quinta-feira, março 27, 2008

ESTE PORTO MERECE OS QUARTOS (04 MARÇO 2008)

O «derby» foi mal jogado, enfadonho e acabou empatado, com incidentes nas bancadas e fora do estádio — tudo como se vem tornando hábito, de há uns anos para cá.

1- Este FC Porto de Jesualdo Ferreira, reconstruído paulatinamente durante dois anos e após a devastação deixada pela passagem do furacão Adriaanse, merece acordar na quinta-feira e saber que está nos quartos-de-final da Champions — o que quer dizer que figura no lote das oito melhores equipas da Europa. Merecem-no, por exemplo, Bosingwa que se vem impondo como um dos grandes laterais direitos do futebol europeu, ele que até começou a «trinco»; merece-o Bruno Alves, que em tão pouco tempo soube emergir de jogador trapalhão para um central cinco estrelas, tendo sabido tirar partido dos dois anos de convivência e aprendizagem ao lado de Pepe; merece-o o Fucile, que, se não fosse tão sacrificado com as deslocações ao Uruguai, poderia jogar a época inteira ao seu melhor nível; merece-o Paulo Assunção, o homem que juntamente com Pepe segurou aquela retaguarda nos tempos de loucura experimentalista do holandês e que vem fazendo outra época em cheio; merece-o Lucho González, este ano sim, a mostrar toda a sua classe e influência no jogo, depois de ter tido uma época decepcionante no ano passado (embora, curiosamente, este ano não marque golos, tendo deixado inexplicavelmente de arriscar o remate de meia-distância, que tantos golos importantes deu nos dois anos anteriores); merece-o Tarik, que, não sendo, de facto, nenhum Maradona nem próximo, tem sabido encontrar o seu espaço e a sua utilidade, apesar de não aguentar um jogo inteiro; merece-o, claro, Lisandro López, cuja colocação a ponta-de-lança foi a mais conseguida descoberta de Jesualdo Ferreira, e que, além dos golos que marca, tem um verdadeiro «espírito de dragão», incansável na generosidade que põe no jogo e na sede de vitórias que nunca sacia; e merece-o esse géniozinho do Ricardo Quaresma, um jogador que vale uma fortuna, não só pelo que joga, mas também pelo espectáculo que dá. É para ver jogadores como o Quaresma que vale a pena pagar bilhete. Ainda este sábado, no Bessa, quando ele entrou ao intervalo para as funções inéditas de nº 10, em substituição de Lucho, os comentadores televisivos apressaram-se a profetizar que não servia para a função — não tinha espaço no meio-campo e iria perder bolas, ocasionando contra-ataques perigosos do Boavista. De facto, começou por falhar um passe longo e perder uma bola no centro do campo, mas, logo a seguir, arrancou para meia-hora de show de bola, mostrando que os génios cabem em qualquer lugar. Em meia-hora, fez dois passes de ruptura para o ponta-de-lança, arrancou dois remates a rasar o poste e um estoiro na barra e cruzou com conta, peso e medida, para o golo de Stepanov, de que o juiz-de-linha não gostou.

Uma equipa que tem três ou quatro foras-de-série e sete ou oito grandes jogadores no total, tem de ter lugar entre as oito melhores da Europa. O Schalke não tem nada disso. Tem pior equipa e muito menos futebol que o FC Porto. É preciso não dar hipóteses ao azar, à descrença ou às circunstâncias imprevistas.

2- Como já disse, o juiz-de-linha que acompanhava o ataque do FC Porto na segunda parte do jogo do Bessa não gostou do golo de Stepanov, quase ao cair do pano, e resolveu anulá-lo por off-side inexistente e que nem era assim tão complicado de julgar bem. Com isso, tirou a vitória e dois pontos ao FC Porto — coisa de menos importância, para quem já leva doze de avanço. E se por acaso os pontos fizessem falta?

