1- E pronto, estamos fora da Taça de Portugal. E tenho pena porque, antes destes dois últimos anos de afastamentos precoces sob o comando de Vítor Pereira, a imagem que retinha da participação do FC Porto na Taça foi a da época 2010 /11, em que, sob o comando de André Villas-Boas, fomos eliminar o Benfica na Luz, vencendo por 3-1 depois da derrota por 2-0 no Dragão, e terminámos em grande luxo, com um festival de futebol e uma vitória por 6-2 contra o Guimarães, no Jamor. Mas a Taça tem muito de crueldade aleatória, na medida em que o sorteio acaba por ser a parte mais importante de cada eliminatória. Depois de termos ido à Madeira eliminar o Nacional, três dias antes de um jogo da Champions, seria justo que tivéssemos tido direito a coisa mais fácil do que ter de voltar a Braga cinco dias depois de lá termos ido ganhar para o campeonato e quatro dias antes do jogo de Paris, que irá decidir quem vencerá o grupo 1 da Champions. Um Tourizense ou alguém ainda a definir entre os mais acessíveis, como sucedeu ao Benfica, teria sido bem mais justo. Assim como teria sido bem mais justo que o jogo, o segundo consecutivo contra o Braga, desta vez tivesse calhado no Dragão. Ou que, ao menos e como sucede nos países onde o futebol profissional é levado mais a sério - Espanha, Itália ou Inglaterra - as eliminatórias da Taça fossem disputadas a duas mãos. Mas aqui, já se sabe que os jogadores se cansam muito com dois jogos por semana, os clubes são ricos e não precisam de mais receitas e a Selecção ocupa os tempos livres dos clubes em excursões exóticas, e, portanto, não sobra calendário para disputar as eliminatórias da Taça a duas mãos. E assim, um Benfica, por exemplo, pode alcançar o Jamor sem ter chegado a disputar um jogo a sério. E é pena porque uma competição que depende tanto do factor sorte, sem cabeças de série nem eliminatórias a duas mãos, não consagra necessariamente o melhor, mas muitas vezes o mais afortunado.
Porém, de forma alguma critico a opção de Vítor Pereira de fazer alinhar em Braga, num jogo a eliminar, apenas três titulares habituais: a decorrência do jogo mostrou que o FC Porto podia e esteve à beira de levar de vencida o Braga, mesmo com uma quase equipa-B. É claro que a opção de Vítor Pereira resultará duplamente falhada se, logo à noite em Paris, o FC Porto perder contra o PSG: terá poupado para nada. Mas, chamado a decidir, ele tomou uma opção e correu um risco - e é pago para isso. Além do mais, para além da conveniência em poupar jogadores mais cansados, a opção que tomou permite integrar, rodar e manter vivos outros jogadores com quem também tem de contar, porque uma equipa como a do FC Porto, que aspira a vencer tudo, não pode fazer-se à luta apenas com um leque de 14 ou 15 jogadores, mas sim de 20, 21. Critico-lhe , talvez, a escolha de alguns que deixou de fora e outros que meteu dentro: James Rodriguez, por exemplo, tinha bem mais motivos para estar cansado que Moutinho ou Lucho e seguramente mais do que Alex Sandro, que tinha acabado de regressar de uma longa paragem. Em contrapartida, a inclusão de Kleber teve o efeito previsível de fazer com que o FC Porto jogasse, na prática, sempre com dez jogadores - e nove, depois da expulsão de Castro. Teria sido bem melhor poupar James e incluir Jackson Martinez, dando o flanco direito a um dos jovens impacientes Iturbe ou Kelvin. Ou então, caso Martinez também precisasse de um descanso, na opinião do seu treinador, jogar em 4x4x2, sem ponta-de-lança - o que teria o mérito táctico de deixar sem função e sem jogo útil a dupla de centrais do Braga, que é um dos seus pontos fortes. E, na esteira de todos antes de mim, também subscrevo a critica ao tempo que Vítor Pereira demorou a reagir à expulsão de Castro e ao triplo falhanço das suas substituições - que é, aliás, um dos seus calcanhares de Aquiles.
Mas, como disse, a equipa que ele pôs em campo demonstrou ser suficiente para, em circunstâncias normais, ter levado de vencida um Braga que, com apenas uma ocasião de golo, conseguiu marcar dois. O «amigo portista» Benquerença (como os benfiquistas lhe chamam, depois do célebre talvez-golo da Luz), também deu a sua contribuição para o desfecho final, mostrando que tem pouco de amigo azul, mas muito de mau árbitro, que espalha o mal sem olhar a quem. Infelizmente, não viu um subtil e estúpido penalty do Fernando, que foi a única coisa em que foi amigo do Porto - e mais valia que não tivesse sido. Para que, em contrapartida, não tivesse assinado um festival de decisões técnicas e disciplinares muita vezes erradas e sempre contra o Porto, culminando com a amostragem de oito cartões amarelos e um vermelho, 26 faltas assinaladas contra o Porto e apenas 8 contra o Braga (!) e um cartão vermelho inventado a Castro, por coisa alguma, mas com o condão de virar o jogo do avesso.
Mesmo mal expulso, fica mais uma opurtunidade perdida por Castro, um jogador que tinha tudo para se afirmar nos corações azuis e brancos - é português, é da nossa escola e é portista - mas que, infelizmente, não agarra ocasião alguma e parece ser apenas um jogador de destruir, sem nada construir. Fica mais uma demonstração da falta de qualidade gritante de Kleber e a certeza de que esta equipa não tem ponta-de-lança suplente. E fica-me, com um auto-golo quase ridículo a acrescentar ao resto que já vi, a confirmação de que até prova em contrário, Danilo - uma das mais caras contratações da história do F.C. Porto - não vale nem meio Fucile, que foi cedido de borla. E ficam-me as saudades de uma Taça de Portugal, contra sorteios e sortes, disputada com o mesmo espírito do campeonato.
2- Volto a um tema que me é caro, a propósito do anterior Braga-Porto, para o campeonato, e do lance em que, no primeiro remate do Braga, aos 21 minutos, o tiro de Alan, disparado à queima-roupa, encontra no caminho o cotovelo de Alex Sandro - um lance que a unanimidade da crítica julgou como penalty, que ficou por marcar. Não me interessa nada a generalidade da critica, mas apenas uma opinião: a de Cruz dos Santos, aqui neste jornal, e porque, mesmo quando discordo dele, lhe reconheço um estatuto único entre pares, que é o de suplantar todos no conhecimento técnico e na isenção de julgamento. Já aqui, aliás, terei armas com ele, em defesa da minha tese de que esta moda lusitana de pedir, reclamar e assinalar uma profusão de penalties sempre que uma bola encontra um braço, contraria a letra e o espirito da lei, desvirtua a justiça de muitos jogos e está-se a tornar uma forma deliberada de batota: não vejo, nos jogos disputados lá fora, essa coisa ridícula de os defesas se fazerem à bola com os braços atrás das costas, como se fossem auto-decepados. A propósito desse lance, escreveu Cruz dos Santos: «Ficou por assinalar penalty contra os portistas (porque) não houve braço dirigido para a bola, (mas) houve bola no braço colocado onde a bola poderia passar». Não posso estar mais em desacordo: no momento do remate, Alex Sandro está de costas para ele e o braço que atinge a bola (e que Cruz dos Santos reconhece que não se moveu) nem sequer é o mais próximo, mas o mais distante - o que invalida a malévola intenção que lhe atribui. Estava colocado em posição absolutamente normal, relativamente ao corpo e ao movimento do corpo - e só mesmo se fosse maneta é que não estava ali. E eu não vejo, nem na letra nem no espirito da lei, que um defesa tenha obrigação de tentar interceptar um lance fazendo desaparecer os braços ou tendo de, numa fracção de segundo, avaliar uma das possíveis trajectórias da bola e torcer-se todo, numa posição anti-natural, para retirar os braços dessa linha imaginária. Acresce que não tenho uma dúvida que jogadas como aquela nada têm de inocente, da parte do atacante. De onde estava, Alan só tinha duas possibilidades de sucesso: ou cruzar para trás ou rematar em arco, em geito, para o canto posto. Mas ele optou por rematar em força e em frente, direito ao corpo do adversário e à altura dos seus braços. Imediatamente, reclamou exaltado pelo penalty e, eu posso estar mil vezes enganado, mas era capaz de jurar que o seu objectivo foi só aquele: sacar à má-fila um desses penalties que aqui se marcam ou reclamam com tanta facilidade e imponderação. E daqui ninguém me tira: isto é anti-jogo e não vem na lei como penalty.
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