segunda-feira, julho 28, 2008

AH,AFINAL NÃO ERA A SÉRIO! ( 22 JULHO 2008 )

1- Afinal, o Benfica não queria ir à Champions, disputando a pré-eliminatória na vaga do Vitória de Guimarães, que, por sua vez, entraria directo na vaga do FC Porto. Afinal, o que parecia não era: a apressada denúncia logo feita pelo Benfica à FPF para que esta corresse a comunicar à UEFA que uma coisa chamada Comissão Disciplinar da Liga tinha julgado o FC Porto culpado de tentativa de corrupção e este não havia recorrido; os milhares e milhares de euros gastos em advogados, jurisconsultos, especialistas internacionais, para defender a posição do Benfica na questão - uma posição em que não era parte envolvida, mas simplesmente interessada; os esforços titânicos feitos para ganhar no campo jurídico o que o clube nunca mostrou ser capaz de ganhar no terreno de jogo - tudo isso era a fingir. O Benfica não queria ir à Champions: queria apenas chatear o FC Porto. Garantiu-o Luís Filipe Viera esta semana, em entrevista a Judite de Sousa. Se o Benfica tem obtido ganho de causa junto da UEFA, o seu presidente trataria logo de abdicar do efeito prático dessa vitória, propondo aos órgãos sociais do clube que este renunciasse… a favor do V.Setúbal. Acredite quem quiser.

Eu, claro, não acredito. Se essa fosse a vontade de Vieira, deveria tê-lo dito antes do desfecho e não depois de ter falhado a usurpação tentada. Depois de perder, é facil vir dizer que nunca se quis ganhar. Mas antes é que isso teria algum valor. Conforme ouvi a muitos benfiquistas, incomodados com o assunto, o que a direcção do seu clube deveria ter feito para evitar a tristíssima figura que fez, era ter ficado simplesmente quieta e muda, à espera que a UEFA, a Liga de Clubes, a Federação e o FC Porto resolvessem o assunto, que só a eles respeitava. Assim, é preciso acreditar nas boas intenções póstumas.

E não é fácil acreditar no desportivismo desta direcção benfiquista. São os mesmos que se prestaram a ir a um jantar de propaganda eleitoral do PSD para agradecer favores políticos, relativos a dívidas fiscais e à construção do estádio; os mesmos que tentaram safar Nuno Assis com recurso a meros expedientes burocráticos, como se não existisse a questão principal, que eram as análises positivas de doping; os mesmos que «compraram» o jogo no Algarve ao Estoril-Praia, assim dando passo decisivo para serem campeões em 2005 e arrumar com o Estoril para a 2ª divisão; os mesmos que este ano se especializaram em comprar jogadores aos clubes com quem iam jogar a seguir; os mesmos que cada vez que não conseguem os resultados esperados inventam sempre desculpas de mau pagador e conspirações sombrias; os mesmos que se aliaram a Valentim Loureiro para controlar a Liga de clubes contra Sporting e FC Porto e que depois, quando o viram metido em alhadas, lavaram as mãos do assunto, como se não tivessem nada a ver com ele, com a Liga e com o tal de «sistema».

Desportivismo? Desportivismo é chegar ao fim do campeonato e dizer «eles mereceram ganhar». Já alguém ouviu algum dos actuais dirigentes do Benfica dizer isso alguma vez?


2- A direcção do Benfica, que fez desta novela na UEFA o caso do «defeso» e que nela investiu tudo, sem querer saber dos pergaminhos ou do prestígio do clube, sem sequer auscultar a vontade dos sócios, prestou um péssimo serviço ao clube e à sua história. Eles lá sabem…

E, atrás deles, entontecidos pela miragem de entrar directos na Liga milionária sem os riscos da pré-eliminatória, incapazes de resistir à tentação de empochar cinco milhões de euros caídos do céu, sem um estremecimento de pudor por querer entrar na Europa dos grandes à custa do clube que lhes enfiara 5-0 em casa no jogo em que eles poderiam ter conquistado em campo esse direito, seguiram os responsáveis do Vitória de Guimarães. Trocaram uma amizade sólida e uma simpatia antiga da parte do FC Porto e dos seus adeptos pela sedução dos milhões. E, a avaliar pelos resultados e crónicas dos jogos de pré-época percebe-se bem porquê: porque esta porta das traseiras era a única em que os responsáveis vimaraneneses confiavam para entrar onde não esperavam.

Leio por aí que o Vitória, apesar de tudo, ainda espera que o FC Porto lhe volte a emprestar o Alan, aliviados que devem estar com a declaração de Pinto da Costa de que não tem nada contra o Vitória. Pois, talvez ele não tenha, mas os adeptos, esses, garanto-vos que têm e não esquecerão tão cedo: é só esperar para ver a recepção que o Dragão lhes dispensará da próxima vez que lá forem. O Vitoria, agora, que se prepare para experimentar o que lhe reserva o futuro da sua nova amizade com o Benfica - sim, o mesmo Benfica que passou toda a segunda volta do último campeonato a insinuar que o Vitória só lhe seguia à frente por favores de arbitragem. Essa nova amizade vai agora ser celebrada no «Troféu Platini», como lhe chamou o benfiquista Silvio Cervan, e seguramente que a direcção do Vitória não deixará de ter ocasião de experimentar, a propósito do interesse benfiquista no defesa Sereno, os métodos que o Benfica costuma usar quando pretende comprar jogadores de clubes «menores» que Sua Majestade (o Belenenses ou a Académica podem-lhes fazer um briefing sobre o assunto…).

3- Se os esforços diários e incansáveis de alguns jornalistas desportivos forem coroados de êxito, Jesualdo Ferreira vai mesmo perder Ricardo Quaresma. A sua saída seria, como alguém de um clube rival já confessou, a melhor aquisição da época para o Sporting e Benfica: não há Pablo Aimar nem Rochemback que valham a saída de Quaresma do FC Porto. Por isso mesmo e inversamente, a grande alegria, a grande e anunciada aquisição que Pinto da Costa prometeu ainda apresentar aos sócios, seria… a continuação de Ricardo Quaresma.

Entretanto, Jesualdo vai-se preparando para o pior. E, a avaliar pelos quatro jogos de preparação, em que Quaresma apenas fez uma passeata, o pior é garantido. Sem Quaresma, o FC Porto perde metade da sua capacidade ofensiva e muito mais da sua capacidade criativa lá na frente. Eu sei que há ainda portistas que têm dúvidas, mas as estatísticas são o que são: nas últimas três épocas, Ricardo Quaresma respondeu, directa ou indirectamente, como autor ou como assistente, por metade dos golos da equipa. Seguramente que não é o inofensivo Mariano González quem o vai substituir; nem o Tarik, nem o Alan. O Rodriguéz, sim, esse é jogador para flanquear o jogo, embora não seja um extremo puro. Mas se, do outro lado, em lugar do Quaresma, estiver o Mariano ou o Tarik, adeus 4X3X3 de tão boa memória! Por isso mesmo, Jesualdo anda a experimentar coisas complicadíssimas (para mim, pelo menos, que não percebo nada de tácticas), tais como o 4x2x3x1 ou o 4x1x4x1.

Mais uma razão para eu não perceber a lista de dispensas de Jesualdo: o Vieirinha, que tão bem se tem exibido no PAOK, não daria jeito? O Ibson, que os brasileiros veneram, não merecia uma nova oportunidade? O Leandro Lima não era uma promessa à beira da confirmação, ainda por cima com dois anos a mais? O Pittbull não é dez vezes melhor que um Mariano? Ainda há dúvidas de que o Bruno Moraes, devidamente motivado e sem lesões, pode ser um excelente ponta-de-lança, ou o Mourinho ter-se-á enganado?

Uma série de perguntas sem resposta, naufragadas num mar sul-americano de hipóteses por confirmar e suspensas da pergunta mortal: vamos mesmo perder o Quaresma?

ESCRAVOS E SENHORES ( 15 JULHO 2008 )

1- Paulo Assunção invocou uma novidade jurídica chamada «Lei Webster» e foi-se embora, sem dar cavaco nem cumprimento ao último ano de contrato que tinha com o FC Porto. Parece que é uma disposição que «protege» os jogadores com mais de 26 anos, permitindo-lhes rasgar um contrato a meio, se surgir melhor oportunidade. Pena que não seja uma disposição bi-lateral, funcionando também a favor dos clubes, que assim aproveitariam para se livrar dos «pesos mortos» que por lá têm a arrastar-se e «protegidos» também por contratos de longa duração. E é pena que o FC Porto, embrenhado na batalha jurídica da UEFA, que lhe foi desencadeada pelo Benfica, não tenha tido tempo ou ânimo para abrir ele uma batalha jurídica contra Paulo Assunção, o Atlético de Madrid e a Lei Webster.

Ainda no FC Porto, Ricardo Quaresma voltou à carga, repetindo que queria sair para Itália, Espanha ou Inglaterra. Já em Fevereiro dissera o mesmo e Pinto da Costa respondeu melhorando-lhe o ordenado, prolongando o contrato e fixando a cláusula de rescisão em 40 milhões. Quaresma tem toda a legitimidade para querer jogar num campeonato mais competitivo e mais mediático, mas também ninguém o obrigou a aceitar a revisão do contrato e seguramente que não se importou de ser aumentado em Fevereiro, com o contrato a meio. Devia, pois, ficar calado e se aparecesse alguém a bancar os 40 milhões, muito bem; se não aparecesse, escusava de fazer cara de contrariado, porque quando se ganha 200.000 euros por mês e se está num clube chamado FC Porto, não há motivo algum para andar contrariado. E parece que também Lucho González e Bruno Alves andarão «deprimidos» por não terem visto confrmar-se as expectativas de saírem já para um dos milionários europeus.

Mais deprimidos ainda adivinha-se que estejam João Moutinho e Miguel Veloso, no Sporting. O Europeu não lhes rendeu a notoriedade que esperavam e ninguém apareceu a querer dar 30 e 20 milhões de euros, respectivamente, pelos seus «passes». Também eles viram os seus contratos melhorados em plena vigência e aceitaram as respectivas cláusulas de rescisão fixadas em contrapartida pelo Sporting. Veloso veio agora queixar-se que a sua cláusula de rescisão é muito cara e que assim ninguém o compra. Não foi ele que a negociou de livre vondade? Ou terá achado que era tão bom jogador que não faltariam candidatos a pagar por ele os 20 milhões?

No Benfica, é um rapaz que ainda mal tem vinte anos, chamado Di María, chegado ao clube no ano passado e que fez uma época assim-assim, que também já declara que para o ano «quer dar o salto». Aliás, esta expressão «dar o salto», muito em voga entre nós, é ofensiva em si mesma para os três grandes de Portugal. Parece que eles não são nada ao pé das ambições dos nossos candidatos a génios do futebol. E, todavia, parece-me bem que também o Benfica não se importaria de «dar o salto» para alguém bem melhor do que um Di María — um Messi, por exemplo…

E temos o caso extremo do «escravo» Cristiano Ronaldo, injustamente amarrado ao melhor clube do mundo, onde é mal tratado e recebe a miséria de 200.000 euros… por semana! A novela Cristiano-Real Madrid, que dura já há dois meses e foi indecentemente alimentada em plena disputa do Europeu (inclusive, pelo próprio Scolari!), é uma coisa vergonhosa. Vergonhoso o comportamento do Real Madrid, na atitude facílima de dar a volta à cabeça de um jogador já deslumbrado aos vinte e poucos anos, e conduzir, através dele, uma chantagem infame sobre o Manchester United. Vergonhosas as declarações do presidente da FIFA, Joseph Blatter, num campeonato de abuso verbal com o presidente da UEFA, Platini, a meterem-se em coisas que não lhes dizem respeito e a tomar partido ao lado da demagogia e da falta de regras. E muito má a atitude de Cristiano Ronaldo, revelando uma total ingratidão, uma absoluta falta de amor à camisola e de respeito pelos adeptos.

Penso que todos nós, os que escrevemos em jornais desportivos, temos uma obrigação de defender valores, mesmo contra os interesses das nossas vedetas. É preciso explicar-lhes que, não só o dinheiro não é tudo na vida, como ainda, no caso deles - já pagos sumptuosamente, com sistemas fiscais e de segurança social de excepção - é particularmente indecoroso vê-los fazer do dinheiro o motivo principal da sua dedicação a um clube. E é preciso explicar-lhes, sem medo das palavras, que este tipo de mercenarismo triunfante e apresentado como coisa natural e legítima, pode, a longo prazo, matar a galinha dos ovos de ouro, afastando do futebol os adeptos. E os adeptos são a única coisa que não pode morrer para que o futebol não morra também. Tudo o resto - dirigentes, técnicos, jogadores - vão e vêm e são sempre substituíveis. Os adeptos, não.

