1- Quinze minutos: era tudo o que deveria ter visto do Porto-Estoril. Porque a partir daí e a ganhar por 2-0, o Porto deixou de jogar e o jogo acabou. Sim, já sei que havia o jogo de Málaga no subconsciente dos jogadores, que a época já leva 37 jogos e as pernas começam a pesar, etc. e tal. Mas, do Estoril até Málaga, mediavam seis dias de descanso — uma distância suficientemente grande para apenas um quarto de hora de futebol empenhado. Talvez não seja deslocado recordar que o público paga para ver 90 minutos de espectáculo e não apenas quinze, com artistas que ganham o que ninguém mais ganha em Portugal. E talvez também não tivesse sido má ideia recordar aos artistas do FC Porto que talvez este campeonato se venha a decidir por diferença de golos, o que justificaria o esforço de ir um pouco mais além.
Foi isso que fez o Benfica com o Gil Vicente: marcou cinco e ultrapassou a diferença de goal average que tinha em relação ao FC Porto. Deste jogo, vi apenas os primeiros vinte minutos e depois desisti, impressionado pela eficácia benfiquista: um remate à baliza, dois golos, ambos oferecidos. Quando vejo equipas entregarem assim os jogos ao Benfica, logo para começo de conversa, desisto de ver: também não é espectáculo que se recomende.
Olhando para a diferença abissal entre os dois primeiros e os restantes, eu penso, ao contrário de Jorge Jesus, que é muito possível, e mesmo provável, que o campeonato se decida no Dragão. E, para essa decisão, o Benfica está neste momento, em vantagem. Se ganhar lá, será campeão certamente. Se perder mas lá chegar com 4 pontos de avanço, também. E, se empatar, tem todas as hipóteses a seu favor, se até lá não perder ou a vantagem pontual ou a da diferença de golos. Quer isto dizer que, para ser campeão, o caminho do FC Porto está cada vez mais estreito: não se pode permitir mais nenhum deslize ditado pela displicência, como sucedeu em Alvalade, no Dragão com o Olhanense, e ia sucedendo com o Rio Ave, também no Dragão. E, depois, terá de ganhar ao Benfica. Já vi isto mais fácil. Mas também já vi o FC Porto sair de situações piores.
2- Depois de anunciada a sua ressurreição no jogo com o FC Porto, o Sporting voltou à normalidade em Coimbra: as notícias felizes eram manifestamente exageradas e não tenho, infelizmente, qualquer dúvida de que o assomo de orgulho ferido que se viu contra o FC Porto não se irá repetir contra o Benfica.
Nada mudou no Sporting, a começar por aquela que, ao longo dos anos, aqui venho apontando como a razão primeira do seu declínio: a falta de uma mentalidade competitiva, que nunca procura responsabilidades próprias para os desaires, antes encontra sempre desculpas exteriores. Mais uma vez isso sucedeu no jogo contra o FC. Porto — onde, convém recordá-lo, o Sporting, jogando em casa, esteve sempre, sempre, à defesa, recuado e amedrontado. Mas, ao ver sportinguistas ilustres, como Dias Ferreira ou Eduardo Barroso, atira-rem-se à arbitragem, como tendo sido escandalosa, percebi que a atitude se mantém tal e qual. E porque foi a arbitragem escandalosa? Porque não mostrou o segundo amarelo a Otamendi (numa jogada de que, sinceramente, não me recordo, mas numa altura em que não faria qualquer diferença) e, sobretudo, por ter expulso os dois treinadores do Sporting. Mas algum deles terá escutado as palavras que os treinadores dirigiram ao árbitro e que terão justificado as expulsões? Como podem então concluir que elas foram escandalosas — só por terem acontecido? De Oceano, não se sabe o que terá dito, porque ninguém o referiu. E, de Jesualdo, sabe-se apenas a sua versão, de que terá dito ao árbitro «acaba com isto, antes que isto acabe mal». Não sei se é ou não razão para o expulsar do banco, mas não me parece muito adequado que um treinador se dirija ao árbitro, tratando-o por tu e dando-lhe ordens para acabar com o jogo, antes mesmo dos 90 minutos, sob pena de uma ameaça implícita. E garanto que, se fosse o treinador do FC Porto a jogar em casa um clássico, empatado a zero a poucos minutos do fim, o que eu acharia escandaloso é que ele pedisse ao árbitro para acabar com o jogo rapidamente Mas lá está: são mentalidades competitivas diferentes.
