sexta-feira, junho 01, 2012

PROVAVELMENTE, A MELHOR EQUIPA DA ACTUALIDADE (19 ABRIL 2011)

1- O novo Sporting, saído do tormentoso parto eleitoral recente, parece-me em tudo e por enquanto, igual ao antigo, ao de sempre: muito pouco futebol, muita prosápia, muitas desculpas e queixinhas de mau perdedor. Por causa de um suposto penalty, que lhes teria caído do céu no último minuto do jogo do Dragão, atiraram-se todos ao árbitro, vendo nele a razão única para uma derrota, que, todavia, só foi tangencial por sorte e mero acaso, conforme o País inteiro viu. Sem papas na língua, o dirigente Carlos Barbosa, por exemplo, sentenciou que este árbitro (por muitos considerado o melhor da actualidade), deveria ser imediatamente banido do futebol e, de caminho, atirou-se também, e vá lá saber-se porquê, ao ex-árbitro Jorge Coroado. Foi infeliz: dos cinco árbitros cujas opiniões sobre o suposto penalty foram até agora conhecidas (incluindo a do próprio Artur Soares Dias), Coroado foi justamente o único que entendeu que era mesmo penalty.

Aqui, em A BOLA, na crónica do jogo, Paulo Montes também entendeu o mesmo, porque «pode o defesa não querer jogar a bola com a mão, mas o seu gesto trava inequivocamente o percurso da mesma». Ah...! digo eu. Três perplexidades numa frase tão curta: a) se não há intenção, não há falta, é a regra do penalty; b) bata onde bater uma bola o seu percurso é sempre alterado, é uma regra da Dinâmica; c) neste caso, porém, qual era o percurso que a bola levava e que terá sido alterado: ia para golo, ia para a baliza, ia em direcção a um jogador do Sporting? Nada disso, nem sequer havia por ali algum jogador do Sporting: a bola estava a saltar à frente de Rolando, que tropeça sozinho e lhe bate com a mão na queda. Penalty? Nem mesmo oferecido pelos mesmos deuses que já haviam oferecido ao Sporting um golo no primeiro e inofensivo remate à baliza.

Mas estas queixinhas habituais dos maus perdedores tem sempre também o condão de esconder outras coisas. Outras coisas sobre uma arbitragem que, de facto, foi má, mas em prejuízo do FC Porto: nenhuma justificação para os amarelos a Maicon e Álvaro Pereira, quando confrontados com situações idênticas, mas opostas; três livres à entrada da área portista oferecidos ao Sporting sem razão; e, acima de tudo, um off-side muito, muito mal assinalado aos sete minutos, quando Varela já ia seguir isolado para a baliza. Também é verdade que assinalou mal uma falta sobre Helton, mas era canto apenas, em vez de falta, nada que justifique tanta reclamação por esse lance. De pianinho, sem alarido algum, o Sporting voltou a ser esta época talvez a equipa mais beneficiada pelas arbitragens. Só que e por razões à vista, já ninguém se preocupa com o assunto. Mas é só passar em revista o filme dos jogos do Sporting e constatá-lo. Vamos ao jogo.

José Couceiro foi um dos raríssimos erros de casting de Pinto da Costa, um dos raríssimos treinadores que passaram pelo FC Porto nas últimas três décadas e só conseguiu consumar um desastre. A sua curta passagem pelo FC Porto foi de tal forma má, que terá morrido aí, creio, qualquer possibilidade de uma carreira de sucesso como treinador. Como solução de recurso também, ressurgiu agora no comando do Sporting, que herdou em 3.° lugar, a 26 pontos do FC Porto. Seis jogos passados, Couceiro acumula duas vitórias, três empates e uma derrota, está a uns inimagináveis 35 pontos de distancia do líder e só por milagre, e muito injustamente, roubará o terceiro lugar ao Braga. Mas o Sporting, diz ele, está agora «estabilizado».

