1- Acabou a estação estúpida do futebol, os jogos a feijões, os jogadores-revelação da pré-época que raramente se confirmam depois, as notícias, esforçadas e vazias, dos estágios em França e Alemanha, na Holanda ou na Suíça, que, nunca percebi por que razão, são um must dos nossos clubes supostamente ricos. É certo, infelizmente, que, sendo eles afinal pobres em termos europeus, a estação de compra e vendas prolonga-se mais 11 dias, durante os quais os treinadores dos grandes vivem na angústia que venham os tubarões europeus roubar-lhes alguma jóia da coroa, enquanto os presidentes vivem a angústia exactamente oposta: que ninguém apareça a comprar-lhes a preços milionários algum jogador, de forma a permitir-lhes saldar provisoriamente os déficites crónicos que as suas estranhas gestões mantêm sempre em aberto. Mas esta época, como já deu para bem perceber, as angústias dos presidentes ameaçam ser maiores que nunca. Como aqui escrevi na minha última crónica antes de entrar também de férias, Benfica e Porto vivem um drama silencioso de, contra todas as notícias auspiciosas, não terem ainda conseguido vender nada. Os tempos mudaram, mas eles vão ser os últimos a perceber.
2- O campeonato começou justamente com um Benfica-Porto, disputado fora do relvado e a nível de presidentes. Um clássico do insulto e da ofensa mútua, sem o qual supõem que não há rivalidade nem adeptos mobilizados. Desta vez, a iniciativa partiu de Pinto da Costa, indo meter-se onde não era chamado, a propósito do encosto de Luisão ao árbitro Fischer, no jogo particular contra o Fortuna Dusseldorf. É verdade que a forma como o Benfica e a sua imprensa têm tentado limpar o acontecimento, quase fazendo crer que o árbitro agrediu Luisão, é de um ridículo e de um despudor absolutos. Mas não é assunto que preocupe os portistas e que deva mobilizar o seu Presidente. Seguiu-se Luís Filipe Vieira, com as ofensas do costume e a mentira, eternamente repetida, de que o Porto e Pinto da Costa teriam sido condenados na «justiça desportiva» como se não soubesse que a única «justiça desportiva» que o condenou foi esse tristemente célebre Conselho de Disciplina que era apenas uma extensão de um órgão social do Benfica, e cuja condenação foi anulada pelo Conselho de Justiça da Federação e descartada e ridicularizada em todas as instâncias da justiça civil onde o Ministério Público, atacado de benfiquite aguda, quis prolongar essa fantochada conhecida como Apito Dourado. E às ofensas de Vieira, respondeu Pinto da Costa, desenterrando, uma vez mais, o passado do presidente benfiquista. Enfim, um diálogo edificante, cheio de imaginação e matéria nova, a calhar para lançar o tom do campeonato que se deseja e propício a estimular aquele ambiente saudável que se vive entre os adeptos dos clubes.
3- Nos relvados, o campeonato começou muito fraquinho para os quatro grandes (onde passei a incluir o Braga). Nada que não fosse de esperar, atendendo às prestações de pré-época de cada um deles. Em Guimarães, contra um Vitória em contenção radical de despesas e de reforços, o Sporting não aproveitou a oportunidade de jogar em último lugar e isolar-se de todos os seus rivais directos, logo na primeira jornada. Safou-se com um empatezinho, à medida do que jogou e do que, para já, vale. Na Luz, perante um Braga com a sua imutável estratégia de apostar no erro alheio, o Benfica demonstrou uma confusão total de ideias, além de um plantel desequilibrado. O empate acabou também por ser o resultado mais justo e lógico, muito embora isso tenha vindo confirmar a «vergonha» de o Benfica não ganhar nunca na primeira jornada, por culpa de um campeonato que «não é limpo e está armadilhado desde o início», como aqui escreveu profeticamente o dirigente comentador benfiquista Sílvio Cervan. Na verdade, o Benfica safou-se da derrota graças a um daqueles clássicos penalties de bola na mão - um critério que, a ser aplicado com o mesmo rigor, teria ditado a anulação do primeiro golo do Benfica, acontecido após assistência involuntária com a mão de Cardozo para o Salvio. Valeu ao Benfica que, apesar de terem confundido a mão de um preto com a mão de um branco, os árbitros não vacilaram na intenção criminosa daquela mãozinha caída do céu. Não foi possível, como escreveu Sílvio Cervan, «refazer o destino que nos traçam», mas, enfim, podia ter sido pior...
