quinta-feira, setembro 08, 2011

O JEITO QUE DÁ UM PENALTY REPETIDO! (14 DEZEMBRO 2010)

1- Aos 88 minutos do FC Porto-V. Setúbal do outro fim-de-semana, Elmano Santos assinalou penâlty contra o Porto, quando havia 1-0. O penalty caiu do céu para o Setúbal, que até aí não criara uma só ocasião de golo. Durante toda a primeira parte tinha-se limitado a montar um muro de Berlim à frente do ataque do Porto e a distribuir pancadaria à larga, perante a complacência de Elmano Santos e com todo o aspecto de estratégia de intimidação pensada e executada. Isso, mais três ou quatro defesas fantásticas do seu guarda-redes, tinham feito com que se chegasse ao minuto 88 com o FC Porto apenas com a periclitante vantagem de um golo. Para mais, um golo nascido de um penalty que, realmente, ninguém enxergou. Mas quero sossegar o portista Paulo Teixeira Pinto, que escreveu que, não tendo visto o jogo, ficou triste porque o nosso clube, ao que rezaram as crónicas, só tinha ganho graças a um penaify injusto. É verdade que sim, mas também é verdade que não: aos 88 minutos, Elmano Santos compensou esse penalty oferecendo também um ao Vitória, por uma falta que aconteceu sim, mas fora da área. Ou seja: o FC Porto ganhou, de facto, com um penalty que não terá existido, mas só ganhou porque o Vitória, que dispôs da mesma oferta, a desperdiçou e o FC Porto não. E disso o árbitro não teve culpa.

Aconteceu também que Jailson cobrou o penalty a favor do Vitória e fez golo. Mas o árbitro não tinha apitado e, logicamente, mandou repetir - e, na repetição, Jailson atirou por cima. O que eles foram fazer! O árbitro (que apitou 90 minutos sempre e sempre ostensivamente contra o Porto, apenas com o deslize do penalty a seu favor), foi crucificado. Eminentes benfiquistas arrolaram um argumento demolidor: será que, se a primeira cobrança do penâlty tem falhado, o árbitro mandaria repetir? Repare-se: ninguém questiona que, de facto, o árbitro não tinha apitado para a cobrança (e todos sabem que é preciso apitar para a cobrança de um penalty). Ninguém, no estádio ou na televisão, ouviu o apito, não há um registo de som que o comprove. Mas, que importa isso, para eles? Importa que o árbitro mandou repetir e a repetição salvou o Porto. Logo, o árbitro mandou repetir exactamente para salvar o Porto. Mas, se assim é, pergunto eu, porque razão, assinalou ele o penalty, quando a falta não foi evidente e, depois de vista em slow-motion, se percebeu que era fora da área? Se ele queria ajudar o Porto, porque inventou um penalty contra os azuis a dois minutos do fim?

E vivemos com este penalty e o outro a semana toda. Costinha veio declarar qualquer coisa sobre esperar que o Sporting não viesse a ter de pagar pelo prejuízo do Setúbal — uma clássica manobra de dois-em-um: lançar suspeitas sobre um rival no campeonato e preparar a arbitragem para o jogo da Taça com o Vitória. Depois de ver a prestação do Sporting em Setúbal, fica-se a pensar se Costinha não devia preocupar-se mais com o Sporting do que com os árbitros...

Também Jorge Jesus não resistiu a vir teorizar sobre o «critério dos penalties» e a curta distância a que o Benfica estaria do Porto se, segundo ele, o critério fosse uniforme. Pois, ele que fale. Mas o que nenhum penalty explica é aquilo que todos vimos: as duas tareias, sem apelo nem agravo, que o Benfica já levou do Porto, este ano; a vergonhosa campanha do Benfica na Champions; a nulidade do futebol que jogam — como ainda anteontem se viu, a jogar na Luz contra a quase reserva do Braga.

Jorge Jesus devia era tentar explicar que estranho fenómeno se passou com a sua equipa, para que, há seis meses atrás jogasse um futebol de vencedores, por todos reconhecido, e hoje jogue um futebol de vencidos, de gente sem garra e, aparentemente, sem vontade. Devia tentar contrariar isto que disse Jorge Araújo, treinador de basquetebol, que deu ao Benfica vários títulos nacionais, antes de rumar ao F.C Porto: «Deviam pôr os olhos na cultura desportiva do FC Porto. Eu vejo as entrevistas dos jogadores do FC Porto que estão lá há um mês e parece que estão há dez anos; e vejo as entrevistas dos jogadores do Benfica que estão lá há dez anos e parece que estão há um mês».

