quinta-feira, setembro 15, 2011

JESUS E O NATAL (28 DEZEMBRO 2010)

1- Nesta época do ano as atenções estão viradas para Jesus, de onde se espera vir um exemplo de esperança e bondade cristã. Mas, Jesus, o Jorge, não quis honrar o seu nome e aos costumes disse nada. Perante mais uma revoada de elogios que Pinto da Costa lhe dirigiu, Jesus achou por bem responder, melindrado e ofendido. «Ele quer é dividir a família benfiquista, mas os adeptos percebem-no porque são inteligentes», concluiu o mestre da táctica. E assim passou por muito espertinho e muito benfiquista, com direito a elogios aqui e tudo. Mas, em matéria de esperteza, Pinto da Costa leva-lhes vários comprimentos de avanço e deu-lhe a resposta à medida: «Não só é bom treinador, como também mostrou que é inteligente»

Não sei se Jorge Jesus percebeu bem a resposta, mas eu vou ajudar: o que Pinto da Costa insinuou é que, noutras circunstâncias, Jorge Jesus teria aceite os elogios de bom grado – como sucedeu no ano passado, quando o Benfica seguia na frente e o presidente portista fez as mesmas referências elogiosos ao seu treinador. Aí, Jesus não se amofinou nem viu nesses elogios tentativas de dividir a família benfiquista.Mas agora,quando alguns benfiquistas que no ano passado tanto o elogiavam também já ensaiaram a sua decapitação, Jesus achou prudente demarcar-se de qualquer contágio com o pérfido inimigo do Norte. Agora, os elogios podem soar a beijo da morte; mas, no ano passado, deram muito jeito quando se tratou de renegociar o contrato com o Benfica e alguma alma caridosa pôs a circular o boato de que o FC Porto queria sacar o treinador ao Benfica...

A mensagem de Natal de Jorge Jesus foi toda ela, aliás, uma mensagem de ressentimento e mau perder. O FC Porto, asseverou ele, só vai na frente, com oito ponto de vantagem sobre o Benfica, porque foi «empurrado pelas arbitragens» e só está em primeiro «com a ajuda de terceiros». Mas que mau perder! No ano passado, quando o Benfica, segundo ele, era a melhor equipa e dava espectáculo, não houve um portista, um só, que não reconhecesse e que não tivesse dito no final que o título fora merecido pelo Benfica. Apesar de também não haver um de nós que não se interrogue como teriam sido as coisas, não fosse aquela infame emboscada jurídico-desportiva do túnel da Luz. Infelizmente para os benfiquistas, essa é uma nódoa que para sempre manchará um título que, repito, foi todavia justo. Mas os factos falam por si: desde que o Conselho de Justiça, numa votação unanime dos seus sete juizes, enxovalhou as pseudo-razões jurídicas do dr.Ricardo Costa e devolveu o Hulk ao jogo, nunca mais o FC Porto perdeu – e já lá vão 36 jogos, com 33 vitórias e apenas 3 empates.

Acresce que à douta teoria de Jesus faltam algumas perguntas sem resposta: se o Benfica dava espectáculo o ano passado, porque não dá este ano? Se são as arbitragens que justificam tudo, qual foi a influência das arbitragens nas duas lições de futebol que o FC Porto deu ao Benfica esta época e que, a acrescentar ao último jogo entre ambos na época anterior, se saldam em três vitórias em três jogos e um score de 10-1 em golos? E que influência tiveram as arbitragens na miserável campanha do Benfica na Champions, a derrota em Israel por 0-3 e a classificação para a Liga Europa conquistada a dois minutos do fim, não por mérito próprio, mas por mérito de um golo marcado pelo Lyon que evitou que o Benfica ficasse em último lugar do grupo, atrás do pobre Hapoel de Telavive?

Não há dúvida: Jesus passou mal o Natal. Pode ser que passe melhor o Ano Novo.

2- O FC Porto joga habitualmente com dois ou três portugueses, no máximo. O mesmo faz o Benfica e o Braga joga habitualmente só com um. A excepção honrosa é o Sporting, por razões de tradição e de orçamento. Esta época, o campeonato português subiu ao primeiro lugar europeu, nas classificação dos campeonatos com menos jogadores nacionais em acção, destronando a Inglaterra: são apenas 43% de portugueses. E não parece que a coisa vá mudar: todos os dias a imprensa está cheia de notícias sobre mais um, dois ou três argentinos que estão na eminência de vir para o Benfica. É certo que normalmente acabam por ir para outros clubes, depois de eles próprios, mais o agente, o pai, a mãe e o cão já terem manifestado exuberantemente o desejo do rapaz se ver de camisola encarnada ao peito. Mas o que interessa é a intenção e o que ela revela da política desportiva do maior clube português: portugueses, nem vê-los!

Uma geração inteira de jogadores nacionais está a ser afastada pelos maiores clubes portugueses, com prejuízo dos atletas e da Selecção Nacional. E são isto clubes com o Estatuto de Utilidade Pública!

3- Não é preciso ser bruxo para adivinhar que a coabitação entre Costinha e José Couceiro vai acabar mal. E à custa de Costinha: quando, entre um director que reporta a um administrador, se enxerta de repente um terceiro elemento, isto só pode implicar que o de baixo foi destituído de poderes, em benefício do recém-chegado. Depois, é só esperar pelo desfecho.

Também quem conhece o Real Madrid e os homens em causa, previu logo de início que a coabitação entre Jorge Valdano, director, e José Mourinho, treinador, seria tudo menos pacífica. Na verdade, sinceramente ou a contragosto, Valdano tem primado pela ausência de picardias em relação a Mourinho. Mas, a semana passada, o português não resistiu e abriu ele as hostilidades. A julgar pela reacção do presidente, Florentino Pérez, e da imprensa espanhola, Mourinho terá medido mal as forças em presença e terá avalida mal a cultura da casa. O resultado é que, para já, teve de meter a viola ao saco e, se meditar no que escreveu, por exemplo, Santiago Segurota, director-adjunto da Marca, tão cedo não deverá tirá-la do saco:«O Madrid sempre se gabou do seu carácter nobre, de uma certa condescendência para com os rivais.Essa era passou. Mourinho só entende de conflitos. Instalou-se neles...Os adeptos apreciam o seu trabalho mas estão fatigados de tanta tensão desnecessária. Querem uma equipa que dispute a Liga com Honra, frente ao melhor Barcelona da história. O resto é um ruído cada vez mais chato.»

4- Fala-se que vendendo Tevez ao Milan por 45 milhões, o Manchester City estará na disposição de perder a cabeça e oferecer até 85 milhões por Hulk. Daqui se vê que bem avisada andou a administração portista quando pôs a cláusula de rescisão do Incrível nos 100 milhões. Mas acontece que o FC Porto apenas detém 50% do passe de Hulk, pelo qual pagou 5,5 milhões - a mais cara compra de sempre do clube. Ou seja, em caso de venda por 85 milhões, o FC Porto ficaria com 42,5 milhões. Seria a maior venda de sempre de um clube português, mas , mesmo assim, era preciso pensar muito bem – antes, por exemplo de fazer finca-pé nos 100 milhões. Todos sabemos como o FC Porto decaiu no ano passado, quando, graças ao golpe do túnel, Hulk esteve afastado 17 jogos. O FC Porto tem apenas três jogadores de altíssimo nível: Hulk, Falcao e Álvaro Pereira. São poucos para as ambições anunciadas. Tira-se um e a equipa acusa imediatamente a ausência; tira-se dois e fica uma equipa banal. Eu sei que, vendido o Hulk, logo partirá um administrador para a Argentina ou Colômbia, para tentar preencher a lacuna e sossegar os adeptos. Mas não há pior falsidade do que aquela absurda frase feita que garante que «só fazem falta os que cá estão»

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