1- O fim do basquetebol profissional no FC Porto foi uma noticia muito triste, a mais triste possível para os seus jogadores e seccionistas e deprimente para os seus adeptos. A última imagem que nos fica é a do jogo da negra do play-off do campeonato, perdido no Dragão Caixa, quando tudo tínhamos para o ganhar, e com as inqualificáveis provocações na hora da vitória, da parte do treinador benfiquista — que agora talvez esteja arrependido. Arrependido e impune. O FC Porto abandona o basquete profissional depois de provocado e desrespeitado pelo treinador e pelo presidente do Benfica e depois de maltratado peto presidente da Federação.Tiveram o castigo que mereciam, perdendo o seu maior rival: daqui para a frente, os títulos já nào lhes saberão ao mesmo, mas eu não sei se isso os preocupará muito agora e se o irão perceber no futuro próximo. Mas percebêlo-ào quando os patrocinadores, e os próprios adeptos, lhes explicarem que qualquer campeonato profissional vale menos se não tiver clubes como o Porto e o Benfica a disputá-lo. E é por isso que a rivalidade é saudável e indispensável, mas o desrespeito é estúpido e prejudicial a todos.
Porém, o castigo é também auto-infligido e a despedida faz-se depois de uma derrota, que é a pior maneira de ir embora. O Dragão Caixa fica agora só para o hóquei e o andebol profissionais, num clube que, além destas, já só tem mais o futebol como modalidade profissional £, sendo que a decisão foi também e certamente determinada por razões económicas, que se vieram somar às outras, nào consigo deixar de pensar que o futebol tudo devora nos clubes que outrora eram ecléticos: o preço da compra do desconhecido Jackson Martinez para a equipa de futebol seguramente que dava para pagar a continuação do basquete, pelo menos mais um ano. Um ano em que, a sair, sairíamos pela porta grande, como campeões nacionais.
2- Pois o tal Jackson Martinez, que custou mais 50% que o seu compatriota Falcão, ainda só o vimos na bancada. Aparentemente, o rapaz chegou cansado e em baixo de forma, pelo que, compreensivelmente; está a ser defendido de uma estreia que corresse mal E que, por quase nove milhões de euros, está muita coisa em jogo. Há jogadores, e de qualidade já conhecida, que terão de ser vendidos barato para amortizar o custo desta contratação. Vítor Pereira, para quem Pinto da Costa chutou a responsabilidade dela, dizendo que era desejo firme do treinador, tem o pescoço no cepo pela qualidade do novo ponta-de-lança. Mas Pinto da Costa e a direcção terão de ver em campo justificado o alto preço que se dispuseram a pagar para ficarem na história como os compradores da mais alta contratação alguma vez feita no futebol mexicano. Já começo a ter pena do rapaz, com tantas responsabilidades sobre os seus ombros e ainda nem sequer saiu da bancada! Uma coisa, pelo menos, joga a seu favor: é que se tomarmos como termo de comparação os que com ele concorrem para o mesmo lugar, Kleber e Janko, não é preciso muito para ganhar a partida. Agora, outra coisa, e bem mais complicada, é provar que o seu passe vale 50% mais do que o de Falcão, e numa altura em que os negócios de loucura já lá vão (e que o diga o FC Porto, que ainda está à espera de receber metade do preço da venda de Falcão ao Atlético de Madrid).
