sábado, fevereiro 23, 2013

O JOGO E A JOGADA DE SEXTA-FEIRA (28 FEVEREIRO 2012)

1- Jorge Jesus contessou que foi o Benfica que pediu a antecipação do jogo do título para a próxima sexta-feira. Pediu e a Liga deu (como não?). E perguntou o treinador benfiquista se alguém acha que o jogo deveria ser antes no sábado ou no domingo, tendo o Benfica a 2ª mão contra o Zenit na terça-feira seguinte, em Lisboa. Eu respondo: não, nem no domingo, nem no sábado, nem na sexta. Se o Benfica e a Liga estivessem apenas um bocadinho preocupados com a tal verdade desportiva com que enchem a boca até se babarem, tinham proposto ao FC Porto uma data a meio de uma semana em que não houvesse jogos europeus nem das selecções e ambos estivessem assim em pé de igualdade.

Mas, depois de ver as últimas prestações do Benfica, o evidente cansaço e desinspiração de uma equipa cujo futebol já aqui elogiei, eu percebo a jogada: Jorge Jesus conhece bem a equipa e sabe que tem de lançar mão de tudo o que puder para garantir que nâo deixa fugir um campeonato que já parecia ganho, sem problemas. Para nós, portístas, já será uma sorte se não forem buscar o Bruno Paíxáo para árbitro...

Entre os 15/16 jogadores mais utilizadas por ambas as equipas, o Benfica terá quatro deles ausentes ao serviço das selecções, mas jogando à terça e à quarta, com dois e três dias para descansarem antes do clássico; o FC Porto terá oito ausentes, jogando à terça, quarta e quinta, com a maioria a chegar na véspera de terem de viajar para a Luz (além do caso notável de James, que chega no próprio dia, depois de doze horas de voo e qua- tro fusos horários de diferença).

Avisadamente, ambos trataram de arranjar maneira de minimizar os danos com os jogos das selecções: o Benfica, re-lesionando Rodrigo, subitamente recaído da dor na coxa do jogo de há duas semanas em S. Petersburgo – que, todavia, o não impediu de jogar cinco dias depois, em Guimarães (que imprevidência do departamento médico!); o FC Porto, arrancando uma dor muscular a Varela, no jogo do passado domingo contra o Feirense, logo após ter consumado mais uma das suas habituais entregas de bola ao adversário.

Convenhamos que, até nisto, o Benfica leva vantagem sobre o Porto: vale a pena ter o Rodrigo poupado e pronto para o clássico (o pai já garantiu que o filho estará capaz), mas ao FC Porto o que teria valido a pena era ter posto o James a jogar de inicio contra o Feirense, tê-lo deixado resolver o jogo e depois faze-lo sair lesionado, em vez do Varela. Mas isso era se Vítor Pereira conseguisse perceber a diferença abissal de qualidade que existe entre James e Varela, coisa que ele ainda não percebeu, apesar de mais uma eloquente demonstração anteontem.

O que mais me espanta (ou já não espanta!), é que esta golpada com o jogo do título se consume perante o silêncio e a passividade da Direcção do FC Porto — para além de umas piadas inconsequentes de Pinto da Costa. Na verdade, o que me espanta é a passividade total ao longo da época: foi assim agora, como foi assim perante a escandalosa arbitragem de Barcelos, com os insultos que nos dirigiu o Manchester City, declarando- nos carteiristas antes do jogo e racistas depois dele, como foi assim com o total amadorismo com que o plantel foi construído (ou, melhor dizendo, destruído), no mercado de Verão e no mercado de Inverno, ou como se tem pactuado com um treinador que se dá ao luxo de tudo perder e ainda desperdiçar e desmotivar os melhores talentos que lhe foram confiados: James, Ilurbe, Fucile, Belluschi, etc.

Estou desacompanhado, pois, mas repito: a marcação do Benfica-Porto para sexta-feira, na Luz, é das maiores golpadas a que me lembro de ter assistido, desde que olho para esta coisa a que chamam futebol português.

2- Eu que não os conhecesse! A pressão sobre o árbitro do jogo da Luz vai ser outra das armas decisivas para o ataque ao título. E começou por antecipação, como convém, com o jogo de Coimbra: Aimar ganha a frente da jogada a um adversário, trava e espera pelo contacto dele nas costas, impossível de evitar, para se atirar para o chão e pedir penalty. Era assim que queriam ganhar. Ou então com um remate a dois metros do Bruno César que encontrou o ombro (o ombro!) de um adversário e que também, dizem eles, era penalty.

Como já o escrevi inúmeras vezes, tenho o maior desprezo por esta nova táctica (porque é disso que se trata) de instruir os jogadores a chutarem contra o corpo dos adversários, em busca de um braço, uma mão, e agora até um ombro, salvador, que possa resolver jogos de uma forma mais eficaz do que o talento e o trabalho. Uma imprensa complacente e uns árbitros que lhes fazem a vontade estão, aos poucos, a mudar a lei e a apostarem no anti-jogo. É curioso ver como o Sporting - o maior reclamante deste tipo de penalties, como de tudo o resto – só conseguiu evitar a eliminação as mãos do Legia e a possibilidade de seguir em frente para a eliminação face ao Manchester City, porque o arbitro do jogo de Alvalade não era adepto do mesmo critério e perdoou a Polga uma braçada, essa sim, com todo o ar de manobra voluntária. Mas, se tem sido ao contrario, num jogo cá do burgo, imaginem quantos comunicados não teria feito a SAD do Sporting?

3- Da próxima vez que um sorteio europeu ditar uma equipa inglesa no caminho do FC Porto, eu acho que devemos ficar em terra e entregar logo a eliminatória na secretaria. Não há nada mais a fazer: de cada vez que o clube atravessa a Mancha, já se sabe que vão para perder, sem apelo nem agravo. E o cagaço já é tanto, que raro é o jogo em Inglaterra onde, a acrescer às dificuldades naturais, não aparece uma oferta portista escandalosa: ou é Helton, ou Bruno Alves, Otamendi, logo aos 20 segundos. Parece que, enquanto não se encontrarem a perder, eles não conseguem sequer respirar e estabilizar um pouco. Mas, de todas as penosas e garantidas derrotas na terra de Isabel II, as que mais me custam a engolir são contra os clubes de Manchester: porque são mal-educados, arrogantes, tratando-nos como selvagens e indígenas - eles, que não passam de novos ricos do futebol, sustentados por milionários do petróleo do Texas, sheiks árabes sem saber o que fazer ao dinheiro, ou oligarcas da máfia russa, em busca de estatuto e máquina de lavar dinheiro sujo. E, quando se tem dinheiro para comprar tudo o que é talento à face do planeta, não é difícil ganhar aos pobres. Nem é preciso ser Sir para isso.

Desta vez, nem sei o que foi pior: se os seis golos sofridos na eliminatória em apenas dez ataques do City; se o golo terceiro mundista sofrido aos 20 segundos; se a facilidade com que os homens do City dispuseram dos nossos a seu belprazer, assim que se aborreciam de nos ver rendilhar, ladear e voltear, todos contentes porque tínhamos a posse de bola ou se o pior de tudo ainda não terão sido as patéticas declarações de Vítor Pereira sobre o «magnifico» jogo que tínhamos feito, a «mentira» do resultado e a «injustiça» da vitória do City. Sinceramente, gostava de ver o que escreve ele naquele caderninho com que se entretém durante os jogos e enquanto consulta aquele adjunto de óculos à Milton, em tom azul. Será um romance? Uma comédia? Um livro de desabafos ou de confissões íntimas, género "Como eu levei 4-0 num jogo que merecia ganhar?, 'Como descobri que o Cristian Rodriguez vale por dois James e o Varela vale por três ', Como passei do comando de uma equipa da terceira divisão para o do campeão nacional, com resultados surpreendentes ou, mais provável mente, o futuro best-seller 'Como consegui destruir uma grande equipa sem dar por nada”

Ai, Deus, haja paciência! Até sexta que vem, há que continuar a acreditar em milagres!

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