terça-feira, fevereiro 26, 2013

A REVOLTA DOS PEQUENOS PRESIDENTES (20 MARÇO 2012)

1- Os jogadores do Vitória de Guimarães, do Vitória de Setúbal e do União de Leiria não recebem ordenados há três meses: entram em campo para lutar pela vitória ou pelos pontos sem saberem quando e se alguma vez verão o dinheiro estipulado nos seus contratos. E falo apenas dos casos mais conhecidos, pois consta por aí que os salários em atraso atingem a quase totalidade dos clubes da primeira e segunda divisão. Esperava-se que o novo presidente da Liga de Clubes se preocupasse com isso, que tomasse medidas para evitar essa vergonha ou, pelo menos, para impedir que clubes com dívidas a jogadores possam continuar tranquilamente a contratar outros - o que é também uma forma de concorrência desleal. Mas não, o que preocupa o novo presidente da Liga é assegurar aos chamados pequenos clubes o cumprimento da sua promessa eleitoral do alargamento da primeira divisão, para repor uma competição a 18 para a qual o país não tem população que o justifique e o nosso futebol não tem capacidade desportiva ou financeira que o sustente. Em lugar de reduzir a primeira divisão a doze clubes, jogando a quatro voltas (primeiro, todos; depois, em duas séries, dos seis primeiros e dos seis últimos), num sistema que toda a gente de bom senso e boa-fé reconhece ser o mais adequado e competitivo, atraindo mais publico e mais receitas, Sua Excelência promove o alargamento. Não para defender o futebol, como lhe competia, mas para defender os interesses dos clubes que o elegeram, tirando-o do absoluto anonimato, em troca dessa miserável combinação.

O Dr. Mário Figueiredo, na pele de um Robin Hood do futebol português, é simplesmente ridículo. Claro que, em teoria, todos defendemos que haja maior igualdade e competitividade entre os grandes e os pequenos: não há ninguém que não goste de ver um Braga a lutar pelo título, por exemplo. Mas isso não se faz artificialmente, por regras adoptadas ad-hoc e em ambiente comicieiro de assembleias gerais a que chamam democráticas. Por mais que o Sr. Figueiredo e os seus compères queiram alargar para 18 ou para 20 a primeira I.iga, por mais que ameacem a Olivedesportos de queixas e processos ou que ameacem os grandes com greves (como esse génio do presidente do Gil, que tantos benefícios tem trazido ao futebol português), restam os factos, os míseros factos, que contrariam as suas ambições: onde estão as infraestruturas, onde está o público, onde estão os patrocinadores e os anunciantes, onde está alguém interessado em concorrer com a Olivedesportos pelos direitos televisivos do nosso campeonato, que possa sustentar esses pequenos numa primeira divisão, de outra forma que não seja a de não pagarem impostos nem salários? Nós vemos um jogo em Birmingham, do campeonato inglês, em Hannover, do campeonato alemão, ou em Málaga, do campeonato espanhol, e o que vemos? Estádios quase sempre cheios, relvados impecáveis e de dimensões máximas, equipas pequenas a jogarem aberto e para ganhar. Mas vemos um jogo em Barcelos, em Setúbal, em Leiria, e o que vemos? Bancadas vazias, campos sem a dimensão máxima, equipas a jogarem o jogo do autocarro. E esperam assim ter público, ter sócios, ter anunciantes, ter disputa pela cobertura televisiva dos jogos? Não, eles esperam apenas duas coisas: aproveitar os jogos com os grandes para facturarem os direitos televisivos e os bilhetes ao preço máximo, e conseguirem o miraculoso pontinho que lhes pode vir a ser muito útil para continuarem ao mais alto nível. Uma greve dos pequenos aos jogos com os grandes, como promete o Sr. Fiúza, seria uma coisa assustadora. E que tal uma greve dos grandes aos jogos com os pequenos?

