segunda-feira, julho 07, 2008

VAMOS, ENTÃO AO DEFESO ( 01 JULHO 2008 )

1- A história recente dos emigrantes de luxo do futebol português não se resume aos casos de sucesso, como Cristiano Ronaldo. A maioria, até, são casos de insucesso: Tiago, Hugo Viana, Manuel Fernandes, Miguel. Mesmo jogadores aqui considerados verdadeiras estrelas, como Simão ou Deco, estão longe de terem visto esse estatuto reconhecido além-fronteiras. Parece que agora chegou mesmo a vez de Ricardo Quaresma se ir também embora, satisfazendo o ardente desejo dos jornalistas anti-portistas.

Já aqui escrevi por diversas vezes o quanto acho que a partida de Quaresma deixará um imenso vazio que ninguém preencherá tão cedo no FC Porto. Não só porque, ao longo das últimas épocas, ele tem sido o principal municiador de golos da equipa - marcando-os ou dando-os a marcar - mas também porque para encontrar paralelo com o seu futebol, em termos de imaginação e espectáculo, é preciso recuar vinte anos atrás, a Rabah Madjer. E também já escrevi que, compreendendo que ele possa desejar legitimamente saltar para um campeonato de outro nível, pode muito bem acontecer que se veja confrontado com a desilusão: em Milão, vai fatalmente encontrar um ambiente de equipa muito mais exigente e menos amigável, adeptos e imprensa bem mais intolerantes e, se as coisas não correrem bem a Mourinho, ele será dos primeiros a pagar por arrasto.

A sair, também parece certo que não sairá pelos 40 milhões prometidos solenemente por Pinto da Costa: sairá por menos, eventualmente disfarçando com alguém que o Inter não quer metido no pacote e cujo salário fará certamente dessa moeda de troca um presente envenenado.

2- Na temporada passada, o FC Porto foi o clube do mundo que mais facturou com a venda de jogadores. Desde 2004 para cá, aliás, todos os anos o FC Porto realiza receitas absolutamente extraordinárias a vender os seus melhores - de tal maneira que, ao pé delas, as receitas da chamada Liga dos Milhões parecem trocos. A gestão dos activos assim feita até não tem sido má, o problema é que todos esses jogadores que proporcionaram receitas milionárias ao clube são ou eram agenciados por Jorge Mendes e, ao que consta, o clube e ele estarão agora de relações congeladas. E, enquanto os talentos por ele descobertos vão saindo aos poucos, entram levas de sul-americanos, tipo Lucas Marenque ou Renteria, ou sub-produtos nacionais cuja compra me deixa estupefacto. Por cada venda fabulosa proporcionada por Jorge Mendes, lá vai o Dr. Caldeira para as Américas comprar de atacado jogadores cujo talento ninguém descortina. Assim como ninguém descortina que fim levam esses rios de dinheiro, que já deviam ter proporcionado à SAD uma situação financeira desafogada.

3- Mas há, como venho denunciando há anos, outras coisas preocupantes que resultam destes «defesos» da SAD do FC Porto. Ainda por aí uma quantidade de jogadores emprestados a outros clubes, com os salários ou parte deles, a serem pagos pelo FC Porto, e que raramente são recuperados, mesmo quando provaram bem nos clubes de empréstimo: é dinheiro deitado à rua, pura e simplesmente. Não há, há anos que não há, um só jogador vindo da formação no plantel principal. Para que servirá a formação e os escalões jovens, o projecto «Dragon-2012»? Com as saídas de Bosingwa, Postiga, Vierinha, Castro, Quaresma, Helder Barbosa (e Bruno Alves?!), também já não há praticamente portugueses na equipa. Não houve um só titular entre o onze de Portugal no Europeu e, dos quatro que foram suplentes, um já não é portista e o outro está em vias de deixar de o ser. Para quem, como Pinto da Costa, diz preocupar-se tanto com a Selecção e é presidente de um dos maiores clubes nacionais, não deixa de ser quase humilhante esta situação. Será que a ganância das aquisições sul-americanas ainda vai fazer do FC Porto, o mais antigo clube português, uma espécie de F.C. Soy Loco Por ti América?

