1- Caros correligionários nortistas: querem saber qual é a equipa que Vítor Pereira vai pôr a jogar no próximo encontro? Eu digo-vos. Partindo do princípio que Mangala e Moutinho recuperam das lesões musculares contraídas nos treinos (o que não é nada certo, porque no FC Porto todas as lesões são de cura prolongada), ele vai receber o Estoril com o seguinte onze de entrada: Helton, Danilo, Mangala, Otamendi e Alex Sandro; Lucho, Fernando e Moutinho; Varela, Jackson e Izmailov. Aí pelos 60 minutos, fará o favor dc tirar o lzmailov e meter o James e, se as coisas estiverem mesmo complicadas, tirará o Varela para meter o Atsu. Como é que eu sei? É facílimo: a menos que a derrota abale as suas certezas de forma gritante, Vítor Pereira mete sempre a jogar os mesmos do jogo anterior e aqueles que, desde o início da época, decidiu que seriam o seu onze de escolha. Seja contra quem for o jogo, jogue o adversário como jogar, seja necessário defender ou atacar.
Pode o Manchester United, o Tottenham, o Milan, cobiçar o James, é absolutamente indiferente: para Vítor Pereira, estão todos enganados - bom mesmo é o Silvestre Varela, que, não se entende por que razão, ninguém cobiça. Pode meia Europa andar com o Atsu debaixo de olho e o próprio preferir esperar para ver antes de renovar contrato com o FC Porto, nada disso muda a ideia feita de Vítor Pereira: o lugar de Atsu é no banco, como suplente de Varela e de Izmailov. Pode o sistema de 4x3x3, que ele herdou e manteve, precisar, por natureza, de dois extremos capazes de ir à linha cruzar e assistir o ponta de lança coisa que nem Varela nem Izmailov sabem ou estão dispostos a fazer - pouco importa, ele prefere jogar assim e ficar um jogo inteiro a ver um ponta-de-lança tão excepcional como Jackson Martinez esperar em vão receber jogo das alas.
Foi assim que Vítor Pereira se apresentou em Alvalade. Precisou de uma hora para perceber que o Izmailov não abria jogo e fugia do flanco como diabo da cruz, e precisou ainda de mais dez minutos até se cansar de ver o Varela na sua habitual postura de tratador da relva, que por ali se passeia, sem pressa nem engenho, como se tudo aquilo não fosse nada com ele. Em Alvalade, o FC Porto deixou mais dois pontos devido à estratégia ganhadora do seu treinador.
Por favor senhores jornalistas: quando escreverem que hoje todos os portistas estão já rendidos a Vítor Pereira, lembrem-se de abrir uma excepção para mim, o último dos gauleses a ser subjugado. A posse de bola, que ele tanto privilegia, é, como disse Lucho Gonzalez, tão bonita quanto inútil, se não é capaz de abrir espaços para chegar ao golo. E um treinador que prefere o Varela ao James Rodriguez, como já o havia mostrado no ano passado, para mim é alguém que não distingue um Fiat 500 de um Ferrari. (Sim, eu sei: o James ainda não está na sua forma habitual. E, então, qual foi a última vez que o Varela esteve em forma aceitável?).
2- A única coisa consoladora, vagamente consoladora, do empate em Alvalade, foi constatar o respeitinho que o FC Porto impõe a todos. Mesmo desfalcado de Mangala e Moutinho, mesmo com James e Atsu sentados no banco até mais não dar, o FC Porto teve o dobro de posse de bola do Sporting e o triplo de cantos, ataques, remates e remates perigosos. A única coisa em que ficaram empatados, além do resultado final, foi no número de oportunidades de golo. Mas toda a gente sentenciou que o Sporting tinha feito uma grande exibição e até pareceu que tinha nascido uma alma nova aos devastados leõezinhos. E eu percebo o sentimento, porque, na verdade, todos sabemos que este FC Porto, deveria ter ganho tranquilamente em Alvalade. Com qualquer treinador. Porque, para ser treinador desta equipa, basta não complicar, pôr os melhores a jogar e deixar as coisas correrem por si, naturalmente.
