sábado, junho 01, 2013

QUANDO TUDO É SUSPEITO! (18 DEZEMBRO 2012)

1- Por esta altura do campeonato, presumo que nas habituais mentes benfiquistas obnubiladas pelo ódio e pela suspeita permanente, já se tenha tornado altamente suspeito o adiamento do jogo entre o Vitória de Setúbal e o FC Porto, por decisão do árbitro e dos delegados de ambos os clubes. Para esses, pouco importa que o terreno estivesse ou não impraticável: foi uma manobra de Pinto da Costa e de Pedro Proença - enfim, do sistema. Pois que o terreno impraticável para jogar era exactamente o que eles gostariam que o FC Porto tivesse encontrado, pois assim tudo se lhe tomaria anormalmente mais difícil.

Vem aí um Benfica-Porto e já se sente no ar a habitual criação de um clima de cortar à faca, numa manobra prévia de intimidação do adversário que, apesar de tão repetida e sempre falhada nos objectivos, nem por isso deixa sempre de ser utilizada por estes amantes da verdade desportiva. Podia-se responder à letra: que, jogar com dois guarda-redes não é mau, mas melhor ainda é jogar com um árbitro que vê o segundo guarda-redes onde ele não existe e resolve jogos que estavam empatados, com penalty e expulsão; ou que é bem melhor ir jogar a Setúbal com relvado seco e noite sem tempestade e um jogador adversário (antigo jogador nosso), que entrega o jogo aos 8 minutos, fazendo-se expulsar, numa jogada sem qualquer perigo, apenas violência. Mas não se deve responder à letra, deve-se ser diferente, sob pena de nem as vitórias nossas trazerem prazer. Manda a verdade desportiva que eu diga, e porque o penso, que, muito provavelmente, como disse Jorge Jesus, o Benfica ganharia sempre o jogo contra o Marítimo sem o penalty e a expulsão inventados, e, muito pro-vavelmente também, ganhá-lo-ia contra o Setúbal, sem a expulsão precoce. Até digo mais: acho que o Benfica está a jogar muito, tem uma capacidade e um ritmo de jogo, quando acelera, que leva quase tudo e todos à frente, e tem, como aqui o escrevi há um mês (antes de agora todos o dizerem também), um jogador temível, chamado Oscar Cardozo. Não me custa nada reconhecer isto e ainda bem que é assim, de outro modo este campeonato não teria qualquer interesse. Se ganhar o FC Porto, fico feliz. Se não ganhar, fico triste, mas paciência, só não gostaria de perder o título por culpas exclusivamente próprias.

Os outros não pensam assim? Pois não, é um facto. Jamais os ouviremos reconhecer que o Porto é uma grande equipa também; jamais os ouviremos dizer que, independentemente dessa eterna discussào de mão na bola ou bola na mão, o Porto também ganharia sempre o jogo ao Moreirense e que o mereceu ganhar. O conceito de verdade desportiva deles não é igual ao meu — como se viu no exemplar caso do túnel da Luz, essa vergonhosa armadilha montada para tirar de jogo e longamente o mais perigoso jogador do rival, com a consequência final que se conhece.

Que o Benfica não sabe perder há muito que o sabemos e não foi preciso aquele triste episódio do corte da luz e rega dos jogadores do Porto, quando festejavam o título na Luz, para o confirmar. Depois do último Sporting-Benfica, em Alvalade, descobrimos também que, além de não saberem perder, também não sabem ganhar. Acho pouco digno que o presidente do Benfica fique a ver o jogo no balneário, através da televisão, só para fazer o número de ir para o estádio no autocarro dos jogadores: se tem medo de ver o jogo na bancada, na tribuna de honra ou no banco, o melhor é ficar em casa. E, sobretudo, o que ele não pode fazer é emergir do balneário, depois do jogo ganho e do perigo passado, para insultar o presidente do clube anfitrião e rival de cem anos para mais, num momento em que ele está caído e a debater-se pela simples sobrevivência. Acho curioso que a nossa imprensa desportiva, que tanto alarido fez com uma ida de dez minutos do presidente do Sporting ao balneário no intervalo de um jogo, tenha achado absolutamente normal e sem importância que o presidente do Benfica lá tenha estado um jogo inteiro. E só não acho curioso que tenha destacado mais o facto de ele dizer que o Porto joga com dois guarda-redes do que o facto de chamar aldrabão ao presidente do Sporting, porque muitos desses jornalistas desportivos, que agora incensam Luís Filipe Viera, num passado não muito distante viviam a cantar louvores ao «aldrabão», porque ele lhes prometia a cabeça de Pinto da Costa numa bandeja. E tão distraídos andavam a maravilhar-se com a «gestão» do «aldrabão», com as suas afirmações de que «um tostão é um tostão», que, enquanto ele poupava nos tostões e roubava nos milhões, ninguém deu por nada, ninguém achou estranho que ele gerisse o Benfica através de uma «conta-corrente» com a sua própria conta bancária. Ah, a memória é uma coisa lixada!

