domingo, janeiro 13, 2013

OS NEGÓCIOS DE JANEIRO (03 JANEIRO 2012)

1- Sabem os meus leitores portistas como eu temo a abertura da época das contratações, no início de cada Verão. Temo, não apenas a saída dos melhores jogadores (que são aqueles que têm mercado que vale a pena), e temo igualmente a contratação em série de sul-americanos e outros, segundo uma fórmula que, se tem trazido alguns bons jogadores para o clube, também se tem revelado financeiramente ruinosa: por cada grande jogador que sai, entram quatro; e, por cada quatro que entram, um é bom e os outros são apenas um encargo sem retorno, durante quatro ou cinco anos. De há uns anos para cá, para aumentar os meus receios, abriu-se uma nova época de contratações, ao longo de todo o mês de Janeiro - mais uma oportunidade de negócio dada aos parasitas do futebol. É essa época que agora acaba de se abrir.

Numa longa entrevista ao Jornal de Noticias, Pinto da Costa veio tentar, como é hábito, sossegar os adeptos, garantindo três coisas: que o clube não está vendedor; que nenhum dos jogadores essenciais sairá em Janeiro; e que ninguém sairá por menos que as cláusulas de rescisão. A primeira afirmação não é verdadeira: o FC Porto está vendedor e empenhadamente vendedor. A eliminação da Liga dos Campeões e a necessidade crónica de sustentar uma folha de pagamentos com alguns 70 jogadores sob contrato, a isso obrigam constantemente. A verdade é que o FC Porto está sempre vendedor, umas vezes com mais premência, outras menos: desta vez, consta que está vendedor em busca de realizar 25 milhões de que a caixa precisa. A segunda afirmação - a de que não sairá agora nenhum jogador essencial — é subjectiva: depende de quem o treinador e o presidente têm como essencial. E, sendo certo que o critério do presidente não é difícil de imaginar, tratando- se de alguém que percebe de futebol, já o critério do treinador é todo um mundo de adivinhação. Creio que, por razões de qualidade, de disciplina interna ou de oportunidade financeira, há uma série de jogadores do plantel inicial que o FC Porto não se importaria nada de vender já em Janeiro: Sapunaru, Rolando, Fernando, Moutinho, Guarin, Cristian Rodriguez, Walter e Varela. Duvido que consiga vender um só deles, sobretudo por um preço justo: os tempos são de contenção e o mercado não é parvo. Assim, também a terceira afirmação de Pinto da Costa (de que ninguém sairá abaixo da cláusula de rescisão) não é para ser tomada à letra, como nunca foi. Só espero que não se aplique ao Hulk.

Por junto, parece que o FC Porto está em vias de despachar o Walter, de volta à procedência. dejois de definitivamente perdidas as esperanças de inverter um óbvio erro de casting (que, por acaso, aqui previ, logo que foram conhecidas as negociações). Mas, como é evidente, não vai conseguir vendê-lo, mas apenas emprestá- lo e, muito provavelinente, ficando a pagar metade ou mais do ordenado para o ver jogar por outro clube: um clássico, um mau hábito de clube rico.

Em matéria de aquisições, e embora Pinto da Costa também diga que não há compras em vista, toda a gente sabe que o FC Porto procura um ponta-de-lança, que gritantemente lhe falta, para mais, depois de despachar o Walter e ficar reduzido ao até agora inócuo Kleber, que ainda não se percebeu se é ou não outro erro de casting. O problema, é claro, é que bons pontas-de-lança, livres a meio da época, não abundam e não são baratos - impossível chegar lá sem vender antes e bem. Consta para aí que o FC Porto estaria disponível para dar 8 milhões por um colombiano com nome de artista de Love Boat, um tal de Jackson Martinez, jogador de um clube mexicano chamado Jaguares Chiappas, da terra da droga. Eu espero sinceramente que não se vá por aí, que se tenha o bom senso de perceber que um ponta-de-lança de 25 anos, absolutamente desconhecido e a jogar num clube desconhecido, de certeza que, se fosse bom e valesse 8 milhões, já estaria na Europa ou nou-tro clube. É que 8 milhões, mesmo para quem paga habitualmente alto de mais, como a SAD do FC Porto, não são trocos: a título de comparação, basta pensar que o Sporting deu 5,5 milhões pelo Van Volswinkel... 8 milhões por um candidato a novo Walter seria, de certeza, muito dinheiro a perder-se no circuito e a ir parar aos bolsos de quem nos está sempre a impingir barretes, que depois temos de sustentar anos a fio, com ordenados que os tornam inegociáveis.

