera lucro (o que acontece uma vez por década) e também o recebem quando o clube gera prejuízo mas obtém vitórias desportivas, o que deverão eles fazer quando, como vai ser o caso, acumulam prejuízos financeiros e desaires desportivos? A mim, parece- me que deveriam reembolsar o clube dos prémios recebidos anteriormente. Ou isto é uma gestão por objectivos, mas sem riscos?

O que eles vão fazer, porém, já todos sabemos: apresentar aos sócios a cabeça de Jesualdo Ferreira, para assim tentarem desviar as atenções dos erros próprios de que são responsáveis. Jesualdo aguentou até onde pôde e até ganhou três campeonatos com equipas refeitas cada época. Mas bastou que o Benfica abrisse os cordões à bolsa, para que os contentores de argentinos do dr. Caldeira mostrassem a sua total impotência, não apenas para manter a hegemonia, mas para lutar de igual para igual.

É verdade que Jesualdo parece, ele próprio, perdido já. A sorte não o tem ajudado este ano (25 jogadores lesionados ao longo da época num plantel de 28, Hulk emboscado no túnel da Luz e afastado num momento crucial, e a própria sorte dos jogos decisivos, tudo tem estado contra ele). No Algarve, a história de Alvalade e Londres repetiu-se, quase igual: um golo oferecido logo aos 9 minutos, no primeiro remate do Benfica, e outro, no segundo remate, também a 50 metros e à beira do intervalo, dão cabo de qualquer estratégia e qualquer ânimo. Mas quem é que o manda meter o Nuno à baliza, numa final? Já Mourinho tinha feito o mesmo, numa final do Jamor, em 2004 e pagou isso com a derrota - e já então, o guarda-redes suplente que avançou chamava-se... Nuno. Eu conheço a explicação, mas ela não faz sentido algum: o Beto mostrou que estava em condições de substituir o Helton e é, como todos sabemos, muito melhor guarda-redes que o Nuno. Os sócios, os que pagam quotas e lugares cativos, querem é vitórias e essas conseguem-se com os melhores jogadores a jogar e não com aqueles que têm direito estabelecido a uma atenção especial do treinador. E, depois, se Jesualdo percebeu que tinha de tirar o Rúben Micael ao intervalo (desaparecido em combate há um mês), estando, ainda por cima, a perder por 2-0, qual foi a ideia de meter o Valeri, em lugar do Orlando Sá, para terminar com a solidão pungente do Falcao? Ó professor, o sr. ainda não entendeu que o Valeri não serve nem para marcar cantos?

Concedo que o Benfica não mereceu, de forma alguma, uma vitória por 3-0: nada fez por isso, ela caiu-lhe ao colo. Num jogo mau de mais, jogou tão mal ou quase quanto o F.C.Porto. Mas era ao F.C.Porto que cabia a despesa do jogo, apesar de jogar em ambiente hostil e apesar da notícia terrível da lesão do Varela. Sobretudo, depois que Jorge Jesus fez o favor de ter dispensado de início o Saviola e o Cardozo — com isso pretendendo não apenas poupar uma equipa muito mais desgastada, mas também, quero crer, para compensar as ausências de Hulk e Varela no F.C.Porto e assim jogar com armas iguais.

Ao contrário do que disse Jesualdo no final, o F.C.Porto não teve «uma atitude à F.C.Porto». Quem a teve, em parte, foi o Benfica — e foi isso que fez a diferença. O F.C.Porto não teve nem atitude nem futebol. Nem crença nem ciência. É uma equipa em queda a pique.


2- Em Marselha, sim, o Benfica teve uma verdadeira «atitude à F.C.Porto» e Jorge Jesus teve qualquer coisa de Mourinho, na confiança que soube dar aos jogadores, na coragem durante o jogo e no conhecimento perfeito do adversário que revelou ter. Eu tinha apostado com amigos na vitória do Benfica (e na eliminação do Sporting...) e não fiquei surpreendido. Claro que o Benfica é melhor equipa que o Marselha, mas isso, às vezes, não quer dizer nada — o F.C.Porto também é melhor equipa que o Sporting e levou 3-0 em Alvalade... Apostei na vitória do Benfica exactamente pela atitude de conquista e vitória que tem mostrado ao longo de toda a época e que, há muito, muito tempo, ninguém lhe conhecia. Isso, mais a capacidade incrível de atacar em velocidade e em segundas vagas consecutivas, é o que mais me impressiona no trabalho de Jorge Jesus. Junto-lhe a ausência de arrogância de que tem dado mostras ao longo da época e a regeneração de jogadores por quem eu não dava muito, e confesso que ele me surpreendeu e imenso. Pena aqueles gestos desnecessários e que tão mal lhe ficaram durante o Benfica-Nacional... Mas ninguém mais do que ele merece o título que aí vem.


