sábado, janeiro 12, 2013

2011, UM ANO INESQUECÍVEL (27 DEZEMBRO 2011)

1- O ano que agora termina ficará para a história como um dos mais extraordinários de sempre do FC Porto - e de qualquer outro clube português. Em 2011, o FC Porto conquistou o campeonato nacional com 27 vitórias, três empates e nenhuma derrota, ficando a dever a um erro de arbitragem o terceiro empate cedido, que o impediu de igualar o mítico registo do Benfica dos anos setenta de Jimmy Hagan, que se imaginava irreproduzível nos tempos de hoje.

Conquistou a Taça de Potugal, com uma brilhante última exibição da temperada passada, na final do Jamor, esmagando por 6-2 o Vitória de Guimarães (e teriam sido 7-2, se um último golo, perfeitamente legal, de Mariano González, na sua despedida, não tivesse sido anulado por off-side inexistente). Venceu a Supertaça nacional - quer a referente a 2010, disputada ainda nesse ano, quer a referente a 2011, disputada já nesta temporada. E venceu a Liga Europa, depois de uma campanha absolutamente brilhante, batendo o recorde de vitórias, pontos, golos e do melhor marcador europeu (Falcão). Pelo meio, cometeu ainda as proezas de esmagar o Benfica por 5-0 no Dragão, para o campeonato, e vencê-lo por 2-1 na Luz, apesar de sofrer um golo de penalty inexistente, e celebrando o titulo no estádio do principal rival, com direito a apagar a luz do estádio e abrir o chuveiro em pleno relvado. E conseguiu, nas meias-finais da Taça, roubar o ouro ao bandido, virando uma desvantagem frente ao mesmo Benfica, de 0-2 trazida do Porto, numa qualificação após vitória na Luz por 3-1. No final do último jogo da época, no Jamor, enquanto observava os jogadores portistas a receberem as medalhas e a Taça de Portugal, já com saudades da época que ali terminava, disse ao meu filho: «Goza bem este momento. porque tão cedo não voltaremos a ter um ano como este!».

2011, para os portistas, deveria ter terminado depois desse jogo do Jamor, encerrando uma época de esplendor, em que tudo o que não se tinha ganho fora a Taça da Liga — ostensivamente, aliás, desprezada por Villas Boas. Mas como o ano civil não coincide com o ano desportivo, neste último quartel de 2011, o FC Porto viu fugirem-lhe também, já sob a responsabilidade de Vítor Pereira, a Supertaça Europeia, perdida com honra para o Barcelona, a Taça de Portugal, perdida sem honra para a Académica e a Liga dos Campeões, perdida estupidamente para o Zenil de S. Petersburgo e para o APOEL de Nicosia.

Para 2012, os portistas esperam e exigem de Vítor Pereira o campeonato, e desejam, embora sem esperar muito, por causa do sorteio, uma defesa com honra do título de campeões da Liga Europa.

2- Como é óbvio, quem está habituado a ganhar a este nível e habituado a lutar a sério pela vitória em todas as frentes, tem de aliviar alguma pressão em alguma ou alguma delas. Sem surpresa, o FC Porto tem-no feito na Taça da Liga, essa competição desenhada a regra e esquadro para dar o título a um dos três grandes e servir para os treinadores e as equipas derrotadas na época tentarem lançar poeira para os olhos dos adeptos, acenando-lhes com a conquista da Taça da Liga, como se fosse um título igual aos outros, aos que importam. Este ano e antes de se estrear em prova, em Paços de Ferreira, Vítor Pereira seguiu as pisadas de Vilas Boas, declarando o óbvio: para uma equipa e um clube com o historial recente do FC Porto, a Taça da Liga é praticamente um fait-divers, cuja utilidade é apenas a de rodar jogadores e experimentar alternativas de jogo. Assim ele fez em Paços de Ferreira, deixando vários titulares de fora e apenas fazendo entrar Moutinho e Hulk quando as experiências estavam feitas e se tratava, já agora, de ganhar o jogo. Perfeitamente normal, banal, lógico. Mas muito me ri, vendo as dores de cotovelo de alguns comentadores benfiquistas, despeitados por Vítor Pereira ter metido o Hulk e ter então ganho o jogo: já antecipavam uma surpresa como a da época passada, com o FC Porto eliminado da poule e o Benfica a conquistar o direito à final vencendo em casa um Paços de Ferreira ou um Estoril. Ficaram desapontados por Vítor Pereira não ter cumprido por inteiro a sua promessa de menosprezar a Taça da Liga e por não ter respeitado a tradição de a deixar como coutada benfiquista, garantindo ao Glorioso mais um título, para não deixar cavar um fosso entre o total dos títulos que junta em toda a sua história e aquele que junta o FC Porto — e que, desde a época passada, já é superior. Adorei os comentários — sobretudo, pelo que eles revelaram de um assumido complexo de inferioridade em relação ao grande clube do Norte. Pois é. É uma chatice, mas provavelmente lá terão de nos enfrentar e ultrapassar, a caminho de mais um desses particulares títulos da Taça da Liga!

3- Com idêntico objectivo - o de rodar jogadores pouco utilizados e ensaiar esquemas de jogo - saúde-se o regresso das equipas B à competição e agora na Liga Orangina, um degrau acima da experiência anterior, o que promete tornar tudo mais atraente, quer desportiva, quer financeiramente. Pelo menos vai servir para ver em acção e saber que estão a trabalhar todos aqueles que sobram no plantel dos grandes, recebendo o orde- nado ao fim do mes, apenas para ficarem à espera de uma oportunidade.

4- Após o final do seu longo mandato à frente da FPF, Gilberto Madail dedicou-se a relembrar alguns dos casos que enfrentou e dizer sobre eles o que antes deixou reservado. Entres esses casos, lamentou que Scolari tivesse afastado Vítor Baía da Selecção, sem nunca ter dado uma explicação, pública ou privada, para tal. E la-mentou-o, frisando que Baía foi sempre dos jogadores mais dedicados à Selecção e que ele próprio, Madail, não sabia qual a razão do seu afastamento. Tenho dúvidas que, em tal caso, o presidente da FPF não devesse ter exigido do seleccionador uma explicação pública para o saneamento sumário de que Vítor Baía foi alvo. Mas, se ele não conhece a explicação, eu posso, fornecer-lhe, pelo menos, a minha teoria.

Quando Scolari chegou a Portugal, o FC Porto estava no seu auge: tinha ganho a Taça UEFA e preparava-se para vir a vencer a Liga dos Campeões, uma proeza inimaginável para um clube português. Fora e voltaria a ser campeão nacional, com toda a autoridade e mérito. Tinha aquele que era já um treinador por todos visto como diferente e excepcional, José Mourinho. Tinha os melhores defesas e médios portugueses e o guarda- redes titular da Selecção, Vítor Baía. Instalado em Cascais, muito bem relacionado e apoiado pela imprensa desportiva lisboeta, Scolari não tardou a perceber que a maioria do país desportivo se torcia de inveja do sucesso do FC Porto, assim confirmando aquela que é a nossa mais profunda e prejudicial característica como nação. E Scolari - que nunca foi um bom treinador (vejam-se os resultados), mas apenas um bom psicólogo para alvos limitados e um bom vendedor de si mesmo - percebeu ali uma oportunidade de oiro para conquistar logo a imprensa e a maioria do país do futebol: enfrentar e afrontar o FC Porto. E, então, aconselhado ou não, escolheu como alvo predilecto para tal Vítor Baía - capitão e símbolo do FC Porto. E foi por isso que o afastou, para conquistar o aplauso da turba e mostrar quem mandava.

Vítor Baía foi afastado da Selecção (e até humilhado, quando Scolari, numa provocação reles, resolveu convocar o terceiro guarda-redes do FC Porto, que nunca ninguém vira jogar, nem ele próprio), numa manobra escusa de entendimento entre a ambição pessoal de um homem e a conivência geral dos outros. Baía foi afastado porque Scolari quis garantir apoio antes de ter resultados para apresentar e porque grande parte da nossa imprensa desportiva, percebendo muito bem o que estava em jogo, alinhou nesse jogo, não se importando de silenciar o espezinhamento de um homem que merecia o respeito de todos os que gostam de futebol. Só porque isso servia os interesses do sr. Scolari e afrontava e ofendia o sr. Pinto da Costa e todos os portistas. Pense nisso, dr. Madail.

5- Há gente com sorte e há gente estúpida. Sorte, tem-na tido David Beckham ao longo de toda a sua carreira. Estúpidos são os responsáveis do PSG que vão pagar 800 000 euros por mês a um tipo que nunca soube fazer outra coisa que não marcar cantos e livres e andar pelas revistas cor-de-rosa ao lado da sua inimitável esposa - a tal que se gabava de nunca ter lido um livro na vida, por falta de tempo para tal.

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