quinta-feira, julho 14, 2011

NOVE PONTOS E MAIS TUDO O QUE NOS SEPARA DO BENFICA (28 SETEMBRO 2010)

1- Soma e segue: seis jogos, seis vitórias no campeonato; dez jogos oficiais esta época, dez vitórias; e, com o acumulado da época anterior, vinte jogos oficiais desde que o Hulk regressou do túnel da verdade desportiva e... vinte vitórias. Realmente, Luís Filipe Vieira e Ricardo Araújo Pereira têm razão: o Hulk é uma banalidade . Deve ser por isso que tão empenhadamente manobraram para o tirar de jogo...

Sábado à noite no Dragão, Hulk resolveu o assunto, uma vez mais. A frequência com que o vem fazendo é um prazer para os portistas, mas também um factor de reflexão: sem o Hulk em campo, o FC Porto teria ganho ao modesto Olhanense? Contente, como não podia deixar de ser, com os resultados conseguidos por André Villas Boas neste arranque-canhão de temporada, renovo, todavia, as preocupações já aqui manifestadas. E, para ir direito ao assunto, digo isto de entrada: o FC Porto (mesmo o último) de Jesualdo Ferreira jogava mais, melhor e mais espectacular futebol — e tinha perdido o Lucho e o Lisandro e, durante grande parte da época, viu-se privado de Hulk e Varela. É verdade que o FC Porto aparece agora menos irregular, jogando sempre o necessário e o suficiente para ganhar, mas também é verdade que o único teste difícil que teve até à data foi o jogo com o Benfica na final da Supertaça (e, não sei se por acaso ou não, aquele em que melhor jogou). É verdade que tem muita posse de bola e controlo de jogo, mas desapareceram a velocidade e a profundidade das saídas para o ataque, que tornavam o seu jogo bem mais emocionante e perigoso.

Gosto muito de ir à frente, dos nove pontos de avanço, dos dez jogos oficiais só com vitórias. Mas aquele futebol aborrece-me. Lamento, mas é assim. Sei que os outros estão todos a jogar pior ainda (embora o Benfica já pareça em recuperação), mas isso não me interessa. Por ordem, o que eu gosto é: a)- bom futebol; b) - o FC Porto; c)— o Esperança de Lagos. Suponho que já seja tarde para mudar.
Deste último jogo, retirei a confirmação de alguns pontos fracos na equipa, quase todos ao arrepio dos elogios da crítica. O Rolando acusa em demasia a falta que lhe faz o Bruno Alves ao lado (felizmente, o Otamendi parece uma boa aposta). O Fernando prossegue a má época passada, sem confirmar a promissora época de estreia: tem pouca velocidade e pouca técnica a defender, o que o leva a uma infinidade de faltas, algumas em locais bem perigosos; é verdade que recebeu ordem de soltura e, finalmente e de vez em quando, se aventura a ir à frente, mas é patético vê-lo chegar às imediações da área contrária e entrar em desespero se não tem ninguém ao lado para se livrar da bola (e um trinco tem de ser bem mais do que isso: lembrem-se que já tivemos um Doriva, que, num só jogo contra o Sporting, chegou a marcar três golos!). O Belluschi, que parecia ir finalmente arrancar para uma época ao nível do potencial técnico que tem, já caiu outra vez no estilo peru de Natal, passeando-se, literalmente (isto é, a passo), pelo campo e pelo jogo todo, de crista levantada, em poses de grande maestro, que não é. E o Falcão evaporou-se, desapareceu, sumiu-se algures, na travessia do Atlântico. O melhor mesmo, enquanto isto não melhora, é não deixar mais o Hulk pôr pé num túnel. E inscrevê-lo num curso de meditação budista, para aprender a levar porrada sorrindo.

2- Vítor Pereira pôs-se ajeito, e o Benfica, claro, aproveitou e abusou. Enquanto ele veio dizer o mesmo que eu aqui escrevi acerca dos célebres quatro erros de arbitragem contra o Benfica em Guimarães (a saber: que só um dos penalties existiu, mas é compreensível que o árbitro tenha tido dúvidas, e só existiu também o off-side mal assinalado a Saviola, igual a tantos outros, todas as jornadas e em todos os jogos), logo o Benfica lhe pôs na boca o reconhecimento de quatro, e não dois erros, e a frase, que nunca lhe ouvi, de que a classificação do campeonato estava adulterada, mercê de erros de arbitragem. É o que acontece a quem resolve prestar vassalagem aos poderosos: nada lhes chega. Agora, vem Vítor Pereira tentar disfarçar a coisa, dizendo que passará a fazer um balanço da arbitragem a cada cinco jornadas. Pena que não o tenha dito antes.

