terça-feira, outubro 26, 2004

A estrada para a Luz ( 5 Outubro 2004)

Pela primeira vez em muitos anos, o Benfica é o favorito para o jogo da Luz. A menos que o conjunto de jogadores do FC Porto -infinitamente superior-expluda como equipa já daqui a quinze dias


1- É difícil dizer se Victor Fernandez tinha ou não razão para se mostrar tão visivielmente satisfeito no final do FCPorto- Belenenses.É verdade que o FC Porto conseguiu, finalmente, vencer um jogo oficial no Dragão esta época, que conseguiu, enfim,marcar golos (só por uma vez havia marcado dois), e que Diego mostrou, enfim, alguns golpes de génio, dos que fizeram a sua jovem fama e o trouxeram até aqui, vindo do lado de lá do Atlântico.Porém, não é consensual que, como disse Fernandez, o FC Porto já tenha mostrado sinais evidentes de conseguir actuar como equipa e não comoum grupo de jogadores desgarrados, pondo em campo e à vista de todos, um conjunto de jogadas e esquemas de funcionamento ensaiadas nos treinos. Pelo contrário, durante a grande maioria do tempo, e mesmo contra dez, a equipa continuou a mostrar uma desesperante falta de «alma» e de inspiração, uma vez mais perdendo o meio-campo, onde Costinha parece só conseguir jogar para os lados e para trás, e Diego -excepção feita aos golpes de génio que marcaram o jogo - não consegue,em continuidade, ganhar espaço em velocidade. Não penso, como muitos outros, que a grande diferença entre o Deco e o Diego seja o facto de o primeiro também defender e o segundo não. A primeira grande diferença, para mim, é a idade e a experiência, que só podem funcionar a favor da melhoria do jogo de Diego. A segunda grande diferença é que o Deco, quando recebe a bola, já está em movimento para a frente e já sabe o que fazer com ela, sem necessidade de parar para pensar; enquanto Diego, recebe a bola, roda sobre o adversário mais próximo, que continua à sua frente, e só então levanta a cabeça para ver o que fazer-são segundos preciosos que se perdem assim, tradicional da forma de jogar no Brasil, mas geralmente ineficaz na Europa. Nesse aspecto, o Carlos Alberto, com a mesma idade e a mesma escola do Diego, aprendeu muito mais depressa como se joga aqui e, por isso, faz pena vê-lo de fora em tantos jogos (veja-se como a entrada dele mexeu com toda a equipa, em Stamford Bridge).

Na semana passada, precisamente, escrevi aqui que, fosse qual fosse o sistema de jogo e o onze base em que Fernandez viesse a fixar- se, ele não poderia nunca, em minha opinião, prescindir regularmente de Carlos Alberto e McCarthy. Carlos Alberto, logo após entrar, esteve na origem do golo que reacendeu as esperanças contra o Chelsea, e McCarthy apontou esse golo e os dois últimos contra o Belenenses, aproveitando pouco mais do que 45 minutos em campo em ambos os jogos e a quase totalidade das oportunidades de remate de que dispôs. Em contrapartida, e como se tem visto, Fabiano não é um ponta-de-lança puro, Postiga está «ausente» em parte incerta e Derlei longe da forma que o tornou imprescindível. Dir-se-á, relativamente a Fabiano e a Derlei, que eles precisam de mais jogos-o que é verdade.Mas todos eles precisam de mais jogos, nenhum jogador melhora ou ganha confiança no banco.A questão é saber se será de boa política deixar de fora os que estão em melhor forma para que os outros ganhem jogos.

Pelo que se viu até às entradas de Carlos Alberto e McCarthy contra o Belenenses, é legítimo aliás, perguntar se o FC Porto teria ganho o jogo, se o precipitado critério disciplinar do árbitro Elmano Santos (iniciado, aliás, contra Pedro Emanuel, doPorto), não tivesse conduzido, muito cedo no jogo, à injusta expulsão de Juninho Petrolina. Estou em crer que sim, porque as três brilhantes jogadas de golo do FC Porto foram obtidas contra uma defesa do Belenenses até mais reforçada pelo facto de a equipa estar em inferioridade numérica. O que duvido é que, com onze, o Belenenses não tivesse marcado também, ou que o FC Porto tivesse marcado três golos.

2- Em Stamford Bridge a história foi outra.A derrota tornou- se previsível e inevitável desde o início, desde que a equipa mostrou falta de fé, de atitude e de coragem para procurar outro desenlace. E, se nada desculpa a desinspiração quase absoluta de tantas peças fundamentais da equipa e a sua extrema vulnerabilidade às jogadas de livres e cruzamentos, também é verdade que Mourinho teve a totalidade da sorte do jogo consigo, marcando em momentos cruciais e em três dos quatro remates que a sua equipa fez à baliza de Baía.O que mais irritou foi, por isso mesmo, a forma como o FC Porto já pareceu mentalmente derrotado à partida por uma equipa que está longe de valer (pelo menos para já) o valor que custou a sua formação, longe de possuir um futebol adequado ao estatuto de equipa mais cara do Mundo e longe-isso é o que mais deve custar a Mourinho-de valer o que valia o FC Porto de Mourinho das últimas duas épocas.

3- E, com o Benfica-Porto à vista já na próxima jornada, o Benfica segurou a sua preciosa vantagem de quatro pontos, em Guimarães. Também aqui se pode colocar a questão de saber se o Benfica teria ganho o jogo, não tivesse Marco Ferreira protagonizado uma das mais irresponsáveis e irracionais expulsões que há por hábito ver. De novo, penso que a resposta é sim: o Benfica teria ganho na mesma, porque jogou com vontade e talento para ganhar, do minuto 1 ao minuto 92, perante um Vitória encolhido e temente. E, aliás, diga-se que é uma pena o árbitro não ter visto a cotovelada sádica, premeditada e bem preparada, que o Silva pregou no Simão, porque ela merecia uma expulsão imediata (agora que o Silva já não joga nem no Boavista nem no Sporting, é de esperar que o CD lhe aplique o castigo devido. Ou o vídeo já não vale outra vez? Parece que não, pelo menos a avaliar pelo castigo zero sofrido pelo Tõnito, em razão daquela entrada a rebentar com o Derlei...).

Na melhor altura, também o Benfica vê Simão e Nuno Gomes quererem regressar aos bons tempos e, assim, pela primeira vez desde há muito, se há um favorito para o jogo da Luz, esse favorito é, desta vez, o Benfica. Só que o FC Porto tem uma equipa infinitamente superior à do Benfica, jogador por jogador. E, no dia em que eles finalmente explodirem como conjunto, o Benfica não terá hipóteses. Quando é que isso será, essa é que é a questão.

4- E, quando o campeonato começava a ganhar embalagem e emoção, lá vem nova interrupção para as Selecções.No nosso caso, para mais uns jogos contra equipas tão fracas que o próprio seleccionador confessa que nem se incomoda a ver jogar os seleccionáveis, seja ao vivo, seja na televisão. Talvez por isso, a convocatória do Postiga ou do Boa Morte.

Sem comentários: