terça-feira, agosto 02, 2011

A "REVOLUÇÃO" DE PAULO BENTO (19 OUTUBRO 2010)

1- Tenho esta tese – certamente alimentada pelo desconhecimento concreto das coisas – de que, salvo raras excepções, um treinador de futebol não conta assim tanto como os adeptos imaginam. Julgo que nenhum treinador consegue grandes resultados duradouros com uma fraca equipa ou uma má organização do clube; e que,com uma boa equipa e uma organização a apoiá-lo, a maioria consegue bons resultados. Claro que, depois, há diferenças de desempenho do treinador e é isso que acaba por contar, em condições de igualdade: a capacidade de preparar fisicamente a equipa, de ser capaz de tirar de cada jogador o melhor que ele pode dar, de motivar os jogadores nos treinos e nos jogos ou (a qualidade mais rara de todas) de ser capaz de alterar o curso de um jogo durante 90 minutos, através de substituições ou de alteração de posições ou forma de jogar. Mas o essencial é uma boa equipa, uma boa organização e ...sorte.

André Villas Boas está a provar isso mesmo no FC Porto. Que, sendo-se inteligente e futebolisticamente culto, não cometendo asneiras primárias, é possível, mesmo a um treinador sem experiência quase alguma se sem formação específica, colocar uma boa equipa, apoiada numa organização eficiente, imediata e tranquilamente na liderança. Inversamente, por exemplo, duvido que até José Mourinho – indiscutivelmente , um dos melhores treinadores da sua geração, ou mesmo o melhor – fosse capaz de colocar este Sporting dos últimos ano na liderança: julgo que, ao fim de pouco tempo, ele teria um ataque de nervos e de impotência e bateria com a porta.

Vem isto a propósito do estendal de encomios que Paulo Bento tem justificado apenas porque conseguiu derrotar em casa uma Dinamarca em crise e derrotar fora uma incipiente Islândia. Até já se fala da “revolução de Paulo Benrto!”. Ora, eu, que sempre louvei o estoicismo, a capacidade de resistência e a luta desigual que ele travou no comando do Sporting, acho tudo isto uma exagero absurdo.Paulo Bento não patrocinou qualquer revolução, assegurou a continuidade – que era, aliás, a única coisa sensata que podia fazer de emergência – e teve a sorte que o “pé frio” Queiroz, de facto, não teve. Dir-me-ão, e eu concordo, que teve também o mérito de não complicar tudo, como Queiroz tantas vezes fez, e que trouxe outra alegria aos jogadores. Mas, quando perguntaram ao Cristiano Ronaldo o que tinha mudado com Paulo Bento, ele respondeu que o novo treinador tinha sido capaz de motivar os jogadores a jogarem por Portugal: o mínimo exigível a um treinador de Selecção, aquilo que qualquer um de nós faria, no lugar dele.

No substancial, com quatro treinos e dois jogos em cinco dias, Paulo Bento não teve tempo para mudar o que quer que fosse e, de facto, não o fez. Repare-se: mantece os consagrados, os indiscutíveis da Selecção, Ricardo Caravalho em dupla com Pepe(se falhasse poderia sempre dizer que apenas tinha aproveitado a fórmula Mourinho, no Real Madrid), Fábio Coentrão, Raul Meireles, Nani e Ronaldo. Depois aliviado de Deco, Simão e Miguel, com Bosingwa lesionado e Liedson a suplente do Sporting, chamou quem a crítica reclamava: João Pereira, Moutinho, Carlos Martins e Hélder Postiga (se falhassem estes, poderia defender-se com o consenso geral). Na única decisão de risco que tomou, optou por não correr riscos pada fora: mAnteve na baliza um guarda-redes responsável pelo empate contra Chipre e a derrota contra Noruega. Viu-se em Reiquiavique que foi um erro, mas mais uma vez se pode defender dizendo que não escutou nenhuma voz a pedir a substituição de Eduardo. E teve ainda a sorte, que Queiroz não teve, de contar com Ronaldo – ausente nos dois jogos de Queiroz nas eliminatórias do Europeu e corpo-presente em todo o Mundial.

Pode ser ( e oxalá que sim!) que Paulo Bento venha a revelar-se o seleccionador de que Portugal precisava, neste momento e para a frente. Mas, honestamente, ainda estamos na fase do quod est dmonstrandum.

2- Francamente,eu não quero acreditar que a direcção do Benfica se prepare para fazer o que veio noticiado em alguns jornais: comprar os 2500 a que tem direito para o jogo do Dragão e, em lugar de os pôr à venda, deixar vazio o sector reservado aos adeptos benfiquistas, privando-os de assistir ao vivo a um dos jogos do título. Depois de apelar aos adeptos para não irem ver a equipa jogar fora de casa, o Benfica daria assim um passo em frente: em vez do apelo, a imposição. E, depois de ameaçar faltar ao próprio jogo e de impedir os adeptos de o ver ao vivo, só ficaria a faltar um apelo à Olivedesportos para que não transmitisse o Porto-Benfica na TV. Eu não acredito que cheguem a isso. E não acredito, porque a direcção do Benfica tem obrigação de saber que uma atitude dessas não pode seguramente passar sem consequências. Primeiro de tudo, o Benfica perderia, logicamente, o direito a voltar a reclamar os bilhetes que por lei lhe cabem nos jogos fora: porque o Benfica não é dono dos bilhetes, é apenas depositário, com a obrigação de os vender aos seus adeptos e de devolver as sobras ao anfitrião, para venda por este. Depois, é evidente que a Liga não poderia branuear um acto que se traduziria num verdadeiro boicote ao futebol e de um antidesportivismo total. E, finalmente, porque o Benfica tem mais de cem anos e ninguém responsável quereria manchar a sua história com uma nódoa destas. O que é preciso é promover a ida dos adeptos aos estádios, promover o futebol dentro e não fora das quatro linhas, acabar com as bolas de golfe e as pedras atiradas aos autocarros, promover o civismo contra o ódio, o desportivismo contra o manobrismo, a honra de lutar pela vitória contra ao medo de perder. E dizer, as vezes que forem precisas, que o futebol não é, nem poder ser, o princípio e o fim de tudo nem o mais importante de coisa alguma.

3- A muita e antiga amizade que Eduardo Barroso tem por António Pedro Vasconcelos não justifica que ele me coloque no mesmo cesto de virtudes que APV, a propósito das escutas. Eduardo Barroso diz que eu também fiz “um apelo para que fosse divulgada” a escuta do Apito Dourado envolvendo Luís Filipe Vieira. Não fiz apelo nenhum desses e não estou no mesmo cesto. Escrevi,sim que, se aquilo que move APV e os divulgadores das escutas é a tal “verdade desportiva”, não sei porque não tratam também de promover a divulgação dessa tão eloquente escuta. Mas eu, ao contrário de Eduardo Barroso, jamais ouvi escuta alguma – fosse na net, telefone, onde quer que fosse. E, ao contrário de APV, jamais promovi a sua publicação ou a sua divulgação, jamais apelei a que outros fossem ouvir ou divulgassem,e,sobretudo, jamais me utilizei de divulgação ilegal do conteúdo das escutas para promover juízos ou julgamentos populares, à margem da justiça comum. Agora, não posso deixar de ler jornais nem escutar noticiários e assim tomar conhecimento do conteúdo das escutas, como toda a gente de bem. Essa escuta ao presidente do Benfica veio publicada no jornal Publico e, no mesmo dia, LFV convocou uma conferência de imprensa, sem direito a perguntas, e onde, não negando o conteúdo da mesma, se limitou a alertar os benfiquistas que aquilo era uma manobra contra o clube e que outras semelhantes se iriam seguir (curiosamente, não se seguiu mais nada...)

E esta foi então a minha participação na “guerra das escutas” – menor que a do próprio Eduardo Barrosoe absolutamente diferente da do APV. O APV foi ouvir na net, apelou a que os outros o fizessem e, sabendo que a sua divulgação era ilegal e o caso era julgado, serviu-se delas num programa televisivo onde declarou que “grave é que as escutas não se possam ouvir legalmente”, porque “são os media que, neste momento, nos defendem da justiça”. Ó Eduardo, já ouviu falar do Juiz Roy Bean – “the law west of Pecos”? Não compare, meu caro amigo, o que não é comparável.

4- Também não quero acreditar na notícia que li e que me fez rebentar de riso: um steart do Estádio da Luz agrediu o Juan Bernabé, o homem da águia Vitória! O quê, um desses imprescindíveis “agentes desportivos”, pacíficos defensores da paz no túnel da Verdade Desportiva, uma dessas vitimas da selvajaria do Hulk, como disse o cómico da MEO, agora agride o tratador da Vitória? Caramba, seis meses de suspensão para a águia Vitória!

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