Nunca dei para o peditório nacional dos coitadinhos dos pequenos do nosso futebol, devorados pelos grandes. E não dei, por uma razão simples: porque o problema não está nos nossos grandes, que não são grandes de mais; o problema está nos pequenos, que são pequenos de mais. Porto, Benfica e Sporting estão muito aquém do nível de clubes médios dos campeonatos que interessam, e tomaram eles que os pequenos assegurassem bem mais competitividade e interesse do público. Mas, infelizmente, os nossos pequenos estão muito aquém de qualquer clube de segunda divisão dos campeonatos competitivos. Umas vezes, por razões inelutáveis, de ordem econó- mica, demográfica ou social. Outras vezes, a maior parte delas talvez, por razões de má gestão, ambições não sustentadas e total falta de respeito pela qualidade dos espectáculos que proporcionam. Não penso que seja função do Porto, do Sporting, do Benfica e até do Braga, ter de apoiar os desejos de vaidade de alguns patos bravos, amigos do autarca local e ansiosos por reconhecimento púbico e promoção social, auto-erigidos em dirigentes desportivos, sem qualquer competência que os recomende para tal.

2- Para um portista, é uma estranha sensação ver os nossos principais rivais seguirem em frente na Europa - um para os quartos da Champions, outro para os da Liga Europa — e nós de fora, a ver passar o comboio. Como já disse, acho que tivemos muito azar no sorteio da Liga Europa, onde nem sequer o facto de sermos o detentor do título nos assegurou um lugar de cabeça-de-série no sorteio dos dezasseis avos finais. Mas, como o Sporting o demonstrou, e brilhantemente, o Manchester City não era invencível. Teria sido necessário estudar melhor o adversário, ultrapassar o terror que nos paralisa face a equipes inglesas e não cometer erros fatais, tais como oferecer um golo aos 20 segundos de jogo. A verdade é que, em vez de termos «jogado à Porto» - como sentenciou Vítor Pereira, depois de levar 4-0 em Manchester - deveríamos era ter jogado à Sporting. Quem o diria!

O Sporting foi compensado com o seu brilharete face ao City, recebendo no sorteio a mais acessível das equipes que lá estavam, aqueles ucranianos com nome de fábrica dos tempos soviéticos. E o Benfica recebeu quem Jorge Jesus queria - e por alguma razão o queria. Um Benfica com uma noite inspirada e outra disciplinada, pode bem levar de vencida o Chelsea.

3- Não prevejo nenhum desfecho em particular para o jogo de hoje à noite na Luz, mas espero que os jogadores portistas não tenham ouvido as palavras de Pinto da Costa, tirando importância ao jogo. Nem consigo perceber como é que o presidente do FC Porto disse tal coisa; então, fomos corridos, sem honra nem glória, da Supertaça europeia, da Taça de Portugal, da Liga dos Campeões, da Liga Europa, tanto podemos ganhar o campeonato como acabar em terceiro, e o presidente do FC Porto acha que não se justifica um esforçozinho para ganhar na Luz e conquistar, pelo menos, o Troféu Lucílio Baptista?

Aliás, contenção de esforços é o que mais temos visto nos últimos jogos, com a Académica no Dragão, e com o Nacional na Madeira, em que só graças a Helton saímos com os três pontos. Não estamos na Europa, não estamos na Taça, andamos poupados no campeonato, que razão sobra para irmos à Luz sem obrigação de tudo fazer para ganhar? Aliás, nem vejo que jogadores principais deveriam ficar a descansar, visto que, e após as generosas cedências e empréstimos da época de Dezembro, nem sequer temos tido 18 jogadores para a ficha técnica dos jogos, sem recorrer aos juniores. (Um dia ainda me hão-de contar quem teve, por exemplo, a avisada ideia de ficar apenas com quatro médios e um ponta-de-lança a meio da época, quando ainda disputávamos a Champions e o resto!).

Pois, eu cá por mim não concedo nada: quero ganhar na Luz logo à noite!

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