terça-feira, maio 28, 2013

JOGOS DE GABÃO (20 NOVEMBRO 2012)

1- Pese a insistência e boa vontade com que o José Manuel Delgado e o Fernando Guerra se têm atirado a Pinto da Costa, a propósito dos comentários deste sobre a excursão nacional ao Gabão, não vejo que outra razão exista (para além da embirração sempre latente ao presidente portisla) para o criticar.

Para começar, assiste a Pinto da Costa uma legitimidade que poucos têm na matéria. Não só porque é presidente do clube que, de longe, mais prestigia o futebol português além-fronteiras, mas também porque é, possivelmente, o dirigente que mais apoio tem dado à Selecção, ao longo dos anos.

Paulo Bento pode não ter gostado de ouvir Pinto da Costa criticar o excesso de tempo que ele deu de utilização aos portistas enviados ao Gabão: isso é aceitável, é aceitável que diga que a gestão lhe cabe a ele (o que também não o coloca para além do legítimo direito de ser criticado); mas já não é aceitável que ele trate o presidente portista de cima da burra, nisso mostrando ingratidão e falta de memória. E fica muito bem à Federação vir dizer que a Selecção é gerida de dentro para fora e não de fora para dentro - esquecendo-se, porém, que ela só existe de fora para dentro, actuando nos estádios cedidos pelos clubes e com os jogadores cedidos e pagos pelos clubes. O seleccionador e os seus dirigentes montaram uma bravata para agradar às forças vivas de Lisboa, sempre de tocaia para qualquer oportunidade de viraram baterias contra quem lhes disputa o mando e enraivece de inveja. Mas não tivesse o Sporting cedido apenas o guarda-redes à Selecção e o Benfica nem isso, e outro galo cantaria e outra narrativa se teria feito. Já não há ingénuos, só há distraídos.

Mas isso são apenas detalhes. O essencial desta triste história é que não há ninguém de boa-fé capaz de defender e justificar a excursão nacional ao Gabão. Eu sei que é uma data FIFA, mas isso apenas devia permitir às Federações agendarem jogos que servem efectivamente de preparação ou que são importantes em termos de prestígio da Selecção. E, embora também o permita, não devia servir para que as Federações aproveitem essas datas para agendarem jogos que apenas têm por finalidade desgastar os jogadores e os clubes, pôr em risco a sua utilização em jogos bem mais importantes internacionalmente e arriscar o prestígio do nome de Portugal, a troco de uns milhares de euros.

E que, ao contrário do que Paulo Bento argumentou de forma deselegante, há uma diferença imensa entre chamar os colombianos do FC Porto para irem a New Jersey jogar contra o Brasil (o equivalente a um Espanha Portugal), ou chamar os portugueses do FC Porto para irem fazer horas a um batatal tropical, contra o Gabão. A aventura africana da Selecção reuniu tudo o que não devia ser permitido: uma longa viagem, um clima terrível, um relvado de arrepiar e um desempenho desprestigianle. Se Paulo Bento quisesse fazer prova da coragem que alguns lhe elogiaram ao empertigar-se contra o presidente do FC Porto, deveria antes ter sido ele o primeiro a empertigar-se contra os desejos comerciais dos seus patrões da Federação, reconheceudo que este jogo era inúti e potencialmenle prejudicial em vários aspectos. Isso sim, teria mostrado coragem e independência de espírito. A Selecção Nacional não pode ser gerida como uma mercearia.

Diz o presidente da FPF que com os 800.000 euros que a Federação cobrou nesta aventura africana vai começar a amealhar para a sonhada Casa das Selecções. Pergunto-me quantas mais excursões destas terão de ser contratadas até que ele reúna os milhões necessários a essa empreitada? E pergunto-me se esse novo-riquismo das Casa das Selecções será mesmo uma necessidade premente ou apenas um luxo sem sentido, num país onde existem tantos centros de estágio e estádios desaproveitados?

