terça-feira, novembro 20, 2012

ANTES QUE FIQUE DEMASIADO FEIO (08 NOVEMBRO 2011)

1- Antes que tudo comece a ficar demasiado feio, Pinto da Costa deve chamar Vítor Pereira, agradecer-Ihe os serviços prestados numa situação de emergência, mas explicar-lhe também, amigávelmente, civilizadamente, que o FC Porto é mais importante do que a carreira de qualquer treinador. Pinto da Costa, que sabe muito mais disto a dormir do que eu acordado, já percebeu obviamente que, tal como aqui escrevi há umas semanas, com Vítor Pereira, o FC Porto não vai a lado nenhum. Não foi preciso para o confirmar nem a miséria da exibição (mais ainda do que do resultado) em Nicosia, nem o empate e nova demonstração de impotência em Olhão. Para se perceber que a experiência falhou e não tem hipóteses de redenção, basta atentar nas declarações do próprio Vítor Pereira. Quando diz que "jogámos à Porto» em Nicosia, ou que “tudo fizemos para ganhar” em Olhão, Vítor Pereira demonstra bem até que ponto ainda não realizou que há uma diferença abissal entre o FC Porto e o Santa Clara, dos Açores. De igual modo, quando insiste em colar-se às vitórias de Villas Boas, como obra sua por igual, ou quando afirma que os resultados desta época são “semelhantes” aos da anterior (como se empatar em casa com o Benfica fosse semelhante a ganhar 5-0, ou empatar a zero em Olhão fosse semelhante a ganhar 3-0), ele mostra como o desespero o leva a invocar uma biografia que não tem para reclamar a confiança alheia num presente que não tem nada que o recomende.

Ora, continuando tudo na mesma e o presidente do FC Porto a fingir que ainda acredita em milagres, o que se vai seguir vai ser feio de ver. Não apenas Vítor Pereira vai continuar a acumular disparates pontuais e erros de estratégia, vai continuar a exibir o seu desconhecimento dos adversários e a ausência de qualquer plano de jogo específico, vai continuar a potenciar a crise individual de todos e cada um dos elementos da equipa, assistindo, impotente, à transformação de grandes jogadores em jogadores banais, como, pior e mais importante, vai continuar a juntar onze jogadores que não fazem uma equipa e que não tem nenhuma ideia de jogo assimilada, treinada e posta em prática: não por acaso, o único jogo em que o FC Porto desta época ainda fez lembrar o da anterior foi o da final da Supertaça Europeia, contra o Barcelona — quando Vítor Pereira ainda não tinha tido tempo de treinar o que quer que fosse e os jogadores jogaram por si sós, com a embalagem trazida dos tempos de André Villas Boas. Mas, assim queo «mister» entrou em funções efectivas, tudo de bom se desvaneceu. Por isso, a segunda coisa feia a que vamos assistir (e que já começa a ser visível em alguns detalhes eloquentes) é ao desrespeito dos jogadores pela autoridade e competência do treinador. E isso é o fim da linha.

Outra coisa feia a que já começá-mos a assistir é o divórcio entre os adeptos e a equipa. O episódio lamentavel da espera feita por algumas dezenas de adeptos, às seis da manhã, à equipa que regressava de Chipre, foi um prenúncio do que aí vem: público ausente do estádio, equipa assobiada em campo, grandes jogadores tratados como diletantes e um treinador em quem os adeptos já não confiam. Há maneiras mais dignas, para todas as partes, de evitar que as coisas cheguem a esse ponto e de recomeçar tudo outra vez - porque, infelizmente, é disso que se trata. E daqui a uns anos, quando Pinto da Costa escrever o prometido prefácio à biografia de André Villas Boas, espero que não se esqueça de escrever isto: «Em Julho de 2011, quando faltavam três dias para a equipa seguir para o estágio da pré-época no estrangeiro, e tendo eu feito todos os esforços para manter, com excepção do Falcão, todos os jogadores titulares e ainda os acrescentar com outros que muito prometiam, fui surpreendido pelo André com a notícia de que accionava a cláusula de rescisão contratual e abandonava a sua “cadeira de sonho” seduzido pelo dinheiro fresco do Sr. Abramovich. Forçado a deitar mão da única solução imediata que me evitasse ter de ir eu próprio treinar os jogadores para estágio, vivi um amargurado Outono a ver como a grande equipa que tudo tinha ganho na época anterior era paulatinamente transformada numa equipa banal, incapaz de vencer um Feirense, um Olhanense ou um Apoel. E percebi assim que, ao contrario do que diziam, eu nao era o fazedor dc treinadores, com o dom infalível de pegar num anónimo e dele fazer um campeão. E percebi também que há uma diferença enorme entre um adjunto do Mourinho e um adjunto do Vllas Boas».