Pois, os penalties, as arbitragens, o sistema, o Apito Dourado, etc e tal, a lenga-lenga do costume. O problema é que, por mais fanatismo e cegueira que existam, o futebol é um jogo fácil de entender e, quem quer entender, entende. Desculpando-se com as arbitragens, a direcção do Benfica tentou (e fracassou) impedir os próprios adeptos do clube de irem ver os seus jogos, para que eles não vissem a verdade que estava à vista. Agora, pondera transferir a transmissão dos jogos para o espaço reservado do canal Benfica — tal qual as entrevistas do próprio Jorge Jesus, feitas em tranquilo ambiente com serventuários do clube a brincar aos jornalistas. Mas ainda faltam dois anos para que isso seja possível e, até lá, vamos vendo o Benfica em canal aberto ou na Sport TV. E o que vemos, meu caro Jorge Jesus, não dá para disfarçar. Apenas um exemplo: o Benfica-Académica, da 1ªjornada. Os benfiquistas vivem a alimentar a lenda de que houve um penalty por marcar, mais isto e aquilo, e só por isso é que não ganharam o jogo. Pois, talvez sim, talvez não, mas a verdade é que também aconteceu isto que eu vi: a Académica deu um banho de bola ao Benfica e mereceu mil vezes ganhar aquele jogo. Mas é tão mais fácil dizer que se perdeu por causa do árbitro!

2- Insisto: o futebol é um jogo simples de entender. Basta, por exemplo, um mínimo de conhecimento do assunto e um mínimo de experiência de observação para distinguir um bom jogador dum mau jogador, para distinguir um jogador que pode vir a ser um grande jogador de um que nunca passará da cepa torta. Estava a pensar nisso enquanto seguia na televisão o sonolento FC Porto-Juventude de Évora. O Álvaro Pereira não tem que enganar e não engana, desde o primeiro dia: é um fabuloso jogador. Ele, sozinho, mexe com toda a dinâmica atacante da equipa, sendo apenas defesa-es-querdo, tal qual o saudoso Branco, o melhor defesa-esquerdo que até hoje vi com aquela camisola. O Guarin, pelo contrário, jamais ultrapassará o seu Patamar de Peter, que é curto; jamais acertará regularmente um remate na baliza, por mais que tente, jamais será um distribuidor de jogo, por mais oportunidades que lhe dêem. O James Rodriguez, o miúdo que enfim se estreou em full-time, está na cara que tem tudo, todo o talento necessário, para vir a ser um grande jogador — quer como extremo-esquerdo, quer como um 10, as duas posições em que actuou anteontem. Mas isso não quer dizer que o seja, porque ele está naquela idade critica em que muito vai depender do empurrão que lhe der o treinador e da aposta que o clube queira fazer nele. E o FC Porto, infelizmente — e como se vê por tantas apostas adiadas na hora certa e depois desperdiçadas (de que o Candeias é um exemplo gritante)— tem o mau costume de, em lugar de puxar pelos miúdos, integrando-os aos poucos na equipe principal, mandar antes rodá-los em clubes menores, onde as condições de treino e os próprios treinadores são piores, o acompanhamento físico e clínico é débil e o futebol jogado não tem nada a ver com aquele que se exige a um jogador do FC Porto, em termos de cultura táctica e atitude competitiva. E assim se têm perdido grandes talentos potenciais ou já reais, a rodarem clubes e equipas onde eles só podem aprender o que não interessa. Espero bem que não venha a ser o caso deste miúdo James Rodriguez — seriam mais cinco milhões deitados à rua e um talento emergente desperdiçado por falta de coragem de apostar nele, ali e agora.

Como disse, a mim parece-me relativamente fácil distinguir os bons dos maus jogadores. Vejamos o Braga: quem são os grandes jogadores do Braga? Em minha opinião, dois: o central Rodriguez e o avançado Matheus. Mais nenhum. Mas há dois jovens que merecem a pena ser seguidos e estimulados: dois laterais — o Sílvio e este miúdo Guilherme, que vi jogar agora pela primeira vez, na Luz. Em contrapartida, ultrapassa-me a confiança que Domingos tem no Luís Aguiar, um jogador que se dá ares de grande craque, mas que, visto atentamente, não faz nada de bem feito, rigorosamente nada, ao longo de um jogo inteiro - nem sequer a cobrança de um livre ou de um canto.

E, depois, há os jogadores que confundem e não sabemos bem o que pensar deles. Voltando ao FC Porto, é o caso do Rúben Micael. Grande jogador no Nacional, fiquei feliz quando o vi chegar ao Dragão. Mas, fez dois bons primeiros jogos e eclipsou-se: nunca mais fez nada que merecesse registo. Hoje é um suplente, relativamente aproveitado, e parece conformado com esse estatuto. Joga a medo — um medo estampado na cara e no seu jogo, feito de passes para trás e para o lado, como se a bola o queimasse nos pés. Nunca tem um rasgo de ousadia, de inspiração, e raramente de lucidez. Chega atrasado a tudo o que interessa e, quando chega a tempo, é para adiantar de mais a bola e perdê-la. Dir-se-ia que desaprendeu de jogar bem - mas será que isso é possível?

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