sexta-feira, julho 01, 2011

À ESPERA DO FUTEBOL A SÉRIO (27 JULHO 2010)

1- Arrastamo-nos até 7 de Agosto, dia em que o futebol tem seu pontapé de saída oficial com o Benfica-Porto da Supertaça. Daqui até lá, é a época de todas as esperanças e ilusões, em que tudo é lícito esperar, sem temer as desilusões. Cansado da barrigada de futebol do Mundial, eu confesso que não tenho saudades de futebol e, dos jogos da pré-época, não vi mais do que quinze minutos do Benfica-Mónaco. Foram quinze minutos nos quais o Benfica virou o resultado de 1-2 para 3-2 e que bastaram para ver que os encarnados mantêm a sua impressionante capacidade de futebol ofensivo em pressão constante, que foi a sua arma decisiva no título da época passada. Dizem que sofre muitos golos, que tem um problema sério com o novo guarda-redes, mas as equipas que têm facilidade em chegar ao golo e em manter uma atitude de ataque regular, podem-se permitir abanar cá atrás, porque vão ganhar muitas mais vezes do que perder. Saber defender não é muito difícil; saber atacar, isso sim, já é mais complicado.

O Sporting, estranhamente para mim (que tenho sempre dificuldade em levar a sério as suas crónicas candidaturas a campeão) , anda por aí a acumular, ao que escrevem, bons jogos e bons resultados contra equipas de primeiro plano europeu, como o são indiscutivelmente o Manchester City e o Tottenham. E até conquistaram um torneio internacional de Verão, coisa rara nos últimos anos. Óptimo, tem mais graça uma luta a três do que a dois — ou ao menos, um começo de luta a três. E digo a três e não a quatro, porque, pelas indicações lidas e por experiência adquirida, não me parece que oSporting de Braga este ano consiga repetir o bom desempenho da época passada. Tive ocasião de lamentar aqui que, independentemente do mérito tido nessa campanha, fosse o Sp. Braga e não o FC Porto a disputar um lugar na Champions. Porque o FC Porto já todos sabemos que, em qualquer circunstância, tem capacidade para o fazer e seguir em frente, enquanto que o Braga, oxalá me engane, mas não o estou a ver a conseguir entrar no quadro final da Champions — e assim se desperdiçará a oportunidade de ter duas equipas nacionais entre as 32 principais da Europa.

Quanto ao FC Porto, pois apenas sei o que leio nos jornais, visto que a SAD portista não quis deixar transmitir nenhum dos jogos de preparação que a equipa fez até aqui. Mas, nas entrelinhas do que leio, julgo ter percebido que o grau de preparação da equipa, de habituação aos métodos do novo treinador e de entrosamento dos novos jogadores está numa fase mais atrasada do que a dos seus rivais de Lisboa. Parece também que dos oito novos reforços apenas João Moutinho conquistou de entrada um lugar no onze com mais probabilidades de vir a ser o titular. Mas o principal problema de André Villas-Boas é a indefinição do plantel com que irá ter de trabalhar. Uma coisa é preparar a equipa contando com todos, outra coisa é prepará-la na expectativa de poder ficar sem o Fucile, o Bruno Alves ou o Raul Meireles.

O arrastar desta indefinição tem reflexos de vária ordem e não deve ser estranho ao facto de nada se consumar também nas tão anunciadas transferências de Kleber e Walter— que, em circunstâncias normais, de há muito que a SAD teria resolvido, de uma maneira ou de outra. A SAD tem um problema real entre mãos: precisa de vender, não um, mas dois jogadores, pelo menos. Precisa de realizar 40 milhões de euros em vendas: 20 para repor o investimento já feito na compra daqueles oito jogadores e mais os que ainda quer comprar, e 20 para salvaguardar a cobertura financeira dos crónicos défices de gestão, sempre cobertos pela venda de alguns dos melhores jogadores. Como aqui o escrevi há dias, esta espera por ofertas de compra comporta dois riscos efectivos: que acabe por vender algum daqueles jogadores a preço de saldo, em desespero de causa; ou que, confrontada com uma proposta envolvendo algum dos jogadores cuja venda não estava prevista (Álvaro Pereira, Hulk, Falcão), acabe por ter de os vender para realizar dinheiro de alguma maneira.

Entretanto, o braço-de-ferro com o presidente do Marítimo, a propósito de Kleber, tem sido o mais inexplicável folhetim deste defeso. Ainda não consegui perceber ao certo o que anda a emperrar o negócio, mas parece-me que ele tem três perspectivas pelas quais pode ser analisado: a perspectiva de facto, a perspectiva de direito e a perspectiva moral. Sobre a perspectiva de direito, as coisas afiguram-se claras: o Marítimo recebeu o jogador de empréstimo do Cruzeiro por um período de dois anos, que podia ser interrompido contra indemnização a favor do Marítimo Sendo essa a vontade do Cruzeiro e do jogador, não há dúvida de que o Marítimo tem direito a essa indemnização. Surge então a questão de facto, verdadeiramente misteriosa: o Cruzeiro diz que já pagou essa verba e o Marítimo diz que não a recebeu. Um dos dois está a mentir e não deve ser difícil aos brasileiros provarem que pagaram, se, de facto, o fizeram. Sob a perspectiva moral, porém, aposição do Marítimo, mesmo que juridicamente coberta, é insustentável. Se um amigo me emprestar um carro por dois anos mas, ao fim de um ano, mo pedir de volta antecipadamente porque tem um comprador para ele, eu devolvo-lho, agradecendo o empréstimo. O Marítimo, porém, só devolve contra dinheiro, não se envergonhando de fazer dinheiro com a generosidade alheia. Porque o Marítimo não comprou o jogador, não o formou: limitou-se a recebê-lo de graça durante um ano. E é um bocado chocante que mantenha cativo um jogador que não é seu, contra a vontade de quem lho emprestou e, sobretudo, contra a vontade do próprio jogador, que não lhe pertence. Espero que, quando tudo isto terminar, de uma forma ou de outra, a SAD do FC Porto tenha aprendido a lição: empréstimos de jogadores ao Marítimo ou relações privilegiadas, nunca mais.

2- Alberto Contador ganhou o Tour de França, Fernando Alonso ganhou o Grande Prémio da Alemanha em Fórmula 1. A Espanha prossegue a sua incrível colheita de triunfos planetários em diversas modalidades desportivas, muito para além do que a sua capitação normal, em função da população e do PIB, lhe reservaria. Decerto que isto tem um segredo e talvez fosse bom descobri-lo e tentar imitá-lo.

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