sexta-feira, junho 08, 2012

E TUDO O PORTO LEVOU (07 JUNHO 2011)

1- Uma embaixada constituída pelos novos presidentes dos órgãos directivos do Sporting foi recebida pelo Presidente da República para uma cerimónia de apresentação de cumprimentos. Mesmo sabendo que, no quardo da nossa Constituição, um Presidente pouco tem com que se ocupar para preencher os dias não deixa de ser ridículo que um Chefe de Estado conceda audiências aos novos dirigentes de um clube desportivo para eles se lhe apresentarem. Alguém imagina o presidente Sarkozy a receber os novos dirigentes do PSG, o rei Juan Carlos os do Atlético de Madrid ou a rainha de Inglaterra os do Tottenham?

Porém, parece que não se tratou apenas de apresentar cumprimentos. Segundo confidenciou Godinho Lopes, o Sporting também lá foi sensibilizar Cavaco Silva para a sacrossanta questão da «verdade desportiva». E disse isto sem se desmanchar a rir! E não era caso para menos: o FC Porto ganhou os títulos nacionais de todas as modalidades colectivas nas quais está inscrito e que constituem tambem as quatro principais modalidades desportivas profissionalizadas. Foi campeão nacional de futebol (em três das quatro categorias: seniores, juniores e iniciados), campeão nacional de basquetebol, de andebol e de hóquei em patins (pelo 10.° ano consecutivo). E em nenhum desses campeonatos e modalidades encontrou oposição que se visse do Sporting -todos foram disputados e ganhos ao Benfica e palmo a palmo no basquetebol e no hóquei. O Sporting estava lá, participava do campeonato mas nunca constituiu ameaça alguma às pretensões portistas. E, no futebol, então, é melhor nem falar: 36 pontos de atraso em relação ao FC Porto no campeonato (12 derrotas de diferença!) e nem sombra de possibilidade de ter arrecadado qualquer outro título, que não o campeonato, face aos quatro títulos conquistados pelo FC Porto, incluindo a Liga Europa. Verdade desportiva? Não, o que os dirigentes do Sporting não suportam é a realidade desportiva actual - e, nisso, eu compreendo-os.

Já muitas vezes comentei este discurso da verdade desportiva, inventado por Filipe Vieira e adoptado, antes ainda e entusiasticamente, pelos sportinguistas. E já várias vezes expliquei o quanto este discurso tem o dom de motivar o FC Porto, ao mesmo tempo que serve de autodesculpabilização para os inúmeros erros cometidos pelos adversários — a começar por erros de gestão, de planeamento, de discernimento dos seus dirigentes. Basta atentar nas trapalhadas que são as épocas de contratação do Sporting, esta incluída, para se perceber que ali tudo é feito ao deus-dará, sem profissionalismo, sem conhecimento de causa, sem uma estratégia negocial que se entenda. Mas eles acham, sempre acharam e continuarão a achar, que basta anunciarem as suas ambições, aliás legítimas, para que tudo se concretize imediatamente. E se tal não acontece, é porque falhou a tal verdade desportiva.

Há dias, um amigo sportinguista, entusiasmado com a nova liderança e com a notícia da contratação de um portista, Domingos, como treinador, mensajou-me: «Prepara-te, porque acabou a vossa festança. Para o ano. tudo vai ser diferente.» Ao que eu respondi: «Ah, sim? Porquê — o Sporting vai roubar-nos o Hulk e o Falcão?»

2- FALCÃO é justamente o jogador portista de quem mais se fala neste defeso. Os seus dezassete golos na Liga Europa, que fizeram dele o maior marcador de sempre numa competição europeia ao longo de uma época, despertaram as atenções para este extraordinário ponta de lança que o FC Porto desviou do Benfica. Aparentemente, a intenção do FC Porto é recusar vendè-lo - antes prorrogar e melhorar o seu contrato, aumentando também a cláusula de rescisão. O mesmo já foi feito com Hulk e a política de aquisições para a época que vem parece centrar-se sobretudo na manutenção dos jogadores nucleares do plantel - política que eu aplaudo a mãos ambas. Falcão é, indiscutivelmente, um dos jogadores nucleares desta equipa, mas, para mim, o jogador decisivo, o desequilibrador total, o génio à solta, é HULK. O número ontem revelado por A BOLA é elucidativo: a cada 63 minutos, Hulk construiu um golo, ou assistindo ou marcando. Olhemos agora para o resto do plantel que respondeu por uma das mais brilhantes, se não a mais brilhante época de sempre, de uma equipa do FC Porto.

