quarta-feira, maio 22, 2013

COMO DE COSTUME…(9 OUTUBRO 2012)

1- Neste pobre país onde vivemos e pelo qual sofremos, há coisas que nunca mudam e que, de tão repetidas e previsíveis, são sinal certo da nossa mediocridade. Uma delas é o Sporting e o futebol: sempre que perde contra os seus rivais, é certo e garantido que os dirigentes do Sporting irão culpar a arbitragem, e sempre que, inversamente, são decisivamente beneficiados pela arbitragem (como tinha sucedido nos últimos dois encontros do campeonato), é igualmente certo e garantido que eles se vão calar, muito bem caladinhos.

Custa~me bater no ceguinho - e o Sporting do Dragão foi um ceguinho sem cão nem bengala, um triste arremedo de uma equipa de futebol, o fantasma de um candidato ao título. Mas também não convém que nos fiquemos, pois que eles nunca se ficam com as suas fábulas e a suas verdades deturpadas, que depois transformam em registos históricos, quando já ninguém se lembra de que estão a falar. Dentro de uns tempos, estarão a proclamar, como verdade histórica, que um dia foram ao Dragão, onde perderam 2-0, unicamente por força de uma arbitragem que lhes expulsou um jogador, mostrou amarelos a outros oito e inventou dois penalties contra eles. E com isso se consolam e desculpam para já e acrescentam para futuro a sua interminável crónica dos padecimentos sofridos às mãos dos maus.

Pois bem: os oito jogadores admoestados com os amarelos, todos eles os mereceram, quando a equipe, deserta de argumentos e de força, entrou por um festival de indisciplina e rudeza. O jogador expulso cometeu a insensatez de ter duas entradas violentas no curto espaço de dois minutos e a sua falta, pelo tempo que durou, foi compensada com o tempo em que o Porto jogou também com dez, devido às lesões de Maicon e Alex Sandro. O primeiro dos penalties, que a crítica especializada considera justo, é daqueles que eu detesto, tanto que dei por mim a torcer para que o Lucho o falhasse, como falhou: por aí não teve o Sporting quaisquer danos. O segundo, que a crítica considera não ter existido, pareceu-me mais real do que o primeiro. Foi convertido, mas, ao contrário do que vi escrito, ele não «matou o jogo» — não só porque faltavam oito minutos para o fim, mas sobretudo porque não havia nenhum jogo vivo pelas bandas do Sporting, Com ou sem o segundo penalty, o Sporting teria perdido. Aliás, acho que quem tem razão para se queixar da arbitragem é o FC Porto. À quarta falta cometida (num total de dez), já tinha três cartões amarelos, e, dos quatro recebidos, um foi absurdo (uma inócua mão de Lucho a meio campo), outros dois foram por faltas que não existiram, e o último, a Alex Sandro, foi por uma falta cometida por Elias (de que resultou a saída, por lesão, do defesa portista), e que o árbitro transformou em livre contra o Porto, do qual saiu o único remate perigoso do Sporting à baliza em todo o jogo.

Segundo o dirigente sportinguista, Luís Duque, foi a arbitragem que «parou o Sporting neste jogo», já que, a equipa «tudo fez para conseguir um resultado diferente e não fez mais porque não a deixaram». Mesmo dando o desconto da necessidade de se justificar em defesa própria, as declarações de Duque são quase revoltantes. O Sporting só entrou na área do Porto aos 15 minutos e beneficiando de superioridade numérica momentânea, com a ausência de Maicon. Teve esse único remate perigoso, que lhe ofereceu o árbitro aos 80 minutos, e não criou uma só oportunidade de golo em todo o restante tempo. Em contrapartida, viu duas bolas nas suas traves, vários remates a passar tangentes e várias oportunidades do adversário de que se salvou sem saber bem como. E, acima de tudo, foi uma equipa inexistente, em termos dc disputa do resultado.

De facto, e de cima a baixo, o Sporting não aprende e não arrepia caminho. Em nada. É um Calimero que, à força de se repetir sem sentido, está há muito desligado da realidade e das suas próprias responsabilidades e que, visto de fora, se torna patético. É patético ouvir o Oceano (e logo na estreia!) declarar que «fizemos os possíveis para ganhar... conseguimos controlar o jogo... e criámos oportunidades». E uma repetição do discurso de Sá Pinto, que, depois de cada desaire e de cada frustrante exibição, jurava que o Sporting estava cada vez melhor. Será que eles acreditam que ninguém mais vê os jogos? Mais absurdo do que isto só talvez ouvir o guarda-redes do Benfica, Artur, declarar que jogaram de «igual para igual» com o Barcelona, depois de uma segunda parte em que tiveram 21% de posse de bola em casa e não criaram uma só oportunidade. Mas com o ridículo dos outros pode o Sporting bem. O que não pode é continuar, ano após ano, desaire após desaire, a queixar-se sempre da sorte e dos árbitros, do sistema solar e da lei da gravidade, e jamais olhar para dentro de si mesmo com olhos de ver. Repito: faz falta o Sporting de volta para um campeonato a quatro. Mas, assim, não vai lá.

2- Contra o Sporting, o FC Porto ganhou com competência — como gostam de dizer os treinadores. Em vantagem desde os 10 minutos, com o fenomenal golo de Jackson Martinez, jamais viu a sua superioridade ser minimamente contestada. Mas, como de costume, faltou-lhe a arte ou ousadia para matar o jogo. E era tão fácil! Mas, finalmente, há que reconhecer que a equipa começa a mostrar uma ideia de jogo e, não fazendo esquecer Hulk porque, de facto, há insubstituíveis procura claramente um plano alternativo à sua ausência.

A melhor prestação da época registou-a quarta-feira, contra o PSG. Não era um jogo fácil, daqueles de enfrentar de peito aberto sem medo de represálias. Era preciso atacar, longa e consistentemente, mas sem desguarnecer a retaguarda — e o FC Porto conseguiu-o. O mesmo onze que venceu justissimamente os novos novos-ricos da Europa foi repetido contra o Sporting e, curiosamente, também o registo individual das prestações de cada um se repetiu de jogo para jogo. Brilhante João Moutinho (e dou gostosamente, a mão à palmatória, depois da sua prestação contra o PSG); excelentes, Helton e os centrais, Maicon e Otamendi, mais Fernando, Alex, James, Atsu e Jackson Martinez (um jogador que cada vez aprecio mais). Fracos, Danilo (que, apesar das suas queixas no Twitter, demora a mostrar argumentos para o que custou), Lucho, que vive uma fase de total depressão, que passou do campo pessoal para o campo de jogo; e Varela, que, depois de uns bons vinte minutos iniciais contra o PSG (em comparação com o habitual), conseguindo cruzar duas vezes, embora sem consequências, logo desapareceu desse jogo e de todo o jogo com o Sporting, onde estragou todos e cada um dos lances em que a bola lhe passou pelos pés. Como disse Luís Preitas Lobo, com certeira ironia, «Varela e Atsu: descubram as diferenças!» Pois, de facto, todas a gente já as descobriu, menos Vítor Pereira. Ele que no ano passado, por esta altura, tinha Varela como primeira opção para o flanco esquerdo do ataque, seguido de Cristian Rodriguez e só depois James Rodriguez, segue esta época um processo idêntico, incapaz de perceber as diferenças entre o génio, que precisa de ser trabalhado, de Cristian Atsu e a falta de génio que aparentemente Varela perdeu para sempre. Em ambos os jogos, contra PSG e Sporting, Vítor Pereira demorou 70 minutos a trocar a imobilidade de Varela pela loucura criativa de Atsu. Mas, tal como reparou Freitas Lobo, e todos nós, Atsu fez em cinco minutos mais do Varela em setenta. E, no final da época, quando os tubarões voltarem a vir à caça no Dragão, o primeiro a sair será James Rodriguez depois da habitual rábula do «não vendemos ninguém, queremos é que fique aqui muitos anos». E, a seguir a ele, posso jurar ao Vítor Pereira que quem os tubarões vão querer não é o Varela, é o Atsu. E por estas e por outras que eu me chego a perguntar se alguns treinadores verão os jogos das suas equipas — durante ou depois.

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