3- Sem Jackson Martinez e ainda sem sete ou oito dos titulares da época passada, o FC Porto lã se estreou em dois jogos, mostrando o resultado dos primeiros quinze dias de estágio. A boa noticia é que, enquanto que o Benfica, como escreveu Fernando Seara, «entrou à campeão», garantindo que, como de costume, ninguém lhe vai roubar o titulo de campeão da pré-época, o FC Porto entrou de mansinho, numa grande indefinição e confusão estratégica e táctica, com cada um a tentar mostrar serviço por si e nem sombra de equipa. E, embora a coisa nos deixe vagamente preocupados, diz nossa experiência que é melhor assim. O Benfica de Jesus entra sempre a todo o vapor, faz dois ou três meses que impressionam e assustam... e depois dá o berro: ficam a reclamar com os árbitros e a lamentar conspirações, incapazes de ir mais além. Já o FC Porto vai crescendo em competição, aguentando-se nos primeiros tempos, à espera de explodir no momento decisivo, em que as épocas se decidem. Os benfiquistas, já se sabe, hâo-de ficar eternamente a queixar-se de que só não foram campeões na época passada porque, no decisivo jogo da Luz, contra o FC Porto, o juiz-de-linha não correu a tempo de poder ver o cabeceamento decisivo de Maicon em fora-de-jogo. Mas é claro que não se lembram nem que o segundo golo do Benfica resultou de um livre inexistente, nem, sobretudo, que a única equipa que, desde o minuto primeiro, mostrou vontade e capacidade de ganhar o jogo foi o FC Porto.
Daquilo que vi destes dois primeiros e inofensivos jogos do FC Porto, concluídos com duas vitórias (a última das quais injustíssima), foi que há por ah muito talento para ser trabalhado, e aproveitado ou desperdiçado, convivendo com apostas reiteradas que não levarão a lado algum. Gente como Kleber, Janko, Defour, nunca passará da cepa torta: são jogadores banais, que, aqui ou acolá, poderão ser úteis, mas jamais sairão da vulgaridade. Castro e Man gala, por exemplo, tardam em mostrar o que valem, se é que valem. Otamendi tarda em dar confiança, de princípio a fim, e Fernando continua a fazer apenas um bom jogo em cada três. Em contrapartida, e como já se sabia, é lá na frente, e nos flancos, que o FC Porto tem concentradas as suas mais valias. Cristian Atsu, com um treinador minimamente competente, vai ser um fora de série, e eu espero, rezo por tudo, que Vítor Pereira não se lembre de o pôr a rodar algures mais um ano: só os treinadores fracos têm medo dos grandes jogadores. James (que Vítor Pereira demorou meio ano a perceber o que valia) está, e muito bem, a ser testado como número 10, hbertando uma vaga na ponta-esquerda, para onde existem demasiados candidatos. Kelvin e Iturbe são dois meninos-maravilha, a quem falta aprenderem a jogar para a equipa e que desesperadamente anseiam por um treinador que lhes ensine isso e os saiba fazer crescer. Infelizmente, todos estes talentos somam-se a Hulk (se ficar), a Varela, a Djalma e ao próprio James, para, tal como sucede no Benfica, formar um pequeno exército de extremos que está em excesso num plantel normal (e felizmente já lá não está Cristian Rodriguez, assim evitando mais tentações e opções absurdas de Vítor Pereira). Parece fatal que algum ou alguns deles venham a ser dispensados, emprestados, ou oferecidos ao Braga, como sucedeu com Beto (com a extraordinária salvaguarda de, em caso de venda, o Braga, que o recebeu de borla, ter direito a 50%!). Será uma pena se isso suceder, mas é o que normalmente acontece quando se compra demais. Resolvida a questão do ponta-de-lança, a este FC Porto continua a faltar um grande médio de ataque, e mais ainda se, como parece inevitável, Moutinho vier a ser, juntamente com Hulk, um dos jogadores a ser vendido daqui até 31 de Agosto. Mesmo que James venha a ser um sucesso como número 10, e mesmo que Moutinho afinal não saia, eles e Lucho são pouco para um sector tão decisivo como o meío-campo. O que torna mais incompreensível ainda que um jogador como Belluschi esteja a ser oferecido a preço de saldo. Enfim, parece-me que falta alguém de rendimento indiscutível no centro da defesa, ao lado de Maicon. Otamendi ainda não me convenceu, Mangala talvez lá chegue, talvez não, e Rolando, que fez uma má época, diz-se que vai para um dos grandes de Itália — coisa em que não acredito. Mas está aí à venda, e barato, o que foi um grande central no Vitória de Guimarães, antes de se ter mudado para o Colónia. Chama-se Geromel e talvez merecesse a atenção de quem decide as compras no FC Porto.
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