Resolvido este desagradável e decisivo detalhe do treinador, há que, a seguir, olhar para a equipa. O FCPorto tem uma boa equipa - ao nível da Liga Europa, por exemplo. Mas não tem uma grande equipa, ao nível da l.iga dos Campeões ou que lhe permita assegurar uma superioridade interna até há pouco incontestada. Falta ver o Danilo e o llurbe, um porque ainda não chegou, outro porque Vítor Pereira não deixa, porque tem aquela mania de alguns treinadores portugueses de que «está a preparar o miúdo, fazendo tudo com muita calma, para não o estragar». Mas, do que está à vista, o panorama é este: falla-nos um central de verdadeira categoria para jogar no lugar do Rolando e ao lado do Otamendi; falta-nos um bom trinco, que talvez pudesse ser o Souza, se aproveitado e trabalhado; falta-nos um ponta-de-lança, que não precisa de ser um Falcão mas tem de ser, obviamente, bem mais do que o Kleber ou o Walter; e falta-nos, como não me canso de dizer há mais de um ano, médios de ataque. Quantos médios de ataque - um, dois? Não, todos: três, pelo menos. Belluschi joga umas coisas de vez em quando; Guarín ainda mais de vez em quando e cada vez menos quando começa a mandar o empresário sugerir que ele é um talento desaproveitado; e Moutinho, o tão louvado Moutinho, é um jogador que não vai além de um futebol lateral e curto, de apoio e organização, que pode ser muito útil para quem joga recuado, mas é um peso morto como médio criativo e ofensivo, a quem se deve exigir o contrario disso: um futelol vertical e comprido, capaz de assumir o risco e romper com a organização. E Deffour, até ver e como rezam as críticas, tem, como principal atributo... jogar à Moutinho.

PS1 - Como sempre sustentei, as grandes equipas, os candidatos ao título, não se podem refugiar nas estafadas desculpas dos erros de arbitragem quando não jogam o suficiente para se colocarem ao abrigo deles. Um FC Porto normal tem de ter sempre a capacidade de vencer um Olhanenese, mesmo que eventuais erros de arbitragem tenham influência determinante no desfecho. E foi o que sucedeu em Olhão: Mauricio podia ter sido expulso aos 3 minutos pelas regras vigentes, mas era feio, se sucedesse; podia ter sido marcado um penalty por mão na bola de um defensor algarvio, que cortou um cruzamento para a área, mas eu, pessoalmente, detesto ganhar com estes penalties em que nunca se sabe ao certo se é mão na bola ou bola na mão (embora neste tenham restado poucas dúvidas de que a mão foi voluntária); e, sim, Hulk foi mesmo travado por uma perna alheia atravessada a sua frente no momento decisivo, e era penalty. Pelos critérios dos sportinguistas, o árbitro “roubou” 2 pontos ao Porto em Olhão (a acrescentar aos 2 que ofereceu ao Sporting na última jornada, a vantagem portista dos célebres “7 pontos roubados ao Sporting”, já está reduzida a 3...). Mas, não: nós somos Porto. E isso quer dizer que, quando se joga mal. quando não se joga o suficiente para levar de vencida uma equipa cujo orçamento é vinte vezes inferior ao nosso, não há erros de arbitragem, por mais pertinentes que sejam que, possam servir de desculpa.

PS2 - Julgo que, tal como eu, ninguém terá percebido as pertinentes razões que levam Paulo Bento a continuar a deixar de fora o melhor lateral direito português, Bosingwa, para o Play-off com a Bósnia. E também não percebi se quando fala em falta de condições «mentais e psicológicas» de Bosingua, está a sugerir que ele é burro ou louco. Tudo seria mais transparente se o seleccionador de Portugal deixasse de falar por gargarejos, mentais e linguísticos, e falasse um português tão claro como o futebol que se deseja para esta Selecção. É, alias, o mínimo exigível para um seleccionador de Portugal.

PS3 - Mourinho e Cristiano Ronaldo, juntos na equipa juntos no talento e nas vitórias. Independentemente de algumas manifestações de excesso de vaidade de ambos, eles são um farol de motivação e orgulho neste intenso nevoeiro pátrio. Só resta dizer-lhes obrigado.

1 comentário:

Pedro Soares disse...

Apesar de tudo, a permanência do Vitor Pereira pareceu-me uma decisão acertada. Estas duas derrotas não abalam a boa época que o Porto esta a fazer... E penso que as opiniões gerais de há um ano para cá mudaram à cerca do VP. Vamos esperar, fazer umas apostas online e confiar na vitória no presente campeonato!