terça-feira, fevereiro 19, 2013

BRUNO PAIXÃO E VÍTOR PEREIRA: A FIRMA FATAL (31 JANEIRO 2012)

1- O futebol profissional é hoje um negócio de milhões, que não se compadece nem com amadorismos nem com incompetências larvares. Muitas vezes acontece, e há de continuar a acontecer, um clube ser prejudicado ou beneficiado por determinada arbitragem: aconteceu no sábado ao Benfica, que ganhou um jogo que não mereceu ganhar graças à actuação de um juiz-de-linha que parecia apostado em impedir qualquer hipótese de golo do Feirense. Também aconteceu domingo ao Sporting ganhar ao Beira-Mar com dois golos de um jogador que, segundo as regras em vigor, deveria ter sido expulso no primeiro minuto. São coisas que acontecem, umas vezes é-se beneficiado, outras é-se prejudicado, e o único clube que se acha sempre prejudicado – até quando é beneficiado, como anteontem - é o Sporting Clube de Portugal. Este ano as coisas por cá (e à excepção das eternas lamúrias dos sportinguistas), até estavam a correr razoavelmente bem, com queixas e benefícios repartidos. No que ao FC Porto respeita, toda a gente dos rivais o viu como beneficiado no jogo da 1ª jornada, em Guimarães, ganho de penalty — e em mais nenhum. Porém, a critica foi unânime em considerar que esse penalty existiu mesmo, assim como tinham existido quatro outros não assinalados a seu favor oito dias antes, no jogo da final da Supertaça contra o mesmo Guimarães. De então para cá, vi várias vezes o FC Porto ser alvo de arbitragens hostis (como contra o Guimarães, outra vez, ainda na semana passada), mas a equipa foi ultrapassando os azares com os árbitros sem consequências palpáveis à excepcão do jogo de Olhão, onde deixou dois pontos, graças a um erro de arbitragem.

Porém, tudo muda quando entra em cena um árbitro que já todos conhecem de ginjeira e todos sabem ao que vem. Desde o inesquecível jogo de Campo Maior que não resta dúvida alguma do objectivo que trouxe o sr. Bruno Paixão para o futebol. Porque, de facto, nunca na minha vida tinha visto actuação tão chocante como essa, escrevi então que aquele árbitro devia imediatamente ser afastado do futebol, quando ainda estava no início uma carreira da qual era de esperar o pior possível. Porém, e como é costume lusitano, quando se inicia uma carreira pública não há forma de a parar, sem ser por vontade do próprio. Bruno Paixão lá foi fazendo a sua carreira sempre subindo, claro - apesar de ter sempre mostrado exuberantemente que, tal como era de temer, é capaz de não ter pinga de isenção nem pinga de competência. Ele é, por opinião unânime (excepto, seguramente, a dos benfiquistas de má-fé) o pior árbitro em actividade na primeira categoria. E, quando a isso junta um histórico, sem desfalecimentos, de prejuízo ao FC Porto e benefício ao Benfica, é pura provocação nomeá-lo para um jogo do qual pode depender a escolha do campeão entre Porto e Benfica.

Chamado a Barcelos, Bruno Paixão não falhou na sua missão. De acordo com o consenso geral da critica, teve três erros que influíram directamente no resultado: validou mal um golo ao Gil e perdoou-Ihe dois penalties — o suficiente para que o resultado, em lugar de ter sido 3-1, tivesse sido 2-3. E, como não há dúvidas nesses trés lances, falarei apenas de mais um, também decisivo (e partindo do princípio, que a televisão não conseguiu demonstrar, de que o terceiro golo do Gil não parte de off-side). Esse outro lance é aquele de que resulta o primeiro golo do Gil e que é eloquente da senha de Bruno Paixão contra o FC Porto: dois jogadores, um de cada lado, disputam a mesma bola, levantando o pé exactamente à mesma altura. Decisão dele: livre contra o Porto. Porque, pergunta-se, e a resposta só pode ser uma: porque sim.

Que o FC Porto jogou péssimamente, jogou. Mas que perdeu por que o Gil jogou bem, não é verdade. O Gil Vicente jogou bem contra o Benfica, um jogo que bem mereceu ganhar. Contra o FC Porto, em vão se procurará, alem dos três golos, qualquer outra oportunidade, um remate perigoso, uma defesa apertada do Helton; nada disso existiu. O Gil teve menos de metade de posse de bola que o FC Porto, menos de um terço dos remates à baliza, um quarto dos ataques e zero cantos contra seis. A «eficácia» de que falou Paulo Alves traduziu-se em aproveitar em golo um livre e um penalty mal assinalados.

