segunda-feira, agosto 29, 2011

VÉSPERA DAS GRANDES BATALHAS (23 NOVEMBRO 2010)

1- Por cá, Benfica e Braga aproveitaram a cimeira da NATO para adiarem o jogo entre ambos para a Taça de Portugal, marcado para a Luz. E aproveitaram também para folgar e recuperar jogadores antes dos importantes encontros de hoje e amanhã para a Liga dos Campeões: em Israel, o Benfica poderá aproximar-se, com uma vitória, da passagem à fase seguinte, os oitavos-de-final; em Braga e contra o Arsenal, um empate já será bom mas não altera a já assegurada transferência para a Liga Europa — o melhor objectivo a que os minhotos poderiam aspirar, com realismo.

Enquanto isso, a uma semana de se encontrarem em Alvalade para o campeonato, Sporting e FC Porto ultrapassaram com dificuldades semelhantes os seus obstáculos na Taça de Portugal. Agora é altura de assentar todas as baterias nesse jogo que pode definitivamente lançar os portistas numa rota imparável rumo ao título e mergulhar os sportinguistas em mais uma crise existencial de Natal, ou inversamente, repor alguma incerteza no campeonato e pelo menos, manter o Sporting na luta pelo segundo lugar. À partida, o favoritismo é do FC Porto, que tem melhor equipa e melhores jogadores, mas o Sporting tem alguns trunfos que equilibram os prognósticos: joga em casa, joga o tudo por tudo e tem todos os jogadores operacionais, enquanto o FC Porto tem abaixa confirmada de Álvaro Pereira (e que falta que ele faz!), e ainda tem de tentar recuperar Silvestre Varela e Fernando.

2- Em Moreira de Cónegos, assistiu-se, como era inevitável, a um mau jogo de futebol. Volto a insistir nesta tecla já tão gasta, mesmo correndo o risco de me tornar obsessivo e aborrecido: não é possível jogar bom futebol em campos de dimensões reduzidas — especialmente, se em campo estiver uma equipa com o objectivo principal de defender e evitar o golo adversário. Não é por acaso que nos grandes campeonatos — os de Espanha, Inglaterra, Itália, Alemanha — não se vê um único estádio cujo relvado não tenha as dimensões máximas. Aqui, porém, continua a consentir-se essa ficção das «dimensões legais», que compreende a máxima e a mínima — sendo esta a que, infalivelmente, adoptam todos os clubes com vocação para pequenos. Pequeno clube-pequeno relvado: eis a regra do jogo. Que saudades do Campomaiorense, um pequeno clube da raia alentejana, tornado realidade apenas pela vontade um homem notável, chamado Rui Nabeiro, e que, modesto como era, tinha um relvado de dimensões e qualidade máximas! O Campomaiorense desapareceu do mapa do futebol profissional por falta de sustentabilidade financeira e porque, precisamente, o clube não tentou manter-se no topo da primeira divisão graças a um terreno de jogo que favorecesse o anti-jogo ou graças a apoios financeiros com dinheiros públicos — como é, por exemplo, o caso do Marítimo, financiado por Alberto João Jardim com o nosso dinheiro.

Dito isto, e sendo inevitável esperar um mau espectáculo no Moreirense-FC Porto, não era fatal ter de levar com um tão mau espectáculo . Espartilhada num terreno sem espaços e num relvado demasiado macio e lento, a equipa não soube adaptar-se ao futebol feio e eficiente que as circunstâncias requeriam — como tão bem o fez em Coimbra, quando foi obrigada, de forma escandalosa, a jogar num lago de água disfarçado de relvado de futebol. Apesar das condições adversas, este foi o segundo jogo consecutivo dos portistas, a seguir ao jogo contra o Portimonense, em que não consegui reter uma só exibição individual que fosse aceitável (segundo padrões de avaliação que não sejam, obviamente, os utilizados pelos magistrados nas suas auto-classificações). E eu não sei se dois jogos consecutivos de muito mau futebol é um bom ou um mau sinal para Alvalade. Oxalá seja bom sinal, oxalá os próprios jogadores achem que já chega de jogar mal!

