1- Bem à sua maneira, Jorge Jesus já tratou de espicaçar o Sporting e, do mesmo passo, desvalorizar uma eventual vitória do FC Porto em Alvalade, sábado que vem. Disse ele que o Sporting estava bem mais forte quando o Benfica lá foi vencer e que agora joga com metade do onze vindo da equipa B. Faz parte dos mind games em que ele é o principal especialista no nosso campeonato. Mas, à vista desarmada, eu não alcanço nenhuma diferença entre este Sporting de Fevereiro e aquele que, ao longo de um campeonato completamente coerente no desastre, ocupa um justíssimo 12º lugar. Todavia, é sabido que se alguma coisa um clássico tem é a capacidade de fazer transcender a equipa que no momento está por baixo. Sendo favorito em Alvalade, o FC Porto não pode e não vai contar com um passeio.
2- E, por falar em passeios, lembrei-me, ao ver o Benfica-Paços de Ferreira, de alguns benfiquistas que conheço, que acham sempre que as outras equipas jogam muito menos contra o Porto do que contra o Benfica. E não o dizem em tom de opinião, mas de suspeita. Pois o Paços, terceiro classificado do campeonato, chegou à Luz e à primeira oportunidade, ao minuto sétimo, abriu uma avenida na zona frontal da defesa, por onde o Benfica chegou ao golo e logo se percebeu que o jogo estava entregue. Daí até final, o terceiro do campeonato apenas mostrou uma defesa macia e simpática e um ataque simpático e macio, com verdadeiro terror de ultrapassar com bola o meio-campo: nem sombra da coragem de que falou o seu treinador. Uma semana antes, a Académica, sem pergaminhos a mostrar, passou 95 minutos a defender a sua grande área com todos os jogadores, de tal modo que o golo salvador do Benfica, nos últimos segundos da partida, nasceu de uma abertura do meio do seu meio campo, feita pelo guarda-redes Artur. Ao menos no Dragão atacou várias vezes com perigo, esteve a ganhar e pregou um valente susto...
3- Mais um valente susto apanhou o FC Porto também contra o Rio Ave. Tal como sucedera quinze dias antes contra o Olhanense, também esteve a perder, mas desta vez conseguiu dar a volta completa, já bem perto do fim. Pedras nucleares da equipa, como Moutinho e Jackson, revelaram o cansaço do jogo com o Málaga, apenas três dias antes (suponho que terá sido a expectativa do jogo da Taça da Liga, marcado para meio da semana mas entretanto adiado, a única explicação racional para não ter jogado contra o Rio Ave domingo ou segunda). Alex Sandro fez muita falta, não obstante a bela estreia de Quiñones; Atsu também deixou saudades e James tarda a encontrar ritmo de jogo, mas, apesar de tudo, foi dele a belíssima assistência para o golo da vitória - coisa que um Varela a tempo inteiro jamais consegue fazer. O meio-campo, zona estratégica para o tipo de jogo implantado por Vitor Pereira, sofre do desastrado momento de forma de Lucho (que nele é sabido acontecer todos os anos, a meio da época), e do regresso de Fernando ao seu pior - passes errados perigosos, atrapalhação constante, debilidades técnicas gritantes, que se tornam patéticas quando decide subir ou rematar. No flanco direito, para colmatar a inutilidade de Varela, está um Danilo que não tem nada a ver com Alex Sandro e muito pouco a ver com os 17 milhões que custou. Correndo o risco de me tomarem por louco, direi que temos quem, actualmente marginalizado e descartado, recorde como bem melhor: Fucile, esse mesmo. Mas também Souza eu achava bem melhor que Fernando e foi mandado embora; e Iturbe é bem melhor que Varela e foi emprestado; e Atsu é infinitamente melhor e não tem lugar cativo. Enfim, dirão que tudo é subjectivo e questão de opiniões, mas a verdade é que também há dados objectivos que permitem analisar friamente o desempenho prático de cada um. E preciso é consultá-los.