HELTON foi uma das boas surpresas da época: se ainda não é impecável nas saídas aéreas, melhorou imenso nesse capítulo e concluiu toda a época sem dar um frango, antes salvando golos iminentes em momentos de jogo decisivos, como na final de Dublin. Sempre que chamado, BETO mostrou também classe e categoria su-ficientes para um dia assumir aquela baliza. KIESZEK teve a infelicidade de, numa das raras oportunidades de que dispôs, oferecer o golo que nos afastou da Taça da Liga, a única competição perdida.

Na defesa, boas prestações de FUCII.E e SAPUNARU no lado direito, excelente a época de ÁLVARO PEREIRA, à esquerda, e óptima surpresa de SERENO, quando chamado a jogar. No centro, o mais utilizado, mas também o mais fraco, para mim, foi ROLANDO, bastas vezes batido em circunstâncias que comprometeram; OTAMENDI é o melhor tecnicamente e foi uma boa aquisição, ainda com muito para progredir, e MAICON está naquela linha de fronteira em que tanto pode tornar-se um excelente central, como ser incapaz de dar o salto de categoria que a titularidade no FC Porto exige. Penso que mais um central viria a calhar (o Nuno André Coelho, que o Sporting não soube aproveitar...)

No meio-campo está a grande revelação da época, para mim e para tantos outros que pouco ou nada dávamos por ele: GUARÍN. Parece um jogador novo, outro, completamente diferente em tudo e, se continuar assim, a caminho de se tornar um caso sério (e um grande rematador de meia-distância, o que é sempre uma mais-valia num médio). BELLUSCHI continua a ser o mais fino tecnicamente e fez também uma boa época, dividindo o lugar com Guarín, visto que Villas Boas não prescinde de Moutinho. E MOUTINHO é, para mim, o caso mais difícil de classificar: é um jogador diferente visto na televisão ou ao vivo, no estádio. É magnífico no jogo posicional e como elemento de sustentação de todo o jogo da equipa. Mas muito pouco criativo, mau rematador e incapaz de rasgar o jogo: dois golos e duas assistências em toda a época é demasiado curto para um médio ofensivo. FERNANDO, no meu ponto de vista, é a ovelha negra da equipa, com a agravante de actuar numa posição fulcral. Atacar não sabe, é absolutamente inoperante; e, a defender, é lento no pensamento e na execução, o que o torna perigosamente faltoso. Precipitado, corta para onde está virado, várias vezes entrega a bola aos adversários e, nas duas finais da época, em Dublin e no Jamor, ofereceu dois golos, que só não se consumaram porque Helton e Beto não deixaram. Curiosamente, é o único jogador que mostra vontade de sair e acredita que para melhor. Eu rezo para que tal aconteça, mas não acredito, é claro, que equipas como uma Juventus o queiram. O seu substituto, SOUZA, nas raras vezes em que foi utilizado mostrou ser incomparavelmente melhor que Fernando e com uma margem de evolução imensa.

Na frente, e para além de Hulk e Falcão, o terceiro titular habitual, VARELA teve uma época assim-assim: começou muito bem, depois lesionou se já não regressou igual. Na sua ausência, os adeptos portistas puderam ver o novato JAMES - e eu, desde a primeira vez que o vi, fiquei entusiasmado com o futebol deste miúdo. Parece-me bem que nada o conseguirá travar no caminho para se tornar um grande jogador do planeta futebol. CRISTIAN RODRIGUEZ teve suficientes oportunidades para tentar um comeback em força: não esteve mal, mas também não mostrou argumentos para disputar um dos lugares mais povoados e bem preenchidos nesta equipa (e ainda vêm aí o Djalma, o Iturbe e há o miúdo Christian à espreita, e Ukra de regresso). Enfim, WALTER: no início pareceu um puro erro de casting, mas com o tempo foi mostrando alguns argumentos, todavia ainda não convincentes, para ser o suplente oficial de Falcão. E houve ainda o MARIANO GONZALEZ, que Deus proteja.

3- A Selecção Nacional em mais um dos seus jogos--tipo: vitória por um magro 1-0, grandes dificuldades de construir oportunidades, Cristiano Ronaldo apagado e parecendo jogar só para si. Assim, é difícil contrariar o pouco entusiasmo popular de que falava Vítor Serpa, no sábado passado.

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