2- Pois, como escreve, ufana, essa imprensa desportiva, o Benfica «vai passar o ano isolado no primeiro lugar». Pois, sim, bom proveito: nós, portistas, já vimos esse título atribuído várias vezes ao Benfica... e sabemos o desfecho final. Só é pena que o título ainda mais desejado do que o de campeão do Inverno esteja já afastado: a permanência na Champions, que sempre esteve ao seu alcance, sobretudo depois de Tito Vilanova ter feito o fa- vor pedido por Jorge Jesus de pôr em campo a reserva, lixando-se para a verdade desportiva.

Quanto ao FC Porto, o adiamento do jogo de Setúbal foi muito mal vindo: não por passar o ano no segundo lugar, mas porque o calendário de Janeiro será pior do que este de Dezembro é. Mas os três pontos virtuais de atraso são um estímulo, uma pressão boa e não má. Vamos ter de ganhar na Luz para os anular, e antes mesmo de disputar o jogo em atraso.

3- O Sporting-Benfica confirmou o que aqui escrevi: só um milagre faria o Sporting conseguir um simples empate. Mas não deixou de ser notável e eloquente o estoiro físico da equipa, na segunda parte. Contra o Nacional, sucedeu o contrário: uma primeira parte inexistente e uma segunda parte de reacção, a permitir o mal menor. Parece-me evidente que não é Vercauteren que vai conseguir o que Domingos, Sá Pinto e Oceano não conseguiram. A esta distância, aliás, torna-se evidente o erro que foi despedir Domingos. Um erro assente numa pretensa verdade, que o não é: que o Sporting tinha e tem uma excelente equipa e que, se não foi mais além, só podia ser culpa do treinador.

A grande tragédia actual do Sporting é exactamente o oposto dessa reclamada verdade: gastaram a cave a formar uma equipa nova, uma verdadeira sociedade das nações de supostos craques, e os dois únicos jogadores com valor reconhecido já lá estavam antes: Rui Patrício e Izmailov. Depois, há uma promessa chamada Carrillo, que não sabem potenciar, e nada mais. O melhor jogador de campo que tinham, Matias Fernandez, mandaram no embora, baratinho, e o que resta é um saco cheio de nada. E, agora, depois de encavarem para comprar isto, não há mais dinheiro para corrigir o erro.

4- O que me leva a Rabah Madjer, o melhor jogador que alguma vez vestiu a camisola do FC Porto, e na semana em que passaram 25 anos sobre o seu inesquecível chapéu na lama gelada de Tóquio, que deu ao FC Porto o seu primeiro título de campeão mundial de clubes. Dizia ele, numa entrevista a propósito dessa data, que o melhor treinador de futebol que conheceu foi Pinto da Costa. Para Madjer, como para todos os joga- dores que passaram pelo FC Porto e que falaram das suas memórias, o que distingue Pinto da Costa de todos os outros presidentes, é que ele sabe muito de futebol e não chegou ali por acaso, vindo do imobiliário ou da importação de bananas. Em trinta anos, é certo que errou várias vezes, como era inevitável, mas acertou muitas mais e quase sempre viu mais longe que qualquer treinador. E por isso o FC Porto foi duas vezes campeão da Europa e campeão do mundo. Porque não está escrito em lado algum que para ser presidente de um clube de futebol não é preciso saber coisa alguma de futebol.

E, não podendo o FC Porto ter sido o campeão do mundo este ano, foi 0 meu Corinthians — o FC Porto do Brasil. Viva o Timão!

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