2- Ao escrever este artigo não sei ainda o resultado da reunião de ontem do TAS, na qual Benfica e Vitória de Guimarães depositam todas as esperanças de conseguirem entrar na Champions, não por mérito ou por conquista feita em campo, à vista de todos, mas por golpe palaciano, de secretaria. Aliás e em relação ao Benfica, devo confessar que de há muito que o não via bater-se tanto por coisa alguma. Se conseguir ganhar na Secretaria, é caso para dizer que, afinal, um João Correia vale dez Nuno Gomes e um Paulo Gonçalves vale cinco Rui Costas. Razão tinha, afinal, Luís Filipe Vieira para dizer que a nomeação de gente de confiança para os cargos da Liga valia mais do que uma boa equipa de futebol: estamos à beira de confirmara a justeza da sua previsão.

Entretanto, há uma coisa que sempre me escapou: por que carga de água é que Benfica e Guimarães são parte neste processo e são ouvidos como tal, pela UEFA? Se um processo na justiça desportiva tem alguma coisa a ver com um processo normal, só há duas partes neste processo: a Comissão Disciplinar da Liga de Clubes (e, eventualmente, o CJ da Federação), que condenou o FC Porto, por um lado; e, por outro, o próprio FC Porto, que representa o arguido, e o Comité de Apelo da UEFA, que é a entidade recorrida. Agora, Benfica e Guimarães são apenas partes interessadas, o que não é o mesmo que sujeitos processuais. E, aliás, como partes interessadas que são, que valor pode ter a sua argumentação para o apuramento da verdade e da justiça?

Se há uma conclusão primeira a tirar deste imbróglio jurídico que atravessa o futebol português, é que, olhando o comportamento de Benfica, Vitória de Guimarães e Paços de Ferreira, escusam de voltar com o choradinho do desportivismo e coisas dessas. A partir de agora, é a lei do vale tudo. Sem pergaminhos, nem vergonha, nem parentes na lama.

3- Uma réstea de pudor e de bom-senso levou a maioria dos clubes a recusar o «diktat» justiceiro que Ricardo Costa preparou para se tornar numa espécie de ASAE dos clubes. O código de sanções e o sistema de julgamento sumário e condenações que preparava, torná-lo-iam rapidamente a pessoa e entidade mais poderosa de todo o futebol português, com poderes de despromover ou extinguir, simplesmente, qualquer clube, a seu belo-prazer. Num clima de intimidação e coacção jamais vistos, tentou-se criar a ideia de que quem não aprovasse aquele código terrorista, era porque estava do lado «sujo» do futebol português. Armado em virgem indignada, o Dr. Paulo Gonçalves, advogado do Benfica (e que antes trabalhou para o Boavista, no auge do «sistema», e antes para o FC Porto, sempre pela mão de José Veiga), ficou indignado com a reprovação do «diktat». Mas, se pensasse um bocado no assunto, veria que, por exemplo, o novo crime de «tráfico de influências», proposto pelo Dr. Ricardo Costa, aplicava-se que nem uma luva àquela conversa em que o presidente do Benfica negoceia com Valentim Loureiro a escolha de um árbitro para determinado jogo do seu clube. Estivesse o código em vigor e aplicado por igual a todos, só à conta desse telefonema, o Benfica estaria agora na Liga Vitalis…

JUSTIÇA, DIZEM ELES... ( 08 JULHO 2008 )

1- O que mais vontade de rir me dá, naquela palhaçada protagonizada pelo Conselho de Justiça da FPF, é ver como aqueles que passaram meses a tentar desacreditar o dito Conselho, antevendo decisões favoráveis ao FC Porto e Boavista, agora, confrontados com o resultado inverso, descobrem nos «seus» conselheiros homens de «coragem», que «viraram uma página no futebol português». Sinceramente, só me dá vontade de rir.

Meses a fio, explicaram-nos que o CJ estava em contra-corrente com os «novos tempos» de «moralização» e que, por isso, só devíamos confiar no Conselho de Disciplina, onde pontifica um justiceiro inquebrável, embora com um pequeno defeito visual que só o deixa enxergar a norte. Repetiram-nos até à exaustão, por exemplo, que o presidente do CJ era mais do que suspeito para decidir qualquer processo relativo ao Boavista, visto que é vereador na Câmara de Gondomar (só «esquecendo» de acrescentar que ele é vereador sim, mas… da oposição a Valentim Loureiro). Ainda a semana passada, no recurso interposto perante o Tribunal Arbitral Desportivo da UEFA, o Benfica escrevia que não valia a pena esperar pela decisão de recurso do nosso CJ porque se tratava de um órgão «sem credibilidade». Afinal, ainda as facas estavam a ser afiadas na reunião do CJ, e já o Benfica estava a salivar por uma certidão da douta «decisão» de tão insigne órgão, que lhe permitisse esgrimir mais argumentos na UEFA a favor da sua tese de que o 4º classificado no campeonato, a 23 pontos do 1º, é que merece representar o país na Champions.

2- O que se terá passado, então, para justificar tamanha cambalhota? Pois, os meandros eu não sei. Sei é que, e tal como ficou cristalinamente claro, tirando um dos conselheiros do dito CJ, que passa por pessoa isenta, todos os outros tinham votos agenciados, ou a favor da facção FC Porto/Boavista ou a favor da facção Benfica/V. Guimarães. Sabia-se que a votação final seria sempre 4-3 e sempre se partiu de princípio de que ganharia a facção portista: daí a campanha de descredibilização e intimidação do CJ. Mas aconteceu que, à boca das urnas, se descobriu que um ou dois conselheiros tinham, entretanto, «deslizado» de posição - certamente convencidos por argumentos muito fortes. Vendo-se em minoria, a facção portista tentou um golpe, que perdeu, e a facção benfiquista ripostou então com um contra-golpe. Ambos jurídica e moralmente indigentes.

A verdade é que não há conselheiros bons e maus, nesta palhaçada. Nem há argumentos de direito de vencedores ou vencidos (e a prova é que, até hoje, não conhecemos os argumentos pelos quais a maioria do CJ «deliberou» despromover de divisão um clube e contribuir para afastar outro da Liga dos Campeões: como se isso fosse um pormenor irrelevante). O que há apenas são advogados ao serviço de interesses ou paixões clubísticas, travestidos de juízes e a brincar aos heróis moralizadores e justiceiros. Razão tive para, durante anos, à revelia de toda a imprensa desportiva mas em sintonia com o Conselho Superior da Magistratura, defender que os juízes fossem afastados do futebol, pelo desprestígio que isso trazia à magistratura e à ideia de Justiça. Hoje não há juízes, há advogados dos clubes e tudo é mais claro: quem ganha as eleições nos órgãos da Liga e da Federação dita as leis e faz «justiça». Resta afastar também os magistrados do Ministério Público desta selva.

