segunda-feira, maio 13, 2013

BENFICA E PORTO À BEIRA DO SUSTO (24 JULHO 2012)

1- É verdade que ainda faltam seis semanas redondas para encerrar a época de transferências nos mercados internacionais. Mas, por esta altura do mês de Julho, já seria de prever que Benfica e FC Porto tivessem assegurado pelo menos uma grande transferencia - isto é, uma venda cuja importância lhes permitisse soltar um primeiro grande suspiro de alívio. E a verdade é que, não só isso ainda não sucedeu, como os mercados já deram suficientes sinais de contenção no número de compras e nos valores que estarão dispostos a pagar esta época, mostrando até que ponto a crise europeia passa por aqui também. Todos sabem que, com o Real Madrid aparentemente apenas interessado em roubar Modric ao Tottenham, os grandes negócios que restam só po- dem vir dos clubes patrocinados por sheiks árabes ou magnatas russos - que são quatro e não mais. E, destes, o PSG, o novo novo-rico da Europa, já estoirou uns 64 milhões em Ibrahimovic e Tiago Silva, o que pode fazer prever que talvez se fique por aí, diminuindo ainda mais o leque de ricos do norte à pesca em águas do sul. O mercado para onde o Benfica espera poder exportar Gaitan ou Witsel e o FC Porto espera poder exportar Hulk e Moutinho está assim cada vez mais apertado. Ora, que não haja ilusões e que ninguém se deixe enredar no discurso habitual do «não estamos vendedores» e «se não vendermos, não haverá problema». Haverá, sim, e grande: nem Benfica nem FC Porto estão em situação financeira de aguentar a época que aí vem se não encaixarem agora uns 30 ou 40 milhões.

(E a propósito do affair Modric, que o Real Madrid tenta sacar à má-fila ao Tottenham - de quem até se diz ser amigo - aquilo a que estamos a assistir é tudo o que supostamente a UEFA ou a FIFA deviam impedir, em defesa do fair-play tão invocado por Platini. Em plena vigência do seu contrato com o Tottenham, celebrado apenas na época passada, principescamenle pago e até com o clube a oferecer-lhe aumento de ordenado, sua excelência Modric quer à viva força que o deixem sair para o Real Madrid e ao preço que os madridistas estão dispostos a pagar. É claro que isto só é possível porque ele sabe que o Real o quer - e, se o sabe, é porque o Real lho fez saber. Mas como o Real não quer pagar o preço que o Tottenham entende justo (e esse é o único preço justo) vá de fazer a habitual combinação com o jogador: tu começas a forçar a saída, até que a situação fique tão insuportável que não lhes reste alternativa senão vender-te a nós e ao nosso preço. Parece que o mesmo estará o Chelsea a planear fazer com Hulk, mas valha a verdade que o brasileiro, até agora, não deu a menor indicação de que esteja disposto a prestar-se a essa suja tarefa. Chama-se a isto, da parle do Real Madrid, abuso da posição dominante, falta de respeito pelos contratos e pelos outros clubes. E, da parte de Modric, chama-se outra coisa, bem mais feia. Isto acabará no dia em que os castigos aplicados aos clubes e jogadores que assim se portam forem de tal forma pesados que nunca mais lhes volte a ocorrer portarem-se como prima donas).

2- Vender, para benfiquistas e portistas é, aliás, não só um imperativo financeiro, mas também desportivo. É que ambos têm de sustentar plantéis de 60 ou 70 jogadores profissionais, que mesmo a recente criação das equipas B e a recente desautorização do CJ (mais uma...) à absurda deliberação da Liga proibindo os empréstimos, não chega para fazer escoar todo um exercito de excedentários que políticas de aquisições, no mínimo incompreensíveis, colocaram na folha de pagamentos dos dois clubes. Já muitas vezes falei nisto e continuarei a falar, visto que a cena se repele de ano para ano: ver jogadores como Sapunaru ou Belluschi a treinarem-se à parte, à espera de um milagroso convite caído do céu, ver o plantel do FC Porto, que já tinha seis guarda-redes, reforçado esta época com mais dois, são coisas que, definitivamente, ninguém me conseguirá explicar que sejam métodos de gestão profissional. E, enquanto que ao FC Porto, por exemplo, lhe falta jogadores de meio-campo, ao Benfica faltam laterais, reduzido que está praticamente a Maxi Pereira. Já no Dragão, o que não faltam são laterais: quatro para o lado direito (Danilo, Fucile, Sapunaru e Miguel Lopes), e quatro para o lado esquerdo (Alvaro Pereira, Alex Sandro, Addy e Emídio Rafael). Se fosse em Itália, em Inglaterra, na Alemanha, e mesmo em Espanha, estaríamos a ver trocas de jogadores entre ambos, como coisa normal. Mas aqui, bastou falar-se da possibilidade de o Sporting, também à procura de um defesa-direito para o lugar de João Pereira, trocar Adrien por Miguel Lopes, para logo se levantarem vozes ofendidas de sportinguistas, como se estivessem a propor enviar-lhes um Synama-Pongolle por troca com o Carrilho.

3- No FC Porto, como também sucede no Benfica, existe também um excesso de extremos, sobretudo para o flanco esquerdo. Uma das consequências disso, a par da escassez de médios ofensivos criativos, é a adaptação que Vítor Pereira vem fazendo de James Rodriguez à posição de número 10. E, muito embora eu próprio tenha defendido isso, há cerca de um ano e numa altura em que Vítor Pereira achava que a melhor posição para James era o banco de suplentes, não posso deixar de sentir uma certa pena por vê-lo abandonar de vez o flanco esquerdo, onde tão grandes jogos fez, como o da final da Taça da época anterior, em que, a partir daí, desbaratou por completo a defesa do Guimarães. Mas agora não há outra coisa a tentar, pois que jogadores como Atsu e Iturbe reclamam protagonismo imediato, e ainda há Kelvin, Varela, Djalma e ...Hulk. Em termos de talento puro, há muito que o FC Porto não dispunha de tantos e tão bons candidatos à titularidade. Mas, infelizmente, concorrem todos para as mesmas variantes, quando tanto jeito nos dava que eles estivessem melhor distribuídos pelas diferenles posições da equipa.

Quanto ao lugar determinante de ponta-de-lança (essencial numa equipa com grandes flanqueadores), confesso que falhei a estreia de Jackson Martinez - a avaliar pelo preço pago, um putativo fora de série. Era ele a estrear-se em Viseu, e, à mesma hora, eu a estrear a minha época de ténis que começa e acaba no Verão. A única coisa de semelhante é que também só durei uns quarenta minutos, tal como ele. Mas, sábado que vem e no primeiro teste a doer da temporada, contra o Valência, no Mestalla, espero ver o colombiano em acção e... respirar fundo.

4- Sem maldade o digo, que não consegui evitar um sorriso trocista quando vi a primeira página da Abola com toda a equipa do Sporting posando, eufórica, ao lado de uma taça conquistada no Algarve, como se de uma grande competição se tratasse. Para começar, era o torneio em si mesmo, que se consumava num único jogo, cujo vencedor erguia a Taça. Depois, o adversário, o Sheffield Wednesday, que julgo ser da 2ª ou 3ª divisão inglesa (um pormenor não confirmado por nenhum dos três jornais consultados). E, enfim, a pomposa designação da coisa: Albufeira Summer Cup. Agora, é assim a moda: Meo Summer Sessions, Albufeira Summer Cup e por aí fora. Desde já anuncio aos meus fieis leitores que hoje à tarde entrarei em campo para disputar em família a Tavares Barlavento's Tennis Cup - onde as minhas expectativas são, infelizmente, reduzidas.

5- E lá se confirmou a triste notícia do fim do basquete profissional no FC Porto. Mesmo com os atletas dispostos a reduzirem os seus vencimentos em 45%, a direcção entendeu que os gastos eram demasiados. E o que dói é pensar que estamos a falar de 770.00 euros por época e que só a compra do passe de Jackson Martinez dava para pagar onze anos de basquete no Dragão...

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