Já aqui tenho escrito sobre a fatal tentação dos nossos árbitros assistentes marcarem off-side a tudo o que mexe. Mas nos últimos três jogos do FC Porto, eles exageraram. No Bessa, custou dois pontos. Contra o Gil Vicente, para a Taça, segundo rezam as crónicas, só o árbitro assistente impediu até final que o FC Porto pudesse descansar sobre a magra vantagem de um golo. E, na jornada anterior, contra o Paços de Ferreira, se é verdade que um dos assistentes terá validado o segundo golo do Porto, em off-side de um ou dois palmos, tanto ele como o colega do lado oposto cortaram nada menos do que quatro jogadas de avançado isolado frente ao guarda-redes, com fundamento em foras-de-jogo perfeitamente imaginados, além de um outro golo anulado também por off-side (e o treinador-adjunto do Paços ainda teve o topete de se queixar do segundo golo!).

Esta tendência é preocupante. Sobretudo quando se joga contra uma defesa em linha, em que, para quem ataca, a melhor forma de evitar o fora-de-jogo sistemático, são os passes de ruptura pelo centro da defesa, com o avançado a desmarcar-se entre a linha, nas costas dos centrais. Contra o Paços, Lucho González deu um verdadeiro recital de passes desses, mas o seu esforço foi inglóriamente destroçado, quase na totalidade, por juízes-de-linha precipitados e sem capacidade de leitura do jogo. Sucede que a defesa em linha — (que pode parecer um sistema pouco defensivo, se a linha jogar adiantada) — é, de facto, um sistema altamente defensivo, porque visa evitar o confronto directo com a linha atacante adversária, limitando-se a roubar-lhe os espaços de que os atacantes e o futebol de ataque precisam. E sucede também que o futebol precisa de quem ataque, precisa de golos e do espectáculo que os golos são. Não precisa de juízes-de-linha que parecem sofrer de tiques de personalidade, estando sempre a dar nas vistas marcando off-sides que não existem e, com isso, roubando golos e espectáculo ao futebol. Já vai sendo de mais e o que é de mais basta.

3- «Felizmente, está quase a acabar para ti e para mim», disse Paulo Bento, referindo-se ao iminente final de carreira de Paulo Paraty. Disse-o bem. Eis mais um árbitro que não vai deixar saudades. Para final de festa, deram-lhe o Sporting-Benfica — o sempre tão propagandeado derby, que alguns ainda pretendem ver como «o» derby. E ele tratou de mostrar que não estava à altura de um jogo onde, entre outras coisas, estavam pelo menos seis milhões de euros em jogo. Infelizmente, falhou sempre para o mesmo lado, mas não prevejo que isso possa levantar suspeitas ao nível daqueles que se esforçam desesperadamente para encontrar provas de corrupção num FC Porto-Estrela da Amadora, já com o Porto campeão e o Estrela condenado à despromoção. Também o apito apita sempre para o mesmo lado…(mas isso é assunto a que espero voltar em breve e em força).

Em trinta minutos, Paraty não viu a cotovelada de Cardozo em Tonel (será que se vai aplicar a «doutrina Quaresma», de três jogos de suspensão?); perdoou o vermelho directo a Katsouranis por uma verdadeira agressão a pontapé e sem bola sobre João Moutinho; não viu o penalty de Katsouranis sobre Purovic — bem disfarçado, mas penalty; e, vá-se lá saber porquê, ali, a cinco metros de distância, conseguiu não enxergar um dos penalties mais evidentes do campeonato, do Léo sobre o Vukcevic.
No resto, «o derby» foi mal jogado, enfadonho e acabou empatado, com incidentes nas bancadas e fora do estádio — tudo como se vem tornando hábito, de há uns anos para cá. No saldo das ausências, Paulo Bento saiu a perder. Não só porque dez Makukulas não valem um Liedson, mas também porque o seu substituto, um jogador com nome de pássaro amazónico, ainda daqui a uns anos se deve estar a interrogar porque carga d'água é que lhe aconteceu estar no derby e logo no relvado e não na bancada. O Benfica conseguiu o empate apenas porque Cardozo tem 1,93 metros e o Sporting, não fossem os erros de Paraty, nem sequer podia reclamar injustiça no resultado. Enfim, não foi uma jornada brilhante para ninguém.

4- Notícia da última página de A BOLA de sábado passado: a PJ esteve no Estádio da Luz a apreender documentos relativos às contrapartidas que a CML deu ao Benfica para a construção do novo estádio. Isto, três dias depois de Luís Filipe Vieira, na sua eterna campanha de provocação a Pinto da Costa, se ter gabado de que problemas desportivos podia ter, mas judiciais não. Querem ver que…?

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