3- Se os queridos conselheiros do CJ se movessem nem que fosse por um mínimo de razões de direito, não poderiam, obviamente, ignorar o despacho de arquivamento do processo-crime contra Pinto da Costa, proferido pelo Tribunal de Instrução Criminal do Porto, no processo da «fruta» e do FC Porto-Beira-Mar — um dos dois processos que justificaram a condenação decretada pelo CD da Liga. E não poderiam ignorá-lo, porque ele se ocupa justamente dos fundamentos usados pelo CD para condenar o clube e para manter a Dr.ª Maria José Morgado na sua cruzada. E o que faz é desfazê-los, sem dó nem piedade, reduzindo-os a resíduos de lama.

Pior para os justiceiros é que, tendo sido a primeira vez que um magistrado, fora destas guerras todas, observou de perto o resultado do trabalho da Dr.ª Morgado, a coisa foi logo calhar às mãos de um juiz que é simpatizante do Sporting e da Académica e, pior ainda, é o mais respeitado juiz dos Tribunais de Instrução Criminal do Porto. (E, já agora, esclareço um argumento que ouvi a um benfiquista: o facto de um juiz estar colocado num tribunal do Porto, não significa, antes pelo contrário, que ele seja portuense e, menos ainda portista. Como toda a gente sabe, os juízes rodam por diversas comarcas ao longo da sua carreira e, quem está hoje no Porto, pode estar em Outubro em Évora ou em Lisboa. Seria como dizer que o Embaixador de Portugal em Luanda é angolano).

4- E o que disse o juiz do TIC? Disse isto:.............

a) que a utilização de escutas telefónicas no próprio processo-crime foi ilegal, por se tratar de crime a que não corresponde pena superior a três anos. Por maioria de razão, é ainda mais ilegal a sua utilização para fins disciplinares desportivos (ao contrário do que alguns justiceiros acham, isto de escutar as conversas privadas das pessoas não é um exercício leviano…);

b) que, mesmo assim, o facto é que sete meses de escutas telefónicas infligidas a Pinto da Costa tiveram como resultado útil apenas UMA conversa que o MP considerou suspeita;

c) que, nessa conversa, o MP nunca conseguiu fazer prova que o «JP», referido na conversa, fosse o árbitro Jacinto Paixão, como sustenta o MP, e não o ex-dirigente portista Joaquim Pinheiro, como explicou Pinto da Costa - e daí o processo ter sido anteriormente arquivado, até que a Dr.ª Maria José Morgado o mandou reabrir;

d) que, ainda que se concluísse que a conversa versava sobre o árbitro Jacinto Paixão e visava garantir os seus favores na arbitragem do jogo FC Porto-Beira-Mar, faltava um elemento essencial para se concluir pela corrupção: o nexo de causalidade, ou seja, o resultado prático dessa suposta corrupção. Acontece que nenhum dos peritos consultados concluiu que o árbitro tivesse favorecido o FC Porto. (Qualquer aprendiz de direito sabe isto e por isso é que o Dr. Ricardo Costa inventou a tese milagreira da «tentativa de corrupção», para fugir à dificuldade. Só que cometeu um erro: se houve tentativa apenas, os árbitros não poderiam também ter sido condenados. Se o foram, é porque, afinal, ele acha que houve corrupção. E, se houve, cadê o nexozinho de causalidade?).

e) enfim, sobre a «prova» acrescida trazida pelas declarações de Carolina Salgado ao MP — e jamais contraditadas livremente pela defesa — o juiz do TIC foi demolidor: a senhora, pura e simplesmente, mentiu. E daí que ele tenha mandado instaurar-lhe processo-crime por falsas declarações agravadas.

A forma como o juiz do TIC chegou a esta última conclusão é fatal para a Dr.ª Morgado e para o Dr. Costa. Confrontado com a transcrição das suas declarações ao MP, onde Carolina Salgado jurava ter assistido à conversa entre o empresário António Araújo e Pinto da Costa, supostamente acerca do árbitro Jacinto Paixão, o juiz limitou-se a pedir a transcrição de todas as chamadas do telemóvel de Pinto da Costa, nesse dia. E por elas descobriu que, à hora a que senhora jurava ter estado com o presidente do FC Porto, ela estava sim no cabeleireiro ou a caminho de casa do pai — conforme os seus próprios telefonemas para o telemóvel de Pinto da Costa atestavam. Tão simples como isto. E tão simples, que é impossível não perguntar porque é que a Dr.ª Maria José Morgado e o seu «dream team», a quem cabia a investigação, não se deram ao trabalho de fazer o mesmo? Bem pode agora a ilustre magistrada do MP anunciar que vai recorrer da sentença de arquivamento do TIC (não paga custas, não está sob suspeição, não lhe custa nada prolongar a coisa). Mas o que era preciso é que ela respondesse antes a esta pergunta…

5- Como se sabe, foi com base nos elementos fornecidos pela Dr.ª Maria José Morgado, que o CD entendeu condenar o FC Porto. Com base nas escutas e no depoimento de Carolina Salgado ao MP. Agora, que um juiz de direito de um tribunal comum decreta que as escutas são ilegais e não fazem prova alguma e a testemunha é uma mentirosa, apanhada com a boca na botija, o que vale a condenação do CD? Não, não me venham dizer que a justiça desportiva deve ser independente da justiça comum. Tivessem-no dito quando ficaram tão entusiasmados com a chegada da Dr.ª Morgado ao Apito Dourado e quando tanto insistiram para que ela passasse ao CD as «provas» que lhe permitiu condenar o FC Porto. Mas, aparte essa outra cambalhota, resta o essencial. E o essencial é o quê: saber a verdade dos factos e garantir aos acusados um processo limpo e com garantias de defesa, ou afastar o FC Porto para que o Sr. Luís Filipe Viera consiga apagar uma década de falhanços consecutivos no Alverca e no Benfica, e para assim não ter de sair protegido pela polícia das reuniões com os próprios sócios do clube?

segunda-feira, julho 07, 2008

VAMOS, ENTÃO AO DEFESO ( 01 JULHO 2008 )

1- A história recente dos emigrantes de luxo do futebol português não se resume aos casos de sucesso, como Cristiano Ronaldo. A maioria, até, são casos de insucesso: Tiago, Hugo Viana, Manuel Fernandes, Miguel. Mesmo jogadores aqui considerados verdadeiras estrelas, como Simão ou Deco, estão longe de terem visto esse estatuto reconhecido além-fronteiras. Parece que agora chegou mesmo a vez de Ricardo Quaresma se ir também embora, satisfazendo o ardente desejo dos jornalistas anti-portistas.

