terça-feira, junho 21, 2011

SETE RAZÕES DE ESPERANÇA (22 JUNHO 2010)

1- A bola de saída voltou a ser nossa, mas, desta vez, saímos a jogar para a frente e não para trás ou para os lados. Isso foi o bastante, para mim, para perceber que vínhamos com outro espírito e uma atitude de conquista. Com menos medo de ganhar do que medo de perder. E assim durante o jogo inteiro, mesmo na meia-hora final, quando o resultado e a passagem aos oitavos já estavam decididos, e a equipa optou por continuar a jogar ao ataque, correndo os riscos necessários.

2- Ao contrário das previsões de Carlos Queiroz, manifestadas logo após o jogo contra a Costa do Marfim, a Coreia do Norte não ergueu nenhum muro à nossa frente. Pelo contrário: jogaram no campo todo, desde o primeiro ao último minuto e, quando ainda havia 0 - 0, chegaram a assustar-nos por duas ou três vezes — a pior das quais quando Eduardo defendeu um remate para a frente, permitindo uma recarga fácil que, por sorte, saiu alta. Paradoxalmente, foi a ausência de medo do seleccionador coreano que nos abriu, de par em par, as portas do Paraíso. Porque, se no ataque a Coreia ainda assusta às vezes, na defesa aquilo é manteiga, à espera de uma faca.

3- Tiago e Raul Meireles — eles abriram-nos o jogo. Sobretudo Meireles, o homem imprescindível desta Selecção, o verdadeiro MVP de Portugal. Mas também Fábio Coentrão — grande jogo, grande jogador! — e Hugo Almeida, bem melhor que Liedson. Estes, e os centrais, sem falhas, compensaram os que, na minha opinião, estiveram bastantes furos abaixo: Miguel e Simão, como de costume, e Pedro Mendes.

4- O Ronaldo da segunda parte foi aquele pelo qual uma nação inteira há muito esperava, jogando para a equipa e não para a secção de efeitos especiais da televisão (embora, curiosamente, tenha acabado, finalmente, por marcar um golo que vai correr mundo nos blogues de efeitos especiais).

5- Sabia-se que o mais difícil era chegar ao 2-0: a partir daí, a Coreia fundia-se, por mais que tenham jurado morrer em campo pelo Querido Líder. E assim foi e num ápice: 2-0, 3-0, 4-0, em sete minutos de auto-estrada de prego a fundo. Depois, vieram mais dois e mais outros tantos poderiam ter vindo, quando Cristiano Ronaldo abriu o livro. Tenho pena dos coreanos que não desertarem antes do final do Mundial: será que acabam o ano vivos?

6- É verdade que a Coreia jogou contra nós de uma forma aberta que tudo facilitou e não fez o mesmo contra o Brasil. Mas, para quem viu também o Brasil-Costa do Marfim, onde o resultado foi bem melhor do que a exibição, não é de todo absurdo pensar que podemos vencer esta triste selecção de Dunga, da qual parece desertada, europeizada, toda a antiga fantasia em movimento. Sim, podemos perfeitamente ganhar ao Brasil e terminar em primeiro no grupo. O problema é que a nossa Selecção ninguém sabe como vai jogar a seguir. Um bom jogo não prenuncia necessariamente outro bom e vice-versa, como vimos ontem e felizmente. Fisicamente, estamos bem melhor à vista do que os brasileiros e isso também vai contar.

7- Bem, e last but not least, ganhámos ânimo, reganhámos orgulho e conquistámos um precioso suplemento de alma e de vontade. Sendo como somos, é de prever que a nação já vai toda embandeirar em arco. Não há razão para tanto, há apenas uma nova razão de esperança. Estamos nos oitavos e, afinal, até somos capazes de marcar golos.

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