1- A bola de saída voltou a ser nossa, mas, desta vez, saímos a jogar para a frente e não para trás ou para os lados. Isso foi o bastante, para mim, para perceber que vínhamos com outro espírito e uma atitude de conquista. Com menos medo de ganhar do que medo de perder. E assim durante o jogo inteiro, mesmo na meia-hora final, quando o resultado e a passagem aos oitavos já estavam decididos, e a equipa optou por continuar a jogar ao ataque, correndo os riscos necessários.
2- Ao contrário das previsões de Carlos Queiroz, manifestadas logo após o jogo contra a Costa do Marfim, a Coreia do Norte não ergueu nenhum muro à nossa frente. Pelo contrário: jogaram no campo todo, desde o primeiro ao último minuto e, quando ainda havia 0 - 0, chegaram a assustar-nos por duas ou três vezes — a pior das quais quando Eduardo defendeu um remate para a frente, permitindo uma recarga fácil que, por sorte, saiu alta. Paradoxalmente, foi a ausência de medo do seleccionador coreano que nos abriu, de par em par, as portas do Paraíso. Porque, se no ataque a Coreia ainda assusta às vezes, na defesa aquilo é manteiga, à espera de uma faca.
3- Tiago e Raul Meireles — eles abriram-nos o jogo. Sobretudo Meireles, o homem imprescindível desta Selecção, o verdadeiro MVP de Portugal. Mas também Fábio Coentrão — grande jogo, grande jogador! — e Hugo Almeida, bem melhor que Liedson. Estes, e os centrais, sem falhas, compensaram os que, na minha opinião, estiveram bastantes furos abaixo: Miguel e Simão, como de costume, e Pedro Mendes.
4- O Ronaldo da segunda parte foi aquele pelo qual uma nação inteira há muito esperava, jogando para a equipa e não para a secção de efeitos especiais da televisão (embora, curiosamente, tenha acabado, finalmente, por marcar um golo que vai correr mundo nos blogues de efeitos especiais).
5- Sabia-se que o mais difícil era chegar ao 2-0: a partir daí, a Coreia fundia-se, por mais que tenham jurado morrer em campo pelo Querido Líder. E assim foi e num ápice: 2-0, 3-0, 4-0, em sete minutos de auto-estrada de prego a fundo. Depois, vieram mais dois e mais outros tantos poderiam ter vindo, quando Cristiano Ronaldo abriu o livro. Tenho pena dos coreanos que não desertarem antes do final do Mundial: será que acabam o ano vivos?
6- É verdade que a Coreia jogou contra nós de uma forma aberta que tudo facilitou e não fez o mesmo contra o Brasil. Mas, para quem viu também o Brasil-Costa do Marfim, onde o resultado foi bem melhor do que a exibição, não é de todo absurdo pensar que podemos vencer esta triste selecção de Dunga, da qual parece desertada, europeizada, toda a antiga fantasia em movimento. Sim, podemos perfeitamente ganhar ao Brasil e terminar em primeiro no grupo. O problema é que a nossa Selecção ninguém sabe como vai jogar a seguir. Um bom jogo não prenuncia necessariamente outro bom e vice-versa, como vimos ontem e felizmente. Fisicamente, estamos bem melhor à vista do que os brasileiros e isso também vai contar.
7- Bem, e last but not least, ganhámos ânimo, reganhámos orgulho e conquistámos um precioso suplemento de alma e de vontade. Sendo como somos, é de prever que a nação já vai toda embandeirar em arco. Não há razão para tanto, há apenas uma nova razão de esperança. Estamos nos oitavos e, afinal, até somos capazes de marcar golos.
Sem comentários:
Enviar um comentário