segunda-feira, fevereiro 18, 2013

O PESADELO DE MOURINHO (24 JANEIRO 2012)

1- Muitos anos depois de deixar de ser treinador, José Mourinho ainda há-de ter pesadelos com o Barcelona de Guardiola, com Messi, Xavi, Iniesta, Fabregas e Cª. Noites a fio, ele há-de procurar em vão o sono, fechará os olhos para dormir e tudo o que conseguirá é ver imagens de um relvado a perder de vista onde um grupo de homens equipados à Barcelona dançam por entre figuras brancas, inertes, passando por elas uma e outra vez, até as fazerem cair para o chão de tonturas. O Barcelona tem sido impiedoso com o Real de José Mourinho: 73% de posse de bola em pleno Chamartin, lições de futebol sucessivas e confrangentes, Messi ofuscando em génio e eficácia um Cristiano Ronaldo desamparado de deuses e homens, reduzido à condição de lebre cega a correr atrás de bolas atiradas lá para a frente em desespero (e a tanlo se resumindo o ataque do Madrid) . Esta cena repete-se jogo após jogo, com a fatalidade das coisas irremediáveis, até chegar inevitavelmente à questão mais angustiante para Mourinho: será este Barcelona de Guardiola que é imbatível ou será este Real Madrid que não consegue encontrar a receita para, ao menos de vez em quando, o conseguir travar?

Não obstante os cinco pontos de avanço no campeonato, não obstante uma primeira fase da Champions 100% vitoriosa, não obstante os 4-1 ao Bilbao anteontem, Mourinho começa a escutar os primeiros assobios das bancadas do Bernabéu. Nada disso é suficiente para a affición madridisla: a guerra Real-Barça, ou Castela- Catalunha, é uma guerra particular, em que nenhumas outras vitórias laterais podem compensar sucessivas humilhações de uma das partes às mãos da outra. E, quando chega a hora da verdade, o Barça, não apenas ganha, como também humilha o Real: redu-lo à condição de equipa menor, mendigante, perdida em campo, não parecendo ter qualquer ideia do que fazer. E, para agravar as coisas, Mourinho não sabe perder, enquanto que Guardiola é um senhor a vencer. Lendo a imprensa espanhola dos últimos dias, percebe-se que Mourinho está agora na angustiante situação em que, quinhentos anos atrás, se encontrou outro português também com o orgulho e a angústia de comandar outra armada de Castela: Fernão de Magalhães. Também então Magalhães teve de arrostar com a surda revolta dos seus capitães espanhóis, que viam em qualquer desaire momentâneo ou em qualquer hesitação sua um sinal infalível da incompetência do português. A determinada altura da sua longa e desesperada busca do paso que ele sabia unir o Atlântico ao Pacífico e às «ilhas das especiarias», algures na ponta meridional do continente americano. Magalhães recolheu-se a uma baía para invernar e aproveitou uma tímida dissensão dos capitães espanhóis para cortar o mal pela raiz: matou dois deles e largou os outros em terra, abandonados de tudo.

Mas Mourinho não pode seguir o exemplo de Fernão de Magalhães nem se pode dar por vencido, porque isso seria deitar ao chão e pisar uma carreira de triunfo e uma aura de vencedor, que são a sua razão de ser. Ele não pode abandonar Espanha antes de ter encontrado o paso para dobrar este incrível Barcelona. Mas, entretanto e friamente, a Espanha agradece-lhe o fracasso: graças a ele, graças às sucessivas tareias futebolísticas que o Barça dá no Real, os desejos independentistas da Catalunha andam adormecidos: fosse a Catalunha independente, e, em lugar destas jornadas gloriosas de Madrid, o FC Barcelona estaria limitado a disputar o título de campeão da Catalunha com o Espanhol de Barcelona. Mais vale reinar em toda a Espanha sem ser independente do que reinar independente no quintal da Catalunha.

2- Quanto ao nosso Pepe, é evidente que, na melhor das hipóteses, estamos perante um caso clínico, do foro psiquiátrico. Por sorte sua, ele é um superdotado para o futebol: se o não fosse, seria certamente um caso triste, na vida comum. Mas, tendo tido a sorte de jogar num clube como o Real Madrid, pago a peso de ouro, com estádios cheios a aplaudi-lo e uma vida de luxo; tendo lido a sorte de representar a Selecção de um país que o acolheu como seu; e tendo tido ainda a sorte de ter sido perdoado, com uma leve pena, para a brutalidade do seu comportamento contra um adversário (Casquero), Pepe não tem mais perdão. Tomara tantos e tantos milhares de miúdos com jeito para o futebol terem tido a sorte que ele teve e as oportunidades de que dispôs! Infelizmente, a dúvida de saber se algum dia ele arrepiará caminho tem toda a razão de ser. E tem-na, sobretudo, porque, quando devia pedir perdão pelo seu ges-to inqualificável sobre Messi, ele preferiu vir dizer que foi sem intenção - como se o mundo inteiro não o tivesse visto a olhar bem para ver onde estava a mão de Messi, para não falhar a pisadela com os pitons. Paulo Bento tem de meditar muito bem se vale a pena continuar a contar com Pepe na Selecção: se vale a pena como estratégia e se vale a pena como exemplo.

3- Outro português às voltas com os castelhanos: Carlos Pereira, presidente do Marítimo e recente vencedor não oficial das eleições para a Liga de Clubes. O mesmo Carlos Pereira que fez a guerra que fez com a ida de Kléber para o FC Porto, que obrigou o jogador a ficar mais um ano, contrariado, no Marítimo, que apregoou que com ele ninguém fazia farinha, o que fez ele agora com a deserção de Babá para o Sevilha, que fez ele com a humilhação de ver o jogador apresentado publicamente em Espanha quando ainda nem sequer tinha rescindido com o Marítimo e não havia acordo entre os clubes? Pois, fez apenas isto: foi a Espanha a despacho, assinar com o Sevilha a cedência do jogador, pelo preço que os espanhóis queriam e nas condições deles! Grandes bravatas... para uso interno.

4- Muito gostava que alguém da direcção do FC Porto viesse explicar o estranho e nebuloso contrato de compra do Danilo ao Santos, envolvendo 18 milhões de euros, seis meses de espera e a cedência gratuita do Fucile por um ano. E gostava de perceber como é, depois de tanta espera e tanto empenho, o treinador Vítor Pereira veio declarar que é preciso ir descobrindo quais são as características do jogador e como é que ele se poderá encaixar na actual equipa. Como, ainda não sabe?

E, já agora, gostava também de perceber porque razão o FC Porto apenas consegue emprestar os jogadores que quer vender, enquanto que a nós ninguém nos empresta ninguém: vendem caro, definitivamente e com contratos de longa duração.

5- Tinha três certezas, antes do FC Porto-Guimarães: que o Hulk não seria recuperado a tempo (porque as avaliações do departamento médico são sempre mais optimistas do que a realidade); que o Danilo não iria jogar de início (porque o treinador não prescinde de o ir «adaptando»); e que, entrando o Danilo, ficaria de fora o Iturbe (pela mesma razão, acrescida). Tudo bateu certo, mas, felizmente, as coisas correram melhor do que o costume. E achei um modelo de anti-desporlivismo as declarações de Nuno Assis, no flash-interview: como é possível conseguir queixar-se de uma arbitragem (mais uma...) tão chocantemente anti-portista que quase conseguia alterar o resultado?

Aquilo que não esperava de todo foi a lição de bola que o Gil Vicente deu em pleno estádio da Luz. Um Benfica totalmente desinspirado ficou a dever a vitória a uma defesa imensa de Artur (o seu melhor jogador) e a um remate feliz de Rodrigo. Duas oportunidades, três golos: espero bem que não seja já a estrelinha de campeão.

6- E uma palavra final para aquele que considero o maior campeão português de todas as modalidades: Nelson Évora. O seu azar foi tremendo, mas a sua força de vontade não fica atrás. Espero bem vê-lo ainda em Londres, no próximo Verão, como ele tanto merece.

Sem comentários: