quarta-feira, outubro 17, 2012

UMA NOITE EM MONTE CARLO (30 AGOSTO 2011)


1- Da noite em Monte Carlo retive várias impressões:

a) Que o FC Porto vai na terceira derrota consecutiva em quatro finais da Supertaça Europeia - ou três vitórias morais, para quem as prefere. Estar ali, na final de Monte Carlo, já é uma honra e uma oportunidade rara, que se conquista por mérito próprio. Mas daí até ser o crónico saco de porrada do outro finalista, vai uma diferença.

b) O Barcelona actual é, talvez, a melhor equipa de todos os tempos e Lionel Messi o melhor jogador de sempre. Como se tem visto, é virtualmente imbatível e, como diz José Mourinho, ganha ganna quando joga bem e ganha quando joga mal. São assim os campeões: só de os ver entrar em campo, o adversário já está a tremer. Mas, para isso, não se jogam finais. Aos 40 segundos de jogo, já o comentador da Sport TV estava a dizer que o FC Porto estava a jogar muito bem, porque não estava todo encolhido atrás. É ponto de vista, não é o meu. Quando se joga apenas para retardar o golo do adversário, ele aparece sempre e normalmente da pior maneira e na pior altura.

c) Outra opinião é a realístia: jogasse como jogasse, jamais o FC Porto conseguiria bater o Barcelona, porque as coisas são como são. Muito provavelmente, é verdade, mas aconteceu que na noite de Monte Carlo, o FC Porto dispôs de um aliado de peso: o miserável estado do terreno, que, como se sabe, prejudica sempre mais quem melhor joga. O jogo de rabia em movimento constante que o Barcelona pratica precisa de um relvado que seja um pano de bilhar, onde os passos milimétricos do seu trio infernal (Xavi, Iniesta, Messi), não sejam atraiçoados por ressaltos e buracos do relvado. Com esse handicap, o Barcelona não conseguiu jogar bem: apenas conseguiu ganhar.

d) Sim, houve um penalty perdoado ao Barça e um golo oferecido pelo Guarin (que péssima exibição, coroada com uma expulsão muito feia!). Mas, ambas as coisas já são habituais nos grandes jogos internacionais do FC Porto (lembro o passe do Bruno Alves a isolar o Rooney, em Manchester, que custou uma passagem às meias finais da Champlons). Uma das coisas que caracterizam as verdadeiras equipas de top é que erros desses não se cometem em jogos destes.

e) Mas não foi por isso que o FC Porto perdeu. O penally, se assinalado, talvez nos tivesse levado a prolongamento - onde eu acho que seríamos dizimados. Perdemos, porque, por melhor que tenhamos resistido até ao hara-kiri de Guarín, em nenhum momento o FC Porto deu a ideia de poder ganhar o jogo. De ter a força física e moral e a coragem para tal.

f) A estratégia montada por Vítor Pereira - de pressão alta e saída constante ao portador da bola para conseguir curto-circuitar o tiki-taka - já tinha sido experimentada por Mourinho e igualmente sem sucesso. Mas, até ver, é a única que pode abalar aquele carrossel implacável. Porém, depende de uma coisa: uma fabulosa preparação física, que consiga manter os jogadores durante 90 minutos a correr atrás da bola, tentando furar a rabia do Barça. Ora, se há coisa que se nota neste FC Porto de princípio de época, em comparação com o de Vlllas Boas, é que a condição física está longe daquela que foi determinante para que a equipa ganhasse tudo na época passada. A primeira parte, ainda disfarçou; mas a segunda parte, tirando o remate de Guarin que quase dava golo, foi um penoso arrastar do tempo a cheirar a bola e a tentar adiar o segundo golo deles.

g) Helton esteve impecável, os centrais também, Hulk foi até ao limite da força física, tentando, sozinho, manter viva a esperança. Mas, além de Falcao, Álvaro Pereira fez uma falta danada (que coisa humilhante, esta de estar reservado para o Chelsea e não jogar um jogo destes!). Sem James e Álvaro Pereira, ficámos sem flanco esquerdo e, para uma equipa que dispõe de alguns oito extremos esquerdos, entre disponíveis e emprestados (só três foram contratados este ano!), não deixa de ser notável que, uma vez confirmado e reconfirmado o desinteresse de Silvestre Varela, tenha sido preciso apresentar, para uma final da Supertaça Europeia, o inócuo Cristian Rodriguez — um jogador do tipo trapalhão, de marrar em frente de cabeça baixa, ao estilo daquele Capel, que tanto entusiasma os sportinguistas. Moutinho não está a jogar nada. Guarin ainda menos, e o Fernando entrou não percebi porquê nem para quê, mas ainda a tempo de dar a inevitável balda da ordem, obrigando o Rolando a sacriticar-se e a levar o segundo amarelo para evitar piores consequências. E, enfim, o Kleber talvez precise de um golo ou talvez precise de um Alvaro Pereira a cruzar bolas para ele. (Á atenção de Pinto da Costa: no Twente, que o Benfica eliminou e que não joga nada, há, todavia, dois jogadores fabulosos: um é o defesa esquerdo Ola John, que o teimoso do Adriaanse teima em desaproveitar, um menino - milagre refugiado da guerra civil da Nigéria e hoje um talento à solta naquele flanco; o outro é o primeiro costa-riquenho que alguma vez deu nas vistas no futebol, o fabuloso Bryan Ruiz, homem dos sete ofícios, que passa 90 minutos atrás, no meio e à frente, desempenhando as posições 6,8,10,7,11 e 9. Que jeito que eles nos davam!).

2- Em devido tempo, escrevi que este Guimarães me parecia fraquíssimo: parece que sim. Escrevi que o Sporting acreditava em vão que, comprando uma catrefada de estrangeiros de segundo ou terceiro plano e contratando um bom treinador, partia como candidato ao título (o meu amigo Eduardo Barroso ofendeu-se com isto). Bom, parece que se confirma que a quantidade não traz qualidade, ou que, pelo menos, precisa de tempo até que seja o próprio treinador a convencer-se do contrário. Não vou cometer a deselegãncia de referir nomes, mas devo dizer que ainda nenhum dos quinze reforços já experimentados me convenceu. Salvo melhor opinião, não me parece que seja assim que se faz ou refaz uma equipa. Agora, vem mais o Elias, para inaugurar a fase dos profetas. Mas, não fosse o Eduardo Barroso poder ofender-se outra vez, eu poderia voltar a explicar porquê que o essencial continua a faltar. Digo só isto: se não querem meditar no exemplo do FC Porto, que lhes causa alergias e cujo sucesso lhes dá mais jeito creditarem a forças ocultas, concentrem-se (à devida escala, é claro) no exemplo do Barcelona, que Mourinho também acha que se deve a forças ocultas. É óbvio que o Barcelona dispõe de um Messi, à roda do qual construiu todo o seu sucesso. Mas o Messi foi feito na escola do Barcelona (de onde veio também o treinador Guardiola), segundo um modelo elaborado pelo genial Cruyff e jamais abandonado. E, se há coisa que o Sporting sempre teve, foi uma escola.

Restam os árbitros, é claro. Mas não sei, nem sei se alguém saberá, onde estão os três penalties não marcados a favor do Sporting de que fala Godinho Lopes. E, quanto ao golo anulado a Evaldo, nenhum juiz de linha do mundo teria a capacidade humana de ver simultaneamente a bola a partir e, trinta metros à frente, ver que o Evaldo não estava em off-side ... por centímetros. Porque ele tem de olhar para a bola a partir e, quando a seguir olha para a linha de off-side, já lá está o Evaldo plantado. Levar isto à conta de premeditacão, má fé ou vontade deliberada de prejudicar o Sporting, não é sério. Se se quer entrar por aí, então é, sem dúvida, mais inexplicável que, a dois metros do lance. Pedro Proença não tenha visto que a falta que assinalou e que deu o segundo golo ao Sporting era ao contrárío. Um golo que devia valer e não valeu trocado por outro que não devia valer e valeu. O Sporting perdeu com o Marítimo por uma única razão: porque foi pior equipa e mereceu perder. Tal como o Porto mereceu perder com o Barcelona, e apesar do penalty não assinalado - esse, sim, evidente.

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