sexta-feira, junho 07, 2013

O GRANDE ADVERSÁRIO PORTISTA (12 FEVEREIRO 2013)

1- Uma enorme manchado azul dominando a primeira página deste jornal, sexta-feira passada, chamou-me desde logo a atenção: uma manchete gigantesca sobre o FC Porto na A Bola? E a propósito de quê, se a equipa nem sequer tinha actuado na véspera? Fui ler e percebi tudo: afinal, a notícia não era para os portistas, mas sim para os benfiquistas. «FC Porto fora da Taça da Liga» era o título garrafal que deve ter enchido de júbilo os leitores benfiquistas deste jornal. Antes de mergulhar na leitura de arrevesado jurídico que sustentava tal título, detive-me a pensar no sentido mais profundo da coisa: FC Porto e Benfica são, desde há vários anos, os dois únicos emblemas que em Portugal se batem por títulos, numa competição a dois que perderia todo o sentido se um deles fosse afastado por meios não desportivos. Acreditem ou não, não me vejo a retirar qualquer prazer de vencer o Benfica na secretaria. Mas parece que o desconforto não é mútuo: com a inestimável colaboração do maior adversário interno do FC Porto, que é a Comissão Disciplinar da Liga de Clubes, esta é a terceira tentativa, feita pelo CD e saudada pelos benfiquistas, para retirar administrativamente o FC Porto de competições: tentaram roubar-lhe os pontos suficientes para perder na secretaria um campeonato brilhantemente ganho em campo; tentaram afastá-lo, em benefício de Guimarães e Benfica, de um lugar na Champions ganho por mérito próprio; e agora tentam afastá-lo da Taça da I.iga, esse couto reservado do Benfica. E isto para não falar da outra operação, mais sofisticada, para retirar o Hulk e o Sapunaru da competição o tempo suficiente para o Benfica assegurar o título de campeão. Parece que, afastado o FC Porto, o principal rival, os benfiquistas ficarão satisfeitos por poderem ganhar assim. Estranho... estranha forma de entender a competição e o desportivismo.

Estava já toda a operação jurídica montada, a pretexto de terem faltado quinze minutos às 72 horas alegadamente exigíveis de intervalo entre um jogo do FC Porto B na liga de Honra e outro do FC Porto. Simplesmente, na Taça da Liga, em que três jogadores actuaram em ambos os encontros, quando se descobre que Benfica, Sporting e Marítimo também estavam envolvidos em supostas infracções idênticas. Porém, recebida a denúncia quanto ao Benfica numa quarta-feira, já na quinta-feira o CD a tinha mandado arquivar.

Parece que há uma diferença substancial entre utilizar jogadores num jogo da Liga de Honra, seguido de um jogo da Taça da Liga, ou utilizar jogadores no campeonato da Liga, seguido de um jogo na Taça da Liga. Muito gostaria que os defensores encartados do Benfica citassem a disposição concreta dos regulamentos da Taça da Liga onde esteja escrito que só no primeiro caso, e não no segundo, é exigível o tal intervalo de 72 horas. Seria muito estranho que tal discriminação existisse porque ela não faria o mais pequeno sentido: se o que se pretende é defender o descanso dos jogadores, não se entende que só funcione para umas competições e não para outras; se o que se pretende é defender a competitividade do campeonato da Liga de Honra, evitando que jogadores alinhem pela primeira equipa e logo depois vão fazer uma perninha à equipa B, então para isso era necessário que o jogo da Liga de Honra viesse depois, e não antes, do jogo da Taça da Liga o que não foi o caso com o FC Porto. Enfim, mesmo conhecendo sobejamente a imaginação jurídica que o CD da Liga sempre consegue descobrir no seu afã anti-portista, estava difícil de ver como iriam conseguir impingir a sua doutrina a alguém mais que o José Manuel Delgado.

