quinta-feira, fevereiro 21, 2013

O TÍTULO ESTÁ ENTREGUE (14 FEVEREIRO 2012)

1- Tenho uma boa notícia para os benfiquistas: o próximo campeão nacional é o SLB. É claro que nós, os portistas, vamos continuar a dar luta até onde pudermos, que, até ser matematicamente possível, nada está ainda decidido, que até ao lavar dos cestos é vindima, etc. e tal. Conversa fiada: o título está entregue. E está entregue por várias razões:
- primeiro, por mérito próprio. Embora estas coisas nunca sejam retribuídas (ou só muito tardiamente), eu gosto de tentar ser justo e ver com olhos de ver: o Benfica está a fazer um grande campeonato, ao nível do FCP de Villas Boas, na época passada, e não me parece que vá quebrar, que cometa outra vez o pecado da soberba, que tão caro pagou então. Como já aqui o escrevi, reforçou-se muito bem, consegue integrar de forma perfeita os novos reforços na equipa, resolveu excelentemente o problema da baliza, e, quando solta a cavalaria no ataque, é um caso sério.
- segundo, porque o FC Porto é treinado por Vítor Pereira.
- terceiro, porque Bruno Paixão deu um empurrão decisivo no jogo do FC Porto em Barcelos no momento certo, na primeira oportunidade que teve e não desperdiçou. Aliás, para que o mérito deste campeonato do Benfica possa ser reconhecido, mais ou menos pacificamente, convinha que acabassem, com mais de três pontos de avanço sobre o Porto - para que este não fique conhecido como o campeonato do Bruno Paixão, como o anterior ficou conhecido (para nós, portistas), como o campeonato do Ricardo Costa, aquele em que o Hulk foi afastado para garantir um caminho asfaltado até à vitória.
- e, em quarto lugar, porque o jogo do título - o Benfica-FC Porto de 2 de Março — foi marcado excepcionalmente para uma sexta-feira, 48 horas depois de toda a equipa do FC Porto ter estado ao serviço das respectivas Selecções. Sim, eu sei que também haverá muitos jogadores do Benfica na mesma situação, mas no FC Porto são praticamente todos (por exemplo, três no jogo de Portugal em Varsóvia, contra nenhum do Bem- fica). Pelo que é de prever que no dia 2 de Março, no Estádio da I.uz, no jogo que tudo decidirá, o FC Porto tenha de fazer alinhar uma equipa de sonâmbulos esgotados. Vítor Pereira tem chamado a atenção para isso, mas, estranhamente ou talvez não, ainda ninguém parece ter percebido bem o que se prepara para o dia 2 de Março e até que ponto isso pode falsificar o desfecho final deste campeonato. Sobra-me, todavia, uma dúvida, que eu gostaria de ver esclarecida (aqui mesmo, nas páginas de A BOLA, porque não?}: a data do jogo está fi- xada desde o início da época ou foi marcada recentemente? É que, se foi marcada logo no início da época, é pura incompetência do departamento de futebol do FC Porto tê-la aceite então, não antecipando que, nesta altura, pudesse estar o Benfica a disputar a Liga dos Campeões e o FC Porto a Liga Europa; se foi marcada recentemente, então trata-se de uma jogada muito pouco clara e que deve ser explicada por quem de direito.

