quarta-feira, março 20, 2013

QUEM DE TRÊS TIRA DOIS…(10 ABRIL 2012)

1- O Sporting-Benfica começou com um penalty a favor do Benfica que ficou por marcar. Seguiu com um penalty inútil do Luisão, porém real. E continuou com um penalty por marcar a favor do Sporting tudo - até aos 25 minutos. Seguiu-se um jogo essencialmente mal jogado, aos repelões - sobretudo por parte do Benfica, que pouco mais soluções ofensivas mostrou do que os habituais livres a pingar sobre a área (e muitos teve na fase final). Jogando em contra-ataque toda a segunda parte, o Sporting mais do que justificou a vitória e poderia ter desbaratado o Benfica, não fossem Artur, a trave e Van Kleber, perdão, Van Wolfswinkel. Os benfiquistas dirão (Jesus já deu o mote) que, se o penalty sobre Gaitan no primeiro minuto tem sido assinalado, o jogo teria sido completamente diferente e o vencedor também. Para além do facto de o Sporting também se poder queixar de um penalty não assinalado, que teria dado o 2-0, parece um verdadeiro wishfull thlnking afirmar que teria sido diferente e de desfecho diferente um jogo onde o Benfica se mostrou sempre àquem do Sporting e de onde poderia ter saído com um resultado constrangente.

Assim, o Sporting completou uma semana decisiva, garantindo a passagem às meias finais da Liga Furopa e honrando a rivalidade, o prestígio e o profissionalismo contra o seu eterno rival de Lisboa. Já o Benfica, chegou à semana decisiva, em que, dos quatro saldos possíveis, lhe calhou o pior: afastado da Europa, quase afastado do título nacional. É um drama clássico de quem luta nestas duas frentes até muito tarde: para poder ter sucesso, nesta situação, só há um caminho: ter avanço suficiente no final da primeira volta do campeonato para poder gerir o desgaste na segunda volta. Era o que fazia o FC Porto de Mourinho e foi o que fez o de André Villas Boas, na época passada.

E desta forma se desfez o trio da frente, a quatro jornadas do fim. O Sporting de Braga ficou pelo caminho, depois de um meio campeonato brilhante, onde acumulou 13 vitórias consecutivas e surgiu subitamente a intrometer-se na luta do topo, que parecia reservada a Benfica e Porto. Mas, no espaço de oito dias, no momento do tudo ou nada, o Braga ficou... com nada. E, se bem que, quer na Luz, quer em Braga, se tenha batido com toda a determinação e dignidade, justificando o estatuto de candidato, em ambos os jogos creio que ficou também patente que lhe faltou ainda um quid de determinação e confiança, sem o qual os campeões não existem. Na minha infância e adolescência assisti a isto com o FC Porto: era eternamente dado como candidato, mas, de facto, na hora da verdade, faltava-lhe sempre qualquer coisa que confirmasse uma real candidatura.

Ao, invés, no jogo de Braga, sempre confiei e apostei na vitória do FC Porto - e a entrada em jogo dos portistas, se bem que por um curto período de domínio. Confirmou-me essa quase certeza. Durante muito tempo, quase até ao fim, o jogo manteve-se, é verdade, de desfecho incerto e, não fosse a dupla infelicidade de Hugo Viana (equivalente a dois frangos do guarda redes) e, aparentemente, o FC Porto não teria ganho. Mas digo aparentemente, porque julgo que, se não tivesse sido a partir de uma perda de bola e do génio de Hulk, teria sido de outra forma: na hora da verdade, o FC Porto puxaria dos galões. Os galões da experiência e do hábito de conquistar títulos e assimilar uma cultura de vitória de que só o Benfica dos últimos anos se começa a aproximar.