E estavam já eles a cantar vitória, estava já o Sílvio Cervan a referir-se à vitória administrativa do V. Setúbal por 3-0 no Dragão para a Taça da Liga, como se de uma vitória no terreno de jogo se tratasse, quando começam a circular notícias de que a doutrina do CD da Liga não iria encontrar acolhimento na Federação: um problema chato no horizonte. Mas eis que uma alma justiceira resolve assaltar a sede da Federação e roubar nada mais do que os computadores pessoais do presidente e da sua secretária. Segundo a opinião insuspeita de José Manuel Delgado, uma das explicações para o móbil do assalto pode ter sido exactamente o roubo da acta da reunião do CD da Federação, «onde foi feita tábua rasa das conclusões» do CD da Liga. Com tanta informação privilegiada, só me resta acreditar. Mas, socorrendo-me da minha própria experiência, quando me assaltaram a casa para roubarem também e apenas o computador pessoal (e eu sei quem, para quê e porquê), posso afiançar ao Dr. Fernando Gomes que é garantido que a PJ e a PSP nada descobrirão. Quando o crime já atinge um nível sofisticado em que não se deslinda com escutas, eles não chegam lá.

2- Subitamente, começamos a realizar que é muito possível que esta nossa triste Selecção não esteja no Mundial do Brasil. Há ali jogadores que já passaram o prazo de validade, outros que não se dão a serviços mínimos e outros que nem eles sabem porque lá estão. Entretanto, julgo que a Federação e Paulo Bento fariam bem em poupar-nos a mais destes desoladores jogos de preparação em que não se prepara coisa alguma e apenas servem para afastar o público e aumentar a descrença.

3- O Benfica vai, obviamente, lançar para cima dos ombros de Pedro Proença a responsabilidade pelo semi desaire da Choupana. E, se é certo, que a televisão não mostra as razões da expulsão de Matic, ela só deixou o Benfica em inferioridade numérica vinte segundos — o que parece pouco para tanta indignação. Diferente teria sido se Proença se tem decidido por um penalty a favor do Nacional, quando misteriosamente, Keita, acossado por Luisão, em vez de encostar para o golo, acabou estatelado no chão: muitos árbitros teriam marcado penalty e expulsão e havia 2-2 no marcador... Acho que o Benfica se pode queixar, sim, do terreno de dimensões mínimas e do estado do relvado , uma e outra coisa impedindo as melhores equipas de poder montar o seu futebol. Mas isso, infelizmente, é uma das imagens de marca do nosso campeonato e não apenas no terreno das pequenas equipas: Alvalade parece uma chapa ondulada e mesmo o relvado do Dragão, outrora motivo de orgulho para todos os portistas e uma preciosa ajuda ao futebol da equipa, é hoje um areal seco o irregular, fruto dos tais concertos rock que Pinto da costa tinha jurado nunca autorizar (e já está um marcado para assim que acabe o campeonato).

Já Vítor Pereira, pode queixar-se da sorte, mas também do dia desastrado de jogadores como Danilo, Fernando, Lucho; de uma equipa que tem de atacar sem extremos, visto que Izmailov foge ostensivamente de um lugar que não conhece e não quer conhecer e, do outro lado, joga o confrange dor Silvestre Varela, que Vítor Pereira protege para além do que a minha inteligência consegue entender.

Ainda bem que Jackson falhou o penalty, pois era mais um desses penalties a que não me conformo, de bola na mão. Penalty verdadeiro aconteceu sim no penúltimo minuto, de Maurício sobre Mangala: mas, quando se marca o penalty errado...

4- Se a memória me não falha, o Sporting teve já os seguintes candidatos, anunciados ou confirmados, à presidência: Paiva dos Santos (João e Paulo), Carlos Monjardino, Jorge Coelho, José Maria Ricciardi, Pedro Baltazar, Bruno de Carvalho, Dias Ferreira, José Couceiro, José Eduardo, Carlos Severino, Hermínio Loureiro, Galvão Teles (um deles), Zeferino Boal e Luís Figo. São quinze, quase todos empresários ou gestores, todos já em contactos com a banca e conversas com potenciais investidores e todos apostados num novo Sporting. Só um clube rico, ou um clube à deriva, consegue reunir tanta gente voluntária para tomar conta dele. Há quinze candidatos à presidência, mas só há um jogador verdadeiramente bom na equipa principal de futebol, que se chama Rui Patrício. Talvez esteja aí parte da razão de tantos males e tantos salvadores.

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