4- Em Barcelos, a história foi outra e não quero saber dos penalties, que até existiram e até poderiam ter mudado o destino traçado ao FC Porto, mas a verdade é que ele estava traçado desde o início. Estranhamente, uma equipa com um ataque de luxo, não consegue marcar golos nem sequer exibir uma filosofia atacante que estabeleça uma diferença clara contra equipas mais fracas. Estranhamente, um plantel (por enquanto) recheado de estrelas como há muito não se via, não consegue, ao fim de mês e meio de preparação, mostrar futebol que valha a pena ver. Tenho pena dos emigrantes nortistas que encheram o Dragão para ver a apresentação contra o Lyon e não viram nada; que acorreram em massa a Aveiro e tiveram de esperar até ao minuto 90 para verem um golo e uma Supertaça ganha contra a modestíssima Académica; que voltaram a comparecer em força Barcelos, já com Hulk e tudo, e tiveram de esperar até vinte minutos do fim para verem o seu clube finalmente a incomodar-se com o nulo, mas tarde de mais. É uma vergonha que, jogando contra uma equipa que, de tantas baixas, só tinha 17 jogadores convocados, em que todo o plantel deve ganhar o mesmo que o Hulk sozinho, o FC Porto, campeão nacional , não seja capaz de vencer o jogo. A relva era alta, o campo é curto, não marcaram dois penalties, tudo o que se quiser, mas a vergonha mantém-se. É uma vergonha que, depois de uma primeira parte jogada a passo, a equipa tenha regressado das cabinas e de supostamente quinze minutos de palestra, de puxar de orelhas e de motivação do treinador, na mesma atitude de leão indolente, à espera que lhe tragam a comidinha à boca. Houve momentos do jogo e jogadores da equipa que roçaram a diletância e o desinteresse total. Houve uma atitude que não se pode aceitar, que passou do banco para o campo e vice versa.
Para esta época, eu gostaria de ter visto o FC Porto reforçado com mais um médio de ataque, até porque acharam que o Belluschii já não presta e o Deffour, Deus me valha, é tão banal como a chuva de Novembro; gostaria de ter visto um novo central, porque não só o Rolando mostrou estar em fim de ciclo, como também o Otamendi acumula asneiras, precipitações e falta de classe. Mas, infelizmente, o que eu mais gostaria de ter visto não vi: um novo treinador. Em Barcelos, os dois pontos entregues são obra de Vítor Pereira. Quem, com aquele plantel de luxo, não é capaz de vencer o Gil Vicente, não é capaz de mostrar um fio de jogo, uma jogada estudada, não é capaz de motivar a equipa, deixando-a a pasmaçar sem reagir, não vai ser capaz de tudo o mais. Aqui fica, e já desde início, a minha opinião.
5- É sempre bonito ver um pai reconciliar-se com um filho. Só não percebo é o que tem o FC Porto a ver com isso. O regresso de Alexandre Pinto da Costa à qualidade de «empresário» e a negociar com o FC Porto (aparentemente o seu único cliente da vida empresarial) é uma notícia estranha. Por muito menos que isso lixou-se a mulher de César. Pior ainda é lembrar-me que o seu mais célebre negócio de antanho com o FC Porto foi vender-lhe um astro chamado exactamente Paulinho César - o cujo se revelaria o mais inacreditavelmente mau jogador que alguma vez vestiu aquela camisola.
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