domingo, fevereiro 24, 2013

E DAQUI A UNS DIAS ESTAMOS DE VOLTA! (06 MARÇO 2012)

1- Umas horas antes de começar o Benfica-Porto, disse à BOLA TV que o Benfica era favorito, não apenas por jogar em casa (o que era o menos), mas por ter muito menos jogadores cansados pelos jogos das selecções e respectivas viagens. E, sobretudo, por não ter o seu melhor jogador do momento a regressar de uma viagem transatlântica no próprio dia do jogo e depois de ter jogado uma partida quase inteira 48 horas antes, como sucedia com James, do FC Porto: achei que a estratégica da marcação do jogo para esta data iria ser um factor determinante e contra o FC Porto. Mas tambem acrescentei que esse favoritismo era contrariado pelo que eu sabia ser um espirito de vitória, uma atitude de campeões, que é muito superior no FC Porto e que eu esperava que viesse ao de cima. Tudo ponderado, apostei num 0-0, resultado do cansaço e do temor de ambos em perder o jogo.

Nesta última parte, enganei-me redondamente: foi um jogo aberto, emotivo, cheio de golos. Mas não me enganei na outra parte, porque o grande clássico a que se assistiu ficou a dever-se, antes de mais, à atitude de conquista do FC Porto, que, desde o apito primeiro do árbitro, mostrou que tinha vindo para ganhar e não para empatar.

Acreditem ou não, ao longo dos anos tenho desenvolvido uma espécie de premonição sobre o que vão ser os jogos do FC Porto, a partir da postura com que a equipa os inicia. No jogo de sexta-feira na Luz, eu percebi que o FC Porto só muito dificilmente não ganharia o jogo. Enquanto o FC Porto entrou à campeão, o Benfica entrou cheio de medo: medo do passado recente, medo de um adversário sem medo. E com o público a tentar puxar pela equipa assobiando todas as intervenções de jogadores portistas e, em especial, de Hulk, o FC Porto foi construindo uma teia que já se adivinhava como iria acabar: com o fantástico golo do Hulk. Nunca percebi e nunca perceberei porque se assobiam os grandes jogadores, só por serem adversários: o público teve o que merecia. E o Porto disse ao que vinha.

Até aos 20 minutos, só deu Porto e o jogo podia ter morrido aí, se Janko tivesse marcado um golo fácil, depois de isolado por Lucho na cara de Artur, ou se Alvaro Pereira não tivesse também desperdiçado a recarga. Com um pouco mais de fé e de insistência, o Porto tinha arrumado ali um Benfica em que a defesa disparatava em pânico, o meio-campo não segurava a bola e o ataque não existia. Depois, um alivio defensivo de costas de Maxi Pereira resultou num balão que sobrevoou meio-campo e foi encontrar Cardozo isolado na área, em jogo por centímetros: Helton salvou. Subitamente, o Benfica começou a ganhar cartões amarelos e livres próximos da área - o que toda a gente sabe que é a sua mais eficaz arma ofensiva. Por culpa própria, o FC Porto perdeu o controlo do jogo e, sem que o Benfica fizesse muito por isso, deixou-se empatar, num golo de sorte à saída de uma bola parada, com vários ressaltos a encontrar outra vez Cardozo isolado e milimetricamente em jogo. Aimar teve também uma boa oportunidade (a única em jogada de bola corrida do Benfica), mas que nâo chegou a sê-lo porque ele não sabe cabecear. E Moutinho arrancou tinta à trave, na cobrança de um livre que tinha Artur batido. O empate ao intervalo até podia aceitar-se, mas o melhor jogo fora indiscutivelmente do FC Porto.