4- Enfim, concedo que o Bosingwa foi muito bem vendido, pelo preço e porque já se andava a achar demasiado bom para a equipa. O Postiga foi ainda mais bem vendido, embora não o suficiente para fazer esquecer o tremendo erro que foi a sua recompra ao Tottenham. Mas, com esses 23 milhões, o orçamento do ano que vem já estaria coberto, não fosse a irresistível tentação dos negócios sul-americanos.

Concedo que o Cristian Rodriguez é uma compra interessante, mas demasiado cara (embora, claro, só três milhões tenham sido para pagar o gozo de imaginarmos a expressão de Luís Filipe Vieira, quando lhe deram a notícia). Tudo visto, não há nenhuma justificação financeira, e menos ainda desportiva, para vender o Quaresma. E vender o Bruno Alves, isso então, seria mesmo inexplicável.

Se houvesse juízo naquela casa, o que haveria a fazer agora era simples: nem mais compras, nem mais vendas. Mas é preciso não os conhecer…

5- E se nós, portistas, vivemos todos os «defesos» com o credo na boca, no terror de abrirmos o jornal de manhã e verificar que lá venderam mais uma das jóias da Coroa, a compensação que temos é a de seguir a época de aquisições do Benfica.

Nunca um pobre fez tão tristes figuras de novo-rico como o Benfica faz todos os anos. E este ano, apesar de Rui Costa ser de outra categoria e outros hábitos, aquele estilo grandiloquente já está de tal maneira entranhado nos procedimentos da casa, que tudo tem seguido o roteiro habitual:

- primeiro e em grandes parangonas, anuncia-se que o Benfica está interessado em algum grande jogador da categoria B (a categoria B é a dos que têm nome internacional mas não jogam nos respectivos clubes);

- passados uns dias, aparece o jogador em causa, o empresário, o pai, o vizinho de infância ou o canário, a jurarem que ele está entusiasmado com a hipótese de ir para o Benfica;

- passados mais uns dias, dá-se conta de que o Benfica já apresentou uma proposta pelo jogador e que só falta «limar algumas arestas com o clube»;

- mais uns dias, e os adeptos benfiquistas são informados de que «já há acordo pleno com o jogador»;

- no dia seguinte, inesperadamente, descobre-se que há um terceiro clube que também está interessado no jogador, mas que o Benfica já tem uma alternativa preparada para o caso de as negociações falharem;

- oh…o homem fugiu mesmo para o tal terceiro clube e, aparentemente, não foi triste. Avança, então, o nome da alternativa: um jogador de categoria C (a categoria C corresponde a um jogador que ninguém sabe quem é, mas que Pelé garantiu que era um novo Maradona ou Maradona garantiu que era um novo Pélé);

- anuncia-se que o Benfica, «agindo rapidamente e adiantando-se à concorrência», garantiu a aquisição do novo Pélé;

- o novo Pelé desembarca em Lisboa e, de voz própria ou através do seu empresário, trata lugar de jurar que o FC Porto também tinha tentado contratá-lo, mas que ele preferiu o Benfica.

Não tardará a perceber-se porquê.

6- Há uma espécie de unanimidade nacional em roda do nome de Carlos Queiroz para seleccionador nacional. Pode ser que seja uma boa escolha, pode ser que não, ninguém o pode dizer. Mas não percebo a evidência nem a unanimidade. Queiroz já foi selecionador e falhou em toda a linha. Como falhou no Sporting, no Real Madrid, na Selecção da África do Sul. Triunfou apenas no longínquo Mundial de Juniores em Riade, à frente da tal «geração de ouro», irrepetível. E, de cada vez que falhou, nunca foi capaz de reconhecer erros próprios: a culpa foi sempre de outros, da organização, da falta de meios ou de qualquer outra coisa. Repito: pode ser que se revelasse uma boa escolha, mas seria à segunda tentativa e não é, de todo, uma coisa evidente.

7- Perante o silêncio da SAD do FC Porto, o Sr. Platini continua alegremente a caluniar o clube. Já agora, que alguém ao menos lhe explicasse (e aos advogados do Benfica…) que o Comité de Apelo da UEFA não anulou a decisão da 1ª instância de excluir o FCP da Champions apenas porque o processo ainda não está acabado em Portugal. Está lá escrito que, mesmo que o FCP seja condenado definitivamente, o Comité de Disciplina da UEFA não pode esquecer-se de uma coisa chamada não-retroactividade da lei disciplinar punitiva. Não são «meras complicações jurídicas», como diz o Sr. Platini na sua ignorância arrogante.

Sem comentários: