sábado, novembro 17, 2012

FELIZMENTE, HÁ JUSTIÇA! (18 OUTUBRO 2011)

1- Eu bem que me tinha queixado na semana passada que já andava com saudades do futebol a sério! E parece que fui ouvido: ei-lo de regresso, pela mão dessa prestigiadíssima instituição chamada Ministério Público! Sim, digo prestigiadíssima, porque não me ocorre outra qualificação mais adequada: é certo que o BCP vai acabar em nada, o BPN continua com toda a gente em liberdade e todos nós roubados de 13º e 14º mês para pagagarmos os desfalques do banco, o sucateiro de Ovar irá em paz, todos os que assinaram contratos ruinosos para o Estado dormirão o sono dos justos, o Colosso do Atlântico, que, entre outras e inúmeras aventuras, andou a desviar verbas da solidariedade nacional para com as cheias do Funchal para pagar folguedos de Ano Novo e Carnaval, permanecerá impune, nas urnas e na justiça, e, de um modo geral, todos os bandidos feitos comendadores e todos os comendadores feitos bandidos nada têm a temer do zelo justiceiro dessa nobre instituição que é o Ministério Público. Tudo isso é verdade, como de há muito sabemos. Mas, em contrapartida, o zelo persecutório que o MP revela contra o FC Porto deixa-nos sossegados: afinal, a justiça ainda funciona em Portugal, ao contrário do que algumas opiniões de mal intencionados pretendem fazer crer!

Durante dois ou três anos, com base nas revelações de uma famosa e também muito prestigiada escritora, a nobre instituição judicial assanhou-se, como de há muito não se via, para tentar defender a tese dos invejosos de que a razão única para os sucessos continuados do FC Porto, ao longo de trinta anos, era apenas uma: um sistema pérfido de batotas organizadas, através do controlo e corrupção absoluta de todos e cada um dos árbitros de futebol. Não foram nem o calcanhar do Madjer, o voo do Jardel sobre os centrais ou a cabeça do Falcão que ganharam campeonatos aqui e títulos europeus e mundiais além: foram os árbitros, o sistema, a máfia. O zelo foi tanto, que o MP chegou a constituir uma task-force, baptizada de dream team, comandado pela drª Morgado, e que, dia e noite seguiu os indícios, farejou as provas, flagrou os crimes. E chegou mesmo a conseguir, num arroubo de audácia e empenho jamais vistos, inverter o depoimento de uma testemunha da defesa, que virou testemunha de acusação, assinando, às 2 da manhã em Lisboa, um papel, para ser entregue na manha seguinte no Tribunal de Aveiro, a retratar-se de tudo o que antes havia dito. Essa foi uma das grandes vitórias conseguidas pelo MP na investigação do chamado Apito Dourado. Houve outras certamente, se bem que não me ocorram agora, e que se sobrepuseram ao desfecho final de tanto esforço: três processos mandados arquivar pelos juízes de instrução criminal por absoluta falta de indícios de qualquer crime, e um quarto processo levado até julgamento, que terminou, não só com a absolvição de Pinto da Costa mas também com uma sentença que arrasou o espírito aventureiro do MP. Enfim, por esse lado, o Apito Dourado saldou-se, é triste ter de o reconhecer, pela completa humilhação do MP e o gasto em vão de uns largos milhares de euros, suportados pelos contribuintes. Enfim, nada a que essa louvável instituição não esteja habituada.

Mas é apanágio dos verdadeiros justiceiros nunca largar a presa: se não conseguem agarrá-la de uma maneira, tentam doutra. Se não conseguiram chegar a Pinto da Costa, chegam aos jogadores da sua equipa. Se não conseguiram que tribunal algum levasse a sério as suas histórias da balota, tentam agora as das agressões selváticas no túnel da Luz. Prova: as célebres imagens do túnel daLuz – onde, até hoje, ninguém conseguiu ver nada mais do que uma pequena multidão empurrando-se mutuamente. Julgava eu! Porque a srª Procuradora do MP conseguiu distinguir socos pelo ar e pontapés pelo chão (de certo recorrendo a câmaras ocultas no próprio chão do pavilhão). E, não só conseguiu ver, no meio daquele aglomerado, de quem eram as mãos que davam socos e as caras que os encaixavam, como até, numa floresta de pernas e pés, conseguiu distinguir de quem eram os pés que pontapeavam e as canelas que comiam. Mas este notável trabalho de investigação, conduzido ao longo de dois anos, tendo apurado cinco agressores, todos eles jogadores do FC Porto, e duas vítimas (seguranças do Benfica), permitiu apurar também que tudo isso, aquelas selváticas agressões, ocorreram sem nenhum motivo para tal: nem insultos, nem provocações, nem cumprimentos à mãezinha — absolutamente nada. Portanto, a história que a srª Procuradora vai tentar levar a tribunal é a seguinte: estavam os dois seguranças do Benfica postos em absoluto recato e paz no túnel da luz, quando, de repente, se abre a porta da cabina do FC Porto e lá de dentro saem a correr o Helton, o Hulk, o Sapunaru, o Cristian Rodriguez e o Fucile, que, sem mais, desatam a agredir a soco e a pontapé aqueles pacíficos funcionários — a que o dr. Costa, num inesquecível momento de hilariedade jurídica, chamou «agentes desportivos». E, de facto, uma história de pasmar!

E como a missão do dr. Costa, na justiça desportiva, não conseguiu senão alcançar metade dos seus fins (embora com resultados desportivos retumbantes), eis que o MP retoma a missão em mãos, e muda de estratégia: em vez de suspender os jogadores do FC Porto, vai tentar metê-los na cadeia ou, ao menos, incomodá-los tanto, fazendo os vir a Lisboa para interrogatórios, contraditas, etc, que os consiga desconcentrar do seu trabalho habitual, que é o de darem cartas no futebol português. Ah, como eu tinha saudades do nosso futebolzinho a sério!

2- Muita discussão sobre a nossa Selecção e tudo o que ela não jogou na Dinamarca. É indesmentível que aquilo foi mau de mais. Mau, displicente, inaceitável. Mas também não convém iludirmo-nos demasiadamente: esta não é uma boa selecção. Mesmo que todos os melhores estejam disponíveis, falta um guarda-redes de categoria superior, que Patrício ainda não é; falta-nos um meio campo completo e falta-nos um ponta-de-lança. Depois, acresce ainda a fatal tentação do Ronaldo de jogar sozinho, não conseguindo ocultar o desprezo a que vota os seus parceiros de equipa e as instruções (presume-se que contrárias) que os treinadores se atrevem a dar-lhe, se é que se atrevem. Mesmo assim é de todo inaceitável a tareia de bola que uma selecção apenas banal, como a dinamarquesa, nos deu. Nestes tempos de crise, em que os portugueses sofrem economicamente o que nunca sofreram, a excepção de privilegiados que são os futebolistas profissionais da nossa selecção devem a si próprios e ao País uma reparação: que tal jogarem de borla contra a Bósnia, sem diárias, prémios e ajudas de custo?

3- No desvario de aumentos, impostos e custos acrescidos de todos os serviços públicos, a que este governo se dedica com a persistência dos dementes, o futebol também não escapou: com o IVA a passar de 6% para 23% nos bilhetes, ir ao futebol vai custar mais 17%. Seria bom que, como venho escrevendo, os jogadores se consciencializassem que também alguma coisa vai ter de mudar fatalmente no seu mundo à parte.

4- Ficou bem ao FC Porto distinguir André Vilas Boas com o título de treinador do ano. Demonstra que a nossa gratidão não é igual à dele. Fazemos justiça ao seu mérito, mas não esquecemos a sua traição. Se, por acaso em que não acredito, ele for pessoalmente receber o premio, sugiro aos presentes a única atitude que me parece adequada: nem um aplauso, nem uma vaia. Silêncio absoluto.

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