3- Como aqui escrevi a semana passada, o tema da ruptura entre o Benfica e a Olivedesportos/Sport TV e a aposta na rentabilização própria dos jogos caseiros do clube e da Benfica TV é um assunto que me interessa muitíssimo na perspectiva da viabilidade dos principais clubes portugueses, ao nível da alta competição.
Infelizmente, porém e como sempre sucede nas SAD, o estudo de viabilidade que o Benfica terá feito é secreto. Como secreto é até o preço que aceitou pagar pela transmissão dos jogos do campeonato inglês na Benfica TV, invocando uma suposta «cláusula de confidencialidade» (que não impediu, contudo, que o jornal Expresso noticiasse que o Benfica pagou à Liga inglesa o triplo do que pagava a Sport TV: 2,3 milhões por época). Mas foi um texto de Bagão Félix, aqui publicado há dias, que me chamou a atenção para uma perspectiva que ainda não tinha considerado. Escreveu ele que a transmissão dos jogos da Luz na Benfica TV vai permitir servir a «verdade desportiva» . Ou seja, como se adivinha, vai permitir reduzir à opinião dos benfiquistas de serviço à Benfica TV as incidências dos jogos. Ora, para quem como eu, já teve ocasião de assistir ao número cómico-surreal que são os comentários dos locutores da Benfica TV, feitos em directo e sobre jogos que eles não podem mostrar, é fácil de imaginar o que seja a «verdade desportiva» nas mãos daquelas criaturas. Mas, não só: a transmissão da Benfica TV vai passar a ser a única fonte visual dos jogos transmitidos. E imaginem que há, por exemplo, uma jogada duvidosa dentro da área do Benfica e que só o slowmotion e a repetição da jogada permitem concluir se foi ou não penalty: acham que a Benfica TV o vai fazer? Acham que ela se vai preocupar em esclarecer se foi ou não penalty contra o Benfica não assinalado? E se, a seguir, for o FC Porto a transmitir os jogos do Dragão no Porto-Canal (que, diga-se de passagem, não tem nada a ver com a caricatura de jornalismo e tudo o resto que se faz na Benfica-TV)?
O problema destes apologistas da «verdade desportiva» nem é, principalmente, os sucessivos tiros nos pés que eles dão e que reduzem a sua verdade a uma caricatura do que apregoam. O problema maior é que, à força dese tentarem convencer que só a sua verdade é que conta e é «desportiva» , já perderam a noção do ridículo em que caem. É como a raposa de guarda ao galinheiro.
4- No espaço de três jogos e dez dias, Sergio Ramos, central do Real Madrid, alcançou a proeza, digna do Guinness, de cometer cinco penalties, nenhum dos quais assinalado pelo árbitro: um em Barcelona, no jogo da Taça do Rei, quando havia 0-1; outro em Madrid, verdadeiramente escandaloso, quando havia 2-1 para o Real e faltava um minuto para o fim; e mais três em Manchester, o último dos quais igualmente de bradar aos céus. Junte-se a isso a expulsão de Nani e só se pode afirmar que José Mourinho bem andou em reconhecer a ajuda do árbitro na qualificação para os quartos da Champions. Mas, mais papistas do que o próprio Papa, há jornalistas portugueses que acham que o patriotismo consiste em não dar importância a estas coisas, se elas beneficiam portugueses envolvidos. Mas, se tem sido ao contrário, cinco penalties a favor do Real não marcados em três jogos decisivos consecutivos..., ai meu Deus, o que não se teria escrito!
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