sábado, junho 08, 2013

SINAIS DE PÂNICO (19 FEVEREIRO 2013)

1- Estamos a entrar na altura da época em que, para os grandes clubes, tudo se decide: o desfecho interno e o desfecho europeu de um ano. É nesta altura que, tradicionalmente, o Benfica e os benfiquistas começam a dar sinais de nervosismo crescente. Sinais que este ano não são de nervosismo apenas, mas de verdadeiro pânico: o pânico de falharem mais uma época. Há vários factores objectivos que contribuem para este estado de alarme vermelho:

- a carreira na Champions foi um falhanço total, agravada pelo facto de o FC Porto se manter ainda em prova;

- passou o período em que o Benfica se podia ter adiantado decisivamente ao FC Porto no campeonato, aproveitando o jogo da Luz e os dois meses em que o FC Porto teve de jogar desfalcado de James e Atsu, e o Benfica nada aproveitou, não conquistando um único ponto de avanço que lhe desse alguma margem de folga para o futuro;

- aparentemente, falhou também a tentativa de afastar na secretaria o FC Porto da Taça da I.iga - o tradicional prémio de consolação benfiquista. A perspectiva de poder encerrar a época apenas com a conquista da Taça de Portugal, e quase por sorteio, é um pesadelo;

- como ficou evidente nos últimos jogos, a equipa começa a dar sinais evidentes do cansaço e da desinspiração que a costumam atingir no momento decisivo da época;

- acresce a sensação de que no que toca à valorização de jogadores para venda (o melhor registo de Jorge Jesus nas águias), o Benfica já não dispõe de anéis de valor seguro à vista, em contraste com o FC Porto, que tem, pelo menos, uma meia dúzia de activos ao nível dos 20 milhões para cima, entre Alex Sandro, Mangala, Otamendi, Maicon, João Moutinho, James, Atsu, Jackson Martinez.

Não ganhar o campeonato este ano e ver o FC Porto assinar o tricampeonato seria um desastre de consequências imensas para o Benfica. Se a isto somarmos o péssimo momento em que vai ser necessário renegociar o contrato dos direitos televisivos (numa conjuntura em que, pela primeira vez, nenhuma das três televisões generalistas quis ficar com os jogos da Liga), facilmente se alcança como, de um momento para o outro, os amanhãs que cantavam podem ficar a assobiar baixinho. Daí aos sinais de pânico a distância é curta e mede-se por alguns indícios reveladores:

- a militante entrada em cena da CD da Liga, sempre pronta a acorrer nos momentos de necessidade, e revelada, não só na citada tentativa de afastar administrativamente o FC Porto da Taça da Liga, como ainda em vários outros detalhes, dos quais o mais recente e despudorado foi o castigo de um jogo de suspensão a Cardozo, culpado de ter pontapeado um adversário, com o jogo parado e, a seguir, ter agarrado o árbitro pelo colarinho, só não tendo ido mais avante porque os colegas o seguraram (um interessante precedente disciplinar que, todavia, suponho e espero, não ficará como doutrina mas apenas como excepção adhoc);

- a escolha de João Ferreira (o árbitro expressamente pedido por Vieira a Valentim Loureiro, noutros tempos), para dirigir o Benfica-Porto: o que diriam se, para dirigir o Porto-Benfica da penúltima jornada, fosse nomeado o árbitro preferido de Pinto da Costa?

- uma semana inteira passada a investir contra Pedro Proença, de modo a criar a ideia de que só por culpa dele o Benfica não venceu o Nacional, quando a única coisa de que talvez (talvez...) se possam queixar é da expulsão de Matic... a 30 segundos do fim. Chegaram mesmo ao ponto de pôr na boca de Proença suposta ameaça verbal a Cardozo, cuja testemunha ou testemunhas não foram indicadas.

- a arbitragem do jogo com a Académica: quatro cantos inventados a favor do Benfica; a melhor oportunidade de golo nascida de uma clara falta de Lima, que nem o árbitro nem o auxiliar conseguiram ver; os dois únicos ataques da Académica, por sinal bem perigosos, cautelarmente interrompidos antes do fim por um off-side e falta inexistentes; os cinco minutos de desconto sem cabimento; o penalty salvador ao minuto 90+5, numa disputa de bola em que ambos os jogadores se agarram (foto da página 9 da edição de ontem deste jornal e demais imagens, fotográficas e televisivas).