3- Também me serviu de fraco consolo ver o banho de bola que o Benfica levou em Aveiro. A ganhar desde os 15 minutos, com um daqueles pretensos penalties a que jamais me habituarei (desta vez um cabeceamento feito a meio metro contra o braço de um defensor de costas para a jogada), só por uma vez mais o Benfica esteve à beira de poder marcar. No resto do tempo, Costinha cumpriu a sua promessa de não jogar de autocarro: o Beira-Mar teve mais bola, mais ataques, mais remates e mais ocasiões de golo — que, com um ponta-de-lança um pouco mais inspirado e esforçado que Yazalde, teriam ferido de morte a águia e feito justiça ao resultado. E o melhor em campo foi alguém que não me recordo de ter visto jogar antes e que francamente me impressionou: o médio volante aveirense Ruben. Para além dele, que fez gato-sapato do meio campo benfiquista, retive a cotovelada voluntária de Cardozo na cara de um adversário, que, nos saudosos tempos dos sumaríssimos, lhe custaria dois jogos de fora...fosse ele jogador do FCP. Mas quando pontapear um adversário no chão, com o jogo interrompido, e agarrar o árbitro pelos colarinhos só dá um jogo de castigo, como não há-de o bom do Cardozo (que eu até admiro bastante) não se convencer que tudo lhe é permitido? Ah, e gostaria de ter visto, só para tirar umas dúvidas genuínas, a repetição de um lance aos 88 minutos, dentro da área do Benfica, em que Garay salta por cima de um adversário para cortar a bola...
4- Apresentadas as contas de gestão dos três grandes, relativas ao primeiro semestre desta época, confirma-se que o Sporting está tecnicamente falido e que à dívida acumulada e insustentável se junta uma gestão corrente largamente deficitária. Razão tem o presidente do Benfica para desconfiar que se prepara um perdão da banca, como única forma de evitar o estoiro de um dos históricos do futebol português. Quanto aos candidatos à presidência do clube, nem uma palavra de concreto sobre o assunto...
O Benfica saiu positivo com as vendas de jogadores e conseguiu diminuir os custos salariais. Cumprindo uma promessa eleitoral, Vieira prepara se para o salto no vazio que é assumir directamente a transmissão dos jogos do Benfica na Benfica TV, começando, por ora, por anunciar a compra dos direitos do campeonato inglês. Este é um lema de uma importância extrema, que daria material para todo um artigo. Assumindo o desafio numa altura em que o mercado publicitário enfrenta a sua maior crise dos últimos vinte anos, o Benfica corre riscos extremos e, das duas uma: ou a decisão se revelará acertada, premiando visão e coragem, ou redundará num desastroso tiro nos pés. Para já, o que sabe é que, apesar do saldo positivo da conta de exploração do primeiro semestre da época 2012/13, o Benfica prepara-se para ir ao mercado, pedir um empréstimo de 80 milhões, sob a forma de obrigações que deverão andar próximo dos 8% de juros uma brutalidade, que reflecte alguma pressão inadiável.
Quanto às contas do FC Porto, também positivas, contêm, contudo algumas razões de preocupação, pelo menos vistas por alto e não em detalhe. Desde logo, a baixa acentuada das receitas de bilheteira; depois, o crescimento em cerca de 18% da massa salarial numa altura em que não há uma só empresa em Portugal que não tenha reduzido os custos salariais; e, finalmente, a receita anunciada com vendas de jogadores (16 milhões de euros), incrivelmente baixa se considerarmos que ela envolve uma série de vendas, como Guarín, Álvaro Pereira, Belluschi, Hulk (45 milhões só à sua conta) e até Falcao, que o Atlético de Madrid ainda não acabou de pagar.
Mesmo não esquecendo que parte dos passes dos jogadores não pertenciam ao clube, 16 milhões facturados parece incompreensivelmente pouco. Talvez o Conselho Fiscal tenha uma explicação - é para isso que foi eleito.
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