Com Mourinho, um bom jogador não fica nunca sem trabalho e um jogador medíocre não consegue nunca passar por bom.
1- Amanhã, à noite, José Mourinho vai estar pela segunda vez de regresso à casa que o projectou para os altos céus onde agora habita. Um jornal inglês telefonou-me há dias para perguntar coisas sobre Mourinho e saber como é que ele iria ser recebido no Dragão. Disse-lhes que, pela minha parte, e julgo que por parte de quase todos os portistas, iria ser recebido com o respeito e a gratidão que merece quem deu tanto ao FC Porto e, com toda a legitimidade e normalidade, quis depois subir um escalão mais na sua vida profissional. Porque, para os portistas, só pode ser motivo de orgulho que o Chelsea, depois de 50 anos à fome, tenha necessitado de vir buscar o nosso treinador para conseguir ser campeão de Inglaterra. Queriam saber também quais eram, em minha opinião, as razões para o sucesso de Mourinho — uma questão que já me colocaram inúmeras vezes. Acho que a questão também já foi respondida inúmeras vezes e por diversas pessoas e pouco mais ou nada há já a acrescentar. É consensual que a maior parte do seu sucesso tem que ver com a forma quase obsessiva como prepara, estuda e planeia os jogos. Com a capacidade que tem de conseguir extrair o máximo de cada jogador e com o olho clínico que tem para raramente se enganar neste aspecto: com Mourinho, um bom jogador não fica nunca sem trabalho e um jogador medíocre não consegue nunca passar por bom. Parece simples, mas a experiência mostra-nos que para muitos treinadores as dificuldades começam exactamente na incapacidade de distinguirem um bom jogador de um jogador banal. Depois, Mourinho tem uma outra característica que é muito pouco portuguesa e que por isso o ajudou a fazer a diferença entre nós. Não tem medo de correr riscos, de aceitar desafios, de ir à luta, por mais incerto que pareça o seu desfecho. Com Mourinho no comando, não me recordo de o FC Porto ter alguma vez enfrentado um destes grandes desafios europeus com o seu treinador borrado de medo — e de medo transmitido à equipa — como tantas vezes vejo suceder. O normal dos portugueses é procurarem sempre um abrigo para as situações difíceis e uma desculpa para as derrotas: ou é o Estado, ou é o chefe ou é o árbitro. O risco e a culpa são sempre transmissíveis. Não admira, assim, que, depois de ter vencido tudo o que havia para vencer por aqui, José Mourinho tenha olhado à volta e percebido que o horizonte estava fechado.
Amanhã, os portistas (e só os portistas, deixemo-nos de hipocrisias…) vão todos torcer contra Mourinho, mas com todo o respeito, conforme é normal e justo. Nesta sua segunda volta a casa, depois da saída, ele espera poder desfazer a memória da primeira visita, onde o seu imbatível Chelsea caiu às mãos de um FC Porto então à deriva, mas que nessa noite se transcendeu, ao ponto de até Diego ter conseguido marcar um golo de fora da área — ele que só por acaso é que acerta na baliza. Mas, amanhã, as perspectivas são ainda mais negras do que então. O que faz a diferença entre o Chelsea e o FC Porto é que na milionária equipa inglesa todos os jogadores são bons e, por isso, se não for a noite de Terry será a de Ricardo Carvalho ou de Petr Cech, se não for a de Essien será a de Lampard, se não for a de Drogba será a de Schevchenko. Enquanto que no FC Porto há três jogadores excepcionas, três razoáveis e o resto banais. Quer dizer que para poder levar de vencida o Chelsea, o FC Porto precisa de todos os seus talentos em acção e todos os outros sem falhas. Mas, como se sabe, desde aquela entrada (oh, puramente acidental e nem sequer faltosa!) de Katsouranis sobre Anderson, secou a principal fonte de inspiração ofensiva do futebol portista e o principal motivo de beleza do campeonato português. Logo aí ficou ameaçado de morte o destino da época europeia do FC Porto e eu pessoalmente temo que nem sequer haja mais Anderson para o resto da época. Sem ele, e em grande parte graças ao levantamento do estandarte por parte de Ricardo Quaresma, foi possível, mesmo assim, continuar a liderar o campeonato e ultrapassar a fase de grupos da Liga dos Campeões. Mas, aqui chegados, conseguir ir ainda mais além face à luxuosa equipa do Chelsea não é tarefa impossível mas é terrivelmente desigual. E, tendo eu como certo que uma equipa como o Chelsea não falha, vencê-la só se tornará possível se for o FC Porto a transcender-se. Oxalá!
2- Quinta-feira passada, na véspera de o Conselho de Justiça se reunir para analisar os recursos dos castigos impostos pelo CD a José Pedro, do Belenenses, e Ricardo Quaresma, do F C Porto, li dois textos onde se estranhava que a decisão fosse ser tomada em tempo útil. Estranhava-se não, desconfiava-se, insinuava-se. Desconfiava-se em tanta rapidez por parte do FC Porto que nem sequer gastara todo o prazo disponível para a interposição do recurso; desconfiava-se que o CJ fosse tomar a decisão no próprio dia em que o FC Porto iria jogar com a Naval e queria utilizar o Quaresma. E, entrelinhas, insinuava-se em tudo isto um tratamento de excepção e favor, talvez digno de aturadas investigações do dream team da Dr.ª Maria José Morgado. Ou seja: desconfiava-se que o clube que estava interessado numa decisão rápida não atrasasse o processo; desconfiava-se que, no meio tenha havido uma semana com a Taça, que fez prolongar o período útil da decisão, e desconfiava-se que, na primeira reunião ordinária em que o pudesse fazer, o CJ se ocupasse do assunto. Numa palavra, desconfiava-se do facto banal de a justiça poder, por uma vez, funcionar em tempo útil e cumprir a sua função. Com tanta desconfiança e tanta insinuação, o CJ tomou a inexplicável e inexplicada decisão… de não tomar decisão alguma, fazendo com que um eventual vencimento do recurso por parte do FC Porto não tenha efeito útil algum. E, para tornar as coisas ainda mais inexplicáveis, o CJ decidiu o recurso de José Pedro e esqueceu o de Quaresma. Agora, é bom de prever que só confirmando a decisão recorrida é que o CJ pode supor que sai de face levantada. Por parte do FC Porto, julgo que tudo fica, ao menos, cristalinamente claro: dentro e fora do campo, este vai ser um campeonato terrível de ser ganho. Nunca tantos tentaram tanto contra tão poucos. Mais dois ou três jogos sem o Quaresma — arrumado por entrada acidental de um adversário ou por imposição de um juiz-de-linha após uma palmada acidental — e o campeonato pode ficar decidido.
3- Três atletas de três modalidades diversas do Benfica apanhados sucessivamente no controlo anti-doping é, em termos de imagem pública, a pior resposta que podia ser dada de dentro para fora à ronda de conversações políticas em que o presidente do Benfica explicou aos partidos como era preocupante a situação do combate ao doping em Portugal — no qual, como em tudo o resto, o Benfica, e só o Benfica, está na primeira linha de combate pela transparência e et cetera e tal. Azar.
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