- as declarações de Jorge Jesus antes e depois do jogo com a Académica, bem reveladoras do ambiente de terror em que ele já vive, por causas externas e pressões internas.

- e, acima de tudo, a intensa e indisfarçada campanha montada pelos jornalistas militantes do Benfica, criando um clima adequado às golpaças e ao branqueamento do que não convém demasiadamente exposto.

Já conheço o ambiente e detecto à légua os seus sinais. Quer dizer que o Benfica, todo o planeta-Benfica, entrou em modo de pânico e lançará mão do que for necessário para evitar a derrota que tanto teme. Mas é justamente nestas alturas, e reagindo ao cerco, que o FC Porto se costuma transcender.

2- Por todas as razões, mas sobretudo por respeito ao que dele conheço, excluo naturalmente Vítor Serpa da criação do ambiente de que acima falei. Mas a sua tese de que Pedro Proença não poderia ser nomeado para um banal jogo de campeonato do Benfica, com o único argumento de que ele é «um árbitro maldito» para o Benfica, apesar de benfiquista assumido, é obviamente insustentável. E não apenas porque Proença é tido actualmente como um dos melhores, se não o melhor árbitro do mundo — o que já seria argumento suficiente para quem defende que os melhores árbitros devem ser chamados à linha da frente. Mas, sobretudo, porque, a valer essa tese, e como já escreveu Rui Moreira, regressamos ao tempos em que os senhores feudais do nosso futebol exercem um direito de veto, ou de escolha, ou de pernada, sobre a nomeação dos árbitros. E, como decerto Vítor Serpa não defende esse direito apenas para o Benfica, terá ele meditado nas consequências do que defendeu?

3- Diferente é, claro, a posição de partida de Fernando Guerra. Num texto aqui escrito, há oito dias, sintomaticamente intitulado « Convergências enigmáticas », Fernando Guerra estafava-se a repisar na tese da perseguição de Proença ao Benfica. E a grande «convergência enigmática» que ele foi de senterrar para tal é o adiamento do jogo do Porto em Setúbal, que tinha Proença como árbitro. Não é original: já outros benfiquistas o defenderam igualmente, mas na sua posição de adeptos apaixonados, que o que querem é ganhar a qualquer preço.

O que eu acho notável é que Fernando Guerra passe alegremente por cima do facto de nesse dia, como foi público e notório, Portugal ter estado debaixo de um temporal extremo, que, inclusivamente, colocou em alerta laranja o distrito de Setúbal, e de o terreno de jogo estar de facto impraticável, tal como foi reconhecido, não só pelo árbitro, como também pelos treinadores e delegados de ambas as equipas, que, de comum acordo, optaram pelo adiamento.

Fazendo tábua rasa de tudo isso, escreve ele que o jogo não se realizou nessa data «porque isso ia ao encontro das conveniências do FC Porto». Não explica porquê, mas também aqui os factos não o ajudam: naquela data, o FC Porto tinha um calendário mais desafogado do que na data de substituição; tinha ao seu dispor Atsu e James, que depois não teve (um, imprevistamente, o outro porque já se sabia que estar no CAN); e não teria de se deslocar duas vezes a Setúbal, mais 800 kms, para disputar o jogo. Porque razão era então mais conveniente o adiamento para o FC Porto? Por uma única razão, que ele destapa quando dá como exemplo um Académica-Porto, no tempo de Villas Boas, disputado, nas palavras do próprio Fernando Guerra, «num autêntico pantanal» . É, pois, isso que ele acha que também devia ter sido feito em Setúbal. Eu, por acaso, dediquei aqui um texto às condições, jamais vistas, em que foi disputado esse jogo, e (mesmo depois da vitória do FC Porto) escrevi que ele só foi até ao fim, arriscando a integridade dos jogadores e sem nada ter que ver com um jogo de futebol, porque o que se pretendia era exactamente que o FC Porto não tivesse condições para jogar. O árbitro chamava-se Bruno Paixão... e está tudo dito. Les beaux esprits se rencontrent...

4- Para logo à noite, só peço duas coisas à partida: que o Varela fique no banco e que o Helton não abra a capoeira.

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