1- Despromovido à 3ª Divisão (ou 2ª, conforme a designação ridiculamente correcta), o presidente do Portimonense avisou já que a coisa não acaba assim: ele vai «continuar a lutar na secretaria» pela manutenção dos algarvios. E o argumento para tal é mais do que válido: se, de facto, o Portimonense, tal como o Sporting da Covilhã, outro despromovido, cumpriram com as suas obrigações salariais, fiscais e de Segurança Social e outros que conseguiram a manutenção o não fizeram, então estamos perante um caso de concorrência desleal que justifica um outro desfecho, em cumprimento da lei e da ética.
Devia ser isso que agora manteria ocupado e preocupado o presidente da Liga, e não a tentativa, que tanto o entusiasma, de esconder a batota com nova batota. Em lugar de diminuir o número de participantes das Ligas profissionais de forma a garantir que todos os que entram em competição cumprem as exigências da lei, ele prefere ir alargando o número de participantes para que ninguém fique de fora e todos lhe fiquem credores de um gesto de generosidade.
Honra lhe seja, mesmo sozinho, o FC Porto resolveu impugnar o alargamento, não pactuando com os Figueiredos, Fiúsas e Bartolomeus que agora vestem a falsa pele de Robin lloods.
2- Em toda a Europa, entretanto, os campeonatos chegam ao fim, com os vencedores a serem cumprimentados pelos vencidos e homenageados pela imprensa. Destaque especialíssimo para o Real Madrid luso-espanhol, com o seu recorde de 100 pontos conquistados e para o incrível triunfo depois da hora do Manchester City. Apenas falta saber se o Montpellier consegue bater os milionários do PSG e ganhar o seu primeiro título de sempre em França. Mas, enquanto por aí fora, os campeões são celebrados e entrevistados, entre nós quem colhe mais atenções são os vencidos, a quem se estende o microfone para denegrirem o vencedor. Já estamos habituados.
Esta semana foi a vez do guarda-redes do Benfica, Artur Morais, vir também com a ladainha das arbitragens, chegando a afirmar que se Maicon não estivesse em off-side, ele teria conseguido evitar o terceiro golo do FC Porto na Luz. Eu compreendo que a consciência lhe pese: de facto, foi a sua saída falhada que permitiu a Maicon o cabeceamento vitorioso. Estava em off-side? Estava, é incontestável. Mas um off-side só detectado pela televisão e com recurso a um plano aberto, em que se consegue ver simultaneamente a partida da bola e a movimentação dos jogadores na área -- coisa de que o fiscal de linha não dispunha e o guarda- redes do Benfica também não.
Esse jogo da Luz, o jogo decisivo do campeonato, que marcou a inversão de posições entre Benfica e Porto, serviu para que os benfiquistas, à conta desse terceiro golo dos portistas, crucificassem o árbitro benfiquista Pedro Proença - o qual já havia sido alvo de uma agressão de um adepto benfiquista no Colombo, logo após a 1ª jornada, numa espécie de intimidação preventiva. Esqueceram-se os benfiquistas, todavia, que, antes desse terceiro golo irregular do FC Porto, tinham eles chegado ao 2-1 através da cobrança de um livre que, pura e simplesmente, não existiu -e, esse sim, foi erro de avaliação de Proença, directamente. E, sobretudo, esquecem- se de que o FC Porto mereceu inteiramente a vitória, tendo estado incomparavelmente melhor do que o Benfica em todo o jogo, e melhor em tudo. Na hora da verdade, o Benfica falhou e o Porto não e isso é que decidiu o campeonato.
Também noutro jogo arbitrado por Pedro Proença, o recente FC Porto-Sporting, os sportinguistas se queixaram da arbitragem e, passados oito dias, Sá Pinto veio afirmar que, enquanto esteve em igualdade numérica, o Sporting foi superior ao Porto. É a opinião dele, legítima. Eu, por mim, achei que houve muito pouco Sporting e muito pouca ambição leonina para quem jogava ali uma possível presença na Champions e precisava de ganhar o jogo. E se o rigor disciplinar de Proença deixou o Sporting reduzido a nove e o FC Porto a dez, ele foi inteiramente igual e patente para ambos os lados. Foi um rigor à vista e previsível e não uma coisa súbita que se tenha abatido unicamente sobre os jogadores do Sporting.