O Benfica chegou ao 2-1, de novo sem nada fazer por isso, na inevitável cobrança de um livre, mil vezes ensaiado e já visto, mas que Otamendi (tanta insegurança, meu Deus!) ainda não tinha visto: de novo Cardozo, o jogador do Benfica que eu mais temo. Pensei então que o FC Porto podia perder, mas isso não fazia sentido nem tinha ponta de justiça. Felizmente, havia um trunfo guardado: a lesão de Varela não deixava a Vítor Pereira outra hipótese que não meter em jogo James, mesmo com os fusos horários trocados, o sono e o cansaço acumulados. E foi então que Vítor Pereira me surpreendeu pela positiva e talvez pela primeira vez: para a entrada de James fez sair Rolando, confiando que Djalma chegaria para um desinspirado Gaitan, e devolveu Maicon ao seu lugar natural, como central. Com isso, ganhou várias coisas: estabilizou o centro da defesa, onde Maicon é neste momento o melhor elemento, corrigindo o erro recorrente de o desperdiçar a lateral, onde é apenas banal; ganhou um defesa-extremo, na pessoa de Djalma; fez entrar aquele que é actualmente o melhor jogador da equipa e o seu grande desequilibrador e que, por uma vez, se percebia que tivesse ficado no banco de inicio; e, sobretudo, num momento decisivo, mostrou que queria ganhar o jogo, ao contrario de Jorge Jesus. James entrou e, como vem sendo hábito, logo mexeu com o jogo, compensou o abaixamento visível do trio Moutinho-Lucho-Hulk, e lá empatou o jogo, numa grande jogada que iniciou e finalizou, como jamais o Varela ou o Cristian Rodriguez seriam capazes de fazer.

A seguir, veio a expulsão de Emerson e, face à suicidária escolha de Gaitan para lateral-esquerdo, Vítor Pereira percebeu que era por ali que podia ganhar o jogo, com Djalma e Hulk contra Gaitan e, a espaços, ainda com o reforço de James. E ainda trocou o Moutinho pelo Kleber, reforçando a mensagem passada aos jogadores; agora é para ganhar! E foi. É verdade, verdadíssima, que o golo da vitoria do Porto, o merecidíssimo golo de Maicon, nasceu em off-side tangencial, que a televisão mostrou e que ninguém conseguiria enxergar no campo (excepto, é claro, Jorge Jesus). Mas também é verdade que o que decidiu o jogo é a saída falhada de Artur, e também é verdade, verdadissima, que, se se derem ao trabalho de rever, verificará que o livre que dá o segundo golo ao Benfica não existe. Ela por ela. E a convicção de que, se não tivesse sido então e assim, o Porto chegaria à vitória doutra maneira e mais logo.

Foi uma vitória merecida de princípio a fim — no momento da verdade, no jogo do título, contra todas as adversidades e com uma atitude de verdadeiro campeão. Não sei se o FC Porto o será ou não, mas, pelo menos, mostrou que pode vir a selo, contrariando todos os prognósticos (o meu incluído), e finalmente arrancando um grande jogo esta época e dando a todos os portistas uma alegria de há muito tão desejada. Como disse o meu filho, parecia a equipa do ano passado!

Na hora da vitoria, Vítor Pereira foi contido e cavalheiro, mostrando que sabe ganhar. Já Jorge Jesus voltou a mostrar que não sabe perder: descobriu que o FC Porto, além do golo, não teve mais nenhuma oportunidade em toda a primeira parte; descobriu que o segundo golo portista nasceu de uma pretensa falta a oitenta metros de distância, que só ele e o presidente do Benfica enxergaram; conseguiu ver, de onde estava e de frente para um cacho de jogadores em movimento, o off-side no terceiro golo do Porto que «o fiscal de linha não quis marcar»; e descobriu ainda que, «a haver um vencedor, teria de ser o Benfica» (atordoado como estava, nem realizou que tinha havido mesmo um vencedor). Oxalá estejamos a assistir ao remake de um filme que eu já vi a temporada passada e que já sei que acaba bem: a arrogância derrotada pela vontade de vencer.


2- Mesmo para alguém que não é crente, como eu, às vezes há sinais evidentes de uma justiça, que, se não é divina, é para além dos homens. O Benfica, com a conivência da Liga, montou as coisas de maneira a que o FC Porto chegasse à Luz de rastos para o jogo do titulo: afinal, foram eles que acabaram de rastos (Cardozo, Aimar, Gaitan, Garay) e o FC Porto que começou e terminou galopante, com o supremo toque de sadismo de ter sido o jogador mais massacrado pelo jogo e viagem, apenas 48 horas antes, quem despachou o Benfica, com um golo e assistência para outro,

E, enquanto o Porto triunfava na Luz e assumia o comando isolado da Liga portuguesa, Andre Villas Boas - que, sem aviso e em cima da hora, abandonou à sua sorte o clube e o grupo de jogadores que lhe tinham dado tudo o que ele conquistara — consumava o seu falhanço em Inglaterra, despedido por Roman Abrahamovich, após mais uma derrota. Se não é justiça divina, anda lá perto.


Ai, Deus, haja paciência! Até sexta que vem, há que continuar a acreditar em milagres!

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