Já aqui escrevi por diversas vezes o quanto acho que a partida de Quaresma deixará um imenso vazio que ninguém preencherá tão cedo no FC Porto. Não só porque, ao longo das últimas épocas, ele tem sido o principal municiador de golos da equipa - marcando-os ou dando-os a marcar - mas também porque para encontrar paralelo com o seu futebol, em termos de imaginação e espectáculo, é preciso recuar vinte anos atrás, a Rabah Madjer. E também já escrevi que, compreendendo que ele possa desejar legitimamente saltar para um campeonato de outro nível, pode muito bem acontecer que se veja confrontado com a desilusão: em Milão, vai fatalmente encontrar um ambiente de equipa muito mais exigente e menos amigável, adeptos e imprensa bem mais intolerantes e, se as coisas não correrem bem a Mourinho, ele será dos primeiros a pagar por arrasto.

A sair, também parece certo que não sairá pelos 40 milhões prometidos solenemente por Pinto da Costa: sairá por menos, eventualmente disfarçando com alguém que o Inter não quer metido no pacote e cujo salário fará certamente dessa moeda de troca um presente envenenado.

2- Na temporada passada, o FC Porto foi o clube do mundo que mais facturou com a venda de jogadores. Desde 2004 para cá, aliás, todos os anos o FC Porto realiza receitas absolutamente extraordinárias a vender os seus melhores - de tal maneira que, ao pé delas, as receitas da chamada Liga dos Milhões parecem trocos. A gestão dos activos assim feita até não tem sido má, o problema é que todos esses jogadores que proporcionaram receitas milionárias ao clube são ou eram agenciados por Jorge Mendes e, ao que consta, o clube e ele estarão agora de relações congeladas. E, enquanto os talentos por ele descobertos vão saindo aos poucos, entram levas de sul-americanos, tipo Lucas Marenque ou Renteria, ou sub-produtos nacionais cuja compra me deixa estupefacto. Por cada venda fabulosa proporcionada por Jorge Mendes, lá vai o Dr. Caldeira para as Américas comprar de atacado jogadores cujo talento ninguém descortina. Assim como ninguém descortina que fim levam esses rios de dinheiro, que já deviam ter proporcionado à SAD uma situação financeira desafogada.

3- Mas há, como venho denunciando há anos, outras coisas preocupantes que resultam destes «defesos» da SAD do FC Porto. Ainda por aí uma quantidade de jogadores emprestados a outros clubes, com os salários ou parte deles, a serem pagos pelo FC Porto, e que raramente são recuperados, mesmo quando provaram bem nos clubes de empréstimo: é dinheiro deitado à rua, pura e simplesmente. Não há, há anos que não há, um só jogador vindo da formação no plantel principal. Para que servirá a formação e os escalões jovens, o projecto «Dragon-2012»? Com as saídas de Bosingwa, Postiga, Vierinha, Castro, Quaresma, Helder Barbosa (e Bruno Alves?!), também já não há praticamente portugueses na equipa. Não houve um só titular entre o onze de Portugal no Europeu e, dos quatro que foram suplentes, um já não é portista e o outro está em vias de deixar de o ser. Para quem, como Pinto da Costa, diz preocupar-se tanto com a Selecção e é presidente de um dos maiores clubes nacionais, não deixa de ser quase humilhante esta situação. Será que a ganância das aquisições sul-americanas ainda vai fazer do FC Porto, o mais antigo clube português, uma espécie de F.C. Soy Loco Por ti América?

4- Enfim, concedo que o Bosingwa foi muito bem vendido, pelo preço e porque já se andava a achar demasiado bom para a equipa. O Postiga foi ainda mais bem vendido, embora não o suficiente para fazer esquecer o tremendo erro que foi a sua recompra ao Tottenham. Mas, com esses 23 milhões, o orçamento do ano que vem já estaria coberto, não fosse a irresistível tentação dos negócios sul-americanos.

Concedo que o Cristian Rodriguez é uma compra interessante, mas demasiado cara (embora, claro, só três milhões tenham sido para pagar o gozo de imaginarmos a expressão de Luís Filipe Vieira, quando lhe deram a notícia). Tudo visto, não há nenhuma justificação financeira, e menos ainda desportiva, para vender o Quaresma. E vender o Bruno Alves, isso então, seria mesmo inexplicável.

Se houvesse juízo naquela casa, o que haveria a fazer agora era simples: nem mais compras, nem mais vendas. Mas é preciso não os conhecer…

5- E se nós, portistas, vivemos todos os «defesos» com o credo na boca, no terror de abrirmos o jornal de manhã e verificar que lá venderam mais uma das jóias da Coroa, a compensação que temos é a de seguir a época de aquisições do Benfica.

Nunca um pobre fez tão tristes figuras de novo-rico como o Benfica faz todos os anos. E este ano, apesar de Rui Costa ser de outra categoria e outros hábitos, aquele estilo grandiloquente já está de tal maneira entranhado nos procedimentos da casa, que tudo tem seguido o roteiro habitual:

- primeiro e em grandes parangonas, anuncia-se que o Benfica está interessado em algum grande jogador da categoria B (a categoria B é a dos que têm nome internacional mas não jogam nos respectivos clubes);

- passados uns dias, aparece o jogador em causa, o empresário, o pai, o vizinho de infância ou o canário, a jurarem que ele está entusiasmado com a hipótese de ir para o Benfica;

- passados mais uns dias, dá-se conta de que o Benfica já apresentou uma proposta pelo jogador e que só falta «limar algumas arestas com o clube»;

- mais uns dias, e os adeptos benfiquistas são informados de que «já há acordo pleno com o jogador»;

- no dia seguinte, inesperadamente, descobre-se que há um terceiro clube que também está interessado no jogador, mas que o Benfica já tem uma alternativa preparada para o caso de as negociações falharem;

- oh…o homem fugiu mesmo para o tal terceiro clube e, aparentemente, não foi triste. Avança, então, o nome da alternativa: um jogador de categoria C (a categoria C corresponde a um jogador que ninguém sabe quem é, mas que Pelé garantiu que era um novo Maradona ou Maradona garantiu que era um novo Pélé);

- anuncia-se que o Benfica, «agindo rapidamente e adiantando-se à concorrência», garantiu a aquisição do novo Pélé;

- o novo Pelé desembarca em Lisboa e, de voz própria ou através do seu empresário, trata lugar de jurar que o FC Porto também tinha tentado contratá-lo, mas que ele preferiu o Benfica.

Não tardará a perceber-se porquê.

6- Há uma espécie de unanimidade nacional em roda do nome de Carlos Queiroz para seleccionador nacional. Pode ser que seja uma boa escolha, pode ser que não, ninguém o pode dizer. Mas não percebo a evidência nem a unanimidade. Queiroz já foi selecionador e falhou em toda a linha. Como falhou no Sporting, no Real Madrid, na Selecção da África do Sul. Triunfou apenas no longínquo Mundial de Juniores em Riade, à frente da tal «geração de ouro», irrepetível. E, de cada vez que falhou, nunca foi capaz de reconhecer erros próprios: a culpa foi sempre de outros, da organização, da falta de meios ou de qualquer outra coisa. Repito: pode ser que se revelasse uma boa escolha, mas seria à segunda tentativa e não é, de todo, uma coisa evidente.

7- Perante o silêncio da SAD do FC Porto, o Sr. Platini continua alegremente a caluniar o clube. Já agora, que alguém ao menos lhe explicasse (e aos advogados do Benfica…) que o Comité de Apelo da UEFA não anulou a decisão da 1ª instância de excluir o FCP da Champions apenas porque o processo ainda não está acabado em Portugal. Está lá escrito que, mesmo que o FCP seja condenado definitivamente, o Comité de Disciplina da UEFA não pode esquecer-se de uma coisa chamada não-retroactividade da lei disciplinar punitiva. Não são «meras complicações jurídicas», como diz o Sr. Platini na sua ignorância arrogante.

UM BANHO DE HUMILDADE ( 24 JUNHO 2008 )

Uma imprensa desportiva eufórica antes de tempo, um país acometido de delírio patriótico e um insuportável blitz de publicidade dos patrocinadores da Selecção, criaram a certeza de que esta equipa de Portugal só poderia chegar ao céu - ao título de Campeão da Europa de 2008. Tal como sempre aconteceu na era Scolari, caímos no mais fácil dos grupos da fase final - onde, como disse Mourinho, era impensável não passarmos aos «quartos».

Veio primeiro uma Turquia borrada de medo, que vencemos com uma exibição segura, mas não sublime, como logo apregoaram; e, depois, uma República Checa, contra quem, mais uma vez, só obtivemos o golo da tranquilidade nos descontos e após enfrentar alguns calafrios finais, imprevistos e desnecessários. Mas passámos, que era o importante.

A seguir, veio o jogo das reservas contra a Suíça, perdido sem nenhum brio nem desculpa (e todos os outros apurados à 2.ª jornada - Espanha, Croácia e Holanda - puseram também as reservas no terceiro jogo e ganharam-no). Aqui, deveríamos ter tido um primeiro sobressalto de humildade, antes de enfrentarmos uma Alemanha que já se sabe que é sempre competitiva e tem espírito de equipa.

Aliás, nessa 1.ª fase, pese às nossas milionárias vedetas e ao delírio da imprensa, eu vi jogar melhor futebol à Croácia, à Holanda, à Espanha e à Rússia - sem esquecer a Itália e a Alemanha, que, mesmo quando não têm grandes equipas, têm uma cultura de vitória entranhada. Esperava-se que fizéssemos a diferença pelas nossas individualidades, mas afinal o que mostrámos de melhor foi a condição física e o jogo colectivo.

Contra a Alemanha, no primeiro verdadeiro jogo a doer, nós partíamos com uma vantagem imensa: oito dias de descanso contra três, numa competição em que, tal como no Mundial, os grandes jogadores já chegam estafados por uma época sem tréguas. Para nos ganhar, a Alemanha sabia que tinha de construir o resultado de início e defendê-lo depois. Foi isso que fizeram e conseguiram-no - curiosamente, não como equipa, mas porque, na hora da verdade, os seus valores individuais suplantaram os nossos. E assim saímos deste Europeu, onde, tirando o próprio Scolari, que afirmou sair «de consciência supertranquila», todos nós achamos que poderíamos e deveríamos ter ido mais longe.

A seu tempo, talvez faça aqui o balanço destes seis anos de Scolari à frente da Selecção. Agora, faço apenas uma apreciação individual daqueles que ele lançou na batalha perdida.

RICARDO - De todos os 40 ou 50 jogadores chamados por Scolari nestes seis anos, nenhum lhe deve mais do que Ricardo. Ele começou por ser o instrumento da querela particular de Scolari contra Baía. E, logo aí, como ao longo daquelas patéticas conferências de imprensa dos jogadores da Selecção em que participou, Ricardo mostrou a falta de humildade e de elegância que sempre o caracterizou. Mesmo quando suplente no Sporting ou no Bétis, Ricardo contou sempre com a fidelidade de Scolari. E, entre os postes, que era o que mais interessava, mostrou tudo o que já se sabia: que é óptimo a defender penalties, bom a defender remates frontais e a jogar com os pés, e um zero no jogo aéreo. Contra a Alemanha (e tal como já sucedera no Mundial de 2006, com o mesmíssimo resultado), não teve de fazer uma única defesa e encaixou três golos: no primeiro, não teve culpas; no segundo, teve algumas; e, no terceiro e decisivo, teve bastantes. Lothar Mathaus tinha avisado.

BOSINGWA - Foi dos melhores, ao longo dos três jogos e tudo ponderado. Não deslumbrou, mas cumpriu.

MIGUEL - Segundo parece, acha que o Valência já é pouco para ele. Só teve uma oportunidade - contra a Suíça - para mostrar a razão porque pensa isso, mas não o conseguiu: foi o pior em campo.

PAULO FERREIRA - Temia-se a sua adaptação à esquerda e os temores saíram confirmados. Jogou os quatro jogos e em todos esteve mal.

JORGE RIBEIRO - Contratado pelo Benfica para a próxima época (na véspera do jogo contra o «seu» Boavista), não justificou, contra a Suíça, as razões da contratação.

PEPE - O novo «português» aprendeu o hino e mostrou raça e vontade de honrar a chamada. Jogou sempre no risco e acertou umas vezes, falhou outras. Mas foi à luta, sempre.

RICARDO CARVALHO - O oposto de Pepe: atravessou todo o Euro dando sinais de esgotamento e de precisar urgentemente de férias. Defendeu-se, nunca correndo riscos e tudo fazendo para não se dar por ele. O jogo contra a Alemanha é o paradigma disto: não esteve directamente ligado a nenhum dos golos, mas alguém é capaz de dizer onde parava ele nos três golos, todos facturados no centro da pequena área - a zona coutada dos centrais?

BRUNO ALVES - Apenas o jogo contra a Suíça, reeditando a dupla de centrais do FCP de 2007, ao lado de Pepe. Não comprometeu nem deslumbrou. Mas, não fossem os lugares cativos na Selecção de Scolari, e talvez tivesse justificado mais a titularidade do que Ricardo Carvalho.

PETIT - A mais inexplicável escolha de Scolari, depois de toda uma época falhada. Esteve no Euro como esteve no Benfica: só se dava por ele quando cometia aquelas faltas maldosas, com ar de inocente. Não haveria mesmo ninguém mais útil para a posição?

MIGUEL VELOSO - Consta que vale largos milhões e que a Itália inteira suspira por ele. Não vejo porquê, e o jogo contra a Suíça não ajudou em nada a perceber.

JOÃO MOUTINHO - Dizem, também, que vale trinta milhões e que andará meio mundo atrás dele. E também nunca percebi porquê. Vejo-o como um jogador sempre regular e um grande profissional, mas jamais como um n.º 10 com rasgo e clarividência, como um Deco, um Lucho González ou um Rui Costa. Fez um primeiro jogo razoável contra a Turquia, que serviu para o porem nos píncaros, e um segundo jogo absolutamente medíocre contra os checos. Contra a Alemanha, saíu à meia-hora, magoado, e, não fosse ter falhado um golo na cara do guarda-redes, teria passado invisível pelo jogo. Mais Alcochete não lhe fará mal algum.

RAUL MEIRELES - Entrou e marcou um golo, contra a Turquia. Jogou muito pouco contra a Suíça e aproveitou razoavelmente uma hora de jogo contra a Alemanha. Não desiludiu, mas foi igual ao costume: fez três remates à baliza e saíram todos para fora.

DECO - Este, sim, foi o homem da Selecção. Três jogos e em todos foi o melhor da equipa. Foi o Deco dos grandes tempos do FC Porto de 2004 (o tal ano da «tentativa de corrupção» e que deu cinco jogadores a esta Selecção), muito melhor do que o Deco dos últimos tempos no Barcelona.

FERNANDO MEIRA - Foi mais importante como «falador» do que em campo. Sem lugar entre os centrais, fez um jogo e parte de outro no meio-campo, onde não acrescentou nada.

SIMÃO - Três jogos sem história. Deve o lugar cativo ao facto de ainda ser, emocionalmente, jogador do Benfica.

NUNO GOMES - Na véspera do jogo com a Alemanha, declarou ter um «pressentimento» de que iria marcar. E marcou mesmo. Mas um ponta-de-lança que marca golos só quando tem «pressentimentos», parece-me pouco. Tal como outros, deve o lugar à regra da antiguidade - a mais sagrada da era Scolari - e ao facto de, como nenhum outro, ser o jogador com melhor imprensa.

HÉLDER POSTIGA - Facto extraordinário, também marcou um golo. E foi contratado pelo Sporting.

HUGO ALMEIDA - Era o sucessor mais aconselhável para preencher o deserto deixado por Pauleta. Mas estava em 3.º lugar na lista da antiguidade e Scolari só lhe deu um quarto de hora, contra a Suíça.

CRISTIANO RONALDO - Não se pode ser herói todos os dias e toda a época, mas o facto é que, se contava com o Euro para o título de melhor do mundo, Cristiano passou ao lado. Vontade, é indiscutível que tinha, assim como talento e génio. Mas, não chegou: foi dos piores contra a Alemanha e desiludiu em todos os jogos. Não sei se foi o Real Madrid que lhe deu volta à cabeça ou a grande época que fez que o rebentou, mas umas férias nas Caraíbas e uns mergulhos nos vídeos do Arshavin só lhe farão bem.

RICARDO QUARESMA - Idem, idem, aspas. Se está à espera que alguém banque os 40 milhões por ele, das duas uma: ou fica sentado à espera, ou confia em que Pinto da Costa não cumpra a sua promessa de não fazer desconto. É verdade que Scolari só lhe deu uma oportunidade e nunca soube dar-lhe a confiança de que precisa e aproveitá-lo para a Selecção. Mas, quando se ganha 150.000 euros por mês e se quer ganhar 300.000, não basta fazer um cruzamento «de letra» em 90 minutos de jogo.

NANI - Foi dos menos maus contra a Suíça e contra a Alemanha. Tentou, mas raramente foi consequente até ao fim. Fica de reserva para o futuro e para o próximo selecionador.

O QUEIXINHAS ( 17 JUNHO 2008 )

1- Todos nós conhecemos a figura do queixinhas, dos tempos de escola, na adolescência. O queixinhas, também conhecido por o Manteigueiro, era aquele fulano que, quando o professor perguntava «quem foi que falou?», respondia «foi o Jorge Nuno». Com isso, o queixinhas tentava insinuar-se nas boas graças do poder e, simultaneamente, dificultar a vida aos colegas. Porque o queixinhas era, invariavelmente, um puto medíocre, nos estudos ou no desporto, que morria de inveja dos que se destacavam pelos seus méritos. Enquanto o queixinhas era uma figura odiosa para a generalidade da turma, desprezado e ostracizado, ele próprio parecia viver bem com isso, porque o seu objectivo principal era passar de ano, não por mérito, mas por influência junto dos professores. Uma influência conquistada com a delação sobre os que se sentavam a seu lado.

De há um mês para cá, o «Glorioso» Sport Lisboa e Benfica, pátria de José Augusto, Eusébio, Torres, Coluna e Simões, dos dez inesquecíveis Magriços de 66, transformou-se no queixinhas oficial do futebol português. Com a agravante de conduzir uma desatinada campanha de delação no estrangeiro contra aquele que é o seu maior rival interno e que ele, não conseguindo derrubar em campo, cara a cara, tenta derrubar na secretaria, impedindo-o de competir. As más notícias para a SAD benfiquista ontem chegadas da UEFA já não apagam a sua vil atitude, apenas a tornam ainda inútil: perderam no campo e perderam na secretaria. Para esta época, o melhor que têm a fazer é apostar mais no talento em campo do que nos talentos jurídicos do dr. João Correia.

Penso que, mesmo para muitos benfiquistas, ficará como uma das páginas mais negras da história do SLB este zelo persecutório, este assanhamento contra o FC Porto, este oportunismo despudorado de tentar tirar partido de uma imensa estupidez da SAD do FC Porto (não ter recorrido da condenação da Liga para salvar 6 pontos na próxima época), esta absoluta sem vergonha de tentar chegar à Liga dos Campeões à custa de um justíssimo campeão e após uma época em que o 4.º lugar final mostrou exuberantemente que o Benfica não mereceu de forma alguma representar o futebol português na mais importante competição europeia de clubes.

Face às consequências europeias da condenação na Liga, que a SAD do FC Porto não previu, o Benfica se quisesse também ter uma postura que honrasse o seu nome, só poderia ter feito uma de duas coisas: ou renunciar ao lugar assim caído do céu na edição da Champions do ano que vem (conforme alguns benfiquistas, não muito sinceros, sugeriram), ou esperar tranquilamente para ver em que acabava tudo. Mas, não: a SAD do Benfica escolheu uma terceira via, a do oportunismo sem remorsos. Escolheu ser parte activa em todo o processo, ser o maior denunciante e o mais desonesto nos seus métodos, enfim, tudo fazer para tentar conquistar na UEFA o que perdeu em campo à vista do país inteiro.

A hipocrisia da argumentação levada pelo Benfica à UEFA, jogando tudo em tentar demonstrar que a condenação do FC Porto transitou em julgado (o que eu também acho…), faz por ignorar, todavia, o essencial. E o essencial é isto:

- que foi igualmente por razões de oportunismo circunstancial, embora bem mais compreensíveis e justificáveis, que a SAD do FC Porto resolveu não recorrer da condenação da Liga, deixando a defesa da honra do clube para o recurso interposto pelo seu presidente;

- que, ao tomar esta decisão, a SAD do FC Porto não previu as consequências que daí poderiam vir. Se, como lhe competia, tivesse feito o trabalho de casa e tivesse realizado que, não recorrendo, ficaria fora da Champions, a SAD do FCP teria obviamente recorrido, mesmo com o risco de entrar a perder 6 pontos no campeonato que aí vem;

- que a condenação da UEFA só poderá ser levada a cabo através de uma grosseira violação de um princípio geral de direito punitivo, que é o da não retroactividade da lei, e consumará uma politica efectiva de dois pesos e duas medidas, conforma a vítima seja um colosso europeu ou um modesto colosso português;

- que, ao longo de todo o processo Apito Dourado (onde, quer na esfera penal, que na disciplinar, sempre houve simpatizantes benfiquistas em posição de acusar ou condenar o FC Porto, desde o topo até à base), nunca foi dada, até à data, uma possibilidade efectiva de o FC Porto se defender das acusações, nomeadamente confrontando, na justiça penal ou na disciplinar, a testemunha-chave, engendrada pelo Benfica, apaparicada pelo Ministério Público e tomada como a voz da verdade pela comissão disciplinar da Liga;

- que a única condenação existente até agora — a do CD da Liga — foi protagonizada por um órgão que reúne essa extraordinária faculdade de ser simultaneamente acusador e julgador (e daí que a outra frente de batalha benfiquista seja a despudorada manobra de desqualificar, intimidar e ameaçar o órgão de recurso — o CJ da federação — tendo tornado já claro que, no entender do Benfica, só haverá «justiça» se o CJ confirmar as condenações do CD; se o não fizer, haverá «branqueamento»).

- e, enfim, fingindo ignorar que o FC Porto de 2004, de José Mourinho, Deco, Maniche, Ricardo Carvalho, Derlei, McCarthy, Carlos Alberto, etc., folgadíssimo campeão nacional e justíssimo campeão europeu, certamente que não andou a comprar árbitros para empatar um jogo e vencer outro, contra equipas despromovidas e em encontros a feijões. Assim como finge ignorar que Portugal inteiro assistiu, nos últimos 20 anos, a uma clara demonstração da superioridade em campo do FC Porto, quase ano após ano. O que o País ainda não percebeu é como é que o Benfica ganhou o campeonato de 2005…


2- E parece que ao Benfica se juntou agora, nesta edificante cruzada, o Vitória de Guimarães. Quem, o Vitória de Guimarães — que vive a mendigar favores e empréstimos de jogadores ao FC Porto, que não entrou directo para a Champions porque levou 5-0 do FC Porto em casa —, também quer agora ver se rouba o lugar aos portistas e entra directo sem esse calafrio da pré-eliminatória? Bem esperamos que a SAD do FC Porto não se esqueça, mais uma vez, do que tem de fazer para responder ao Vit. Guimarães…

3- A cabeça ferve-lhes de ambição e entusiasmo: já se imaginam no Milan, no Inter, no Valência, no Arsenal, no Barcelona. E uns até já lá estão. As grandes vedetas do banco de suplentes de Portugal deram uma triste imagem do talento que apregoam. Sim, o árbitro, inqualificavelmente mau, fez tudo para que a Suíça não perdesse. Mas, por mais que um árbitro prejudique, há uma coisa contra a qual ele nada pode e que os grandes jogadores e as grandes equipas têm: atitude. Foi o que não tivemos. Aquela triste equipe da Basileia pareceu apenas um grupo de meninos vaidosos a deitarem contas à vida para depois do Europeu. Também não admira quando o exemplo vem de cima. Quando o primeiro a tratar da vidinha é o próprio selecionador, em plena concentração.

4- Mas não serei hipócrita: vejo com imenso alívio a ida de Scolari para Inglaterra. Acho que vai ser bom para nós e para ele também: só lhe vai fazer bem viver numa democracia a sério e num futebol onde não poderá agredir jogadores adversários, ofender jornalistas senhoras, insultar os críticos, apostar na saloice patrioteira e debitar banalidades para uma plateia de jornalistas ao seu serviço. Para começar, logo esta pequena diferença: o Chelsea contratou-o e logo revelou quanto é que lhe ia pagar, ao contrário de nós, que até hoje não sabemos quanto lhe paga a federação — apesar de esta ter estatuto de utilidade pública e viver, em parte, com o nosso dinheiro.