3- 0 António Pedro Vasconcelos, um dos conjurados do célebre comunicado do SLB sobre a verdade desportiva — que ficará eternamente nos anais do despudor e do anedotário nacional —, achou que devia justificar a sua participação na coisa, escrevendo um artigo no Público. Infelizmente, para quem, como eu, de há muito se habituou a respeitá-lo e admirá-lo intelectualmente, o artigo é simplesmente lastimável. Diz ele, em suma, que o futebol português está há vinte anos viciado, por «um sistema de viciação de resultados» por parte dos que não respeitam «o primado da lei e da justiça». E isso só foi travado pela justiça desportiva, com os castigos aplicados no processo Apito Final. Porém, ó perfídia humana, esse louvável esforço do Dr. Ricardo Costa e seus pares foi destruído pela justiça comum, «que deixou impunes todos os envolvidos nos processos-crime», com isso «manchando a credibilidade dos juizes e dos tribunais». Não sei se o António Pedro já ouviu falar numa coisa chamada 'estado de direito' e se faz alguma ideia de como funciona um processo acusatório na justiça dos países civilizados. Mas recordo que os mesmos factos dados como provados contra o FCP e o seu presidente pelo tribunal sui-generis do Dr. Ricardo Costa (onde nem sequer um verdadeiro contraditório esteve assegurado), e que serviram para riscar o Boavista do mapa, retirar seis pontos ao FC Porto e condenar Pinto da Costa à pena, aliás inconstitucional, de dois anos de silêncio, foram também analisados por seis outros tribunais — e, estes sim, tribunais a sério e reconhecidos como tal: o tribunal desportivo da UEFA, três tribunais criminais de primeira instância e dois tribunais superiores de recurso. Goste ou não APV, todos os seis se pronunciaram pela improcedência das acusações e falta de veracidade das provas. Mais: a testemunha central de todo o processo, tão acarinhada pelo Benfica e pela Dr.-Maria José Morgado, acabou, ela própria a responder por uma extensa lista de suspeitas de crimes, dos quais o menor é o de perjúrio. E o APV acha que o que saiu manchado foi a credibilidade de quinze magistrados de carreira de seis diferentes tribunais que concluíram o contrário do que ele queria, e não a credibilidade dos juizes de opereta escolhidos pelo Benfica para essa paródia de justiça chamada Comissão Disciplinar da Liga! É isto, então, o que APV entende por o «primado da lei e da justiça»! Como seria um tribunal escolhido pelo APV? Como seria a justiça aplicada por ele?

O APV — que, em tempos, era um feroz crítico da actual Direcção do Benfica (por razões que nem eu entendia), e que hoje, por razões que só ele poderá explicar, é uma espécie de megafone da mesma Direcção e da verdade desportiva—, não teve pudor algum em defender a infâmia que foi o episódio da suspensão do Hulk. Não teve pudor em participar na concepção ou redacção e defesa de um comunicado onde, pela primeira vez na história, um clube apela aos seus adeptos para que o não vão ver jogar nos jogos fora, dizendo que a arbitragem não dá garantias de isenção (e na Luz, depois de atravessarem o túnel da verdade, os mesmos árbitros já dão garantias de isenção, é?). Não teve pudor em ser parte na concepção de um texto onde a Direcção do Benfica (que ganhou há dois anos a Taça da Liga da forma escandalosa que o país todo viu), declara que talvez não participe na mesma taça, visto que as arbitragens, por antecipação, também não lhe dão garantias. E agora sai-se com este texto no Público, onde vem declarar que o futebol português está viciado há vinte anos e só por isso, infere-se, é que o FC Porto ganhou tudo o que ganhou e queo mundo viu! E onde vem declarar que a justiça se cobriu de vergonha ao não acreditar na D. Carolina Salgado e não acompanhar o caminho da verdade desportiva tão exemplarmente apontado pelo absolutamente isento Dr. Ricardo Costa!

Tenho pena. É que o APV não é propriamente o Ricardo Araújo Pereira ou o Sílvio Cervan, que ainda na sexta-feira aqui escrevia que, não fossem as arbitragens adulterantes, e o Benfica estaria à frente deste campeonato (conforme todo o país reconhece que seria mais do que justo...). Dizem que o futebol cega, mas não acho que seja tanto assim. O futebol tem as costas largas.

4- Exemplo: A BOLA tem três cronistas portistas — o Francisco José Viegas, o Rui Moreira e eu próprio. E, fora os da casa, tem três benfiquistas: o RAP, o Sílvio Cervan e a Leonor Pinhão. Nós, os três portistas, todos aqui escrevemos que (apesar do túnel da verdade, de quase metade dos jogos terminados com superioridade numérica e tudo o resto), o campeonato do ano passado ganho pelo Benfica foi inteiramente justo, porque jogou o melhor futebol. Todos o escrevemos e não tenho a menor dúvida de que, repetindo-se a situação, escrevê-lo-emos novamente. Mas alguém já viu algum dos cronistas benfiquistas reconhecer mérito, já não digo a um campeonato, uma taça, uma Champions, mas apenas a uma vitória do FC Porto num simples jogo?

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