terça-feira, junho 05, 2012

UM CAMPEONATO PARA A HISTORIA,UMA SEMANA PARA A ETERNIDADE (17 MAIO 2011)

1- Um juiz-de-linha particularmente distraído viu um off-side inexistente a James, quando ele entrava isolado pela marca de penalty direito à baliza do Paços de Ferreira, mas depois nào conseguiu ver dois jogadores do Paços em claro off-side, para facturarem o segundo golo da equipa. E, assim, esse juiz-de-linha, sozinho, mexeu com a História e falsificou-a: impediu que o FC Porto tenha terminado o campeonato de 2010/11 igualando a remota proeza de Jimmy Hagan, ainda vivíamos em ditadura, de 28 vitórias, 2 empates e zero derrotas em todo o campeonato. O FC Porto ficou a um golo dessa marca que parecia absolutamente irrepetível: o tal segundo golo do Paços, que nunca deveria ter existido. Isto sim, meus amigos, é dos tais erros de arbitragem que marcam muito mais do que uma época...

Mas não há comparação alguma entre terminar um campeonato de 30 jornadas invicto e com 93% dos pontos possíveis agora ou em 1972. Assim como nào há comparação entre vencer a Taça dos Campeões Europeus em 1962 ou 63 — com um clube por país, sem cabeças-de-série e sorteio de eliminatórias totalmente aberto, podendo-se atingir a final sem encontrar nenhum dos grandes da Europa pelo caminho ou vencer a actual Liga dos Campeões, com três pré-eliminatórias, fase de grupos, as três ou quatro melhores equipas inglesas, espanholas, alemãs e italianas em prova e um afinadíssimo método de progressão que garante que ninguém chega à final sem ter afastado pelos menos dois ou três tubarões europeus.

O FC Porto terminou um campeonato para a História, sem nenhuma derrota e apenas com três empates cedidos (dois deles jogando em inferioridade numérica, grande parte do tempo), com uns inimagináveis 21 pontos de avanço sobre o segundo classificado e 36 sobre o terceiro. Invicto em casa e fora, melhor ataque, melhor defesa (com quase metade dos golos sofridos pelas segundas melhores), melhor marcador (Hulk), e juntado ao que vinha da época passada, 39 jogos do campeonato consecutivamente sem perder e sem ficar em branco. Eu bem tento explicar ao meu jovem filho portista que nunca mais, certamente, voltaremos a ver coisa assim. E, quando ouvimos o Fábio Coentrão a dizer que o Benfica não foi campeão porque lhe faltou sorte e ajuda dos árbitros, eu tenho de lhe explicar que um grande jogador de futebol não é necessariamente a pessoa mais qualificada para analisar as evidências do futebol.

2- Amanhã em Dublin e domingo no Jamor, o FC Porto pode acrescentar a este feito incrível ainda mais um ou dois triunfos que farão desta época uma coisa nunca vista, aqui ou no planeta inteiro. A Europa toda tem os olhos esbugalhados em André Vilas Boas, que entrou no futebol como um meteoro, desafiando as interrogações de muitos (eu, por exemplo) as desconfianças de outros e as previsões de fiasco de um (José Mourinho). E, mais do que o inacreditável registo de vitórias que acumula, é ainda o método para tal: um futebol de ataque, de muitos golos, de posse e circulação de bola em velocidade e movimento constante, alegre, solto, emocionante. E a prova de que não se trata apenas de um tipo de jogo proporcionado por alguns fora-de-série (que, todavia, são, obviamente determinantes), é que quando ele retira algumas peças nucleares mas sem desfazer a equipa, como em Portimão, em Setúbal ou no Funchal, o tipo de jogo e a sua dinâmica são iguais e os resultados também. E dizem que o mesmo acontece com os juniores, que também foram campeões nacionais (com 13 vitórias e uma derrota, nos 14 jogos da fase final). Ou seja, trata-se de uma escola de jogo. Ao contrário do que imagina o Fábio Coentrão e tantos outros maus perdedores, nada acontece por sorte ou por acaso. Vencer assim dá muito trabalho e exige muito talento — coisa a que os portugueses não estão habituados. E infinitamente mais fácil tentar denegrir o mérito alheio do que tentar imitá-lo.

Amanhã em Dublin, vão estar frente a frente dois jovens treinadores, que são grandes portistas e já certezas do nosso futebol. Duas equipas que não se comparam em termos de capacidade financeira e poder associativo e também, julgo, em termos de qualidade futebolística. O FC Porto actual é muito melhor que o Braga e, como e forçoso, tem melhores jogadores - o que nào quer dizer que seja um vencedor antecipado, porque, primeiro, vai ter que dobrar essa extraordinária capacidade de luta e crença que o Braga já demonstrou ser capaz de inventar nos grandes momentos e frente às grandes equipas.

Braga e FC Porto são indiscutivelmente, entre as perto de centena e meia de equipas que disputaram esta Liga Europa, as que mais mereceram estar amanha em Dublin. O Braga, que veio de uma magnífica estreia na fase de grupos da Champions, teve sempre adversários mais difíceis de ultrapassar que o FC Porto (excepto nas meias-finais) e fê-lo com uma vontade e determinação notáveis. O FC Porto, afastado da Champions pelo túnel da Luz, ultrapassou categoricamente todos e cada um dos adversários que lhe saíram pela frente nesta Liga Europa, ao ponto de ter vencido oito dos nove jogos disputados fora.

3- O país que gosta de futebol teria agradecido um FC Porto na Champions e não na Liga Europa. Mas os justiceiros da verdade desportiva não o quiseram e tudo fizeram para o impedir. Eu acho muito bem. aplaudo vivamente, que a direcção da SAD do FC Porto os persiga na Justiça a sério e que, mesmo com resultado incerto, lhes exija uma indemnização por danos morais e materiais resultante da mais vergonhosa decisão alguma vez tomada por um órgão jurisdicional do futebol. Esses e os artistas que congeminaram aquela reunião fantasma do CJ da Liga e depois quiseram justificá-la escudados num parecer encomendado à medida do maior cata-vento jurídico (e politico) da nossa praça. Acho muito bem que persigam nos tribunais esses e o jornalista mentiroso e leviano da Marca, e os que usam, como coisa sua, as escutas cedidas ao jusficeiros do CD pela drª Morgado, delas seleccionado o que lhes interessa, omitindo o que não lhes interessa e esquecendo-se de contar o que os tribunais decidiram sobre isso e porquê. E também todos os Paixões deste futebol e toda essa gentinha que vive ao serviço do sistema - que existe, está montado como tinha sido previamente anunciado, e funciona a favor do seu mentor. Ainda a semana passada aqui escrevi que, na hora de tão retumbante vitória nossa e tão devastadora derrota dos adversários, era preciso ser contido e evitar a humilhação dos vencidos de hoje, que podem muito bem ser os vencedores de amanhã. Mas, depois de assistir a mais uma semana de intrigas e maledicências, de calúnias e montagens para enganar imbecis, vindas lá da central que comanda o sistema, já não sei, sinceramente, se não é melhor e mais pedagógico esfregar-lhes a humilhação na cara. Estamos a ficar fartos do sistema - eu estou, todos os portistas estão! A inveja, bem o sabemos, anda de mãos dadas com a mediocridade e a incompetência. Mas, ao menos, tenham noção do ridículo!

4- Segundo conta o Diário de Notícias, os jogadores do Sporting festejaram em todo o caminho de regresso de
Braga e pela noite dentro a conquista in extremis do terceiro lugar no campeonato. E por tamanha façanha (ficar a 36 pontos ou treze vitorias de distância do campeão), cada jogador vai receber um prémio de 6.000 euros. Fazem bem em ir buscar um treinador formado no FC Porto: ele vai mudar métodos e objectivos, vai-Ihes ensinar coisas que eles nem sonham. Mas vai ser preciso muito mais tempo e muito mais trabalho para conseguirem assimilar uma atitude à Porto. Perguntem ao João Moutinho do que se trata.

5- Os grandes senhores nao gostam de esperar para ver os seus desejos satisfeitos. Não se detém com pruridos de boas maneiras nem cuidado em não melindrar os mais pequenos. O grande senhor do futebol português, também conhecido por A Instituição, quando quer um jogador de um clube mais pequeno cá da praça, não está com meias medidas: é na hora. E se, em nome da verdade desportiva os puder apalavrar antes dos jogos que contra as seus clubes vai disputar, melhor ainda. Para comprar o Jardel ao pobre do Olhanense, a Instituição tratou do assunto na manhã do dia de um jogo contra o mesmo Olhanense — e com uma cláusula de cavalheiros que logo impediu o Jardel de jogar nessa noite contra o seu futuro patrão. Agora, para comprar o Artur ao SC Braga, a Instituição nem se dispôs a esperar três dias, deixando-o em paz e concentrado até disputar a final da Liga Europa. Mandou-o vir a Lisboa logo a seguir a um treino e antes de entrar em estágio, e um envergonhado Artur, surpreendido no aeroporto da Portela, declarou que tinha vindo «ver uns amigos» e que estava apenas, claro, concentrado no jogo de Dublin. E são estes grandes senhores que aspiram a dar lições de desportivismo e verdade desportiva!

Sem comentários: