domingo, fevereiro 17, 2013

O FIM DE UMA ILUSÃO (17 JANEIRO 2012)

1- Verdade se diga, os sportinguistas nunca se afirmaram claramente como candidatos ao título desta época: apenas disseram que gostariam de o ser ou, pelo menos, de serem levados mais a sério nessa luta do que o são habitualmente. Porém, uma nova direcção, a contratação de Domingos e de quase uma vintena de novos jogadores, a par de evidentes melhorias no futebol jogado, logo levaram muitos a querer concluir diligentemente que tínhamos mesmo candidato e já este ano. Como os leitores sabem, nunca foi o meu caso: a mim, sempre me pareceu evidente que o Sporting estava vários furos abaixo dos seus principais rivais em tudo, como aliás o próprio Domingos reconheceu. E, embora Luís Duque garanta que esta equipa fez já várias coisas «extraordinárias», eu não me consigo lembrar quais: sei sim que, com excepção do jogo da Luz, que perdeu, o Sporting ainda não tinha chegado aos grandes testes na Liga (e para apontar à final do Jamor, na Taça, bastou -lhe um rico sorteio, a displicência de Benfica e Porto e uma vitória caseira sobre o Braga).

Os grandes testes começaram agora... e o Sporting baqueou, embora seja forçoso reconhecer que teve alguns jogadores importantes lesionados na pior altura. Em contrapartida, não encontra a menor desculpa nas arbitragens, antes pelo contrario: só não ficou praticamente afastado do Jamor porque, mais uma vez, se aproveitou da superioridade numérica para recuperar e beneficiou de um golo irregular, já depois da hora (há um off-side posicional que claramente impede o guarda-redes do Nacional de ver a bola). E, no campeonalo, os oito pontos que Eduardo Barroso se queixa que lhes tiraram já não bastariam para os fazer igualar Benfica e Porto... Perdida a luta pelo título, perdida, sem dúvida, a luta pelo segundo lugar, ao Sporting resta levar muito a sério o desafio do Braga e tentar vencer a luta pelo último lugar do pódio e o último a dar acesso à Champions. Aliás, e esquecendo aquelas absurdas estatísticas da tal Fundação das Estatísticas do Futebol, è da mais elementar justiça reconhecer que os últimos anos têm consistentemente afirmado o Braga acima do Sporting, como o quarto grande (ou o outro médio, sendo que então haveria só dois grandes, Porto e Benfica).

No jogo de Braga com um resultado justo e previsível desde o início, mais uma vez constatei esta característica, tantas vezes fatal, dos treinadores portugueses, quando confrontados com um jogo difícil: refugiarem-se em alternativas que privilegiam o reforço do meio-campo e do jogo defensivo com jogadores certinhos e de com- tenção, em prejuízo dos jogadores desequilibradores e mais ofensivos. Querem ganhar o jogo, defendendo, em obediência ao princípio de que o melhor ataque é uma boa defesa. Assim, vimos Domingos Paciência jogar com um lateral adaptado a extremo-esquerdo - o que obrigou ainda Capel a vir para a direita, onde rende manifestamente menos - e deixando no banco aquele que é o único desequilibrador do ataque sportinguista, o miúdo Carrillo.

Para se defender da opção falhada, Domingos usou a mesma desculpa que Vítor Pereira usou em Alvalade para ter deixado James Rodriguez no banco durante 75 minutos: ambos, segundo os respectivos treinadores, tinham passado a semana com febre. Mas, se assim foi, se estavam incapazes, não se percebe porque foram convocados e sentados no banco. E se porventura a sua condição física não lhes consentia o jogo todo, não se percebe porque não arriscaram neles de início, tirando-os quando já não aguentassem, em lugar de os meter só no final, em situação de estado de necessidade. Certo é que, em ambos os casos também, assim que James e Carrillo entraram, logo o ataque das suas equipas ganhou nova alma e novo talento — tarde de mais, porém. E também não percebi porque razão, com 2-0 no marcador e avenidas abertas ao contra-ataque do Braga, Leonardo Jardim resolveu tirar o seu mais talentoso jogador e grande municiador do ataque, Márcio Mossoró, para apostar num médio defensivo, que nada trouxe de novo, apenas convidou o Sporting a vir para a frente, reduzir a desvantagem e ameaçar o empate. São estratégias que me ultrapassam....

2- James Rodriguez, aliás, não se fez esperar nem uma semana para (mais uma vez!) mostrar a Vítor Pereira aquilo que ele parece ser o único a não ter ainda entendido bem: que tem nas mãos um diamante fabuloso, que, mesmo que passe uma semana sem se treinar e com febre, vale muito mais do que um Cristian, um Djalma ou um Varela estoirando de saúde. E que não é apenas (e, se calhar, nem é sobretudo) um extremo-esquerdo fixo no lugar, mas um verdadeiro número 10, flutuando nas costas do ataque e decisivo para partidas com equipas recuadas na defesa. Contra o Rio Ave, foi o seu talento puro que resolveu a Vítor Pereira um problema que se começava a tornar preocupante, sobretudo depois da saída de Hulk, e causado por um ataque formado por três extremos-esquerdos, sem ponta-de-lança, sem lateral-direito em apoio e com um jogador tão fabuloso como Hulk deslocado da sua posição natural e fechado num colete de forças entre dois centrais, sem o espaço de que precisa para romper as defesas. A entrega dos jogadores é imensa, o esforço físico também, a motivação está lá, outra vez. Mas, do meio campo para a frente, falta uma ideia de jogo clara e eficiente, que os jogadores possam entender e servir. Se nem de fora se percebe qual é o esquema de jogo!

3- Confesso que não liguei atenção ao assunto e só despertei para ele tarde e graças a uma coisa que escreveu o Rui Moreira e outras coisas que li avulso e como se não tivesse importância. Escrevo, pois, com as cautelas devidas a quem pode estar a escapar alguma coisa. Mas parece (digo parece) que, mais uma vez, o Benfica se dedicou a uma das suas jogadas favoritas: contratar um jogador na véspera de ir defrontar o seu clube. Desta vez, esta prática tão desportiva e reveladora, deu-se na véspera da deslocação a Leiria, com a compra do avançado Djaniny. O mais grave, porém, é que parece também que essa aquisição e o sinal ou preço logo pago pelo Benfica, permitiu à direcção do União pagar aos seus jogadores salários em atraso. Ou seja, quando entra-ram em campo para defrontar o Benfica, os jogadores do União sabiam que deviam ao seu adversário os salários recebidos. Se tudo isto é verdade e aconteceu mesmo assim, será , de facto, um escândalo, que a Liga de Clubes fique em silêncio. Em Inglaterra, uma jogadinha destas teria consequências violentas para o Benfica. Parece que há por lá uma coisa a que eles chamam fair-play.

4- E, por falar em Liga e segundo também percebi, o seu novo presidente deve a eleição à compra de votos no restrito colégio eleitoral da Liga. E digo compra e não conquista (o que seria normal), porque ele ganhou a eleição prometendo aos pequenos clubes o alargamento da primeira liga, em prejuízo dos grandes (cujo problema principal é a sobrecarga de jogos dos seus jogadores, entre clube e Selecção). Foi assim eleito contra o voto dos grandes e contra o interesse da competição - que precisa sim de um campeonato com menos clubes e não com mais, e eventualmente com mais jogos, mas jogos que valham a pena e não apenas oportunidades de transmissões televisivas. Confesso que nunca tinha ouvido falar no Dr. Mário Figueiredo e desconheço por completo qual seja o curriculum que o torna adequado ao cargo. Mas já fiquei a perceber como é que lá chegou. E o que percebi não é grande recomendação.

5- O Sporting, que tão mal tem gerido o assunto das imagens do balneário dos visitantes em Alvalade, resolveu, além de proibir a entrada do jornal Público nas suas instalações, instaurar-lhe uma acção em que, dizem, vai exigir um milhão de euros de indemnização. Pois, acções judiciais qualquer um pode instaurar e pode-se pedir os milhões de indemnização que se quiser, desde que se seja rico, como Sporting é, e se possa deitar fora um dinheirão em custas judiciais: o Estado agradece. Mais difícil é provar os danos causados pela simples revelação de um facto — a divulgação das fotografias do túnel do balneário. Sobretudo, quando são eles próprios a dizer que as ditas fotografias são perfeitamente aceitáveis e banais - aliás, recomendáveis. Em que ficamos, afinal: são óptimas para serem vistas pelos adversários, mas difamatórias se reveladas a terceiros?

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