1- Não vale a pena reabrir a discussão sobre o local da final da Taça, mas, já que tanto se quer manter o Jamor como palco tradicional e mais digno para a final, o mínimo exigível é que o relvado esteja em condições para um bom jogo — o que não foi o caso desta final, jogada num tapete ondulado.
No final do jogo e muito mal disposto (só podia...), Jesualdo Ferreira queixou-se da imprensa desportiva, que não deu ao jogo a importância que ele tinha. É verdade que não, mas também não sei de que estaria ele à espera: como é que uma final sem clubes de Lisboa, entre o Porto e o Chaves, poderia interessar à imprensa desportiva da capital, ainda a viver em plenos festejos do título do Benfica? É óbvio que a excursão a Timor do presidente do Benfica tinha muito mais importância do que o encerramento da época no Jamor — sem Benfica. Convém recordar a Jesualdo que, na véspera do F.C. Porto conquistar em Geselkirchen o segundo título europeu da sua história, a primeira página da nossa imprensa desportiva era a notícia de que o Benfica (então em 4º lugar), iria mudar de treinador no ano seguinte!
O problema, porém, é que, depois de assistir à exibição da equipe do F.C. Porto no Jamor, é caso para dizer que Jesualdo deveria ter começado por lamentar e se indignar com os seus jogadores pela falta de respeito que eles mostraram para com a final, com o adversário e com o público. Vi adeptos portistas regressados do Jamor envergonhados como se tivessem sido vencidos e sem vontade alguma para comemorar a 15.ª Taça de Portugal levada para casa. De facto, a equipa parece ter feito questão de se despedir da época e dos adeptos com uma demonstração de sobranceria, indiferença e falta de profissionalismo que, não sendo costume nela, mais me chocou. Começou tudo em Helton, esforçando-se por oferecer três golos apenas na primeira parte, o primeiro deles numa daquelas atitudes de displicência que o caracterizam e que tanto irritam os adeptos (espero que, se Jesualdo continuar, tenha finalmente percebido que não há mais lugar para o Helton na baliza). Depois, foi Hulk, esbanjando três golos também nos primeiros 45 minutos, acompanhado em mais uma ocasião por Falcao. E um jogo que podia ter acabado com 5-0 ao intervalo, acabou num 2-1 tangencial, depois de Bruno Alves resolver também despedir-se do jogo, da época e talvez do clube, oferecendo um golo e fazendo-se expulsar, minutos antes de ter de subir à tribuna para, enquanto capitão da equipa, receber a Taça das mãos do Presidente da República. Foi lastimável. Mau de mais para ser ultrapassado com a vitória. E é pena, porque agora o futebol de clubes vai de férias e, como é sabido, as últimas imagens são as que mais ficam.
2- Seguramente que terá sido com as melhores intenções, mas, realmente, não deu para entender o que terá levado a direcção do Benfica a emitir um comunicado desejando que a final da Taça não tivesse incidentes fora das quatro linhas. Que tinham eles a ver com isso — será que já ocuparam o Ministério da Administração Interna e a gente não sabe? Não vi comunicados do Sporting, do Belenenses, do Paços de Ferreira...
3- E, por falar em direcção do Benfica: a gente respeitável que lá está deveria olhar de frente e tomar uma atitude em relação à BenficaTV. Tão longamente esperado, planeado e anunciado, certamente que o que se quis com o canal não é aquilo que existe: uma tribuna de incitamento ao insulto, ao ódio, à violência, mesmo. Não vale a pena andar a fazer comunicados ou discursos de boas maneiras quando depois se sustenta uma coisa daquelas. A BenficaTV (onde eu próprio já fui insultado em termos demasiadamente ordinários para serem reproduzidos) não honra o Benfica nem deixa bem a sua direcção. Espero e desejo que não apareçam um PortoTV ou um SportingTV para responderem na mesma moeda, porque então é que o clima ficará irrespirável. Isto é como as claques desordeiras: não há boas nem más, são todas um cancro no futebol. A diferença é que, enquanto que as claques são dificilmente controláveis pelos clubes (muitas vezes são até elas que mandam neles), já um canal de televisão depende inteiramente da direcção do clube. Não há desculpas.
4- Se em Lisboa, Rui Costa pôde entregar ao Papa uma camisola com o símbolo do clube (num gesto, em minha opinião, de um ridículo e de uma presunção patéticos), já no Porto, o F.C. Porto não pôde sequer pendurar um pendão, aliás discreto e bonito, de saudação ao Papa e ao lado de outros. Rui Rio não deixou, naquele seu estilo nordestino de governar. Nem mesmo a visita do Papa o comoveu e convenceu a abrir tréguas na sua paranóica guerra contra o clube maior da cidade. Coitado, a verdade é esta: o F.C. Porto é conhecido no mundo inteiro e, graças a ele, também a cidade do Porto; e Rio, é conhecido onde?
5- Sete defesas centrais entre os 24 para a África do Sul, não são centrais a mais: é uma invasão, um delírio, um ataque de cagaço que não augura nada de bom. Eu sei que dois deles são escalados para servirem de trincos, mas, quando os centrais servem para trincos, isso diz muito sobre as ideias do treinador. E é justamente no meio-campo criativo e ofensivo que a Selecção de Queiroz tem o seu ponto fraco. Nada a dizer dos guarda-redes (Beto foi uma surpresa inteiramente merecida), dos defesas ou dos avançados — são tudo escolhas óbvias e consensuais. Mas o meio-campo que há-de construir jogo para ganhar é o problema principal desta equipa: são muito poucos e não são particularmente bons.
O Benfica tem um jogador na Selecção; o Sporting tem dois, um dos quais naturalizado recentemente e de propósito para a ocasião; o F.C.Porto tem quatro — e podia ter cinco, se Varela não se tem lesionado, e talvez seis, se o mesmo não tivesse sucedido a Ruben Micael. E, a esses quatro, há a juntar outros cinco, que jogam lá fora, idos directamente do F.C. Porto. É um orgulho para as nossas cores.
E agora vem aí a penosa travessia deste mês de estágio da Selecção, com as insípidas notícias sobre o bacalhau e a vitela com grelos, o treino da manhã e o treino da tarde, os «directos» do hotel e as declarações dos jogadores — que só variam entre a expectativa das meias-finais, da final ou mesmo do título. E uma enxurrada daquele insuportável hino que Carlos Queiroz (porquê ele?) resolveu escolher como hino da Selecção. Português.... cantado em inglês. I´ve got a feeling de que este mês vai ser um aborrecimento sem fim. Oxalá, ao menos, o estágio seja de bom proveito.
6- Fantástico o embate entre Mourinho e Van Gaal: ambos com um passado comum e simultâneo no Barcelona, chegam à final de sábado da Champions trazendo no bolso a Taça e o campeonato da Alemanha e da Itália. Tenho pena que a dureza excessiva do castigo da UEFA a Ribéry o impeça de disputar o jogo mais importante do ano, onde todos os grandes jogadores das equipas finalistas deveriam estar sempre. E espero que não seja um jogo muito táctico, porque seria um desperdício. Eu sei que, como dizem, as finais são para ganhar e não para jogar bonito, mas, se o grande futebol não aparece nas finais com as grandes equipas, aparece quando? Eu acho o Bayern melhor equipa que o Inter, mas o Inter tem o «factor Mourinho» e isso conta e de que maneira!
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