Não foi o Gil Vicente que venceu o FC Porto e que pôs fim à tentativa de recorde de invencibilidade. Com todo o respeito pelos esforço dos seus profissionais, quem venceu o FC Porto foi Bruno Paixão e ninguém mais. Provavelmente terá conseguido até evitar pela segunda vez que o Porto seja campeão. Um certo futebol, um certo sistema, recordará para sempre seu nome com entusiasmo. E, entretanto, para aí vai continuar, a fazer mais do mesmo, como se nada fosse. Se querem saber como é que Portugal desceu onde desceu, ponham os olhos no caso de Bruno Paixão. A impunidade de que goza é o exemplo acabado da regra de jogo, entre nós.

2- É claro que a «vergonhosa» prestação de Bruno Paixãoe e seus acólitos serviu às mil maravilhas a Vítor Pereira para explicar a derrota. Isso e a péssima primeira parte dos jogadores. Mas basta olhar para a equipa que ele escolheu para a primeira parte para antecipar o que ia suceder. Confrontado com a ausência de Hulk, como eu sempre temi, Vítor Pereira mostrou não ter nenhum Plano B - pelo contrário, pareceu-me mesmo que ele não realizou a necessidade de reforçar o poder desequilibrador ofensivo de outra forma. Só isso explica que mantenha o Maicon a lateral direito, sabendo que ele defende bem mas não ataca. Desfez-se tranquilamente de um lateral da categoria do Fucile, encostou o Sapunaru e, tendo finalmente recebido o Danilo, por quem se pagou uma fortuna, continua a ver «onde é que ele pode encaixar»; no Santos e na selecção brasileira, faz todo o corredor direito; no FC Porto de Vítor Pereira, ainda não se sabe para que serve. Mas Vítor Pereira também não percebeu ainda que só tem um médio criativo de ataque (visto que, misteriosamente também, abdicou do Guarín, que interessa ao Inter e à Juventus, mas não ao clube que lhe paga): esse médio é, como toda a gente sabe, o Belluschi, ao qual ele prefere um jogador completamente banal como Deffour ou outro completamente previsível, como João Moutinho, ainda por cima jogando a um ritmo de Dormicum. Em Barcelos, Vítor Pereira juntou ainda mais uma escolha que mostra a profundidade do seu pensamento estratégico: na hora do tudo ou nada, quando se pedia um jogador repentista no drible e no remate, ele meteu...o Cristian Rodriguez, deixando mais uma vez no banco, em «processo de adaptação», o miúdo Iturbe, de quem meio mundo diz maravilhas e já pensa recuperar de volta, face à inutilidade a que o votou o treinador nortista.

Ao fim da primeira parte do jogo de Barcelos, o FC Porto não tinha criado uma oportunidade de golo e, que me lembre, não tinha sequer feito um remate à baliza. Toda a gente o viu, até Vítor Pereira. A minha pergunta é: para que precisou ele de 45 minutos, dois golos de desvantagem e duas páginas de apontamentos para reagir ao que estava a ver?

3- Há um outro problema a carecer de uma solução urgente neste FC Porto: o sistema de jogo, de há muito implantado e com óptimos resultados, pede um ponta de lança e o sacrifício de Hulk nessa posição não resolve o problema e enfraquece o flanco. E, manifestamente, Kleber não serve. Estamos perante um daqueles casos em que um bom avançado de uma equipa média não resulta numa equipa grande: um avançado-centro de uma equipa como o FC Porto, que faz 47 ataques num jogo, não pode estar até ao minuto 90 para finalmente conseguir um remate à baliza. Kleber, para já, pelo menos (e já é o que interessa), tem o oposto do instinto matador que deve caracterizar qualquer bom ponta-de-lança: nunca consegue que os companheiros o encontrem desmarcado, nunca consegue estar onde a bola vai aparecer. E nenhuma equipa pode aspirar a um título sem um guarda-redes que evite golos e um ponta-de-lança que os invente. Alguém que, como disse Falcão, transforme o impossível em possível — ao menos, de vez em quando. Foi o grande erro de planeamento desta época, cometido pelo FC Porto. Mas, atendendo ao estado de urgência absoluto, não seria de experimentar um júnior?

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