3- E, assim, para grande irritação de alguns portistas, reafirmo, uma vez mais, os elogios que tenho feito, desde o início da época, ao futebol jogado pelo Benfica. Isso não me incomoda nada: acima de tudo, gosto de futebol e tento (sabendo que muitas vezes o não consigo) ser justo com o que vejo.

O que me incomoda, sim, é que os elogios aproveitem a tantos benfiquistas que os não merecem. Daqueles que, inversamente, nunca foram capazes de reconhecer mérito às vitórias portistas dos últimos anos e que agora estão empenhados em mostrar que têm tão mau vencer como antes tinham mau perder. Para não ir mais longe, fico-me por dois cronistas benfiquistas deste jornal: Sílvio Cervan e Araújo Pereira. As suas crónicas são um permanente incitamento ao ódio anti-portista, uma viscosa repetição do jogo de ressabiamentos e suspeitas permanentes com que alimentaram anos a fio a sua incapacidade de ganhar — uma doença contagiosa e malsã. Ainda esta semana, em lugar de celebrarem justamente a vitória de Marselha, ambos preferiram lançar as habituais suspeitas prévias sobre o árbitro do jogo do Algarve — que, por acaso, foi o primeiro classificado dos últimos dois anos (o Araújo Pereira chegou ao ponto de afirmar que ia haver um Super Dragão à solta no relvado). E o mesmo tipo de discurso adequado a acirrar os ânimos andou a fazer, uma vez mais, o presidente do Benfica — perante o silêncio absoluto, já habitual e que se recomenda, do lado do F.C.Porto. E depois «escandalizam-se» se as claques (que eles protegem e incentivam) proporcionam aqueles espectáculos degradantes que afastam do futebol os que lá vão para se divertirem, verem um bom jogo e vibrarem com o seu clube.


4- É, como disse, uma doença contagiosa e que, pelos vistos, também infecta os autoproclamados «cavalheiros». Viu-se agora com as declarações irresponsáveis do dirigente sportinguista Salema Garção, que culminaram na forma como as claques verdes receberam os adeptos do Atlético Madrid, em Alvalade: à pedrada. Mesmo que Alvalade não venha a ser interditado pela UEFA, a mim parece-me que tarda a demissão de Salema Garção — e por iniciativa própria. Eu conheço quem tenha deixado de ir ao jogo depois de ouvir na rádio o relato dos incidentes estimulados pelo dirigente sportinguista. E, salvo melhor opinião, não é para isso que servem os dirigentes.


5- Desta vez, Fernando Mendes concretizou: disse ao «Diário de Notícias», preto no branco, quais os clubes por onde passou e onde o doping era o pão nosso de cada dia — Belenenses e Boavista. O Boavista ganhou assim um campeonato ao F.C.Porto: não há uma «Pastilha Dourada» que o investigue?


PS: O Benfica, com o rei na barriga, vem agora reclamar da cobertura dos seus jogos pela Sport TV. Bem, quem reclama sou eu: os comentários do Marselha-Benfica, por momentos, fizeram-me regressar ao tempo do Estado Novo e do patrioteirismo mais saloio que imaginar se possa. A obsessão do comentador com o trabalho do árbitro (chegou a sugerir que ele queria agradar a Platini, por o Marselha ser francês) atingiu tamanho delírio, que se transformou num insuportável ruído de fundo permanente, que nem deixava prestar atenção ao jogo. Na última meia hora tive de o ver em silêncio, porque já não consegui suportar mais.

2 comentários:

João Ferreira disse...

É muito interessante ler este artigo, um ano depois. :-) Como as coisas mudam.

Anónimo disse...

Mais um artigo do Pintista de serviço...só resta saber se estava sóbrio ou se, como de costume, se encontrava alcoolizado e cheirado...como é seu hábito.