E, quando digo que não há inocentes mas apenas distraídos, é por que, obviamente, estou a lembrar-me da golpaça montada na época passada, quando em vésperas do jogo do título, a Liga de Clubes conseguiu parir um sábio enredo com as datas do jogo, que fez com que o FC Porto fosse à Luz 48 horas depois de alguns dos seus jogadores terem jogado pelas respectivas selecções no estrangeiro, e um deles, James Rodriguez, ter jogado menos de 24 horas antes, em Miami. Felizmente paraa «verdade desporliva» que tanto apregoam, a golpada foi desmontada com mestria: o FC Porto fretou um jatinho para trazer de noite James de Miami para Lisboa, fê-lo dormir no hotel durante o dia e, no momento exacto, soltou-o no relvado da Luz para que ele resolvesse o jogo, como resolveu, como génio dos predestinados.

Os benfiquistas falam eternamente do golo de Maicon em off-side nesse jogo, mas nunca falam, do segundo golo do Benfica, de livre inexistente, nem, sobretudo, dos preparativos urdidos antes do jogo, para que o FC Porto chegasse à luz sem condições de se apresentar no seu melhor. Já cá ando há muitos anos a assistir a coincidências destas para me deixar iludir com jogos de gabão: o FC Porto afastado já da Taça de Portugal dava muito jeito.

2- Havia, de facto, razões para temer o pior, na deslocação à Madeira. Que o nevoeiro, por ali frequente, ou mesmo o temporal que assolava o continente se estendesse para lá e tornasse o jogo uma lotaria. Que jogadores desgastados pelas viagens e jogos, de fusos trocados e sono alterado não conseguissem estar à altura da situação. E que o ambiente sempre difícil, com a eterna cantoria do bailinho da Madeira em fundo, enervando os ouvidos e os espíritos, se aliasse a uma equipe em subida de forma e sedenta de triunfos para tornar ludo ainda maiscomplicado.

Mas, não. Corajosamente, Vítor Pereira montou um onze onde apenas dois jogadores, Otamendi e Lucho, integravam a lista dos habituais titulares. E, mesmo assim, venceu categoricamente. E valeu a pena ver as alternativas: Fabiano fez uma exibição impecável e de grande categoria, revelando que o FC Porto tem um guarda-redes suplente à altura do titular; Miguel Lopes defendeu bem, embora atacasse mal; Abdoulaye melhora e estabiliza a cada jogo que passa, alimentando nele todas as esperanças; Iturbe entrou finalmente de início e, embora não tenha aproveitado com pletamente a oportunidade, mos trou que é um jogador capaz de explodir de um momento para o outro; e Atsu, mais uma vez, mostrou o quanto é superior a Varela (mas isso já não é novidade alguma, assim como não será novida de que amanhã, contra o Dínamo Zagreb, Vítor Pereira o mande regressar ao banco, sem mais nem porquê). Apenas Kleber, apesar do golo, e Castro, voltaram a desaproveitar por completo esta nova chamada. Boa notícia ainda foi o regresso de Lucho às boas exibições, culminando com um fabuloso golo, depois de um arrastado período de sombra.

Mesmo abundantemente retocada, a equipa confirmou o bom momento que atravessa, a confiança e determinação que exibe em todos os jogos e uma surpreendente imaginação e criatividade na frente de ataque, que teve de inventar quando se viu órfã de Hulk. Está no bom caminho, que espero ver, da bancada do Dragão, confirmado amanhã.

3- Não sou adepto da Fórmula 1, cujas transmissões televisivas me adormecem invariavelmente, pela mo- notonia de uma corrida em que não há ultrapassagens. E pior ainda achei quando fiz a experiência ao vivo. Gosto muito de automobilismo, mas da Fórmula 1, não. Mas torço para que, depois de várias alternativas que não foram avante, a carreira, segura e sempre em evolução, de António Félix da Costa, traga um português de volta à Fórmula 1, já em 2014. Lembro-me de o ver, miúdo, a correr nos karts, em Évora, e já então se comentava o potencial que ele tinha. Tinha também os cromossomas de uma família de pilotos de corrida e teve sempre o que ele chamou, com gratidão, um «paitrocínio», que o tem empurrado ladeira acima. Está quase lá e vai lá chegar, com certeza, para grande orgulho nosso.

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