Na verdade, eu até esperava mais facilidades do FC Porto no decisivo jogo de Braga. E isso não aconteceu porque foi uma equipa desiquilibrada, com jogadores muito bem e outros mal ou francamente mal. Bem ou muito bem, estiveram o Helton, o Sapunaru, os dois centrais, o Moutinho, o James e, sobretudo o Hulk. Mal, estiveram o Alvaro Pereira (muito bem subsituído, após um amarelo aliás injusto), o Defour (de onde partiu a melhor oportunidade do Braga, desperdiçada por Hugo Viana), o Lucho, jogando permanentemente em marcha atrás, o Varela, igual a si próprio, e o Kleber, surpreendentemente escolhido por Vítor Pereira e apenas para mostrar, pela enésima vez, que não faz a mais pequena ideia de como foi ali parar. Foi um jogo em que o FC Porto teve, indiscutivelmente, a sorte do jogo. Os portistas jogaram apenas o suficiente para vencerem um Braga que esteve sempre na expectativa, nunca dando a sensação de ir à procura do destino, em lugar de ficar à espera que ele acontecesse. E saber fazer a hora é a marca dos campeões. Mas, embora longe do título, o campeonato ainda não acabou para o Braga: tem a luta pelo segundo lugar, que vale uma entrada directa na Champlons e que, provavelmente, irá disputar até final com o Benfica.

Em Londres, frente a um Chelsea que é hoje uma sombra do que foi, o Benfica experimentou a sensacão de impotência dos clubes que, a este nível, enfrentam o clube quase fechado dos tubarões europeus - uma dúzia de equipas que gozam sempre dos favores do dinheiro, da fortuna e de outras coisas mais. Eu vi assim o FC Porto ser diversas vezes afastado pelo Chelsea ou pelo United, em eliminatórias em que as decisões do árbitro ou má fortuna em momentos cruciais o venceram, longe de o convencer. Concordo inteiramente com Jorge Jesus em como o Benfica actual é melhor equipa que o Chelsea e mostrou-o bem na eliminatória. Todavia, e se bem que o árbitro tenha adoptado sempre um critério desigual (que as equipes portuguesas já conhecem e já devem esperar a este nível), o facto é que, nas duas decisões contestadas pelos benfiquistas, ele não cometeu erro algum: Maxi foi bem expulso (e, ao contrário do que vi dito por um jornalista da RTP, benfiquista convicto, não é ele que tinha de se lembrar que Maxi já tinha um amarelo, mas sim o próprio jogador), e o penalty é tão flagrante que só num momento de desespero e a quente se pode pretender o contrário. Se aquilo não fosse penalty, então o penalty assinalado contra o Braga, na Luz, em jogada idêntica mas muito menos ostensiva, seria o quê?

Para um portista, a eliminatória perdida pelo Benfica teve dois momentos, não sei se de ironia, se de justiça póstuma. Um, foi no jogo da primeira mão, quando a equipa portuguesa do SL Benfica utilizou catorze jogadores e nenhum português, enquanto que, do outro lado, a equipa inglesa do Chelsea alinhava quatro portugueses. E a ironia consistiu em ver o público da Luz assobiar os portugueses do Chelsea só porque ti- nham sido do FC Porto e, em especial, a tomar de ponta Raul Meireles - que depois se vingaria, em Londres. A outra ironia (e, essa deliciosa) foi escutar a claque do Benfica em Stamford Bridge a gritar "Platini, Platini". mandando para cima do presidente da UEFA as culpas daquilo que os benfiquistas acharam ser uma arbitragem encomendada. Estariam eles a referir-se ao mesmo Michel Platini que eu julgo? Aquele em cujas mãos, há uns anos atrás, o Benfica depositou um mundo de esperanças de o ver afastar o FCPorto das competições europeias, por via administrativa, assim abrindo uma vaga na Champims para o Benfica, que a havia perdido no terreno de jogo? Seria o mesmo Platini que (não tivesse sido a justiça da UEFA a travar a maquinação) teria sido o último elo de uma cadeia montada peça a peça, entre Benfica, a imprensa que lhe é afecta, e o Conselho de Disciplina da Liga que controlava, para roubar na secretaria o que o FC Porto ganhara em campo com todo o mérito e a vista de todos, mascarando a golpaça de justiça desportiva? Seria o mesmo palhaço que eu estou a pensar por quem gritavam, indignados, os benfiquistas em Stamford Bridge? Pois se era, a ingratidão humana não tem limites...

PS - Subitamente, um jornalista brasileiro apareceu na conferencia de imprensa, no final do jogo de Alvalade, e lançou a Jorge Jesus uma pedrada no charco. Nada de especial, como pergunta: apenas jornalismo.

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