Depois de um jogo muito bem conseguido contra o Málaga, apenas com um pouquinho de ambição a menos para chegar ao 2-0 que teria sido justo, o FC Porto repetiu contra o Rio Ave o longo jogo sonolento que lhe custou dois impensáveis pontos contra o Olhanense. Nos últimos quatro jogos, incluindo o da Champions, aconteceu uma coisa rara: Helton não fez uma única defesa. E, mesmo assim, encaixou dois golos, em ambos deixando a sensação de que poderia ter feito mais. Como a equipa vem alternando o bom com o mau, é de esperar que em Alvalade regresse ao bom, antes de se mentalizar para a determinante viagem à Andaluzia.
4- Incapaz de atingir o seu grande objectivo, que era o de travar os anos de conquista do FC Porto, o Apito Dourado desforrou-se no Boavista - que, juntamente com o FCP, constituiu o outro único alvo de tanto empenho. Escrevi na altura que a sanção de despromoção aplicada ao Boavista com fundamento numa nebulosa acusação de tentativa de coacção sobre os árbitros me parecia mais destinada a salvar a face dos justiceiros do que a fazer justiça. Mas o CD da Liga, escudado nas brilhantes teses jurídicas do seu presidente, Ricardo Costa, e num parecer do mestre Freitas do Amaral, foi destemidamente em frente, até às últimas consequências. Obviamente, espero que agora, com a reintegração do Boavista e a obrigação de o indemnizar pelos danos causados com a sua condenação, quem foi responsável seja chamado a pagar solidariamente. Como dizem os brasileiros, «ajoelhou, tem de rezar».
5- Muito tenho escrito sobre o deplorável estado do relvado do Dragão (que ainda no jogo contra o Málaga poderá ter estado na origem de se ter falhado o segundo golo). E também sobre o de Alvalade e outros mais. Pois devo dizer que fiquei estupefacto ao ver o estado do relvado de S. Siro para receber um Milan-Barcelona, ou o do Galatasaray. Como é que a UEFA consente relva dos destes na principal competição mundial de clubes?
6- Há dias, alguém escreveu aqui que uma forte corrente de sportinguistas queria Luís Figo na presidência do clube, devido «ao seu prestigio e forma de estar na vida». Tenho-me lembrado dessa frase ao ler os relatos do julgamento do Tagus Park cuja administraçào, incluindo o actual acionista maioritário do Belenenses, é acusada de ter utilizado dinheiros públicos para pagar 750.000 euros a Luís Figo, em troca do seu apoio eleitoral a José Sócrates. O tal pequeno-almoço mais caro da história. O próprio Luís Figo só não está também no banco dos réus porque generosamente o Ministério Público aceitou a sua explicação de que não sabia que o Tagus Park era uma empresa de capitais públicos - o que, juridicamente, muda a natureza do crime de corrupção. Assinou um contrato em que uma empresa se dispunha a pagar-lhe 750.000 euros ao longo de três anos, mas não teve a curiosidade ou a cautela de se informar de que tipo de empresa se tratava...
Na Assembleia da República, respondendo a uma deputada do Bloco de Fsquerda, que questionava o seu vencimento como presidente do BPI, Fernando Ulrich lembrou-lhe que o seu vencimento era decidido e pago por uma empresa privada e perguntou-lhe por que não questionava ela também o vencimento do treinador do Benfica. Perguntou e respondeu, emudecendo-a: «porque, se o fizesse, podia perder votos e comigo não perde nenhum». É disso mesmo que se trata: o povo escandaliza-se porque um deputado recebe pouco mais de 3.000 euros por mês e um ministro pouco mais de 4.000. Mas já as fortunas que ganham jogadores, treinadores ou dirigentes, isso não escandaliza ninguém. Mesmo que depois os clubes estejam falidos e vão pedir ajudas aos governos. Pagas com o dinheiro de quem paga impostos.
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