Pedro Proença será, entretanto, o árbitro da final da Champions, 32 anos depois de outro árbitro português ter conseguido tal honra. É isso que ficará para a história: Proença, 1-Benfica, 0.
O resto são as vozes de despeito e de inveja do costume, as vozes de quem, nos últimos três anos, para ser campeão, precisou de montar uma emboscada, entre o túnel da Luz e a Comissão Disciplinar da Liga, para suspender durante quatro meses o Hulk, que eles sabiam muito bem ter o potencial para, por si só, decidir um campeonato. Sempre que a Hulk foi permitido jogar uma época inteira, o Benfica não foi campeão: Hulk, 3-Benfica, 0.
Assim, quando vi, por exemplo, o genérico de apresentação do programa Tempo Extra, da SIC-Notícias do passado domingo, e constatei que ele era composto exclusivamente por imagens das jogadas em que o Benfica reclama ter sido prejudicado neste campeonato, já só me deu vontade de sorrir. Não há nada a que a gente não se habitue.
3- Tem-me custado, sim, habituar-me à ausência de Falcão e ao repetido fiasco das tentativas de o substituir por alguém minimamente capaz. Quarta-feira passada, na final da Liga Europa, em Bucareste, Falcão, e também Diego, como que prolongaram o prazer que perdemos ao deixa-los sair. Que extraordinária equipa que o FC Porto teria se não fosse obrigado, todos os anos, a desfazer-se dos seus melhores! E o que será de nós no ano que vem sem Hulk e um treinador capaz de potenciar novos talentos?
4- Atrasado, retomo o meu ponto de vista sobre a moda dos penalties por bola na mão, que Cruz dos Santos aqui contestou. Apoiado na Lei 12 do jogo e nas normas interpretativas da FIFA, eu defendi o princípio de que, para haver penalty, tem de haver um movimento do braço em direcção à bola, não bastando que seja a bola a bater no braço. Cruz dos Santos contra-argumentou com uma outra norma interpretativa à norma interpretativa — uma fonte de direito em terceira geração, que não me parece muito sustentável. Mas também argumentou com um exemplo concreto, que, esse sim, não sei como rebater: e se, na execução de um livre à entrada da área, um defesa estiver com os braços levantados previamente e a bola for bater num deles, será legal? De facto, o exemplo é forte, mas, mesmo assim, custa-me aceitar que ele possa, por si só, anular o princípio geral com o qual eu aprendi a jogar e a ver futebol e que continua a parecer-me o mais certo e mais verdadeiro: só pode haver penalty por mão na bola e não por bola na mão. O jogador tem de usar deliberadamente a mão ou o braço para se opor à jogada do adversário. Não basta que o remate deste lhe vá acertar, por acaso ou deliberadamente, num braço ou numa mão estáticos. De outra forma, só os manetas estão ao abrigo deste lotaria dos penalties.
O critério acaba por ser um pouco subjectivo e dependente da avaliação casuística do árbitro? Sem dúvida. Mas por isso é que os árbitros ainda não foram substituídos por computadores, como alguns desejariam. Melhor isso do que o critério, pretensamente objectivo, tão em voga entre os comentadores televisivos, que consiste em dizer: «Houve contacto? É penalty». Já vi vários jogos serem desvirtuados por esta ânsia do penalty por mão na bola, que, não raras vezes, serve para disfarçar as incapacidades ofensivas das equipas: arranja-se um penalty destes e o jogo fica resolvido. Mas o penalty é também definido como o castigo máximo: não pode transformar-se, por esta via, num acaso ou numa sorte, sem correspondência alguma com o perigo da jogada, o mérito do atacante ou a culpa do suposto infractor. Penso eu de que...
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