Enfim, salvou-se o resultado e nada mais. Diz a crítica que o golo anulado ao Moreirense afinal não era off-side, como pareceu na jogada corrida (eu não vi a repetição) . Mas também não ficaram dúvidas a ninguém, excepto a dúvida incompreensível do árbitro, sobre a existência de um penalty por marcar sobre o Hulk, antes desse golo mal anulado ao Moreirense. Mas foi preciso meter o Falcão para resolver o assunto — depois de mais de uma hora, e mais uma oportunidade, sem se conseguir perceber porque razão o FC Porto se bateu tanto e deu tanto dinheiro pelo Walter. Já sei que ainda está em fase de adaptação ao futebol europeu (o chavão do costume, desmentido por jogadores como o Falcão, que parece que já vêm adaptados), mas, a menos que ele perca peso, ganhe velocidade, aprenda a jogar entre os escassos espaços que as defesas concedem e a executar rápido, prevejo uma loooooonga adaptação...

Da mesma forma, continuo, infelizmente, a não conseguir enxergar o génio do João Moutinho, de que toda a imprensa fala e amigos meus portistas garantem ser imprescindível na equipa. Por razões pessoais e profissionais, não tive ocasião de assistir ao histórico Portugal-Espanha, em que, segundo as crónicas, ele jogou muito bem. Atenho-me aos jogos feitos ao serviço do FC Porto e, para além das opiniões, sempre subjectivas, fico-me por esta estatística: em 19 jogos oficiais, não marcou um golo nem deu um golo a marcar; não conseguiu melhor do que um remate à trave, no meio de vários remates sem sentido; não teve, que me lembre, uma jogada brilhante, um passe sublime de rasgo, à Lucho González. Para um médio de ataque, custa-me perceber como é que, com um registo destes, pode ser considerado imprescindível. Mas pode ser (oxalá, outra vez!) que eu esteja errado na minha velha crença de que o futebol não é tão complicado de entender como o fazem e que os grandes jogadores são evidentes por si mesmos. E pode ser também que um dia eu consiga, enfim, entender, a razão pela qual Freddy Guarin era um jogador tão querido de Jesualdo Ferreira e agora de André Villas Boas.

3- E se por cá esta foi uma semana vivida numa espécie de stand-by antes dos jogos a doer, também o foi nos dois campeonatos estrangeiros que eu sigo com mais atenção e entusiasmo: o brasileiro e o espanhol.

No Brasil, a duas jornadas do final, o Fluminense, do Rio de Janeiro, retomou o comando ao Timão, o Corinthians, de S. Paulo. Tem um ponto a mais, mas dois jogos mais difíceis pela frente, um deles em S. Paulo, contra o Palmeiras, de Sco-lari. No terceiro lugar e ainda na corrida pelo título, está o Cruzeiro, de Belo Horizonte, a dois pontos de distância do Flu. E em quarto lugar, já afastado do título, vem o Grémio, de Porto Alegre. Bela distribuição geográfico-económico-desportiva: nos quatro primeiros lugares, um representante de cada uma das quatro regiões e estados mais poderosos do Brasil: Rio, S. Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. O Fluminense é o Sporting do Brasil, enquanto o Flamengo (campeão em título, após vinte anos afastado do topo), é o Benfica. Já o Corinthians é o FC Porto de lá e, por isso, o meu coração, no Brasil, pertence ao Timão. Mas a verdade é que também tenho bons amigos no Flu e há muitos anos também que eles não vibram com o título maior do Brasil — ao contrário dos adeptos do Corinthians, que, tal como os seus geminados adeptos do FC Porto, estão habituados a vencer recente e frequentemente.

E em Espanha, então, está tudo ao rubro para um dos dois jogos do ano: o Barcelona-Real Madrid, de segunda-feira. O meu sentimento patriótico está com o Real, com Mourinho, Ronaldo, Ricardo Carvalho e Pepe. Mas o meu coração em Espanha, esse, é do Barça — o FC Porto de Espanha — e hoje, talvez a melhor equipa que eu alguma vez vi e onde joga o que eu considero, de há cinco anos para cá e ano após ano, o melhor jogador do mundo e talvez o melhor de sempre. Esse rapaz tímido, chamado Leonel Messi, de quem não se conhece coisa alguma da vida privada, nem namoradas espampanantes, nem bombas automobilísticas de dezenas ou centenas de milhões de euros, nem anúncios de publicidade a tudo e mais alguma coisa, nem roupas estrambólicas ou penteados de gel que demoram meia hora a ser aprontados. Apenas um génio e uma inteligência de jogo absolutamente incompreensíveis.

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