Frente ao FC Porto, o Sporting batia-se por mais do que os campeões, cujo objectivo no jogo era apenas o de manterem a invencibilidade. Ao Sporting competia lutar pelo crucial terceiro lugar, tentar quebrar essa invencibilidade e, nao salvando a época, salvar a honra. Aliás, dadas as circunstâncias, competia-lhe mesmo ganhar o jogo, ou, mínimo exigível, tentar à vista de todos ganhar o jogo. Porque, para começar, Couceiro tinha todos os jogadores ao seu dispor, incluindo o regressado Izmailov, enquanto Villas Boas tinha as baixas de Belluschi, dos dois laterais-direitos e de jogadores que, antes e durante o jogo, teve de fazer descansar. E, enquanto o Sporting, afastado de todas as outras competições, está há meses no regime tranquilo de banhos de sol em Alcochete, um joguito a meio-gás por semana, entrecortado por uma ou duas folgas semanais, o FC Porto segue num ritmo infernal de jogos de exigência máxima, tendo completado frente ao Sporting o quinto jogo em 14 dias. Quinta-feira, jogou em Moscovo, sob zero graus e em piso sintético, voou seis horas de volta, para desembarcarem todos sexta de manhã, irem dormir e readaptarem-se ao fuso horário. Sábado fizeram treino para descontrair e domingo já tinham o Sporting pela frente. Perguntado então se esse cansaço e sobrecarga de jogos dos portistas não era uma evidente vantagem para o Sporting, Couceiro teve o supremo desplante de responder que, pelo contrário, dada a motivação psicológica, era uma vantagem para o FC Porto!

Logo aí adivinhei qual era a estratégia de José Couceiro para o clássico do Dragão: cautelas defensivas, paninhos quentes e tudo apostar na sorte. Se nada resultasse, atirar-se ao árbitro, no final. Assim foi: nem o golpe de sorte do primeiro golo, mudou a estratégia. Ou porque não podia ou porque não se atrevia, o Sporting só teve mais duas ocasiões de golo em todo o jogo contra meia dúzia do adversário, não obrigou o Helton a fazer uma única defesa, teve 38% de posse de bola contra 62% do FC Porto, menos de metade dos remates e dos ataques, zero cantos contra oito, e só graças ao poste e a Rui Patrício é que não saiu de lá vergado ao peso de uma goleada, como todos reconheceram. Só mesmo alguém que não tenha assistido ao jogo é que podia declarar no final, como José Couceiro:

«Não seria surpreendente se tivéssemos ganho.»

Estão no bom caminho, deixem se estar assim.



2- Em contrapartida, vão faltando os adjectivos para classificar o desempenho desta equipa de André Villas Boas: não apenas os resultados e os recordes que tombam sucessivamente, mas também as exibições e o insaciável espírito de vitória. Sem dar descanso às peças-chave da equipa, ao contrário do que faz (e pode fazer) Jorge Jesus, o FC Porto atira-se a todos os jogos para ganhar e nada mais. Nestes sete dias, foram mais duas brilhantes demonstrações de categoria e vontade, em Moscovo e contra o Sporting. Cinco jogos, cinco vitórias em 14 dias, 18 golos marcados e apenas os centrais a abanarem.

Este fim-de-semana, vi jogar três dos finalistas da Liga dos Campeões, três das equipas que o mundo considera as melhores da actualidade: Barcelona, Real Madrid e Manchester United. Nenhuma delas joga actualmente melhor que o FC Porto, de perto ou de longe. O cansaço acumulado torna o seu jogo estereotipado, lento e previsível, como bem se viu no chatíssimo Real-Barcelona, onde o futebol brilhante do Barça é agora jogado a ritmo de caracol, mais parecendo um simples treino de meiinho — para o qual, todavia, José Mourinho ainda não encontrou antídoto, limitando-se às recorrentes queixas sem razão contra o árbitro e tudo o resto, bem ao estilo de um José Couceiro. Que pena que este FC Porto não esteja antes a disputar as meias-finais da Champions - onde, por direito próprio pertence!

3- É preciso ser-se mentalmente perturbado e antisocial para destruir a instalação desportiva onde cem miúdos jogam à bola todos os dias, só porque ela é a sucursal em Lisboa do Dragon Force, a escola de futebol do FC Porto.

E é preciso não estar a medir bem as consequências do gesto, quando se ameaça não deixar entrar na Luz adeptos do FC Porto portadores de bilhetes válidos, emitidos pelo Benfica e pagos por eles, com a justificação de que se trata de cobrar dívidas entre os clubes. Independentemente de escolher, entre as versões de cada clube, quem é que deve a quem, os que compraram bilhetes para o jogo tem o inalienável direito de o assistir. Se o bom senso não acabar por se impor, como veementemente se espera e acredita, as autoridades terão um sério problema entre mãos: não apenas porque isso seria potenciador de incidentes porventura graves, mas também porque estariam confrontadas com a prática de um crime de burla, em flagrante delito.

Esperemos que desta vez não haja mais do que um jogo de futebol e, de preferência, bom. E que siga em frente quem o tiver merecido. De outro modo ainda acabaremos a desejar que não haja uma final europeia Benfica-Porto em Dublin, porque já basta a vergonha a que estamos expostos, de mão estendida por essa Europa fora.


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