segunda-feira, novembro 19, 2012

NADA MENOS QUE A VITÓRIA (01 NOVEMBRO 2011)

1- Ausente do país durante uns dias, deixei que a 9ª jornada do campeonato me passasse totalmente ao lado: não vi jogo nenhum, tive de acompanhar o FC Porto por sms e vi-me reduzido aos jornais ontem lidos no avião para fazer uma ideia aproximada do que aconteceu. O que não é fácil pois é preciso tirar a bissectriz entre várias opiniões apresentadas como relato factual do que sucedeu.

Por exemplo: actualmente, os jornais desportivos puxam pelo Sporting, o que se compreende. Há que aproveitar a onda vitoriosa dos leões para trazer de volta os leitores afectos ao clube, que de há muito andavam arredios, pois ninguém gosta de ler más notícias e comentários depreciativos sobre aquilo que preza. Nos jornais desportivos de ontem, o Sporting obteve mais uma vitória categórica e todos os lances duvidosos, e determinantes, da arbitragem foram bem julgados a favor do Sporting. O árbitro só terá mesmo errado num penalty que não assinalou a favor do mesmo Sporting. Já nos jornais generalistas, o relato é substancialmente diferente. O penalty reclamado pelo Sporting foi apenas isso: um penalty reclamado. O penalty a favor do Sporting, que inaugurou o marcador, foi descrito como 'no mínimo, forçado' assim como a expulsão de um jogador do Feirense, com dois amarelos em 3 minutos, abrindo o caminho ao triunfo dos leões. Diz-se mesmo que até à expulsão e ao penalty, decorreu mais de uma hora de um jogo equilibrado em que só o Feirense, aliás, dispôs de oportunidades. As fotografias, supostamente reveladoras, das faltas que originaram o penalty e a expulsão parecem de disputas de bola absolutamente banais. Mas pode ser que assim não tenha sido e que, se tem sido ao contrário, desta vez os sportinguistas não tivessem reclamado nada: aceitariam tranquilamente a expulsão de um seu jogador naquelas circunstâncias e não reclamariam de um penalty idêntico assinalado contra eles. Não teriam vindo dizer que já lhes levavam 9 pontos roubados — assim como agora não virão dizer que os 7 pontos roubados baixaram para 5. Assim como também não se queixaram do árbitro francês do jogo contra o Vaslui, que lhes perdoou um penalty e uma expulsão quando havia 0-0 e talvez tudo pudesse ter sido diferente.

Mas, entendam-me bem: eu não tenho opinião nenhuma porque não vi nada. Estou apenas a basear-me em relatos de outros, aliás contraditórios entre si. A única coisa que eu sei — e disso tenho a certeza é que, se não foi esta, haverá, seguramente, outras ocasiões em que o Sporting sairá beneficiado por erros de arbitragem, como sucede com todos os grandes. E sei que isso não entrará nas contas, nas memórias ou nos protestos dos sportinguistas. Quanto ao mais, estou contente por ver o Sporting de regresso à luta: primeiro pelo Domingos, que muito estimo pessoalmente e admiro profissionalmente; segundo, pelos meus amigos sportinguistas; terceiro, pelo campeonato, que sempre anima um pouco (embora, como é óbvio, eu, como qualquer adepto, preferisse ver o FC Porto destacado na frente). Sem dúvida que Domingos está a mudar o jogo e a mentalidade da equipa. Contra o meu vaticínio, conseguiu pegar naquela sociedade das nações, em que quase ninguém conhecia ninguém, e dela fazer uma equipa. E certo que essa equipa ainda não foi verdadeiramente posta à prova, mas Domingos tem sabido aproveitar muito bem a folga concedida por uma longa sequência de jogos fáceis ou acessíveis para forjar o espírito de vitória, que era coisa desconhecida por aquelas paragens há vários anos. O teste de fogo, porém, já não tarda muito e logo saberemos se o Sporting é ou não candidato ao título. Se fosse contra o FC Porto do ano passado, eu apostava já que não. Contra este, a música é outra, mas não é ainda a marcha triunfal que nos querem fazer crer. A ver vamos.

Sobre o meu FC Porto, tive um breve relato oral de um portista que é bem mais exigente do que eu. Diga-se que, estando a viver fora, esta foi apenas a segunda oportunidade que ele teve de ver o FC Porto de Vítor Pereira, embora só através da televisão. A primeira foi o infeliz jogo de S. Petersburgo e o pobre ficou arrasado com o que viu. Agora, tendo vindo de fim-de-semana à Pátria, teve nova oportunidade de avaliar o nosso clube, desta vez num jogo caseiro contra o Paços de Ferreira, e foi a ele que eu pedi uma opinião do que tinha visto. Foi breve e nada optimista: «Uma chatice de um jogo! Não estamos a jogar nada!» Confesso que, mesmo conhecendo o seu grau de exigência, fiquei um pouco abalado. Como abalado fiquei depois de ter lido que o James foi outra vez utilizado apenas como suplente e que substituiu o Hulk que saiu zangado, oxigenado e assobiado, depois de, ao que parece, ter andado a jogar sozinho durante uma hora (coisa que ele costuma fazer quando sente que a equipa não está a jogar nada). Pensei no Falcão, que mais uma vez ficou em branco ao serviço do Atlético de Madrid e na entusiasmante luta pelo 10º lugar do campeonato espanhol. Pensei no André Villas Boas, tão bem recebido como Dragão de Ouro, que encaixou a segunda derrota consecutiva na Pretnier League e que já deve ter dito adeus ao título. E pensei nessa equipa de sonho que todos formavam na época passada e que agora parece um conjunto de solidões dispersas em busca de um esplendor perdido.

Esta noite, em Nicosia, eu espero ardentemente que regresse parte desse esplendor e dessas memórias felizes. Eu sei, já o ouvi suficientemente, que o futebol cipriota (no caso, luso-cipriota) nada tem que ver com a coisa indigente que foi até alguns anos atrás. Mas dêem-se as voltas que se quiser ao texto, não há qualquer comparação possível entre o APOEL de Nicosia e o FC Porto. Não há comparação a nível de historial, de experiência internacional, de jogadores ou de orçamentos. Qualquer outro resultado que não seja a vitória hoje, a resgatar o impensável empate do Dragão, será inaceitável e indesculpável. Eu espero que Vítor Pereira ponha a jogar simplesmente os melhores, que tenha estudado melhor o adversário e tenha aprendido alguma coisa com o que viu no Dragão e que, consequentemente, tenha um plano de jogo definido e que seja um plano de vitória. Uma vitória rápida, convincente e redentora. Até porque qualquer outro resultado, mesmo o empate, levantaria mais do que sérias dúvidas sobre a capacidade de o FC Porto atingir os oitavos-de-final da prova. E escuso de explicar porquê que isso seria desastroso. Espero que, a fazer fé no relato dos jornalistas embedded na organização azul e branca, a breve crise vivida a seguir ao empate caseiro com o APOEL e antecedida dos empates com o Benfica e o Feirense, já seja coisa do passado — diluída, esquecida, ultrapassada pelas duas consecutivas e recentes goleadas caseiras.

Quanto ao Benfica, ganhou curto mas suficiente ao Olhanense e amanhã irá certamente carimbar o passaporte para os oitavos de final da Champions. É curioso como é que não sendo cabeça-de-série na prova, como o FC Porto o foi, o Benfica acabou por apanhar um grupo muito mais acessível e muito mais confortável, em termos de deslocações. Mas o futebol é assim: não é só a bola que entra ou não entra na baliza; é também a bolinha do sorteio que, por mais orientada que já esteja, sempre tem margem para a sorte e o azar.

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