2- Vítor Pereira tem cara de ser excelente pessoa, excelente pai de família, amigo do seu amigo, trabalhador esforçado e sério. Não tenho nada, absolutamente nada, de pessoal ou profissional, contra ele e desejo-lhe as maiores felicidades na vida e no trabalho. Dito o que confesso que já não aguento mais a sua gritante, óbvia, chocante, incapacidade para o lugar de treinador do FC Porto. E estou a ser brando: acho que ele, não apenas vai perder tudo o que há para perder, como vai dar cabo de uma equipa fantástica que herdou sem saber como nem porquê. Vítor Pereira faz-me lembrar a garagem do Cristiano Ronaldo: tem lá um Lamborghini Aventator, que acabou de comprar por 350.000 euros e que veio juntar-se a um Ferrari, dois Bentleys, um Aston Martin, um Fornasari e quatro Audi, topo-topo de gama, mas não é certo que ele os saiba guiar e que não os espete dentro de um túnel, em Londres. Vítor Pereira também tem lá vários Ferraris e Lamborghinis. mas não os distingue de Fiat Puntos e Renault 5. Ele é, por exemplo, a única pessoa que não percebeu a importância do jogo de um Fucile, um Belluschi, um Guarin ou um Candeias, que agora brilha intensamente ao serviço do Nacional. Ele é o único treinador a quem é oferecida uma promessa como o Iturbe para o potenciar e, em vez disso, encosta-o em casa, condenado à ociosidade e à desmotivação (veja-se a diferença para o que Jesus fez com Rodrigo, da mesma idade). E é, seguramente, a única pessoa de todas as que vê jogar o FC Porto, que ainda não percebeu que tem um génio ao seu serviço chamado James Rodriguez e lhe prefere banalidades como o Cristian Rodriguez, o Varela ou o Djalma. Mesmo que, uma e outra vez, o James demonstre que consegue fazer infinitamente mais em meia hora do que os três juntos em hora e meia, Vítor Pereira lá continua agarrado à sua fé de que há-de conseguir fazer de um jogador mediano ou banal um grande jogador e que há-de conseguir fazer de um extraordinário jogador um jogador desmotivado e revoltado. Quando, no final do jogo contra o Leiria, lhe perguntaram se ele não achava que as coisas tinham mudado com a entrada do James, aos 60 minutos (um golo e duas assistências, face à total nulidade do Varela), ele achou que a pergunta continha um elogio à sua pessoa e tratou de explicar que acabara por o meter porque o jogo estava a precisar de alguém assim, dotado de grande técnica, útil para romper defesas baixas e recuadas. Não per- cebeu que a pergunta era porque razão, então, esperou 60 minutos para o meter em jogo - esteve uma hora à espera de um União de Leiria com defesa alta e espaços abertos? Ou esteve à espera de um Varela rápido, clarividente, rompedor, desequilibrador?

O problema com Vítor Pereira é que ele não percebe e não aprende. Qualquer um, no lugar dele, já teria aprendido imenso em sete meses ã frente do FC Porto. Vítor Pereira, não: continua igual ao que era em Julho passado. Como dizia Einstein, ele acredita que o mesmo o erro, repetido diversas vezes, há-de um dia produzir resultados diferentes. Querem saber o que ele vai fazer contra o Manchester City? Vai pôr o Maicon a defesa direito e o Hulk a ponta-de-lança. E, depois de ler várias críticas coincidentes, vai-se contrariar e meter o James de início, em lugar do Cristian ou do Varela, conforme lhe aconselhava a sua intuição. É um caso perdido, definitivamente é um caso perdido. Excelente pessoa, sem dúvida. Mas o maior falhanço naquelas funções desde que, após uma noite mal dormida, Pinto da Cosia acordou e fez de Octávio Machado treinador do FC Porto.

3- Sejamos justos: Vítor Pereira não foi o único treinador a mostrar a sua insuficiência durante o Porto-Leiria. Manuel Cajuda veio, naquela sua linguagem elíptica, hiperbólica e torcida, queixar-se da expulsão de um seu jogador, como factor determinante do desfecho do jogo. Pois, a expulsão pode ter sido rigorosa ou não, conforme a concepção que se tem do futebol: se, para defender vale tudo, até arriscar a integridade física dos adversários, então a entrada de Shaffer a João Moutinho é apenas uma banalidade do jogo. Mas Cajuda esqueceu-se que, logo a seguir houve um penalty sobre o Hulk não assinalado e que, para o Leiria — que, desde o apito inicial, defendeu sempre com dez jogadores e não criou uma só ocasião de golo — defender com dez ou onze era igual. E tanto assim era que, ao ver-se reduzido a dez, limitou-se a tirar o único suposto avançado e continuar a defender com os mesmos dez: mudou o 5x4x1 para 5x4x0. Não foi por acaso que, dos quatro golos a seguir apontados pelo FC Porto, dois foram por defesas, que já não tinham nada que fazer lá atrás. Cajuda, que se acha um catedrático do futebol e se imagina um génio da estratégia quando o seu guarda-redes evita três golos em enormes defesas, devia talvez, digo eu, usar de maior humildade. Afinal de contas, cada vez acho mais que ser treinador de futebol não é assim uma coisa tão extraordinária. Cada equipa tem um e há muitos que só o são porque cada equipa tem de ter um.

4- Um que deixou de o ser: Domingos Paciência, ao serviço ingrato do Sporting. Tem agora uma porta aberta a norte, do seu clube de sempre e onde as coisas funcionam de outra maneira.

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