2- Em matéria de negócios cuja utilidade para os clubes não se alcança, também gostava de perceber o que levou a direcção do Olhanense a prescindir dos serviços de Daúto Faquira, a favor de Sérgio Conceição, a trocar um treinador com provas dadas por um absoluto estreante. O Olhanense está a três pontos da linha de água? OK, mas era suposto estar aonde? Está em 10º lugar, fazendo um campeonato tranquilo e de acordo com as suas melhores expectativas. Alguém reproduzindo as intenções do presidente do Olhanense, escreveu que o clube espera que desta mudança de comando resulte uma equipe a jogar «um futebol atraente e ofensivo» e bater-se por um lugar na Europa. Deveras? E onde estão os jogadores, as estruturas, os sócios e o dinheiro para tal?

3- Este sábado tenho marcado um programa em cheio: acordo às seis e meia da manhã e vou caçar tordos - a minha caça favorita no prato, não no tiro. Depois, almoço com amigos - companheiros das noites e madrugadas de caça, amigos do coração. Espero voltar para casa ainda a tempo de me deixar cair na cama, exausto, fazer uma sesta, acordar para um duche e sentar-me em frente da televisão a tempo de começar a ver o FC Porto silenciar Alvalade.

Lamento pelos meus amigos sportinguislas (sobretudo, os amigos sportinguistas da caça, que são muitos), mas, para mim, o FC Porto é o grande favorito para o jogo de Alvalade. Em condições normais, o FC Porto que eu me habituei a conhecer, chega ali e ganha o jogo, categoricamente. Mas devo dizer não para provocar, mas com sinceridade — que há duas coisas que eu temo, todavia: Vítor Pereira e o árbitro. De Vitor Pereira, temo que ele se ponha a inventar, que contrarie a tendência natural daqueles jogadores de tomarem conta do jogo e, obviamente, vou ter o terror de o ver avançar para as substituições. Do árbitro, que não faço ideia quem seja, temo a terrível e infernal pressão a que Alvalade o vai submeter, como sempre faz. É uma pressão que começa muito antes dos jogos decisivos e que se alimenta até onde o Sporting está em condições de ameaçar o que quer que seja. Este ano, as pressões começaram logo na primeira jornada e não mais pararam, ao ponto de já não se conseguir suportar o discurso de que todos e cada um dos pontos que o Sporting perdeu esta época — todos, sem excepção - terem sido roubados pelos árbitros. Ele é golos mal anulados, penalties por marcar, adversários por expulsar (embora tantos o tenham sido já...). Ainda na última jornada, em Coimbra, uma daquelas jo- gadas que tantas vezes se vêem, em que um defesa ganha a dianteira ao avançado e se coloca entre este e a bola, sem tocar em nenhum deles, foi logo visto como um penalty por assinalar (sendo falta, que não foi, seria obstrução e a obstrução dá livre indirecto, e não penalty). E logo veio a habitual lógica calimero dos sportinguistas: "nós achamos que foi falta, portanto foi - sendo falta e dentro da área, teria de ser penalty - o penalty seria convertido pelo Van Volswinkel - com esse golo, teríamos ganho o jogo por 2-1, em vez de o empatar; e assim, roubaram-nos mais dois pontos”. É desta pressão constante, que vem de fora do estádio para dentro e das bancadas para o relvado, que eu tenho medo, em Alvalade. Ali é muito difícil um árbitro manter- se frio e isento, quando lhe basta assinalar um livre contra o Sporting para todo o estádio desatar a assobiar, e onde um erro banal e inócuo dá imediatamente lugar a um coro de 'gatuno!', de uma multidão que sabe bem o que faz: a estratégia consiste exactamente em levar o árbitro a compensar um livre a meio campo contra o Sporting com um penalty inexistente contra o adversário ou um cartão amarelo a um sportinguista com um cartão vermelho forçado a um adversário.

Podem dizer, claro, que eu agora estou a fazer o mesmo. Mas é o que penso: sem nenhum menosprezo, acho, sinceramente, que a qualidade, a experiência e a cultura de vitória desta equipe do FC Porto lhe garante ainda vantagem sobre o Sporting, em jogo jogado e em condições de igualdade. Mas temo que, antes de se completar meia hora de jogo, o FC Porto já esteja reduzido a dez, que uma bola chutada à queima-roupa contra o braço ou o ombro de um portista sirva de penalty ou que uma jogada em que o Hulk vai disparado para o golo termine em falta atacante inexistente ou em off-side mal visto. Temo, sim.

Em contrapartida, se nada disto acontecer (e desejo que não), se o Sporting ganhar sem favor do árbitro e merecidamente, cá estarei terça-feira para o reconhecer.

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